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[...] fazer pesquisa qualitativa não se restringe a organizar, de modo simplista, citações literais unidas às falas de sujeitos que responderam a questionários nem sempre bem elaborados. A pesquisa qualitativa deve buscar no fenômeno investigado os seus significados [...] (ASSIS, SILVA, 2010, p.151).

Em concordância com Gatti (2012, p. 44), “[...] a análise é um processo de elaboração, de procura de caminhos, em meio ao volume das informações levantadas.” Estes caminhos devem ser formados por ações sistematizadas, as quais cumprirão com o objetivo final da pesquisa, a produção organizada de determinado conhecimento. Em grupos focais, as análises podem ser feitas de acordo com as opções que se tem para pesquisas de Ciências Sociais ou Humanas. Optou-se para a análise dos dados qualitativos o referencial da Análise de Conteúdo exposto por Bardin (2011). Após a organização do material coletado, formando-se um corpus consistente e confiável, vem a análise.

A análise de conteúdo se trata de um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a “discursos” (conteúdos e continentes) extremamente diversificados (BARDIN, 2011, p.15).

Principalmente nesta pesquisa, que se pretendeu dar voz ao professor, tendo sido uma pesquisa qualitativa que utilizou o grupo focal como instrumento, a fala dos sujeitos tem o protagonismo necessário aos objetivos propostos.

O ponto de partida da Análise de Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada (FRANCO, 2007, p. 12).

O embasamento teórico para a análise de conteúdo é muito importante, pois é neste momento que as falas mostraram sua relevância. Por meio de comparações entre as falas e a teoria foi dada a valoração devida a determinado conteúdo. Todo o contexto foi levado em consideração, não somente as falas, mas as entrelinhas. Uma expressão facial ou corporal, reações dos outros presentes e outros códigos foram considerados na análise.

[...] o que está escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado, e/ou simbolicamente explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo, seja ele explícito e/ou latente (FRANCO, 2007, p. 16).

A análise de conteúdo é dividida em cinco etapas, conforme Bardin (2011) quais sejam: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, inferências e interpretação.

Segundo Bardin (2011), a pré-análise é aberta: fase de identificação, familiarização e organização das ideias da pesquisa.

[...] tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise (BARDIN, 2011, p. 125).

Esta fase passa por uma leitura geral, exame e escolha dos documentos. Também são revistos os objetivos da pesquisa, para que não se perca o direcionamento geral. Segundo Bardin (2011), iniciam-se as seleções dos indicadores, ou seja, a frequência de aparição de um tema dentro das falas em comparação com outros. A organização, edição e transcrição do material ocorrem neste momento também. Na presente pesquisa esta etapa representa a transcrição e leitura das transcrições das gravações com a identificação das falas mais significativas que atendam aos objetivos perseguidos.

A exploração do material, na sequência das ações, consiste, segundo Bardin (2011), “[...] em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (p. 131). Nesta etapa foram codificados no corpo do texto das transcrições temas semelhantes tratados pelos sujeitos.

Na próxima etapa, a do tratamento, “os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos” (BARDIN, 2011, p. 131). Por meio de recortes os dados brutos são organizados por unidades de acordo com cada característica. A análise vai tomando corpo, aparecendo nesta classificação alguns eixos temáticos. Nesta etapa foram separadas as falas mais significativas sobre cada eixo temático e feito um breve comentário sobre estas, a título de apresentá-las ao leitor. Aqui são trabalhados os grupos focais separadamente.

Estes eixos temáticos surgidos são os elementos em torno dos quais a análise de conteúdo se baseia. Segundo Bardin, “[...] são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos [...] sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos” (BARDIN, 2011, p.147).

Esta categorização pode seguir alguns critérios, por exemplo, os elementos podem ser agrupados por terem temas ou assuntos em comum, por classificações levando em consideração palavras com sentidos parecidos, ou ainda levando em

conta os verbos, adjetivos em comum (BARDIN, 2011). Cada pesquisa terá um tipo de categorização, de acordo com seu contexto, com seus objetivos.

Toda análise de conteúdo implica relações entre a mensagem e a teoria. É aí que entram as inferências, a quarta etapa da análise. É o procedimento entre a descrição dos fatos, obtidos com os dados coletados, e a interpretação destes dados. “A inferência é o procedimento intermediário que vai permitir a passagem, explícita e controlada, da descrição à interpretação” (FRANCO, 2007, p. 29).

Neste momento os dados começam a fazer sentido, pois, embasados na teoria, passam a ter relevância para a elucidação da pesquisa. Nesta etapa foram agrupados os eixos temáticos dos quatro grupos focais por categoria de assunto e analisados por ilações à luz da bibliografia utilizada e dos objetivos da pesquisa.

A quinta e última etapa da análise de conteúdo, a da interpretação, alimentou- se das etapas anteriores, principalmente das inferências, mas não mais organizada segundo os eixos temáticos, mas, sim, pelos objetivos primordiais da pesquisa e as conclusões que os estudos suscitaram.

Feito este detalhamento, estas foram as orientações que a presente pesquisa seguiu quanto aos procedimentos para se concretizar a análise dos dados coletados.

5 APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS DA COLETA DE DADOS POR MEIO DOS GRUPOS FOCAIS

A apresentação e a descrição dos resultados da coleta de dados foram realizadas seguindo orientação de Bardin (2011), separadamente para cada grupo focal. Seguindo os critérios de exaustividade, representatividade e homogeneidade (FRANCO, 2007), foram selecionadas as falas que deram ensejo aos eixos temáticos. Estas falas estão descritas e relacionadas a cada eixo ressurtido e aparecem também nas discussões. Após avaliação dessas falas expressas pelos professores em cada grupo focal, foram definidos os 08 (oito) eixos temáticos, que representaram os assuntos mais relevantes para a pesquisa. Esta fase da pesquisa é onde se pode ver com clareza e detalhamento a voz do professor, transcrita nestes eixos temáticos. Passemos agora a um breve resumo de cada grupo e dos eixos com suas respectivas falas.

5.1 Grupo Focal Realizado com Professores do EFI que Ministraram Aulas a Alunos com Deficiência Visual no Ano de 2014

Este Grupo Focal foi realizado no dia 04 de Maio de 2015. Contou com quatro participantes, nominados PV1, PV2, PV3, PV4 (por ordem de aparição das falas). Todos os participantes têm no mínimo 20 anos de docência. O local da realização foi numa sala cedida pela direção da escola onde dão aulas dois dos sujeitos. O tempo de duração foi de uma hora e meia. O clima foi bem descontraído, amigável. Todos os professores mostraram-se à vontade durante toda a discussão não sendo observados problemas de timidez ou restrições ao tratar sobre algum tema.

A reunião começou com a pesquisadora explicando aos professores convidados o intuito da pesquisa de mestrado a que se propunha e a importância das opiniões externadas naquele debate para a consecução dos trabalhos. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Logo de início já se estimulou reflexões sobre o que é ter um aluno com deficiência visual em sala de aula, como é “agir na urgência e decidir na incerteza” (PERRENOUD, 2001), que influições o processo de inclusão da criança com deficiência na sala regular do ensino fundamental I exerce nos professores, nos

alunos com deficiência e nos demais alunos da sala, que apoios ou parcerias existiram ou deveriam existir neste processo.

Ao término dos trabalhos deste grupo focal foi explicado novamente sobre o termo de consentimento e sobre a os objetivos da pesquisa. Houve agradecimentos de ambas as partes. As professoras elogiaram o debate, a troca de ideias, de experiência, disseram que gostariam de participar de mais encontros deste tipo, pois ficaram bem motivadas, e que gostariam de ver os resultados da pesquisa depois. Acharam que este trabalho pode vir a ajudar outros professores e a própria prefeitura. Duas comentaram sobre o tempo de carreira, uma 32, outra 25 anos, e acham que continuam a aprender. Que a diversidade faz isso com elas. Tudo muda muito, todos os dias. Comentaram sobre as crianças serem do séc. XXI e as aulas do séc.XIX.

5.2 Apresentação dos Eixos Temáticos Ressurtidos