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5.1 EIXO 1 CONHECENDO O PARTICIPANTE DA PESQUISA

5.1.2 Os motivos de escolha do curso noturno e as expectativas

Os resultados da pesquisa indicam que o principal motivo que leva os estudantes a escolherem seus cursos no período noturno é o fato de trabalharem e precisarem conciliar seus estudos com o trabalho. Essa informação já foi constatada por Arroyo (1990) quando mostra que os estudantes que vêm de famílias de baixa renda precisam trabalhar desde cedo, ainda na educação básica, quando o trabalho já é uma exigência para o estudo. Vale ressaltar que Furlani (2001) explica que estudar no ensino superior era privilégio de poucos, mas a partir dos anos 1960, com as pressões sociais que exigiam direito à educação e que resultaram na democratização do ensino, muitos trabalhadores e demais pessoas dos estratos populares da sociedade passaram a ter mais acesso aos cursos de nível superior, porém sem deixar de trabalhar e procurando aliar trabalho e educação.

Na presente pesquisa, mais da metade dos entrevistados disse que já trabalhava durante o dia quando se inscreveu no processo seletivo para ingresso na universidade, portanto só poderia escolher o curso noturno porque lhe possibilitaria conciliar com o trabalho. A fala das estudantes de Letras Vernáculas e Pedagogia ilustra bem a escolha do curso noturno ao invés do curso diurno, haja vista que ambos também funcionam no diurno:

O que me fez escolher o curso noturno foi a questão do horário, principalmente, porque eu preciso trabalhar. E fazer o curso durante o dia, o horário... não tem como a gente trabalhar, então, por isso, preferir fazer à noite, porque desde que eu entrei na UFBA já trabalhava [...] e eu não tenho como me manter na faculdade sem trabalhar, então, o curso noturno é uma... é a chance que a gente tem. (Valentina, estudante de Letras Vernáculas).

68 Eu escolhi o curso, primeiramente, porque na época em que eu prestei o vestibular eu estava trabalhando, então, eu precisava conciliar e por precisar trabalhar, também. Eu preciso do dinheiro que eu ganho no meu trabalho pra poder me manter e ajudar em casa. Esse motivo me levou a escolher o curso noturno. (Júlia, estudante de Pedagogia).

Os demais entrevistados explicaram que no período de inscrição precisavam arranjar um trabalho para ajudar na renda familiar, esse motivo os fez escolher o curso noturno porque lhes daria a oportunidade de fazer as duas coisas: trabalhar e estudar. De acordo a estudante de Ciências Contábeis, antes de ingressar no curso já via a necessidade de trabalhar para se manter financeiramente, pois a família não teria condições para isso: “Escolhi o curso noturno por questões financeiras porque a família não ia ter como me manter num curso diurno, então precisava procurar um trabalho pra me manter dentro da faculdade.” (Janete, estudante de Ciências Contábeis).

Todas as estudantes mencionam o trabalho como uma forma de obter meios de se manter, sem ele poderia ser inviável a condição de estudante, mesmo que esta se desenvolva parcialmente. Foracchi (1977) afirma que embora o trabalho seja algo indispensável na vida do estudante, ele pode considerá-lo apenas como um mero acidente, pois o que deseja realmente é ser um bom estudante, realizar-se dentro dos interesses do curso escolhido.

Para conhecer, então, o que pensam sobre o curso escolhido, foi perguntado aos estudantes quais eram suas expectativas com relação à formação universitária. As expectativas apresentadas estão basicamente relacionadas à vida profissional de acordo a área de conhecimento que estuda. Metade dos entrevistados afirmou que espera estar preparada para atuar no exercício do magistério, principal habilitação de seus cursos. Atrelada a essa expectativa, quase todos os estudantes de licenciatura afirmam que farão mestrado e doutorado, conforme mostra a estudante da licenciatura em História:

A minha expectativa é me formar, entrar num Mestrado e assim poder galgar outro emprego como professora, porque o emprego, infelizmente, na nossa área só com essa outra formação, Mestrado, Doutorado, uma pós... pra que eu possa largar o emprego que hoje eu consigo contribuir dentro de casa, pra poder continuar contribuindo. (Joana, estudante de História).

A indicação de que fará pós-graduação em nível de mestrado e doutorado pode estar relacionada ao fato de as políticas públicas de educação superior incentivarem os profissionais de nível superior a buscarem maior aperfeiçoamento, especialmente os de educação. Paralelo a isso, o mercado de trabalho tem ficado cada vez mais exigente com relação à formação em níveis elevados do ensino dos profissionais, e, por último, o trabalho de professor da educação

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básica, no Brasil, habilitação oferecida na licenciatura de História, tem apresentado, do ponto de vista salarial, uma desvalorização crescente comparado ao trabalho de outros profissionais de nível superior, fazendo estes professores buscarem novas áreas de atuação ou ascenderem verticalmente para a docência no ensino superior, cuja valorização da carreira é maior. Diante das possibilidades para a vida laboral, observa-se que as expectativas da estudante é seguir estudando e se profissionalizando para continuar obtendo um retorno financeiro, mas com uma qualificação maior.

Outros entrevistados, como os de Arquitetura e Urbanismo e Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades também confirmaram que farão mestrado e doutorado. Os estudantes, cujos objetivos não estão relacionados à docência, também almejam ser bons profissionais nas áreas que escolheram e ter uma carreira promissora, como explica o estudante de Arquitetura e Urbanismo:

Minhas expectativas, como eu sempre digo, eu quero ser... eu não quero ser um simples arquiteto e quero fazer desse curso como se fosse um degrau pra eu sair do Brasil, pra cursar outras coisas lá fora. Então, como no momento eu não tenho condição de ir cursar lá fora, essa é... esse é o primeiro passo pra me tornar um grande arquiteto, como eu pretendo. (Rodrigo, estudante de Arquitetura e Urbanismo).

Os demais veem na formação a possibilidade de ter um novo emprego e melhorar a condição econômica, como explica a estudante de Ciências Contábeis: “Quanto a minha expectativa, eu acredito que vai melhorar muito o meu futuro, porque eu tenho o pensamento de formar o meu próprio negócio e acredito que vai ajudar bastante.” (Janete, estudante de Ciências Contábeis).

Com uma incidência menor, alguns estudantes disseram que também acreditam que a formação universitária irá ampliar o conhecimento e/ou que se formar na área que escolheu já é a sua maior expectativa.

Em suma, as expectativas colocadas pelos estudantes pesquisados, seja para ascender profissionalmente, ampliar o conhecimento ou de melhorar a condição econômica convergem para a discussão levantada no estudo de Oliveira, Bittar e Lemos (2010). Para esses autores, a mobilidade e a ascensão social são idealizadas pelos jovens e suas famílias, especialmente os de camadas sociais menos favorecidas, que veem no ensino superior uma possibilidade de inserção no mercado de trabalho e melhoria do poder aquisitivo.

5.1.3 Obstáculos para permanecer com bom desempenho na universidade e a carência