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Os media como intermediários culturais

Capítulo 2 Comunicação e promoção da cultura

2.2. Os media como intermediários culturais

“(…) os media são a expressão da nossa cultura e a nossa cultura funciona, principalmente por intermédio dos materiais proporcionados pelos media” (Castells, 2011, p. 443).

O desenvolvimento da cultura em Portugal tem feito com que vários agentes culturais se tenham emergido, entre eles estão os meios de comunicação social. Para além do poder que estes detém como já referido anteriormente, os media tem também o poder de mediar a cultura e estruturar pensamentos. Neste subcapítulo o objectivo é demonstrar de que forma os media intermedeiam a cultura, qual a sua importância na transmissão da informação, isto porque “mais do que entender a comunicação como transmissão de mensagens, devemos compreendê-la como mediação, como mediação cultural. Assim entendida, a comunicação é inseparável da ideia de cultura” (Souza, 2013, p. 9).

Foi no século XV que a forma de comunicar foi alterada. Passou-se de intercomunicações face-a-face, para intercomunicações através de sistemas. Foram

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instituídas novas redes de transmissão, inovação tecnológicas como a imprensa e os meios electrónicos, que vieram alterar o conteúdo simbólico do intercâmbio de informação fazendo com que “as interacções face-a-face cedam cada vez mais espaço para as interacções mediadas e as “interacções quase mediadas” (Almeida, 2007, p. s.p.).

A transmissão de informação pelos media tem impacto em diversos patamares da sociedade, na medida em que as suas funções parecem:

“(…) repercutir-se de uma forma cada vez mais decisiva nas articulações que se estabelecem, a diversas escalas, entre os mundos da cultura e outros mundos sociais, reflectindo o papel de relevo que os intermediários culturais vão desempenhando na configuração dos ambientes socio-económicos e sócio-culturais em que se desenrola a vida contemporânea, e muito particularmente a vida urbana” (Ferreira, 2002, p. 2).

Para que haja um melhor entendimento do que é de facto a mediação cultural, a sociologia propõe uma noção em que o conceito se reporta:

“(…) a um conjunto de actividades especializadas que, no âmbito dos sistemas de produção cultural, asseguram a distribuição e divulgação das produções. Trata-se, por outras palavras, da função intermédia do processo cultural, aquela que faz funcionar os canais de ligação entre a produção e recepção, entre criadores e públicos e que é o resultado das actividades mais ou menos especializadas de agentes e organizações que intervêm nos processos de selecção, filtragem, distribuição, divulgação, avaliação e valorização das criações” (Ibid.: 3,4).

Esta definição pode também ser complementada, tendo em conta uma concepção mais filosófica, que nos diz que esta é “um canal de ligação entre indivíduo e sociedade, como produtora de integração e coesão, de partilha de sentidos e valores, como sistema de representações simbólicas de pertença e da identidade colectiva” (Ibid.: 7).

Desta forma, os media como intermediários culturais desempenham vários papéis. Ferreira (2002) defende que estes são responsáveis pela agilização da ligação entre criadores e públicos e ao mesmo tempo fazem parte do processo de consagração do

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trabalho dos criadores. A estes dois papéis ainda se pode acrescentar a interferência no processo e nos conteúdos da criação e produção cultural. Todo o processo de produção de bens culturais está relacionado com os media “um quarto da vida humana é ocupado, de modo parcial ou total, por comunicação de massa” (Netto apud Macedo, 2006, p. 318). Assim sendo, os media são agora encarados como novos intermediários culturais. Esta noção teorizada por Bourdieu (1979) pretende categorizar uma nova classe onde emergem os profissionais que trabalham na produção e difusão de bens simbólicos. Nesta classe estão inseridos os profissionais de marketing, relações públicas, comunicação social, moda, etc. O trabalho destes novos intelectuais emergentes “promove a mediação e a contaminação entre formas e lógicas culturais distintas e a difusão de modos de vida estilizados” (Ferreira, 2002, p. 8).

Pode-se assim afirmar que os meios de comunicação social, e em particular os jornalistas especializados, contribuem em grande parte para a difusão e promoção da cultura. A missão, se assim podemos dizer, destes agentes, passa por transmitir,

“(…) levar as obras culturais ao conhecimento, consumo ou fruição de um público amplo, seja este concebido à escala local, nacional ou internacional, como público indiferenciado ou socialmente diferenciado. Por outras palavras, o princípio em que assente a intermediação é o de tornar pública a cultura, no sentido mais abstracto do termo: o de a tornar acessível ao público em geral” (Ibid.: 11,12).

Esta afirmação parece-me muito importante pois, tendo em conta o papel dos media no sentido de transmissão de cultura, é importante entender que nem sempre a mensagem consegue atingir o grande público ou não é tratada para ser transmitida. É disto que se trata este trabalho: tentar perceber como as Correntes D’Escritas, um evento literário tão importante, não alcançou ainda o potencial mediático máximo.

Para Silva (2004) a resposta à pergunta: “Qual o poder dos Media na transmissão de cultura?”, é muito clara:

“Todo. Ou pelo menos algum. Falar de MCS enquanto elementos de regulação cultural é abarcar num só desígnio uma série de dimensões tão díspares quanto semelhantes da sociedade. É pelos MCS que se sabe o que se passa no mundo, que

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se conhecem e visualizam culturas, que se sabe o que existe, o que se publica ou que se faz” (Silva, 2004, p. 3,4).

No entanto, surgem interrogações sobre a legitimação do que é mediado pela comunicação social ao nível da cultura, isto porque, os bens culturais são hoje tratados como uma indústria e o poder económico actua em todos os ramos da sociedade. Macedo (2006) defende que:

“(…) o processo de industrialização de bens culturais foi um fenómeno ocorrido dentro de um processo mais amplo de industrialização da produção, que começou a se desenvolver a partir do século XVIII e foi progressivamente dominando todos os ramos da actividade humana” (Macedo, 2006, p. 320)

De forma a que a meta principal deste sector era “a obtenção do lucro, e como modo de actuação característica, a racionalização e fragmentação do processo produtivo, com o trabalho mecânico substituindo o trabalho manual” (Ibidem.) Coelho (s.d) defende ainda que os princípios da indústria cultural

“(…) são os mesmos da produção económica em geral: uso crescente da máquina, submissão do ritmo humano ao ritmo da máquina, divisão do trabalho, alienação do trabalho. Sua matéria-prima, a cultura, não é mais vista como instrumento da livre-expressão e do conhecimento, mas como produto permutável por dinheiro e consumível como qualquer outro produto” (Coelho apud Macedo, 2006, p. 320).

Isto para por em perspectiva que a partir do momento em que há interesses económicos envolvidos, questiona-se se a mensagem transmitida é legítima. Neste sentido, Ferreira (2002) fala-nos das interrogações que se podem colocar ao poder simbólico dos intermediários culturais, pondo na mesa a

“(…) influência crescente que os “paradigmas do marketing e da publicidade” e da

praxis profissional dos “novos intermediários culturais” têm vindo a exercer,

sobretudo por via das lógicas de actuação das indústrias culturais, sobre as formas de promoção da cultura, associando ou subordinando a promoção das criações culturais à promoção dos instrumentos da sua difusão” (Ferreira, 2002, p. 17).

Estes e mais constrangimentos que afectam as práticas jornalísticas serão explorados no próximo subcapítulo deste relatório.

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