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1.3. A Festa de São Benedito

1.3.1. Os espaços da festa

O largo de São Benedito é um conjunto arquitetônico se localiza em uma área privilegiada da cidade, no centro, próximo ao comércio, ao cais, as margens do Rio Caeté, com uma vista privilegiada para a orla da cidade. Porém essa área não foi sempre vista como privilegiada, ao contrário, em outras épocas segundo o relato de alguns bragantinos, a Igreja construída para São Benedito originalmente foi a que hoje é chamada Igreja Matriz (Igreja de Nossa senhora do Rosário, a Santa Padroeira da cidade) construída pelos próprios negros. Há registro de um ritual de troca no qual a Santa subiu para a Igreja Matriz e São Benedito, que se encontrava nessa igreja, desceu para a igreja onde se encontra atualmente.

O caminho que as procissões, do Círio bragantino e de São Benedito fazem hoje, tem influência desse ritual de troca, um ponto importante para pensar é que o local onde se localiza a Igreja de São Benedito é uma zona portuária e na época não contava com a mesma estrutura e prestígio que possui. O largo, que abriga além da Igreja de são Benedito que aqui considero como referência principal; o barracão (chamado ‘barracãozinho’) da Marujada; o coreto e bar Rex; o salão beneditino, além de outros prédios importantes, como o Teatro Museu da Marujada e a ‘Praça do Coreto’ que estão em seu entorno. O tom azulado está presente na maioria das construções e é uma característica marcante da Igreja.

A Igreja de São Benedito

A Igreja de São Benedito, uma construção histórica que data possivelmente do século XIX, é parte de um conjunto arquitetônico considerado como patrimônio material da cidade, além de ser a mais importante construção não apenas pelo aspecto material, mas também pelo que representa enquanto símbolo de um ritual que faz parte da devoção a São Benedito. É um ponto de referência, ponto central de ‘onde partem’ e para ‘onde convergem’ os fluxos de pessoas, ideias, relações, etc, que constituem não só a festa de São Benedito como também a vida cultural e as relações sociais.

Figura 6 - Igreja de São Benedito Foto: Ester Corrêa

O prédio possui uma torre no lado direito, na parte superior duas linhas onduladas convergem no centro onde há uma cruz, abaixo três janelas lado a lado, abaixo das janelas, uma porta central. Possui duas entradas laterais. Na parte interna, um altar principal com a imagem de São Benedito com o menino Jesus no colo, em uma moldura verde protegida por uma estrutura de vidro. De cada lado, dois altares menores, no altar do lado direito de São Benedito estão “os três Beneditos”, que são as três imagens do Santo que percorrem com as comitivas a região dos campos, das colônias e da praia durante quase o ano todo e sobem ao altar nos dias 16 e 17 de dezembro e lá permanecem até meados de abril, quando as comitivas partem para a esmolação, adiante tratarei dessa questão.

Há duas portas no fundo que levam a sacristia da igreja onde estão guardados os vestidos que o Menino Jesus usou durante as procissões, é uma coleção de peças ricas em detalhes que simboliza, dentre outras coisas, o cuidado com o qual os bragantinas (os) devotas (os) se preparam para a festa, visto que muitos desses vestidos são doações

de devotas e devotos. Há outra porta na lateral, próxima ao altar que conecta a uma pequena capela, onde o andor do Santo é preparado para a procissão, ressalto que esse espaço é ‘bom para pensar’ a dimensão política da festa, visto que é um espaço em disputa; enfeitar o andor do Santo é uma atividade que está sobre controle de um grupo de pessoas. Próximo a capela, uma lojinha que comercializa artigos religiosos, onde há um porta de saída. O espaço interno é modesto, nas laterais altares com imagens de santos católicos. Atrás da Igreja, esculpidas as imagens de Jesus e de São Benedito, e um espaço para os fieis acenderem velas. A Igreja de São Benedito pertence ao clero, que venceu uma disputa judicial que se estendeu por décadas contra a antiga e extinta IGSBB.

Em frente a porta principal da igreja, entre a orla e o templo há um antigo coreto, pintado na cor azul, de onde se pode ter uma bonita perspectiva para perceber a paisagem que se forma em torno do largo de São Benedito.

Figura 7 - Coreto e o Restaurante Benquerença. Foto: Ester Corrêa

O Barracão

O Barracão da Marujada é uma construção em formato retangular que se localiza ao lado direito da Igreja de São Benedito, uma construção da metade do século XX, com duas entradas laterais e imensas janelas gradeadas, o chão pintado com as cores da irmandade, com bancos nas laterais para expectadores assistirem as apresentações, uma mesa no lado esquerdo da entrada principal, onde fica sentado geralmente o Presidente da Irmandade, o juiz e juíza da festa, ao lado esquerdo da mesa, duas cadeiras onde tomam assento a Capitoa e a Vice-Capitoa. Do lado direito posiciona-se a banda Regional que executa as músicas da Marujada.

Figura 8 - O barracão Foto: Ester Corrêa

Este é um espaço simbólico, pois já existia a noção de “barracão” antes da construção desse prédio. Havia um antigo barracão no local, onde as marujas dançavam no chão de terra batido, me contava um simpático marujo muito idoso que tem uma barraca de venda de caldo de cana ao redor do barracão desde que era jovem. No

entorno do barracão se formava a estrutura que movimentava a festa12. É utilizado principalmente durante os ensaios, e para as apresentações da Marujada no dia 25, quando o número de marujas e marujos é menor. O mastro é levantado em frente ao barracão onde permanece até o fim da festa.

O Teatro Museu da Marujada

O Museu da Marujada é um grande salão onde estão expostos alguns objetos símbolos da Marujada, há uma lojinha de venda de artigos da marujada, como livros, CDs, souvernis, chapéu da marujada. Quanto a organização do Museu devo dizer que deixa a desejar, há um amplo espaço com pouco aproveitamento e percebe-se que os objetos estão aleatoriamente distribuídos, além de o acervo do museu ser pouco significativo, se resumindo a exposição de livros escritos sobre a marujada, rabecas, uma exposição fotográfica de algumas das antigas capitoas e outras personalidades, além de pinturas nas paredes com representações da Marujada, e algumas esculturas. É onde funciona a sede da Irmandade.

Figura 9 - O Teatro Museu da Marujada. Foto: Ester Corrêa

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O museu é espaço simbólico para a Marujada, é por onde circulam os produtores da marujada, onde acontecem as reuniões, decisões são tomadas, além de ser o palco das apresentações da dança no dia 26, o dia de maior visibilidade e maior participação. O espaço do barracão ficou pequeno para a quantidade de marujos e marujas. Além disso é palco de outros rituais da festa, como o almoço do juiz/juíza e café da manhã no dia da Alvorada.

O Salão Beneditino

É um grande salão com duas lojas nas laterais para os turistas comprarem artesanatos e souvernis. Uma construção moderna, com três imagens no alto, do lado direito estatua de uma maruja tipicamente vestida, do lado esquerdo um marujo, e no centro São Benedito com o menino Jesus no colo. Nesse o espaço onde acontece o leilão, no dia 26, onde desde cedo há uma aglomeração nos arredores dos objetos, animais e frutas a serem arrematados no leilão, que são dos diversos tipos.

Figura 10 - Salão Beneditino. Foto: Ester Corrêa