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5.1 EIXO 1 CONHECENDO O PARTICIPANTE DA PESQUISA

5.1.3 Obstáculos para permanecer com bom desempenho na universidade e a carência de

5.1.3.3 Transporte público e insegurança nos pontos de ônibus

Além das dificuldades referentes à renda, muitos estudantes apontaram obstáculos relacionados ao uso do transporte público para chegar e sair da universidade no período noturno e também associaram a este obstáculo a insegurança dos pontos de ônibus que dão acesso ao transporte. Faz-se necessário ressaltar que, dos 39 entrevistados, 34 deles dependem do transporte público. O relato abaixo mostra que, para permanecer na UFBA, a entrevistada passou a cursar disciplinas no período da tarde, provisoriamente, na tentativa de se proteger de assaltos e conseguir pegar o transporte coletivo no começo da noite, quando terminam as aulas do vespertino.

O Instituto de Ciência da Informação é, realmente, meio escondido e não passa o Buzufba aqui. Então, a gente se desloca, sobe pra Reitoria ou fica aqui, no Vale do Canela, e ocorre muito assalto. A gente anda sempre muito em grupo. Então, uma dificuldade pra mim, pessoalmente, é em relação ao transporte, né? Com o pessoal da noite, a gente sai dez horas da noite, horário que já passa bem menos a quantidade de ônibus. A frota já é reduzida e a gente ainda tem que se deslocar... a gente sabe que acontece muito assalto aqui [...], tanto que eu troquei esse semestre, as disciplinas, tô pegando só pela tarde pela questão, justamente, de horário, pra não chegar muito tarde, pra se deslocar daqui. (Ana Carla, estudante de Arquivologia).

Em período regular, quando essa adequação não pode ser feita, a estudante só pode sair no término das aulas, que é às 22h30min, e não conseguiria contar com o sistema de transporte da universidade chamado Buzufba, pois este tem roteiros específicos e mesmo durante o dia não passa no Instituto de Ciência da Informação, local onde a entrevistada estuda, e também encontraria obstáculos com a frota reduzida do transporte coletivo da cidade.

Nos demais institutos, localizados em outros campi da universidade, também há relatos de insegurança no horário que terminam as aulas. Isso faz com que os estudantes não assistam à aula completa, eles saem mais cedo para enfrentar a longa espera nos pontos de ônibus e o demorado trajeto que seu ônibus fará. Nem sempre há roteiros de ônibus que vão direto para o bairro que o estudante mora, fazendo com que ele use 2 ou mais ônibus para chegar em casa. Essa situação cotidiana pode gerar inquietudes nas salas de aulas por parte de alguns estudantes que anseiam a saída da universidade e a chegada em sua residência com segurança, como verificado nos relatos a seguir:

77 Em relação a dificuldades que eu tenho pra permanecer na UFBA é a segurança que, às vezes, o professor leva a aula até mais tarde, dez e meia. Não tem segurança na hora de ficar no ponto, você pode ser assaltado ou até pior, já teve caso de estupro aqui na UFBA, então tenho medo de ficar no ponto, de [ficar na] aula até mais tarde. Eu sempre saio mais cedo quando tem aula até dez e meia, onze horas, porque é meio perigoso voltar pra casa. Eu sempre pego dois ônibus pra ir pra casa: um pra orla e um da orla pra casa. (Maria Eduarda, estudante de Química).

É difícil essa permanência, mas assim, não é uma dificuldade, mas o problema que eu tenho só é a questão da volta, que como a aula termina dez e meia da noite, tem a questão do perigo. Como eu moro num bairro pouco perigoso, até muito perigoso, quer dizer, então essa volta é complicada porque tenho que pegar ônibus. Ainda quando chego no bairro, tenho que pegar moto taxi pra ir pra casa. (Rodrigo, estudante de Arquitetura e Urbanismo).

As condições do transporte coletivo e o trânsito na cidade tornam-se também um obstáculo para quem precisa se deslocar do trabalho para a universidade, fazendo com que, muitas vezes, o estudante se atrase na chegada da aula e/ou chegue fadigado para assisti-la:

O transporte eu acho que é o pior fator que tem, porque a gente já sai cansado do trabalho aí pega um transporte, demora pra chegar aqui. Aí quando a gente chega, cansado... esse, pra mim, é o pior fator [...] porque a gente sai do trabalho num dia cansativo e aí chega aqui e ainda vai assistir uma aula que, às vezes, o professor fica muito maçante no texto, não faz uma dinâmica até pra que a gente relaxe mesmo em relação aos textos. (Maria Cristina, estudante de Pedagogia).

Há estudantes que refletem criticamente sobre as condições de chegada e saída através do transporte público e consideram negligentes a universidade e a prefeitura do município de Salvador que poderiam fazer parceria para encontrar uma solução para o problema da redução de ônibus e da insegurança dos pontos de espera no período noturno, evitando assim prejuízos a população estudantil:

Eu sou usuário do transporte coletivo e do semestre passado pra cá, passamos a sair mais tarde daqui da faculdade e isso tá impactando no meu rendimento porque eu tô saindo daqui muito tarde e estou chegando em casa mais tarde ainda. [...] inclusive, tem reclamações de assaltos no ponto, aqui na frente, e eu não vejo nem a universidade se envolver nisso nem a prefeitura, no caso, da nossa cidade. (Jean Carlos, estudante de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades).

Em pesquisa anterior realizada com estudantes de cursos de saúde do noturno, Maranhão, Paiva e Veras (2014) mostram que o problema da insegurança é recorrente nos pontos de ônibus e que somente em 2013 foi instalado o Sistema de Registro de Ocorrência (SRO) na universidade, haja vista que os registros de ocorrências não eram feitos de maneira precisa e confiável. Com a implantação do SRO, a universidade espera que os registros sejam

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apresentados às autoridades governamentais a fim de propor debates qualificados sobre a questão e possa reivindicar rondas no entorno das unidades da UFBA.