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Os fatores extralingüísticos

CAPÍTULO III: UNIVERSO DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2. O envelope de variação e a formulação de hipóteses de investigação

2.2. Os fatores extralingüísticos

2.2.1. Gênero/sexo do informante

Paiva (1996), citando estudos já realizados, demonstra que a variável gênero tem sido considerada relevante nos estudos de fenômenos lingüísticos variáveis.

Nas sociedades não-ocidentais, a diferença de vocabulários entre homens e mulheres é tão marcada que se chega a falar na existência de um vocabulário feminino e de um vocabulário masculino. Essa diferença entre fala de homens e fala de mulheres se estende, no entanto, para além do plano lexical. A Sociolingüística tem interesse principalmente na influência que o fator gênero exerce sobre os fenômenos de variação estável e de mudança lingüística.

Inúmeros estudos apontam para o fato de que a mulher utiliza mais freqüentemente a forma de maior prestígio do que o homem, porque, segundo a nossa cultura, a mulher está mais vinculada à educação da prole, o que implica maior grau de apego às convenções normativas.

Tanto no que diz respeito à variação estável quanto à mudança lingüística, a mulher é mais sensível às formas lingüísticas prestigiadas socialmente, enquanto o homem, ao contrário, em geral, emprega as formas de baixo prestígio social por uma questão de identidade com o grupo a que pertence.

Sendo assim, o controle dessa variável será interessante para o estudo proposto para verificarmos de que forma ela correlaciona-se ao uso do modo subjuntivo.

2.2.2. Nível de escolaridade

Segundo Votre (1996), é possível detectar no sistema escolar três tipos básicos de ensino da língua padrão: o produtivo, o descritivo e o prescritivo. O ensino produtivo está centrado na aquisição de novos hábitos lingüísticos que a gramática escolar considera de prestígio. O ensino descritivo é marcado pelo aspecto normativo e descreve o que é prestigiado e deve ser utilizado. O ensino prescritivo está preocupado em eliminar o que considera vícios de linguagem, garantindo o uso da forma padrão em detrimento da forma estigmatizada. É possível concluir que quanto maior o grau de escolaridade do falante, maior

também será o domínio da variedade padrão, dado o maior contato com esta variedade na escola pelo falante.

No caso específico de nosso objeto de estudo, suspeitamos que quanto menor o grau de escolaridade, maior será a não-realização do subjuntivo. Essa é uma hipótese que necessita ser investigada devidamente.

Se observarmos uma maior freqüência da não aplicação do subjuntivo por falantes com maior grau de escolaridade, pode-se prever uma mudança em progresso, já que os falantes de nível superior de escolaridade estariam atribuindo algum grau de prestígio ou de neutralidade à variante considerada estigmatizada pelo ensino prescritivo.

2.2.3. Corpus utilizado

Como vimos na primeira seção do presente capítulo, utilizamos dois corpora para a seleção das ocorrências: o corpus constituído pelo projeto Discurso & Gramática, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o corpus Iboruna, composto pelo projeto ALIP sediado no IBILCE/UNESP.

Sendo assim, consideramos importante observar se a região em que foram constituídos os dois bancos de dados, ou seja, Rio de Janeiro e região noroeste paulista, influencia de alguma forma a variação de modo das orações subordinadas.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

ANÁLISE DOS RESULTADOS

1. Introdução

Já na seleção e digitação dos dados, foi possível perceber que o uso do modo subjuntivo, nos contextos previstos pela norma padrão, supera o uso do modo indicativo; no entanto, não foi difícil encontrar este modo verbal em contextos preferencialmente do subjuntivo. Notamos, ainda, que dependendo do tipo de oração subordinada, a variação entre os modos subjuntivo e indicativo se comporta de forma distinta. Neste capítulo de análise, pretendemos mostrar quais fatores estão envolvidos na seleção do modo verbal da oração subordinada, bem como refletir acerca do comportamento do uso do modo subjuntivo neste tipo de oração. Por meio da utilização do programa estatístico Varbrul e seus subprogramas, será possível confirmar ou refutar as hipóteses que nortearam nosso trabalho, principalmente no que se refere à seleção de variáveis que julgávamos diretamente relacionadas à escolha do modo verbal da oração subordinada.

Ao executarmos o programa de análise estatística, na rodada final com todos os grupos de fatores analisados, foram considerados estatisticamente relevantes os seguintes grupos de fatores, por ordem de seleção:

ii) grau de certeza epistêmica; iii) tipo de oração subordinada.

Neste nosso capítulo de análise, seguiremos esta ordem para a apresentação dos resultados.

Os demais grupos de fatores, embora não tenham sido considerados estatisticamente relevantes, comporão também a análise ora proposta, não só com o objetivo geral de esclarecer o fenômeno da variação de modo nas orações subordinadas, mas também com o objetivo específico de explicar de forma mais nítida os grupos de fatores selecionados no cálculo da aplicação da regra variável.

Antes de iniciarmos a exposição dos resultados para cada um dos grupos de fatores selecionados, indicamos abaixo o universo sobre o qual as freqüências foram extraídas.

Na forma do subjuntivo 157/217 = 72% Na forma do indicativo 60/217 = 28%

Tabela 1:Resultado geral da expressão variável do modo subjuntivo

A partir da leitura dos resultados acima, observamos que a variação na expressão do modo subjuntivo ocorre em 60 ocorrências de um total de 217, ou seja, 28%. Isso equivale a que dizer que, em 72% das ocorrências, o subjuntivo aparece no contexto em que ele é de fato requerido.