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Os instrumentos de investigação

No documento raquelmartinsmelopinheiro (páginas 67-71)

Utilizamos em nossa análise dois tipos de instrumentos: o instrumento principal e o complementar. O primeiro consiste no questionário composto por algumas informações iniciais: algumas perguntas referentes à formação do professor questionado. Em seguida, são cinco as perguntas que versam tanto sobre a conceptualização de aula quanto sobre as práticas dos professores nesta cena.

Vejamos abaixo o instrumento utilizado: Parte I

Prezado Professor,

As suas respostas às perguntas abaixo representam uma grande contribuição para com uma importante pesquisa que estamos desenvolvendo na Universidade Federal de Juiz de Fora, com o apoio da Fapemig e do CNPq. Tal pesquisa, focalizando a REALIDADE da sala de aula – a qualidade da interação, as condições verdadeiras de ensino-aprendizagem – pretende contribuir para a melhoria de nosso ensino e, para tanto, precisamos conhecer sua opinião e um pouco dessa realidade em sua sala de aula. Como professor-cidadão, contamos com você!

Nossos agradecimentos,

Equipe do Projeto Educação da Oralidade – UFJF/ FAPEMIG/ CNPq Rede de Ensino em que trabalha: ( ) estadual ( ) municipal ( ) particular Nível: ( ) fundamental Ano: 6º ( ) 7º ( ) 8º ( ) 9º ( )

( ) médio Série: 1ª ( ) 2ª ( ) 3ª ( ) Cidade onde atua:

Parte II

Na questão 1 tínhamos por meta que os professores apresentassem seus conceitos, dadas suas vivências, para o frame Aula. Já nas questões 2 e 3 solicitamos que os professores descrevessem as ações mais comuns desempenhadas por eles e por seus alunos nesses cenários; desse modo, poderíamos confrontar as práticas reais dos sujeitos com a definição da cena apresentada na primeira questão. A questão 4 focalizava o frame Aula idealizado pelos professores. A questão 5 pretendeu extrair dos sujeitos-professores alguns relatos de experiências que pudessem lançar luz sobre as suas concepções acerca da aula e da escola, uma vez que a experiência está em estreita correlação com os processos de conceptualização e categorização, como vimos nas seções anteriores deste capítulo.

1) Para você, o que é uma aula?

_________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 2) Como são suas aulas? Dê exemplos das ações mais comuns, mais rotineiras.

_________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 3) Como é a atitude de seus alunos durante suas aulas? Dê exemplos das ações mais comuns, mais freqüentes.

_________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 4) Para você, o que é preciso para se ter uma BOA aula?

_________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 5) Conte um caso (bom ou ruim) que aconteceu com você em sua escola, envolvendo seus alunos. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________

O segundo instrumento, o instrumento investigativo complementar, consistiu em um “diário de bordo” composto pelas anotações que foram feitas ao longo das visitas às escolas investigadas. Nestes diários, geralmente foram salientadas as facilidades ou dificuldades enfrentadas na aplicação dos questionários. Alguns deles apresentam informações importantes para nossa análise de dados, marcando atitudes e nossas impressões sobre as visitas.

A esse respeito vale salientar que, antes das visitas para aplicação do questionário, foi solicitado pela direção e coordenação da maioria das escolas investigadas que o grupo de pesquisa fizesse uma apresentação do projeto. Assim, a aplicação do questionário ocorreu em uma segunda visita, o que demandou tempo da equipe de pesquisa.

No momento da aplicação dos questionários, alguns professores permaneciam em sala de aula, participavam da pesquisa com seus alunos; em outros casos, se retiravam e respondiam o instrumento na sala de professores ou pelos corredores da escola. Ao professor era dada a livre escolha; logo, alguns professores se negarem a responder o questionário. Nestes casos, outros professores que também ministravam aulas nas séries em pesquisa o fizeram.

Dada a metodologia, passaremos ao coração desta pesquisa – o campo de análise dos dados que constitui o próximo capítulo.

A troca de experiência e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando8. (Nóvoa,1992)

Com base nos fundamentos teóricos apresentados no capítulo 2, nosso parâmetro analítico tem como cerne o conceito de frame (cf. Cap. 2, seção 2.1.1). Orienta-nos, portanto o princípio semântico-pragmático de que os significados estão relativizados à cena (FILLMORE, 1981), isto é, de que os processos de significação se dão de modo integrado, a partir da estrutura conceptual a qual se vinculam, marcada pelos jogos da linguagem e da cultura. É dessa forma - com uma categoria analítica sociocognitiva e cultural – que sustentamos a concepção de linguagem como prática social, como ação conjunta (cf. cap. 2) que ilumina este estudo.

Conforme anunciado em capítulos anteriores, nosso propósito investigativo, tendo como foco central o discurso dos professores, consiste no desvelamento da conceptualização de AULA e na descrição das práticas cotidianas desses sujeitos e de seus alunos nesta cena escolar. Nesse encalço, nossas análises focalizam as pistas lingüísticas – as Unidades Lexicais (ULs) que suscitam os frames (cf. seção 2.1.2.1, cap.2) – presentes nas respostas dos professores. Os dados emergentes constituem, pois, o corpus específico que, submetido a buscas eletrônicas (programa computacional Word Smith Tools e suas respectivas ferramentas Wordlist e Concord) ou manuais, faz emergirem os padrões lingüísticos mais comuns nas respostas dos professores. Tais padrões são submetidos a análises quantitativas (freqüência de ocorrência) e qualitativas (interpretação dos dados ancorada nos pressupostos da Linguística Cognitiva, da Linguística Aplicada, da Antropologia, dentre outros parâmetros anunciados – cf. caps. 2 e 3) de modo a desvelar as significações implícitas no discurso dos professores sobre sua reflexão e ação.

Nossa hipótese é de que a análise do frame AULA a partir da perspectiva de um de seus atores – o professor – poderá nos trazer elementos substanciais para a compreensão da questão central, motivadora do presente estudo, qual seja “a crise da sala de aula”.

A partir desse enquadre, nosso percurso analítico no presente capítulo se organiza pela abordagem sucessiva das cinco questões que formam o instrumento de pesquisa (cf. cap.4).

No documento raquelmartinsmelopinheiro (páginas 67-71)