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Os “falsos” santuários de vida selvagem e atividades turísticas

No documento O papel dos zoos e o turismo (páginas 35-38)

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

2. Jardins Zoológicos e Turismo: um encontro de interesses

2.4. Turismo de vida selvagem

2.4.2. Os “falsos” santuários de vida selvagem e atividades turísticas

Atualmente têm-se debatido nos media a questão do “falso” turismo de vida selvagem, e apesar de o número de turistas que procuram este tipo de turismo ter decrescido, este continua a gerar biliões de receitas por ano. Atualmente mais de um terço dos turistas mundiais procuram serviços turisticamente sustentáveis, e encontram-se dispostos a pagar entre 2 a 40% mais por este tipo de experiências (Pratt et al., 2011).

É possível encontrar diversas fotografias e comentários de experiências na internet de turistas que consumiram produtos de turismo de vida selvagem que pressupunham um contacto direto com animais selvagens de grande porte (figura 3) (Tripadvisor, 2016a) ou de crias, para que fossem retiradas fotografias, alimentados, ou simplesmente tocar nos animais, a troco do pagamento de uma taxa de serviço, que de acordo com as entidades responsáveis contribui para a sua conservação e alimentação. No entanto, muitas das vezes esses animais são mantidos em espaços não adequados para o seu porte, têm uma dieta inadequada, e isso apenas se torna possível porque se encontram sedados para que seja possível serem “manuseados” pelos humanos (Right Tourism, sem data-a).

Figura 3 Turista com tigre num parque de vida selvagem na Tailândia. Fonte:(Naylor, 2014).

O caso dos grandes felinos em África ou na América do Sul, que são “vendidos” como experiências, para que os turistas possam brincar com as suas crias, ou tirar fotografias com os mesmos, é uma dessas situações. Os operadores vendem as experiencias sob o pretexto de que os lucros obtidos servirão para a sua libertação futura no habitat natural, mas a verdade é que esses animais nunca serão libertados, e se tal acontecesse, não sobreviveriam no meio natural (Right Tourism, sem data-a).

Uma situação muito semelhante é a da caça para obtenção de “troféus”, apelidada em inglês como big hunting game. A atividade big hunting game é vendida por operadores turísticos a qualquer individuo que possua dinheiro para a obter, e consiste na caça de grandes mamíferos em ambiente selvagem como leões, rinocerontes, elefantes, ursos e girafas (figura 3). Estas atividades são vendidas sob o pretexto de que estas contribuem para o desenvolvimento local, para a conservação de espécies por parte das comunidades que lá residem e para controlar as populações de forma a manter sustentáveis os recursos naturais (figura 4) (Right Tourism, sem data-a).

É importante ressalvar que existe de facto caça de animais selvagens com um intuito de controlar as populações e evitar o sobre pastoreio. No entanto, esta é uma solução a que se recorre apenas em última instância, e a carne dos animais mortos é aproveitada para a alimentação das populações residentes na região (Art, 2015). Não obstante a caça de animais de grande porte como leões, girafas e rinocerontes torna-se bastante mais rentável se for realizada por um caçador de troféus (Art, 2015).

Um caso mediático em 2015 deste tipo de caça, foi a notícia da morte ilegal de um leão com 13 anos de idade, que vivia no Parque Nacional Hwange, no Zimbabué. O Cecil era o macho alfa da manada de leões do parque nacional, e foi morto por um dentista norte-americano, após o pagamento de 50 mil dólares a um conhecido caçador chamado Theo Bronkhorst (Ruic, 2015).

Figura 4 Exemplo de caça ilegal e publicação de fotografias nas redes sociais. Na fotografia está Sabrina Corgatelli e uma girafa que esta matou. Sabrina Corgatelli é responsável pela morte de vários animais nas savanas de África. Fonte: (Kaufman, 2015)

A caça de animais selvagens é ilegal dentro dos limites do parque, no entanto, os caçadores ataram uma carcaça de animal à parte de trás de uma carrinha de caixa aberta e atraíram Cecil para fora dos limites do parque. Quando se encontrava já fora do parque, Cecil foi atingido com uma flecha, não lhe provocando a morte imediata e acabou por fugir (Machado, 2015). Os caçadores voltaram a encontrar Cecil 40 horas depois, em sofrimento, mas ainda com vida, momento em que o balearam, arrancaram a sua cabeça e a sua pele, para que fosse retirado o dispositivo de GPS que trazia ao pescoço, uma vez que Cecil era monitorizado há vários anos pela universidade de Oxford (Ruic, 2015). A situação gerou uma enorme onda de contestação acerca da caça ilegal de animais selvagens e foram feitas várias petições a exigir que os autores os crimes fossem deportados para o Zimbabué e julgados sob as leis do país. Quando confrontado com a situação o dentista norte-americano alegou que desconhecia o mediatismo do leão e que não tinha conhecimento da ilegalidade da situação.

Foi após a mediatização da história de Cecil que muitos indivíduos tiveram contacto com o assunto do “The big game hunting”, surgindo como exemplo de sensibilização para a caça ilegal de animais selvagens, e contribuindo para a criação de programas de proteção destes animais (Art, 2015).

Atualmente a caça e exibição da carcaça animal é legal desde que o animal em causa não se encontre em extinção (Bertrand & Pitiot, 2015). Na China, por exemplo, é possível encontrar à venda atividades turísticas relacionada com a obtenção de barbatanas de tubarão (figura 5), para a produção de sopa de barbatana de tubarão. Estima-se que sejam pescados por dia, no mundo, 250 000 tubarões entre a atividade turística e a pesca ilegal, e que muitos deles não chegam a ser capturados, sendo-lhes amputadas as barbatas e devolvidos ao mar, onde morrerão em sofrimento por afogamento (Psihoyos, 2015).

No âmbito da utilização e exploração animal para a atividade humana, ligada ao turismo, a 11 de outubro foi anunciado na página online de uma das mais importantes plataformas de turismo

Figura 5 Barbatanas de tubarão ao sol para serem secas para a confecção de sopa de barbatana de tubarão na china. Fonte: African Shark Eco-Charters

(Tripadvisor) a seguinte decisão: ”With endorsements from the United Nations World Tourism Organization (UNWTO), TripAdvisor to create a wildlife tourism education portal for travelers in partnership with top accredited trade groups, conservation organizations, academic experts, tourism experts, and animal welfare groups, including the Association of ZOOS and Aquariums, ABTA — The Travel Association, Global Wildlife Conservation, People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), Oxford University's Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU), Sustainable Travel International, The TreadRight Foundation, Think Elephants International, Asian Elephant Support, Pacific Asia Travel Association (PATA) and World Animal Protection” (Tripadvisor, 2016b).

A partir deste comunicado, o TripAdvisor comprometeu-se a deixar de vender atividades de turismo de vida selvagem não sustentável. Também em Portugal, no dia 12 de outubro de 2016 foi anunciado no jornal português Público que a plataforma de viagens online TripAdvisor tinha cessado a venda de ingressos e marcação de experiências que envolvesse o contacto direto com animais selvagens ou espécies animais em vias de extinção em cativeiro.

Também as atividades de turismo não sustentável com animais em ZOOS, se encontra comtemplada nesta decisão. Desta forma, os ZOOS e espaços de turismo de vida selvagem foram obrigados a cessar este tipo de atividade, sob a pena de perderem os seus visitantes.

No documento O papel dos zoos e o turismo (páginas 35-38)