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3. Metodologia: Estudo de Caso em ações afirmativas

3.1. Os instrumentos da pesquisa

3.1.1. A relação entre as pesquisas bibliográfica, documental e eletrônica

O reconhecimento da unidade caso foi feito, inicialmente, através da pesquisa bibliográfica, documental e eletrônica, analisando os documentos elaborados e aprovados pela instituição baiana e os documentos correspondentes aos projetos e programas federais e estaduais, ao mesmo tempo em que analisamos os princípios das ações afirmativas, dos Direitos Humanos de primeira, segunda, terceiras e quarta dimensões (ou gerações), do conceito de justiça social e do capital social.

A pesquisa bibliográfica foi feita com fontes secundárias, e “o pesquisador não é um simples consulente de livros e revistas na biblioteca. É um operador decidido em busca de fontes” (BOAVENTURA, 2004, p. 69). E essa busca de fontes serviu para relacionar os dados da pesquisa de campo, obtidos pela pesquisa de levantamento. Na pesquisa bibliográfica, buscamos a possbilidade de conhecer o que foi escrito e debatido sobre o referencial teórico da pesquisa, assim como as pesquisas anteriores sobre o tema das ações afirmativas, permitindo um trabalho circunstanciado para a tese no campo de pesquisa relativo (passim DIONNE; LAVILLE, 2001).

Na pesquisa documental fizemos a análise de conteúdo das resoluções dos Conselhos Superiores da UFBA sobre a reserva de vagas nessa instituições, portarias, documentos registrados diversos. “Alguns tópicos de pesquisa são susceptíveis ao exame sistemático de documentos, como romances, poemas, publicações governamentais, música, etc. Esse método de pesquisa chama-se análise de conteúdo” (BABBIE, 2001, p.70). A “análise de conteúdo tem a vantagem de fornecer um exame sistemático de materiais em geral avaliados de forma

muito impressionística” (ibden, p. 71) e assim identificar os princípios e os pressupostos contidos no documento, as tensões sociais entre movimentos sociais e o Estado, a visão da instituição sobre a matéria. Da mesma maneira identificaremos os princípios das propostas do Governo Federal sobre ações afirmativas relacionados à experiência na UFBA

A pesquisa eletrônica servirá de sustentação para a pesquisa bibliográfica e documental, permitindo a ampliação das fontes primárias, documentais, e secundárias, livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos.

3.1.2. Entrevista e questionário

A percepção que os alunos aprovados no sistema de cotas sobre a sua inserção nas universidades e sua relação interna após essa mudança foram investigados através de entrevistas semi-estruturadas, abordando os conceitos de justiça social, Direitos Humanos e fortalecimento do capital social na sociedade, assim como a percepção do racismo e da pertinência da adoção de ações afirmativas. Essas entrevistas apresentam um roteiro inicial de perguntas sobre esses tópicos, mas facultam ao pesquisador a possibilidade de criar novos questionamentos a partir da interação com as suas fontes e enriquecer a investigação. Como salienta Goode e Hatt (1977, p. 239):

há um movimento a favor das entrevistas qualitativas através do uso do roteiro de entrevista, que exige certos tipos de informação sobre cada informante, mas permite ao entrevistador reformular a questão para adequá-la à compreensão do momento. Isto permite ao entrevistador expressar a questão de tal maneira que o informante pode entendê-la mais facilmente. Quando a ocasião exigir, o entrevistador pode descer mais profundamente. Além disso, o desenvolvimento da análise de conteúdo e o código qualitativo permitem uma padronização das respostas não de tipo “sim- não”. Assim uma das objeções básicas à pesquisa qualitativa foi parcialmente removida.

A objeção básica a que os autores acima se referem diz respeito a uma crítica que ocorria sobre o caráter “antropológico” das entrevistas pouco estruturadas, que não permitem uma reprodução das mesmas respostas da mesma fonte por diferentes entrevistadores, o que feriria a fidedignidade da pesquisa. Da mesma maneira que Goode e Hatt (1977), discordamos dessa visão reducionista que não respeita a especificidade da pesquisa nas ciências sociais, e sabemos que o aspecto mais subjetivo das informações nesse caso exigiram um esforço de interpretação do pesquisador, pois as entrevistas foram gravadas para posterior análise do discurso, e que na pesquisa com indivíduos não é possível reproduzir as mesmas respostas. Essas entrevistas terão como instrumento o formulário com caráter aberto.

A investigação de como está ocorrendo o aproveitamento acadêmico dos alunos aprovados por cotas, se há mudança no funcionamento da dinâmica acadêmica para o apoio ou reforço escolar dos alunos aprovados pelas cotas e como está ocorrendo a aprovação ou desistência dos mesmos na UFBA foram alcançados com a pesquisa bibliográfica, documental e eletrônica para identificar publicações e documentos oficiais que tratam desses assuntos, ao lado de entrevistas com os gestores universitários responsáveis pelos programas de ação afirmativa. Foi viável identificar qual o arcabouço institucional de cada universidade para viabilizar a proposta em andamento, indo além do aspecto da reserva de vagas no acesso, mas também investigando a permanência, suas similaridades e diferenças, as resoluções universitárias que instituíram as cotas na UFBA, os órgãos criados nessas universidades, as assessorias, os recursos, as alianças externas construídas, as formas de avaliação do desempenho interno dos alunos. As entrevistas pouco estruturadas com os gestores e idealizadores dos programas brasileiros alcançaram o objetivo de identificar o discurso dos gestores públicos sobre os programas, comparar com as suas práticas concretas na implementação dos mesmos programas.

Aplicamos um questionário, que está transcrito no Apêndice do presente trabalho, com uma amostra representativa da população dos alunos da UFBA. Os questionários procuraram captar a opinião dessa população sobre as ações afirmativas na UFBA, qual a percepção que os alunos aprovados no sistema de cotas têm da sua inserção nas universidades, e sua relação interna após essa mudança, dentro dos conceitos de justiça social, Direitos Humanos e fortalecimento do Capital Social na sociedade, assim como a percepção do racismo e da pertinência da adoção de ações afirmativas.

Aplicamos questionários, que não tem a interferência de um entrevistador para permitir a livre resposta dos alunos sobre todos esses pontos enumerados acima, para que os alunos respondessem externando seu ponto de vista sem receio de censura ou contestações. Os questionários foram distribuídos aos alunos da UFBA em quantidade suficiente para compor uma amostra significativa dentro da própria universidade.