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Os Grupos Focais e o Caminho Metodológico Seguido

Em Março de 2015 iniciaram-se as visitas às escolas. Muitas mudanças de diretor, de coordenadores. Numa primeira investigação sobre os professores que em 2014 tiveram alunos com algum tipo de deficiência, três diretores me encaminharam para o Projeto Integrativa, responsável pelo atendimento especializado na rede. A recepção no local foi muito boa. A indicação deles foi que se fizesse o caminho

inverso: ir ou ligar para as secretarias das escolas. Quanto à existência de um novo levantamento de alunos com deficiência ou uma reelaboração da lista do ano passado, a informação obtida foi a de que tinham a mesma lista de 2014, a mesma que já está sendo utilizada nesta pesquisa.

Na sequência, com base nesta lista, foi decidido iniciar a seleção dos grupos pelos professores de alunos com deficiência visual. Nesta lista, onde constavam onze escolas com esta característica necessária, cinco foram descartadas, pois os alunos frequentaram no ano de 2014 o Ensino Fundamental II, que não faz parte do foco deste estudo (somente EFI). Das seis escolas que restaram, a professora de uma delas não foi localizada, a secretaria me informou que ela não mais trabalha lá e não souberam dizer para onde foi. Consegui contatar as outras cinco. Foi conversado com cada uma por telefone, antes levando o documento de Autorização da Secretaria de Educação à direção da escola. Todas confirmaram. O local escolhido foi em uma das escolas contatadas, onde a direção cedeu uma sala. Participaram quatro professoras. Correu tudo como previsto nesta metodologia – quanto ao local, participantes, tempo de duração, assuntos abordados. Embora com um número reduzido de participantes, foi uma primeira experiência significativa. O clima foi muito amigável, aberto, todas se colocaram à disposição para outros encontros se fosse necessário. Foi seguido o roteiro do grupo focal (APÊNDICE IV) onde todos os temas importantes foram abordados. Tal afirmação foi confirmada na análise deste material.

O segundo grupo focal realizado foi o dos professores de alunos com deficiência física. Pela lista, quinze escolas tiveram alunos em 2014 com esta deficiência. Após os devidos contatos, foi formado um grupo com oito participantes. No primeiro filtro feito constatou-se que das quinze escolas, em cinco delas, os alunos consultados já estavam no EFII no ano passado. Das outras escolas descartadas, houve uma recusa por parte de um professor e dois professores estavam de licença.

A dinâmica deste grupo foi bem diferente. Realmente pareceu que os professores encararam aquele encontro como uma forma de se expressar. Contaram suas angústias, preocupações, casos de sucesso. Tudo com muito respeito, também num clima sem nenhum tipo de animosidade. Quase não foi preciso direcionar a discussão para se adequar ao roteiro do grupo focal. Os assuntos iam surgindo, e todos participaram. Muitos não se conheciam, o que foi útil

para a troca de experiências. Este encontro foi realizado em outra escola, cedida também por uma direção muito interessada em conhecer posteriormente os resultados desta pesquisa.

O terceiro grupo focal realizado foi o de professores de alunos com deficiência intelectual.

Como já foi explicado no capítulo População e Amostra, o levantamento feito pelo Projeto Integrativa foi realizado de forma bem ampliada, principalmente no que diz respeito à deficiência intelectual. Em muitos casos são incluídas crianças com uma defasagem muito grande, com síndromes diversas, ou com um déficit intelectual leve. Neste caso, talvez pela falta de um laudo e de um acompanhamento médico anterior, muitos alunos são classificados como “suspeita de ...”, como consta em alguns nomes desta lista. Por isso, neste caso, de todas as escolas da lista – 43 (quarenta e três) escolas – somente uma não constava nenhum aluno com deficiência intelectual ou suspeita.

Assim, tendo um número grande de opções, após a depuração dos que faziam parte do EFII foram convidados os professores. Desta vez foi cedida uma sala em outra escola para a realização do grupo focal. A maioria dos professores era da própria escola onde foi realizado o grupo focal. Foi formado um grupo com nove participantes, número que atingiu quase o máximo de participantes previsto na metodologia.

Neste grupo, talvez pelo número maior de participantes, ou talvez pelo foco da discussão ser uma deficiência, que pelas próprias falas deles, parece ser a que mais traz desafios, pedagogicamente falando, apareceram mais insatisfações. A condução foi um pouco mais difícil, os assuntos e os temas norteadores do grupo focal não surgiram naturalmente e tiveram que ser lançados na discussão. Os sujeitos tiveram que ser mais instigados do que nos outros grupos. Mas, independente desses percalços também foi atingido o objetivo do grupo focal.

O quarto e último grupo focal foi o de professores que ministraram aula para alunos com deficiência auditiva. A composição deste grupo acabou sendo bem menor por vários fatores. Já era quase fim de junho, período conturbado de entrega de notas, assim, após a depuração da lista, retirando-se os professores de alunos do EFII, foi conseguido contatar sete professores. Destes, uma professora já declarou não querer participar. No primeiro dia marcado para a reunião, o HTPC da escola onde seria realizado o grupo havia sido cancelado e duas professoras já não

estariam presentes. Foi remarcado então novo dia, horário e local. Das seis pessoas convidadas, somente duas compareceram. Outras duas só poderiam participar em outro dia. Desta maneira, este último grupo focal foi realizado mesmo assim, até por respeito aos presentes. Mesmo com apenas dois participantes foi utilizada normalmente a técnica do grupo focal e o roteiro. As discussões fluíram muito bem e muito se contribuiu com a pesquisa. Como foi explicitado no capítulo Procedimentos para a Coleta de Dados, o número reduzido de participantes não é impeditivo para a boa condução de um grupo focal. Em conformidade com a literatura a respeito, a quantidade de grupos focais a ser feitos pode se guiar pela técnica da saturação. Assim, se na pesquisa já tiver se obtido informações que cumpram com seus objetivos, há a saturação destas informações, não sendo mais necessária a realização de mais grupos focais. No entanto foi feita a opção pela inclusão deste último grupo, pois ele trouxe informações muito importantes, sendo o único a abordar a questão da criança surda.

É interessante enfatizar a abertura que as escolas deram para a realização dos grupos focais. Demonstram interesse pelo tema e por um retorno sobre como sucedeu o encontro. Nestas várias abordagens nas escolas, ao serem mencionadas as Oficinas de Sensibilização na área da Inclusão e Diversidade, diretores e coordenadores solicitaram que estas fossem realizadas para formação de seus professores, assim como para os pais. Isso tem sido bem importante, pois elas são parte integrante e significativa desta pesquisa. Intensificando a realização destas oficinas, principalmente dentro das escolas municipais, tem se conseguido ampliar a visão sobre como a inclusão vem acontecendo, ao mesmo tempo em que tem se cumprido com um dos quesitos deste Mestrado Profissional, que é trazer toda a construção de conhecimento oportunizada na pesquisa para a prática, para o dia-a- dia dos sujeitos e envolvidos no processo de inclusão escolar.