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3. ARQUITECTURA INTERGERACIONAL

3.1. Relações intergeracionais

3.1.2. As gerações nas sociedades contemporânea

3.1.2.4. Os idosos

Na opinão de Figueiredo (2015), "o envelhecimento foi, desde sempre, motivo de reflexão do ser humano". Coutinho (2010, p.31), enfatiza que "nos séculos passados, a velhice era considerada um acontecimento excecional, encarado com respeito e orgulho". Contudo, "ao longo do tempo, o conceito de envelhecimento e as atitudes perante o idoso têm vindo a mudar" reflectindo o nível de conhecimentos sobre fisiologia e anatomia humana, bem como a cultura e as relações sociais de cada época (p.21). Na sociedade contemporânea, o envelhecimento tornou-se um fenómeno muito relevante, devido à sua implicação na esfera socioeconómica.

Segundo Coutinho (2010), o envelhecimento, no actual contexto cultural e social, tornou-se um problema delicado a nível mundial. Ele está a ser considerado como um problema eminentemente social, devido ao aumento da esperança de vida e nas respectivas consequências, a nível social,

da saúde e da economia e, sobretudo, devido à redução das taxas de natalidade.

No Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde (2015) afirma que, "se quisermos construir sociedades coesas, pacíficas, equitativas e seguras, o desenvolvimento terá que levar em conta essa transição demográfica e as iniciativas terão que aproveitar a contribuição das pessoas idosas para o desenvolvimento" (p.15)34. As pessoas idosas, segundo o Relatório, contribuem para o desenvolvimento de muitas maneiras, por exemplo, na produção de alimentos e na educação de gerações futuras. Incluí- los nos processos de desenvolvimento tem um impacto no seu bem-estar, ajuda a promover uma sociedade mais justa, reforça o desenvolvimento apoiando essas contribuições.

Neste relatório usa o termo “Envelhecimento Saudável” e define como "o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na velhice" (p.28)35. Para enquadrar como a saúde e

o funcionamento podem ser considerados na idade mais avançada, este relatório define e diferencia dois conceitos importantes. O primeiro é a capacidade intrínseca, que se refere ao composto de todas as capacidades físicas e mentais que um indivíduo pode apoiar-se em qualquer ponto no tempo. O outro são os ambientes nos quais vivem e suas interações neles. Esses ambientes fornecem uma gama de recursos ou barreiras que decidirão se pessoas com um determinado nível de capacidade podem fazer as coisas que consideram importantes.

Santos (2010) asseverou, que a terceira idade está relacionada à etapa do desenvolvimento em que os idosos podem reavaliar a vida, os negócios inacabados e decidem a maneira mais adequada para canalizar suas energias, com o intuito de conquistar uma melhor qualidade de vida. Alguns decidem repassar seu conhecimento e validar suas experiências e o

34 Tradução de autor. No original: “In World report on ageing and health states that if we want to build

societies that are cohesive, peaceful, equitable and secure, development will need to take account of this demographic transition and actions will need to both harness the contributions that older people make to development”.

35 Tradução de autor. No original: “Healthy Ageing as the process of developing and maintaining the

significado de suas vidas. Outros desejam apenas aproveitar o seu passatempo favorito ou realizar os sonhos que não tiveram espaço em suas vidas quando eram jovens. Independentemente da sua idade ou nível de capacidade intrínseca, os idosos têm direito a uma vida plena e digna.

Coutinho (2010) diz que "a velhice continua a ser um tempo de sonhos, de projetos, de realizações e de esperanças"(p. 32). No Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde (2015) enfatiza-se que "para as pessoas mais velhas é muito importante para satisfazer as suas necessidades básicas, aprender, crescer e tomar decisões, ter mobilidade, criar e manter relacionamentos, contribuir. Essas habilidades são essenciais para os idosos fazerem as coisas que eles valorizam. Juntos, eles permitem que eles envelheçam com segurança em lugar adequado para eles, continuem com seu desenvolvimento pessoal, sejam incluídos e contribuam para suas comunidades enquanto preservam sua autonomia e saúde" (p.159)36.

Ao continuar a aprender, os idosos podem adquirir conhecimentos e habilidades para controlar sua saúde, acompanhar os avanços em informação e tecnologia, participar (por exemplo, através do trabalho ou voluntariado), adaptar-se ao envelhecimento (por exemplo, para a aposentadoria), manter sua identidade e preservar o interesse pela vida. O facto de ter um emprego e participar em atividades fora de casa incentiva os adultos mais velhos a andar, conversar e exercitar-se mais, e pode contribuir para melhorar o bem-estar. No entanto, existem vários obstáculos que impedem o envelhecimento saudável". Esses obstáculos são:

- suas próprias atitudes: as pessoas idosas podem ter atitudes negativas sobre a possibilidade de retomar seus estudos, porque parecem muito velhas, não têm confiança ou motivação, têm medo de competir com os adultos mais jovens;

36 Tradução de autor. No original: “For older people is very important to meet their basic needs, learn,

grow and make decisions, be mobile, build and maintain relationships, contribute. These abilities are essential to enable older people to do the things that they value. Together they enable older people to age safely in a place that is right for them, to continue to develop personally, to be included and to contribute to their communities while retaining their autonomy and health”.

- obstáculos físicos e materiais: incluem os custos de oportunidades educacionais, falta de tempo, falta de informação sobre as opções disponíveis, o local onde os serviços educacionais são oferecidos e os problemas de disponibilidade e acessibilidade de transporte" (Idem, p.175)37.

Para os idosos são muits importantes os relacionamentos com crianças e outros membros da família, relações sociais informais com amigos, vizinhos, colegas e conhecidos. Alves (2007) asseverou que "ocorre uma inversão de valores na sociedade atual, uma vez que muitas pessoas concordam que os idosos são possuidores de conhecimento e de sabedoria, porém essa afirmação fica apenas no plano do discurso, não encontrando ressonância na vida real" (p.46).

A questão da descriminação das pessoas idosas remonta aos anos 70, do século XX, e "tem mantido vivo o diagnóstico de preconceitos, mitos, estereótipos, atitudes e comportamentos face à velhice" (TEIGA, 2012, p.74).

De acordo com Santos (2010), "a sociedade despreza o velho e tudo aquilo que ele representa – a tradição, a sabedoria, a memória e a habilidade em narrar histórias" (p.46). A experiência, as habilidades e conhecimentos dos idosos, cede lugar à inovação, experimentação, tecnologias modernas. Com isso, cada vez mais ocorre o desinteresse em conhecer as histórias narradas pelas pessoas idosas, pois tudo o que elas sabem pode ser facilmente acessado pela internet. Santos afirma que "o contacto social entre as pessoas tende a rarear na medida em que ficam mais velhas, e por inúmeras razões, o isolamento e a carência de contacto podem levar à solidão"(p.46). Num estudo realizado por Santos designado que os idosos não querem de estar isoladas, eles ainda preferem a narrativa, gostam de contar histórias para os mais jovens e ver as ideias deles. A geração mais velha argumenta que "os espaços de encontros são cada vez mais raros na sociedade. Mas a grande queixa é a de que ser velho é o mesmo que ser invisível, pois as únicas pessoas

37 Tradução de autor. No original: “These barriers include: - their own attitudes – older people may

have negative attitudes about returning to learning because they see themselves as too old, lack confidence or motivation, fear competition with younger adults; - physical and material barriers – these may include the costs of educational opportunities, a lack of time, a lack of information about what is available, the location where educational services are available and problems with the availability and accessibility of transportation”

que mantêm contacto com os idosos são os membros da família e outras pessoas também idosas" (Idem).