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Uberlândia e a Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (CORU)

O processo de reciclagem constitui-se como uma fonte de geração de trabalho, no entanto os catadores de recicláveis ainda enfrentam problemas como, por exemplo, a falta de infra-estrutura para realizarem seu trabalho, o preconceito da sociedade pela atividade que exercem e também dificuldades referentes a falta de incentivo e investimento por parte dos governantes.

O desemprego assola a maioria dos estados e municípios brasileiros. Em Uberlândia não é diferente, de acordo com Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED, 2010), no município, em 2009, foram contratados mais de 95.000 trabalhadores, representando 4,8% do total de novas contratações em todo o estado de Minas Gerais. Por

outro lado, ainda em 2009, em Uberlândia foi registrado um total de 88.843 desligamentos de trabalhadores de seus postos de trabalho, o que representa 4,68% do total do estado.

Através de dados como os acima citados, observa-se que a taxa de desemprego em Uberlândia não é tão elevada como ocorre em outros municípios brasileiros, porém existem trabalhadores desempregados na cidade, sendo necessárias medidas para recolocá-los no mercado de trabalho. Nesse contexto, destaca-se a importância da socioeconomia solidária como alternativa de trabalho e renda.

Além dessas questões, cabe ressaltar que o município apresenta uma considerável infra-estrutura em relação à saúde, à educação, ao transporte e ao saneamento básico, de acordo com dados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG, 2010). A maioria da população tem acesso à água tratada, ao tratamento de esgoto e à coleta de lixo.

Entretanto, apesar da importância do município, tanto para o estado mineiro como também para o país, e da infra-estrutura presente em Uberlândia, cabe ressaltar que não há no município projetos, por parte da prefeitura municipal, em prol da coleta seletiva seguida da reciclagem. O que se observa é que há a pretensão de se desenvolver a coleta seletiva no município nos próximos anos, assim como é feita a coleta tradicional de lixo.

Atualmente, toda a coleta de material reciclável realizada no município é feita por catadores autônomos, que encontraram na reciclagem uma forma de sobrevivência.Nesse sentido, encontram-se em Uberlândia diversos depósitos destinados a recebimento e a triagem de material reciclável. No entanto, chama atenção no município o trabalho realizado por uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis que adota os princípios da socioeconomia solidária, e caracteriza-se como um Empreendimento Econômico Solidário. Tal cooperativa é denominada de Cooperativa de Recicladores de Uberlândia, e será apresentada a seguir.

Conforme foi apresentado anteriormente neste trabalho, no município de Uberlândia foram cadastrados 29 Empreendimentos Econômicos Solidários, dentre eles destaca-se a Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (CORU) como único empreendimento da cidade voltada para a coleta e comercialização de materiais recicláveis.

A CORU, Figura 3, caracteriza-se como um empreendimento de socioeconomia solidária por apresentar os princípios básicos que norteiam essa outra economia, como trabalho coletivo, autogestão, desenvolvimento de atividade econômica e solidariedade.

Figura 3 – Vista Externa da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia

Fonte: Autora (2010).

A cooperativa foi criada no ano de 2003 na cidade de Uberlândia. Porém o processo de operação da mesma teve início no ano de 2004.4 A cooperativa é um empreendimento registrado e possui Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Foi criada com o objetivo de melhorar as condições socioeconômicas das famílias que trabalhavam com reciclagem, sendo, portanto, uma alternativa de geração de trabalho e renda. Até mesmo um logotipo foi criado para a cooperativa, apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Símbolo da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia

Fonte: CIEPS (2010)

4 Os dados referentes a Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (CORU), presentes neste tópico foram

fornecidos pelo presidente da cooperativa, João Batista Ferreira dos Passos, durante trabalho de campo realizado para a elaboração do presente trabalho.

Desde sua criação, a sede da CORU estabeleceu-se em três diferentes localidades na cidade. Em princípio, a cooperativa localizava-se na Avenida Sideral, no Bairro Jardim Ipanema I, setor leste de Uberlândia. Devido à limitação do espaço físico, dentre outros fatores, o estabelecimento foi transferido para a Rua Itabira, no Bairro Daniel Fonseca, zona oeste da cidade. No ano de 2008 houve um incêndio na sede do empreendimento, fato que culminou na transferência da cooperativa para sua instalação na atual localidade que se encontra. Localizada no Bairro Dona Zulmira, zona oeste da cidade, próximas a BR 365 e a margem esquerda do Rio Uberabinha, principal rio do município, conforme a Figura 5. A atual sede do empreendimento pertencia a Cooperativa Agropecuária Ltda. de Uberlândia (CALU), sendo que, atualmente a mesma pertence à Prefeitura Municipal de Uberlândia (PMU), que cede à cooperativa o espaço físico necessário para o armazenamento e para o processo de triagem do material recolhido.

Figura 5 – Localização da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia, Bairro Dona Zulmira

Fonte: Google maps (2010).

Embora a CORU possua 47 famílias associadas, nem todos trabalham diretamente na sede do empreendimento devido à falta de espaço físico. No entanto, os sócios que não

trabalham na sede realizam a coleta de recicláveis de forma individual. O processo de comercialização realiza-se de forma coletiva, o que caracteriza o trabalho coletivo.

Figura 6 – Vista Interna da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia

Fonte: Autora (2010).

A falta de espaço físico (observada na Figura 6) também interfere na comercialização do material reciclável, uma vez que, devido a essa limitação, o material deve ser vendido semanalmente, o que impossibilita a comercialização em grande volume e diminui os ganhos.

Além do problema relacionado à limitação de espaço físico, a cooperativa também não dispõe de uma infra-estrutura adequada, faltam equipamentos necessários para o processamento dos recicláveis, como picotadores e prensas, que, uma vez utilizados, contribuiriam para agregar valor ao material comercializado.

Ainda em relação à infra-estrutura, cabe ressaltar que o empreendimento possui apenas dois veículos para a realização da coleta em diversas áreas da cidade e rurais do município. Tais veículos não são suficientes para o transporte do material reciclável, devido ao porte físico dos mesmos, como pode ser observado na Figura 7, o ideal seria que a cooperativa possuísse caminhões para o transporte, de acordo com o presidente da cooperativa. Porém, os veículos são utilizados pelos sócios que atuam diretamente no empreendimento, assim os catadores que não trabalham na sede da cooperativa são responsáveis pela própria coleta.

Figura 7 – Veículos Utilizados pelos Sócios da CORU na Coleta de Materiais

Fonte: Autora (2010).

Apesar das limitações do empreendimento, as atividades da CORU, referentes a coleta de recicláveis, não são limitadas ao perímetro urbano de Uberlândia, sendo também realizadas coletas em algumas áreas rurais do município. Cabe destacar também a parceria da cooperativa com algumas empresas e escolas do município que fornecem materiais recicláveis.

Os catadores da CORU coletam variados materiais recicláveis, dentre esses se destacam papelão, papel branco, plásticos em geral e óleo de cozinha, porém os dois primeiros materiais citados caracterizam-se como os principais materiais coletados e comercializados, de acordo com a Figura 8.

A comercialização, bem como a falta de infra-estrutura adequada caracterizam-se como principais dificuldades do empreendimento. Tal comercialização é realizada semanalmente e a retirada média de cada sócio da cooperativa é de cerca de R$80,00, em 2010 de acordo com o presidente da cooperativa. Embora a retirada dos sócios não seja tão significativa, uma vez que a média mensal é inferior ao salário mínimo, os recursos oriundos das atividades do empreendimento são suficientes para as dispersas do mesmo e ainda garante a retirada semanal dos sócios, o que não ocorre em todos os EES.

Figura 8 – Materiais Recicláveis Coletados pelos Catadores da CORU

Fonte: Autora (2010).

Ainda em relação à atividade econômica, destaca-se que a retirada dos sócios é proporcional ao trabalho, caracterizando a noção de solidariedade, princípio básico da socioeconomia solidária.

O destino final dos recicláveis coletados pela CORU constitui-se na comercialização que é realizada no mercado local. Os materiais coletados são separados, fase denominada de triagem, e vendidos para empresas do município, como a empresa Butelão, que fazem o papel de atravessadores, na comercialização dos materiais com outras empresas que atuam na área da reciclagem. O objetivo da cooperativa é realizar a venda direta com empresas de reciclagem na tentativa de garantir melhores ganhos para o empreendimento.

Cabe ressaltar que desde, o ano de 2007 a CORU recebe apoio do Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários (CIEPS), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O CIEPS auxilia o empreendimento tanto em relação a questões jurídicas quanto no que se refere ao processo de transformação e comercialização dos materiais recicláveis. Existe também um projeto denominado Desenvolvimento Regional Sustentável que o CIEPS desenvolve com a cooperativa, em parceria com o Banco do Brasil.

Assim como o CIEPS, a organização não-governamental Angá também é parceira da CORU, e objetiva garantir a promoção de trabalho e renda para os sócios da cooperativa,

focada na inserção dos catadores econômica e social. A preservação dos recursos naturais também constitui-se em preocupação da ONG Angá.

A Prefeitura Municipal de Uberlândia (PMU), ainda que minimamente, contribui com a cooperativa através da concessão do espaço físico onde ocorre a armazenagem e triagem dos recicláveis. No entanto, a PMU anteriormente, no momento da criação da cooperativa, oferecia maior apoio ao empreendimento. A prefeitura cedia, além do espaço físico, máquinas e equipamentos e caminhões, uma vez que a cooperativa integrava o extinto programa de coleta seletiva do município.

Atualmente, em 2010, conforme já mencionado, não há no município de Uberlândia projetos da PMU voltadas para a coleta seletiva. Todavia a Prefeitura pretende investir na coleta seletiva, destacando-se, dessa forma, a possível participação da CORU nesse processo.

Entretanto, desde o ano de 2005 a CORU não recebe o apoio da PMU, a não ser pelo empréstimo do atual espaço físico onde a mesma se encontra instalada. Tal fato, apesar de representar dificuldades, sobretudo financeiras, para a cooperativa, possibilitou maior autonomia para o empreendimento, tendo em vista que o mesmo passa a ser responsável pela sua própria manutenção.

Além disso, observa-se também que a cooperativa em questão integra o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCMR). Esse movimento apresenta como objetivo a valorização do trabalho dos catadores de recicláveis, bem como a autogestão no trabalho relacionado à reciclagem. A participação de EES em movimentos sociais de toda ordem contribuem para o fortalecimento da socioeconomia solidária e garante a base para a criação de redes de economia solidária.

A CORU destaca-se também por ser uma das mais de 900 cooperativas cadastradas no país, no programa do Governo Federal de Coleta Seletiva Solidária, sendo o único empreendimento de Uberlândia cadastrado nesse programa.

Nesse sentido, diante do exposto, confirma-se a CORU enquanto um Empreendimento Econômico Solidário, uma vez que a mesma atende aos quatro princípios básicos da socioeconomia solidária, já destacados no Capítulo 1.

Assim, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela cooperativa observa-se que a mesma apresenta resultados positivos, pois mesmo com dificuldades o empreendimento consegue se manter e garantir a retirada dos sócios, constituindo-se numa alternativa de geração de emprego e renda para os econômica e socialmente excluídos.

Faz-se necessário salientar que, embora tenham sido catalogados 29 Empreendimentos Econômicos Solidários no município de Uberlândia, alguns não apresentam os pilares da socioeconomia solidária, o que não ocorre no caso da CORU.

3.3 O Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários