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Os jovens nas origens do movimento adventista

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CAPÍTULO II – O JOVEM ADVENTISTA NA IASD E NOS DADOS DO IBGE

2.1 O desenvolvimento do ministério jovem na IASD

2.1.1 Os jovens nas origens do movimento adventista

O movimento adventista tem, em seu princípio, os próprios jovens engajados em desenvolver um ministério para jovens com o intuito inicial de promover o trabalho missionário, especialmente através das publicações, e promover a causa da temperança. Vale destacar aqui que o fato dos jovens serem percebidos como instrumentos no cumprimento da missão do adventismo se deve por duas razões básicas. Em primeiro lugar, pela autoimagem profética que a IASD sustenta e que se traduz numa responsabilidade coletiva de anunciar uma mensagem de advertência ao mundo com relação ao breve advento de Jesus Cristo (KNIGHT, 2010, p. 29; LARONDELLE, 2011, p. 981-982). E, em segundo lugar, por se reconhecer o potencial físico, intelectual e criativo que os jovens possuem para a proclamação dessa mensagem (CAMPITELLI, 2018, p. 79-85).

No que diz respeito a causa da temperança, os jovens também se envolveram na disseminação de um estilo de vida mais saudável e equilibrado. Essa compreensão foi sendo, paulatinamente, absorvida pelos pioneiros do movimento adventista e incorporada ao cardápio de crenças da denominação. Vale frisar aqui que a mensagem de saúde da IASD foi adotada tendo como pano de fundo três princípios gerais: (1) humanitário, isto é, como uma das formas de se prevenir as doenças diminuindo, assim, o sofrimento no mundo; (2) evangélico, ou seja, a mensagem sobre um estilo de vida saudável seria uma “ponte” para se aproximar das pessoas e pregar o evangelho a elas e (3) soteriológico, isto é, a compreensão e prática de um estilo de vida saudável estaria ligada ao processo de “santificação” onde o crente aprende a cuidar melhor do corpo como “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 3.16-17; 6.19-20) com o intuito de beneficiar seu discernimento, uma vez que a dimensão física e espiritual do homem, na perspectiva adventista, estão intimamente relacionadas (DOUGLASS, 2003).

Avançando na história, pode-se dizer que os pioneiros do ministério voltado para jovens foram Harry Fenner, de 16 anos, e Luther Warren, de 14 anos. Eles começaram organizando reuniões para jovens rapazes num pequeno cômodo da casa dos pais de Luther, em 1879 (CAMPITELLI, 2018, p. 9). Nos 20 anos seguintes, surgiram grupos semelhantes em muitas partes do mundo, como em Wisconsin, em 1891, e em Lincoln, capital do estado norte- americano do Nebrasca, no ano de 1893. Em 1899, a Associação29 de Ohio, em Mout Vernon,

criou oficialmente um departamento de jovens.

Durante esse tempo, também surgiram vários artigos da escritora Ellen G. White, uma das pioneiras do adventismo, nos quais ela falava sobre a importância de se trabalhar pelos jovens. Seus livros, embora tenham sido escritos no fim do século 19 e início do século 20, ainda são considerados pela liderança da IASD relevantes para manter a memória identitária da juventude adventista. O pastor e professor norte-americano Dwight Nelson, por exemplo, escreveu um artigo intitulado “Tornando Ellen White relevante para as novas gerações” (2017, p. 433-452) em que articula maneiras de se transmitir essa memória adventista para a juventude contemporânea.

Em 1901, a Associação Geral tomou as primeiras providências para a formação oficial de uma organização de jovens, aprovando o conceito da Sociedade de Jovens e recomendando que fosse formada uma comissão para estabelecer um plano de organização. Em 1907, a Associação Geral da IASD criou um Departamento exclusivo para os jovens chamado de Sociedade de Jovens Adventistas do Sétimo Dia dos Missionários Voluntários (ZUCOWSKI, 2012, p. 13).

Como se pode ver, essa organização foi fruto de um reconhecimento gradativo, na compreensão da IASD, da necessidade de ter um ministério voltado para os jovens com o intuito de “promover entre eles o companheirismo, o fortalecimento espiritual e prepará-los para o serviço a igreja e a comunidade” (BARBOSA, 2012, p. 18).

Allen (2012, p. 30) acredita que as décadas de 1910 a 1930 foram as mais prósperas para o ministério jovem. A Igreja crescia pelo mundo e se sedimentava organizacionalmente. O culto destinado aos jovens era o centro da participação dos mais novos na congregação local. Era um programa em que se incentivava a comunhão através da oração, com a presença das

29 A estrutura organizacional da IASD se divide em camadas administrativas que cobrem certos territórios. Em

linhas gerais, as igrejas de uma determinada cidade ou região são organizadas num distrito coordenado por um pastor. O conjunto de distritos de igrejas de uma determinada região é administrado por uma Associação. As Associações de um determinado estado ou estados da federação, por sua vez, são administradas por uma União. As Uniões são administradas por uma Divisão que cobre todo um continente e representa a Associação Geral, que é a sede administrativa mundial da IASD, localizada em Silver Spring, Maryland, EUA (Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 2011, p. 29-30).

famílias por completo, e também era um espaço oportuno para o companheirismo cristão, capacitação e comprometimento missionários.

Porém, logo após a Primeira Guerra Mundial, a Igreja já era pressionada por correntes ideológicas que pretendiam defender o potencial do ser humano como resolução de todos os problemas e promover a relativização das verdades morais absolutas defendidas historicamente pelas instituições religiosas. A reação da liderança se deu por meio de muitos folhetos, livros, materiais e pelo periódico The Youth’s Instructor. O conteúdo destacava os valores morais cristãos, com um discurso puritano e algumas racionalizações, sem apresentar uma base bíblica sólida. No entanto, essa produção cultural satisfazia a necessidade dos jovens da ocasião. Em 1930 foi publicado o livro “Mensagens aos Jovens”, uma compilação dos conselhos de Ellen White para a juventude (ALLEN, 2012, p. 31). Esses conselhos foram extraídos a partir de periódicos da denominação e abordam temas como a formação do caráter, as disciplinas espirituais, a importância das escolhas, o exercício das responsabilidades, o cuidado com a saúde física e mental, o perigo das influências, a relação com a cultura, a conduta cristã, entre outros30.

Os anos posteriores a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial marcaram profundamente o mundo e a IASD. Os meios de comunicação começaram a desempenhar um papel fundamental nas relações sociais. Muitos jovens e empregados da IASD, devido a demanda por qualificação profissional, ingressaram em universidades não-adventistas. De lá, trouxeram tendências secularizantes para a Igreja. Além disso, a psicologia e pedagogia humanísticas da época, no seu apoio à suposta incompreensão que os jovens sofriam, aumentaram a distância entre pais e filhos. O ministério jovem acabou pendendo para um programa só para jovens, uma “tribo” dentro da Igreja (LIMA, 2008, p. 9).

As décadas de 1950 a 1970 também foram muito desafiadoras. A popularização da TV, o crescimento da indústria cinematográfica e a nova cultura pop, encabeçada pela música rock, deram a tônica desse período, especialmente nos países desenvolvidos. Surgia uma geração de diretores de jovens das igrejas locais que não tinha muita intimidade com a filosofia e missão do ministério jovem. A Igreja novamente reagiu com publicações31. Duas revistas para jovens

foram lançadas, a Guide e a Insight. Ambas tiveram boa aceitação entre os americanos, mas o

30 Esse livro completo está disponível em formato digital em https://bit.ly/2KjLz9w. Acesso em: 12 mai. 2019. 31 A IASD, desde os primórdios do ministério desenvolvido para jovens, tem procurado alimentar sua juventude

através de materiais e conteúdos que ela julga serem pertinentes para eles. Vale lembrar que esses materiais e conteúdos tendem a refletir um pensamento que a IASD tem acerca da identidade e das necessidades de seus jovens e, ao mesmo tempo, representam uma tentativa de fabricar uma identidade para o jovem adventista de acordo com as crenças e valores da organização religiosa.

mesmo não se deu em outros países com presença adventista. A rejeição aconteceu porque todo o material era produzido nos Estados Unidos e com temáticas e abordagens apropriadas apenas para os adventistas norte-americanos (ALLEN, 2012, p. 32).

Já na década de 1970, em especial, tinha-se o convencimento de que o consumo de drogas era muito alto. Essa liberalização quanto aos entorpecentes também se refletiu na sexualidade, impactada pelos movimentos homossexuais e feministas. O número de divórcios assustava, inclusive dentro da Igreja. Além disso, na esfera acadêmica, a teologia adventista era duramente atacada por críticos internos. Percebeu-se a necessidade de uma atenção mais segmentada. A liderança jovem se viu pressionada a atender a grupos específicos, como o dos jovens universitários, jovens adultos, solteiros e viúvos, entre outros (ALLEN, 2012, p. 35).

Por fim, na década de 1980, a dificuldade foi mais administrativa. Era criado o departamento de Ministérios da Igreja, o qual abarcava as áreas de jovens, escola sabatina, ação missionária e lar e família. Já no início da década de 1990, essas decisões administrativas são revistas e revogadas. A liderança do ministério jovem em nível mundial e continental começa a financiar pesquisas, a fim de diagnosticar o perfil da juventude adventista, bem como das necessidades dos mesmos. O livro de Allen, até aqui citado, foi escrito exatamente nesse momento de reavaliação, por ocasião de encontros dos líderes mundiais da Igreja em 1993 (LIMA, 2008, p. 9).

É possível perceber, nessas notas históricas, que esse departamento foi, ao longo dos tempos, um dos mais desafiados a dialogar com a cultura secular. Allen (2012, p. 38) acredita que o impacto da imoralidade e do avanço tecnológico sobre a vida contemporânea, tornam a pastoral para a geração atual, a mais desafiadora de toda a história da IASD.

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