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DO PÚLPITO À PLENÁRIA: TRAJETÓRIAS DE TRABALHADORES EVANGÉLICOS ENTRE O SINDICATO E A IGREJA

5.2 Os evangélicos e a militância na visão dos dirigentes e trabalhadores não evangélicos

A partir da articulação igreja e sindicato é possível pensar as mudanças de ambos os lados, primeiro para os trabalhadores evangélicos que estão participando ativamente, visto que muitos mitos em relação à militância sindical que antes os preocupavam se atenuaram, embora haja grupos mais “conservadores” ainda no pentecostalismo brasileiro. Para os sindicalistas não evangélicos, visões esteriotipadas sobre estes também estão se enfraquecendo ao perceberem através do engajamento de homens e mulheres trabalhadores que a pertença em uma Igreja não os impedem de se envolver com as questões sociais.

112 As entrevistas seguintes abordam alguns dirigentes sindicais e trabalhadores que convivem no mesmo espaço (fábrica e sindicato) com os evangélicos. Entre eles, J. L. 47 anos, casado, linha de produção numa montadora, nascido em São Carlos, neto de um dos fundadores do Sindicato, metalúrgico há 21 anos, atua na mesa diretora.

Quando perguntamos a um dos dirigentes o que representa para a entidade a presença dos evangélicos no sindicato, responde-nos.

[...] Temos muitos companheiros de luta evangélicos aqui, e isso é muito importante não só em número, mas porque eles são responsáveis e participantes. Na história do nosso sindicato sempre tivemos religiosos, a maioria de católicos. Os evangélicos que trabalhavam nas fábricas não nos davam ouvidos para ser sincero eu achava mesmo que crente não se envolvesse com política, e quando começaram a participar foi estranho. No início foi um depois veio outro e outro, tem pastor que participa aqui ele tem experiência em projeto social e temos também projetos então é bom ter por perto quem está disposto a ajudar. E antes de tudo somos todos trabalhadores temos um único interesse lutar por nossos direitos. Já tivemos alguns problemas com alguns companheiros que são cabeça dura e no início fizeram oposição achando que eles vieram a mando dos patrões vê se pode isso [risos] Conversamos com eles e explicamos que não é bem assim que pessoas são diferentes e que os evangélicos têm o direito de participar de qualquer sindicato... Tem companheiros muito queridos que aderem a todas as bandeiras, participam de greves . As companheiras evangélicas da Faber estão participando mais e os companheiros que falei que achava estranho mudaram e está tudo melhor aqui. Não há nenhuma restrição a religião aqui, tem católico, espírita, evangélico, de tudo. No dia do trabalho fazemos um culto ecumênico onde fala o padre, pastor quem quiser. Tem igreja evangélica que faz culto do trabalho e sempre somos convidados e como tem companheiro de luta nelas sempre vamos ou mandamos algum representante. Como todo mundo sabe aqui é lugar de luta do trabalhador independente da religião. [J. L]

Em relação à questão, se o ser crente interfere nas decisões em conjunto no sindicato, se se recusam a participar ou discordam de algumas reivindicações que os trabalhadores levantam, destacamos as seguintes respostas:

[...] Não tivemos nada sério só uma vez em que após varias tentativas de negociação com os patrões e que decidimos pela greve na assembléia em que votaríamos, alguns companheiros estavam revoltados e disseram que tínhamos que parar todas as máquinas e se tivesse polícia a gente enfrentaria, os companheiros evangélicos se pronunciaram dizendo que sim a greve, mas não entrariam em combate com os policiais eles são trabalhadores também e como nós estão fazendo o trabalho deles não faz sentido trabalhador bater em trabalhador vocês não acham? Entendo a posição deles porque muitos quando chegaram aqui estavam cheios de dúvidas e sempre me perguntavam se não tinha violência. É normal, os sindicalistas nesse país sempre foram vistos como comunistas que querem fechar igrejas, vagabundos e baderneiros, foi assim por muito tempo, e como um crente me falou uma vez tem muito irmão de fé dele que pensa isso ainda. Mas aqui é um aprendizado como numa escola em que se aprende a pensar junto sobre a situação dos companheiros metalúrgicos. Mas com a presença de evangélicos em nosso meio as pessoas podem ver que não somos contra religião. Nosso sindicato começou no porão da Catedral e hoje ela tem companheiros de todas as religiões.

113 Uma queixa comum entre os sindicalistas não evangélicos, e mesmo evangélicos mais engajados, é de que muitos desses trabalhadores discordam de algumas diretrizes que estejam vinculadas ao PT (Partido dos Trabalhadores), principalmente após o surgimento de políticos do partido em esquemas como o do mensalão entre outros. N.C. que se considera ateu, 39 anos, operador de empilhadeira, sindicalista na cidade de Ibaté, vejamos sobre isso o que fala um dos dirigentes:

[...] Não dá para se pensar sindicalismo no Brasil sem o PT, não sou filiado a partido nenhum, mas, enquanto, trabalhador sei que o único partido que esteve até hoje ao lado do trabalhador foi o PT. A política é assim tem gente boa, mas tem muito mais desonesto e oportunista esperando pra levar a vantagem. O que não acho certo e sempre que posso converso com os companheiros evangélicos é o fato deles acharem que o PT inteiro é ruim. Na época dos escândalos nós discutimos algumas coisas aqui sobre isso. No ABC várias reuniões foram convocadas e em algumas estivemos presentes. Concordo que a credibilidade de um partido fica instável quando há alguém envolvido em sistemas de corrupção, mas como disse não dá para generalizar. Tem companheiro evangélico que nem vota mais porque dizem que o povo se alegra quando o justo governa e preferem não votar porque generalizam! [N.C]

A presença dos evangélicos na direção do sindicato têm sido uma constante. Em entrevista com o atual presidente da entidade Erick Silva, 33 anos, nascido em Santo André, veio para São Carlos aos 19 anos para trabalhar na Volkswagen em 1996 como inspetor de qualidade de peças, formado em Ciências Sociais pela Ufscar, atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.

Quando perguntamos se tem conhecimento sobre trabalhadores evangélicos participantes no sindicato, responde-nos:

Sim há trabalhadores evangélicos de várias igrejas que não sei ao certo quais são, mas tem sim, aliás, com o tamanho que está o movimento evangélico hoje eles estão em todos os lugares. Na base da direção h não tinha esse peso que tem hoje, afinal ter cinco, seis é um número alto, e são ativos, jovens dá pra ver não é mais uma religião passiva aquela coisa vou ao culto todo domingo pronto e acabou, eles praticam diariamente a fé e são envolvidos temos até cantora Gospel aqui na direção [risos]. Essa tem sido uma diferença da Igreja Católica com o pentecostalismo também, agir não mais para preparar para vida eterna como eles faziam antes é uma diferença de postura, moral a meu ver.