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Reutilização adaptativa como forma de preservar um património

2. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO INDUSTRIAL

2.4. Reutilização adaptativa como forma de preservar um património

No início da década de 1990, as antigas instalações industriais começaram a ser vistas como oportunidades de desenvolvimento, como «conservação por meio de adaptação» (Douet, 2012).

O conceito de “adaptação” segundo a Carta de Burra (1999), significa a modificação de um lugar, de modo a adequá-lo a um uso existente ou proposto. A adaptação só pode ser tolerada na medida em que represente o único meio de conservar o bem e "tiver um impacto mínimo sobre o significado cultural do sítio" (pp.6,14).

“Quaisquer alterações ou adições devem ser compatíveis com a forma e o tecido originais do local e devem evitar contrastes inadequados ou incompatíveis de forma, escala, massa, cor e material. A adaptação não deve dominar ou obscurecer substancialmente a forma e o tecido originais, e não

deve afetar adversamente o estabelecimento de um lugar de valor do patrimônio cultural. O novo trabalho deve complementar a forma e o tecido originais” (ICOMOS 1993-2010, pp.7-8)14.

Fragner (2012) afirma que, a reutilização adaptativa tem florescido nos anos mais recentes, uma vez que é mais frequentemente entendida como a única maneira de reter complexos industriais desativados, através de uma reutilização alheia à inicial.

O projeto de reutilização adaptativa do património pode ser considerado bem sucedido, se o projeto mantiver a harmonia entre o novo e o existente, ou seja, ao adicionar uma função moderna que fornece valor para o futuro, ele leva em consideração, respeita e preserva o significado do património do edifício.

Craven (Nov.3, 2017) anotou "a reutilização adaptativa é uma decisão filosófica de reabilitação". Como ele afirma, na maioria das vezes o custo da reabilitação e restauração é mais do que demolição e construção de novos, mas a sustentabilidade, tipo de materiais e cultura são as principais razões para a reutilização adaptativa de edifícios antigos.

Segundo as palavras do presidente do Docomomo15 Ana Tostões “hoje temos a consciência de que há um parque construído imenso no mundo e que a ideia da reutilização de estruturas existentes é um tema ligado à sustentabilidade, ao equilíbrio do planeta”.

Australian Department of the Environment and Heritage (2004) também observou que a reutilização adaptativa "pode beneficiar o meio ambiente, conservando os recursos naturais e minimizando a necessidade de novos materiais"16.

14 Tradução do autor. Em original: “Any alterations or additions should be compatible with the original form and fabric of the place, and should avoid inappropriate or incompatible contrasts of form, scale, mass, colour, and material.

Adaptation should not dominate or substantially obscure the original form and fabric, and should not adversely affect the setting of a place of cultural heritage value. New work should complement the original form and fabric”.

15 Docomomo é a sigla significa Documentação e Conservação Movimento Moderno,

https://www.publico.pt/2016/09/06/culturaipsilon/noticia/porque-destruir-quando-se-pode-reutilizar- 1743217

16 Tradução de autor. No original: “The practice can also benefit the environment by conserving

No que diz respeito aos materiais de construção temperados, que foram usados antes, eles já não estão disponíveis hoje. "A madeira serrada primeiro-crescimento de grão grosso é naturalmente mais forte e mais rica do que as madeiras de hoje. O revestimento de vinil tem a sustentabilidade do tijolo antigo?" (CRAVEN, Nov.3, 2017)17

Até à data, as perguntas sobre materiais e tecnologias de reutilização, transformações espaciais e funcionais, bem como actualização de legislação permanecem relevantes. Na opinião da Tostões (2015) "a combinação de legislação e protecção envolve a reflexão sobre as normas que são aplicadas à prática de reutilização e recuperação de edifícios". Ela distingue dois tipos de situações. A primeira, quando um edifício é classificado formalmente é possível trabalhar com excepcionalidade e adaptar a legislação; e a segunda situação, quando para um edifício os padrões são os mesmos que para uma nova constução, então a qualidade do projecto reabilitado é ameaçado.

Segundo Australian Department of the Environment and Heritage (2004), algumas instituições públicas estão a promover política de adaptação e desenvolvimento de lugares patrimoniais que ajudam a garantir que um projeto de reutilização adaptativa tenha um impacto mínimo nos valores patrimoniais de um edifício. Uns dos critérios são:

“- (...) destruindo o prédio e mantendo sua fachada

- exigir que um novo trabalho seja reconhecido como contemporâneo, ao invés de uma imitação pobre do estilo histórico original do edifício

- uma pesquisa dos usos novos para o edifício compatível com seu uso original" (p. 3 (tr.)18

Bouchenaki (2014) asseverou que as antigas instalações industriais, estações ferroviárias e portos antigos são agora considerados como

17 Tradução de autor. No original: “Adaptive reuse is a philosophical decision of rehabilitation”;

“Close-grained, first-growth lumber is naturally stronger and more, rich looking than today's timbers. Does vinyl siding have the sustainability of old brick?”

18 Tradução de autor. No original: “• discouraging “facadism” — that is, gutting the building and

retaining its facade

• requiring new work to be recognisable as contemporary, rather than a poor imitation of the original historic style of the building

• seeking a new use for the building that is compatible with its original use” (Australian Department of the Environment and Heritage., 2004, p. 3)

património cultural, "na medida em que testemunham não apenas a importância da arquitetura, mas também afetam a vida econômica e social"

19(p.6). Como ele afirma, a estratégia de reutilização adaptativa foi usada em

diversos centros históricos das cidades, e a mesma tem-se revelado eficaz e ajudou a rejuvenescer a base económica das antigas partes de diferentes cidades, gerando receita e oportunidades de emprego.

Podemos concluir que a reutilização adaptativa como modo de preservar o património industrial oferece enormes oportunidades para aprender e refletir sobre o passado, criando lugares de transformação para o futuro.

19 Tradução de autor. No original: “railway stations, factories, and ancient harbours are now regarded

as cultural sites insofar as they testify not only to architectural importance, but they have also impacted on economic and social life”.