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Na abordagem qualitativa, não é necessário um cálculo estatístico e\ou probabilístico para obter o número suficiente de sujeitos para a pesquisa. A questão “quantos?” nos protocolos desta abordagem, segundo Fontanella, Ricas e Turato (2008), tem importância relativamente secundária em se tratando da questão “quem”.

A “amostra” nesta abordagem é constituída de forma bastante peculiar, e, como assinala Michelat (1987, p. 199) não constitui de modo algum uma amostra representativa no sentido estatístico. Assim, para o autor “[...] é o indivíduo que é considerado como representativo pelo fato de ser ele quem detém uma imagem, particular é verdade, da cultura (ou das culturas) à qual pertence”.

Desse modo, neste estudo, não nos preocupamos em compor um número “x” ou “y” de sujeitos. Realizamos uma imersão no campo para observar, conversar e conhecer, de maneira ampla, as peculiaridades do contexto em que a pesquisa foi desenvolvida. Daí a escolha do grupo ou informantes guardar interfaces com as premissas que foram feitas deste campo (REY, 2005).

A contribuição de Fontanella, Ricas e Turato (2008), exprimindo que os componentes amostrais são mais especificamente definidos pelos objetivos da investigação, nos norteou para definirmos o referencial teórico que subsidiou a escolha dos informantes desta investigação.

Portanto, foi uma amostra teórica ou intencional (theoretical or purposive sampling) nos termos formulados por Schwandt (2007). Esta, por seu turno, refere- se a unidades não passíveis de quantificação, ou seja, os informantes são escolhidos não pela sua representatividade estatística/probabilística, mas sim pela sua relevância para a questão de pesquisa, para o marco teórico e explicação ou dar conta daquilo que ele se propõe a desenvolver na pesquisa (SCHWANDT, 2007).

Sendo a amostra teórica ou intencional muito utilizada nas investigações qualitativas, para a sua elaboração o pesquisador não se isenta de explicitar os critérios pelos quais foi selecionada a amostra (SCHWANDT, 2007).

Ainda acerca da discussão sobre informantes-chaves da pesquisa, Dezin, Lincoln e Guba (apud REY, 2005, p. 111), definem informantes-chaves como “[...] aqueles sujeitos capazes de prover informações relevantes que, em determinadas ocasiões, são altamente singulares em relação ao problema estudado”.

Para Rey (2005), o sujeito é uma unidade essencial para os processos de consolidação na pesquisa qualitativa, pois, no estudo da subjetividade, a singularidade é a única via que estimula os processos de elaboração teórica portadores de um valor de generalização desses estudos, distinta da generalização tal como entendida na perspectiva tradicional.

Neste estudo, foram incluídos como informantes usuários cujo acúmulo subjetivo em relação ao problema focalizado possibilitou a compreensão do objeto sob investigação. Antecipamos o fato de que certas características, como a frequência e uso há mais tempo dos serviços, tempo de moradia no bairro, bem como a proximidade do último atendimento à data da entrevista possam favorecer esse acúmulo.

Vale salientar que contamos com usuários de todas as seis SERs, não estabelecendo um número de usuários a serem entrevistados, porquanto nesta investigação, o fechamento amostral se deu por saturação teórica.

Fontanella, Ricas e Turato (2008, p. 17) definem saturação teórica como um ponto no qual:

[...] as informações fornecidas pelos novos participantes da pesquisa pouco acrescentariam ao material já obtido, não mais contribuindo significativamente para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados que estão sendo coletados.

Segundo esses autores, a técnica de saturação teórica pode ser confundida com outras técnicas de fechamento de elementos amostrais, como, por exemplo: fechamento por exaustão (onde todos os indivíduos disponíveis são incluídos na amostra) e por cotas (referem-se à pre determinação de contemplar distintas características secundárias dos elementos amostrais, como sexo e faixa etária) (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008).

Os autores ora citados reforçam a noção de que a avaliação da saturação teórica baseada em uma amostra é realizada de forma contínua de análise do

material discursivo e deve iniciar-se desde a “coleta do material empírico”. É, ainda, um instrumento conceitual que detém inequívoca aplicabilidade prática, possibilitando, com arrimo em sucessivos processamentos paralelos à obtenção do material empírico, uma finalização deste material (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008).

Tendo sido assim orientado, entrevistamos 37 usuários divididos nas seis SER do Município de Fortaleza e, posteriormente, foram somados mais seis usuários, totalizando 43 entrevistados. A necessidade de incorporar ao estudo mais usuários adveio do aprofundamento de uma temática específica, que foi o conhecimento dos usuários acerca do Programa Saúde da Família, conforme mais adiante será explorado no capítulo de resultados e discussões desta dissertação.

Os usuários foram divididos em dois grupos: um deles foi denominado como “participantes de algum programa14” e outro “não participantes de nenhum

programa15”, como descrito no quadro 3.

SER USUÁRIO ALGUM PROGRAMA PARTICIPA DE NENHUM PROGRAMA NÃO PARTICIPA DE

I 06 02 04 II 08 04 04 III 07 03 04 IV 07 03 04 V 08 03 05 VI 07 04 03 TOTAL 43 19 24

Quadro 3 – Número de usuários participantes e não participantes do programa, por

Secretaria Executiva Regional.

Fonte: Dados produzidos pela própria pesquisa

Para a escolha dos usuários, além da imersão do pesquisador em campo, contamos também com a ajuda dos ACS das áreas escolhidas para o estudo.

14 Os não participantes de algum programa são àqueles usuários que sistematicamente utilizam os

serviços públicos de saúde, ou seja, os portadoores de doenças crônico-degenerativas (hipertensos e diabéticos), portadores de tuberculose e hanseníase, gestantes e puérperas.

15 Chamamos de não participantes de nenhum programa àqueles usuários que utilizam os serviços

públicos de saúde de forma não sistemática, ou seja, os usuários de demanda espontânea que não participam de nenhum programa instituído pelo SUS.

Previamente os ACS foram convidados pelos coordenadores dos CSF a participarem de uma reunião conosco, que somos os pesquisadores responsáveis pelo campo desta pesquisa. Na oportunidade, os ACS foram informados acerca dos objetivos, metodologia (especificamente sobre a técnica qualitativa para obtenção do material empírico e o perfil dos informantes a serem entrevistados) e finalidades do referido estudo.

Em seguida, foram divididas as áreas para a realização das entrevistas não diretivas por ACS. Vale salientar que foi escolhido um ACS por equipe de Saúde da Família do CSF. Visitamos as residências dos usuários escolhidos juntamente com o ACS e procedemos com à referida entrevista.