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2.3. A retomada dos inseticidas de origem vegetal à luz dos novos

2.3.1. Os inseticidas de origem vegetal (extratos vegetais) e a

Não há nenhuma forma previsível para encontrar um novo mecanismo de ação; e informações sobre o uso popular de extratos vegetais usualmente são mais importantes que os dados advindos da utilização racional dos mesmos (CASIDA & QUISTAD, 1998). O sucesso da busca por produtos de origem natural, com novos mecanismos de ação, vai depender da disponibilidade das espécies (biodiversidade) e de todo conjunto de um programa que envolva a detecção dos produtos bioativos,

síntese de análogos mais eficientes e finalmente a elucidação do sítio- alvo da molécula inseticida.

Até hoje já foram identificadas mais de 2.000 espécies vegetais de interesse fitossanitário (SALAZAR, 1997), além de mais de 800 espécies de pragas controladas por produtos de origem botânica (GRAINGE & AHMED, 1988), dentre estes, vários, inclusive com ação sobre moléstias e parasitas de animais. Entretanto, os antigos agrotóxicos de origem vegetal, como o piretro, a rotenona, a nicotina, a sabadilha e alcalóides extraídos de Schoenocaulon officinale (Liliaceae) ainda são os mais utilizados e com relativa freqüência (LANUNES & RODRIGUES, 1989).

De uma maneira geral, os metabólitos secundários de defesa da planta podem atuar sobre os insetos de diversas formas, podendo penetrar no organismo por ingestão, através do aparelho digestivo, por contato, atravessando o tegumento e através das vias respiratórias (GALLO et al., 1988). Evidentemente que uma molécula inseticida que chegue a um organismo via ingestão, não apresenta efeitos imediatos, pois fica dependente dos processos digestivos para incorporação e ação nos sistemas vitais da praga. Por outro lado, é na ação por contato e na absorção pelas vias respiratórias que um produto tem ação mais rápida e por onde geralmente atuam os inseticidas neurotóxicos.

As razões pelas quais, mesmo que sejam aos milhares as espécies vegetais com potencial inseticida, fungicida e bactericida, não tenha havido utilização direta dos extratos vegetais desses materiais, prende-se a que a sua utilização dar-se-á num novo patamar, à luz dos novos conhecimentos. A utilização direta dos extratos vegetais não é sustentável, na maioria das vezes, sob o ponto de vista econômico e ambiental, pois além de extremamente caro, o processo exigiria o plantio de espécies vegetais para terem seus extratos retirados. Estas, por sua vez, ocupando grandes áreas, em plantios intensivos, inexoravelmente estariam expostas as suas próprias pragas e moléstias, que deveriam ser controladas também.

Assim, os avanços no conhecimento das potencialidades das espécies vegetais e seus metabólitos de defesa, levam à ciência a tentar desvendar as estruturas químicas de tais moléculas, visando sintetizá-las, para produzir novos análogos mais eficientes e mais específicos. Através da engenharia genética é possível não só melhorar a produção e metabólitos pelas “plantas defensivas” , como também produzir proteínas e peptídeos praguicidas, transferindo genes para microorganismos produtores ou mesmo para sistemas bacterianos, baculovirais e plantas (CASIDA & QUISTAD, 1998).

2.4. Metabólitos secundários das plantas como precursores de novas moléculas praguicidas

No habitat natural as plantas estão sempre cercadas por um número enorme de inimigos e competidores, que fazem parte do ecossistema, como bactérias, vírus, fungos, nematóides, insetos, mamíferos, outros herbívoros e inclusive outras plantas. Como os vegetais não podem evitar seus inimigos movendo-se de um lugar para outro, as plantas desenvolveram outros meios de proteção diferentes dos animais. Além das alterações morfológicas criando barreiras físicas e químicas, as plantas montaram uma maquinaria genética para produzir substâncias de defesa, conhecidas como metabólitos secundários, contra uma grande variedade de herbívoros, microorganismos patogênicos e vírus.

Por muitos anos a significância adaptativa da maioria dos metabólitos secundários ficou desconhecida, tendo-se principalmente como substância sem função, resultado de sobras do metabolismo da planta. Foi o interesse pela busca de novas substâncias que chamou a atenção

defesa das plantas contra estresses bióticos, inclusive na competição com outras plantas e mesmo na atração de agentes responsáveis pela polinização, dispersão de sementes e outras importantes funções ecológicas.

Muitos produtos de defesa das plantas, que aumentavam a adaptação reprodutiva, podiam ser também indesejáveis aos humanos como alimento. A seleção artificial feita pelo homem, se por um lado resultou em plantas mais palatáveis e menos tóxicas, por outro, diminuindo relativamente a produção desses compostos, provavelmente tornou-as mais suscetíveis às pragas.

A defesa das plantas pode ter surgido a partir da seleção de mutações herdáveis. Mutações ao acaso em rotas básicas do metabolismo levaram ao aparecimento de novos compostos que resultaram tóxicos aos herbívoros e microorganismos, e até mesmo a outras plantas competidoras. Uma vez que tais produtos não fossem tóxicos às próprias plantas e não significassem um custo de produção muito alto, poderiam determinar uma maior adaptação, proporcionando a que pudessem deixar uma maior descendência, passando com mais eficiência tais caracteres de defesa para as próximas gerações. Em adição, os vegetais desenvolveram a capacidade de armazenar produtos tóxicos, inclusive às suas próprias células, depositando-os nos vacúolos ou mesmo conjugando-os como compostos sem atividade, aptos a entrar em ação, tão logo se faça necessário.

A elucidação da estrutura química de tais compostos de defesa pode significar a síntese de novos produtos socialmente mais aceitáveis e a identificação, seqüenciamento e clonagem de genes mais promissores podem tornar viável a transferência de resistência a cultivos agrícolas, dispensando o uso de agrotóxicos. Entretanto, há necessidade de basicamente identificar o fenômeno alelopático ou bioativo, através de biotestes com extratos vegetais, que poderão indicar espécies de plantas

mais promissoras na prospecção de genes de defesa contra estresses bióticos.