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CAPÍTULO 4. PEC/FOR PROF: EDUCAÇÃO OU TREINAMENTO?

4.3 Os Instrumentos da Pesquisa

Um dos princípios básicos na condução de uma pesquisa é a ligação entre o problema a ser investigado e a escolha dos instrumentos de coleta de dados.

Neste estudo, optou-se por usar dois instrumentos: o questionário, com o intuito de abranger um número maior de informantes, propiciando uma visão panorâmica do problema, e a entrevista, pelo fato de o colóquio acontecer face-a-face e, ainda, auxiliar o pesquisador a coletar um maior número de informações desejadas.

4.3.1 O Questionário

Um questionário, segundo Parasuraman (1991), é tão somente um conjunto de questões feito para gerar os dados necessários para se atingir os objetivos de um projeto de investigação. Embora o autor afirme que nem todos os projetos de pesquisa utilizem essa forma de instrumento de coleta de dados, o questionário é muito importante na pesquisa científica, especialmente nas ciências sociais. O mesmo autor afirma também que construir questionários não é uma tarefa fácil e que aplicar tempo e esforço adequados para a construção do questionário é uma necessidade, um fator de diferenciação favorável.

Escolheu-se trabalhar com esse instrumento por apresentar algumas vantagens que, de acordo com Lakatos e Marconi, são:

economia de tempo; maior número de informantes; abrangência de uma área geográfica mais ampla; respostas mais rápidas e precisas; maior liberdade nas respostas em razão do anonimato; mais segurança pelo fato de as respostas não serem identificadas; menos risco de distorção, pela não influência do pesquisador; há mais tempo para responder e em hora mais favorável; há mais uniformidade na avaliação; em virtude da natureza impessoal do instrumento e obtém respostas que materialmente seriam inacessíveis. (LAKATOS e MARCONI, 1991, p. 202-3)

Roesch (1996) argumenta que o questionário não é apenas um formulário, ou um conjunto de questões listadas sem muita reflexão. O questionário é um instrumento de coleta

de dados que busca mensurar alguma coisa. Para tanto, houve esforço intelectual anterior de planejamento, com base na conceituação do problema de pesquisa e do plano da pesquisa, e algumas entrevistas exploratórias preliminares. Com base nestes termos e elementos, o passo seguinte foi elaborar uma lista abrangente de perguntas sobre cada variável a ser medida. Em seguida, elas foram operacionalizadas, tomando-se o devido cuidado para que as perguntas abertas não induzissem respostas, assim como reformularam-se questões elaboradas com jargão técnico, evitando-se dificultar o entendimento das questões.

O aporte teórico para o questionário usado nesta pesquisa foi buscado em Donald Shön, que foi um dos pesquisadores contemporâneos que mais retomou a discussão sobre reflexão, buscando a ligação entre reflexão e ação, sendo que sua principal contribuição reside em sua oposição ao modelo da racionalidade técnica e ao destaque dado por ele ao conhecimento prático.

Esse conhecimento é caracterizado pelos processos de reflexão-na-ação, reflexão

sobre a ação e reflexão sobre a reflexão-na-ação.

A reflexão-na-ação consiste no processo de pensar sobre a ação no mesmo momento em que ela ocorre, enquanto que a reflexão sobre a ação e sobre a reflexão-na-ação implicam em um distanciamento temporal entre a ação e o momento da reflexão; e consistem numa “análise que o indivíduo faz a posteriori sobre as características e processos da sua própria ação. É a utilização do conhecimento para descrever, analisar e avaliar os vestígios deixados na memória por intervenções anteriores” (SCHÖN, 1992, p. 1).

Em sua resenha do livro de Schön, Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem, Ansaloni destaca que, neste livro, o autor introduz o conceito de ensino prático-reflexivo ou reflexão-na-ação:

(...), o currículo normativo das escolas acaba por excluir a possibilidade de aplicação desse ensino prático reflexivo, pois se baseia no conhecimento profissional como resultado da aplicação da ciência a problemas instrumentais, traçando um nítido limite entre a ciência que produz novo conhecimento e a prática que o aplica. Para o autor, essa abordagem não abriria espaço para a pesquisa na prática (reflexão-na-ação), a partir da qual é possível compreender aquelas situações indeterminadas que sempre ocorrem na vida profissional e para cuja complexidade e urgência o sistema de ensino não costuma apresentar respostas. (ANSALONI, 2005, p. 1).

Apoiado no “ensino prático reflexivo” ou “reflexão-na-ação”, dividiu-se o questionário em três partes: a ação dos professores antes de fazer o PEC/FOR PROF, durante o curso e após o curso, configurando um tipo de questionário montado com base em categorias temporais.

No apêndice B, p. 151, encontra-se o modelo de questionário usado na pesquisa.

4.3.2 A entrevista

As entrevistas tiveram um roteiro semi-estruturado, que combinava questões fechadas e abertas, em que cada entrevistado teve a liberdade de falar sobre o tema proposto. Por meio de uma conversa inicial, procurando inserir o entrevistado no conjunto de motivos apresentados, as entrevistas foram realizadas com base em um roteiro previamente elaborado, objetivando extrair: a) a história oral, focalizando desde a formação profissional do entrevistado até sua relação com o trabalho atual; b) o ponto de vista dos entrevistados, sua opinião sobre as diferenças entre como agia antes, durante e após o curso; c) questões pertinentes ao objeto da pesquisa, sempre ampliando e aprofundando a comunicação à luz do marco teórico desenhado.

As entrevistas transcorreram com presença e interação da entrevistadora, no sentido de possibilitar maior informalidade e abertura quanto ao tema proposto; obedeceram a um critério único para todos os entrevistados, o entrevistador (já conhecido por todos os atores) apresentou: o interesse da pesquisa; a instituição a que está vinculada; os motivos da escolha

de tal objeto; a justificativa de escolha do entrevistado; a garantia de manter anônimos e sigilosos quaisquer comentários.

Para a redação das perguntas, seguiram-se as orientações de Manzini (2003), para quem, ao se elaborar um roteiro de perguntas semi-estruturadas, deve-se ter “como função principal auxiliar o pesquisador a conduzir a entrevista para o objetivo pretendido” (p.12).

Segundo a concepção do autor, o roteiro poderá ter outras funções: primeiramente pode ser “um elemento que auxilia o pesquisador a se organizar antes e no momento da entrevista”, e depois, pode ser “um elemento que auxilia, indiretamente, o entrevistado a fornecer a informação de forma mais precisa e com maior facilidade”. E ainda, “estas condições devem garantir ao pesquisador, pelo menos parcialmente e intencionalmente, coletar todas as informações desejadas”. (MANZINI, 2003, p. 13).

No que se refere aos cuidados com a forma das perguntas, ressalta-se a necessidade de o pesquisador ser direto e claro, utilizando linguagem simples, com perguntas curtas, respeitando-se, assim, a memória do entrevistado, que poderá, “frente a respostas longas, reter apenas fragmentos da questão, resultando numa resposta parcial ao questionamento proferido”. (MANZINI, 2003, p. 15).

A seqüência de blocos temáticos, no caso: antes, durante e após o PEC, configurando blocos temporais, objetivava facilitar o desenvolvimento do raciocínio do entrevistado. Tal ação, segundo Manzini (2003, p. 22-3), auxilia na análise das ações verbais expressas nas perguntas do roteiro, dando “um embasamento teórico para a construção de categorias de análises ou unidades de análise em perguntas que lidam com interação verbal”. Dessa forma, pode-se tentar inferir “qual intenção que a pergunta apresenta, [...] a temática que a pergunta traz e [...] o tipo de ação verbal que a pergunta enseja”.

Para Manzini (2003, p. 25), “os temas das perguntas, as ações verbais identificadas e as intenções subjacentes às perguntas do roteiro podem auxiliar na classificação e na

nomeação das classes de análise ou na nomeação dos temas e assuntos encontrados”. Assim, podem-se verificar tais intenções, no roteiro explicitado no Apêndice – B, p. 151.

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