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4 MOBILIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA NA OCUPAÇÃO DA FAZENDA

4.1 Os motivos da ocupação

As irmãs franciscanas passaram a trabalhar junto à comunidade no bairro Pedra Velha. Fazer teologia na prática como um resgate de memória de um povo distante no Oriente Médio, que lutou por sua terra e por sua libertação é agora visto como irmão de caminhada:

Quando a gente começa a aprofundar a bíblia sem querer fazer dela uma ideologia, mas olhar mesmo, a partir do êxodo a gente vê que Deus não quer isso, Deus não quer a morte de ninguém, pelo contrário, Deus quer a vida e uma vida plena, e ter uma vida plena é ter comida, ter casa, ter espaço para trabalhar; e isso essas famílias não tinham, então a partir da visita, dos contatos com as pessoas, do diálogo, das várias reuniões que a gente tinha, até mesmo na reza do terço, ia surgindo ai uma mentalidade nova nas famílias. (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016).

Com essa pedagogia catequética da Igreja em curso, um novo desafio iria surgir. A permanência definitiva na fazenda Peba como medida última das famílias que dela tiravam o seu sustento. Seria uma ação nova na cidade e na região como um todo. Uma ousadia que poderia custar muitas vidas diante de um conflito pela posse da terra que seria inevitável. De um lado, o dono alegando seus direitos de proprietário, do outro, um povo em busca de sua sobrevivência. Resolver arriscar tudo, mas também se não o fizessem perderiam o pouco que tinham. Então resolveram ocupar 26 de fevereiro de 1988.

Em uma carta dirigida as outras Igrejas, os Acampados do Peba, passam a descrever sua situação de três meses depois. É um verdadeiro drama com relatos de morte de crianças de um povo que resolveu lutar por uma vida melhor e romper de uma vez com os laços de opressão histórica ao qual estavam submetidos:

Ocupamos um área improdutiva no dia 26 de fevereiro de 1988, no município de Delmiro Gouveia, até hoje estamos conseguindo nos manter na área. Através das ajudas das igrejas da região, temos conseguido alimetação e plantamos 50 ha desta área, estamos trabalhando coletivamente. Estamos enfrentando todo tipo de dificuldade: alimentação, saúde, educação, etc. As comunidades esgotaram-se e não tem condições de nos ajudar na alimentação, estamos praticamente passando fome. Nossa primeira colheita só sairá em agosto próximo. Por falta de alimentação e assistencia médica, 3 de nossas crianças morreram, as outras estão fracas e sem educação por não ter condições de comprar lápis e cadernos. (CARTA DOS ACAMPADOS DO PEBA, 28/05/1988).

A princípio, antes da ocupação, a Igreja na pessoa do pároco José Augusto e da liderança da irmã Loudes Santana disseram não a ocupação. Era algo muito novo com uma probabilidade de sucesso pequena e que acabaria por envolver todos em situação de perigo. Mesmo adeptos de uma nova mentalidade dentro da igreja, tiveram medo. Irmã Lourdes (2016) conta:

Nós como igreja entramos a partir do desafio dos próprios trabalhadores né? Porque era um trabalho um tanto desconhecido para nós; a gente conhecia, ouvia as notícias, na região, no estado da Paraíba, por exemplo,já era um região que trabalhava muito a questão da terra, na região, na zona da cana aqui em Maceió, já existia um trabalho também em relação a questão da terra, mais um trabalho diferenciado, pois trabalhava áreas de conflito e tal, e que era feito pela pastoral rural na pessoa do padre Luiz Canal, e no sertão tinha padre Luiz Torres que tava representando a pastoral rural, só que nós como igreja de Delmiro Gouveia em si, a gente não tinha muito conhecimento deste trabalho, a gente apoiava os que estavam longe né ? Mais perto mesmo a gente não tinha e nem a própria forania, como setor maior da igreja naquele, no sertão, também não tinha experiência de luta direta pela terra, então pra gente foi tudo inicial, e foi a parti de um pedido de um trabalhador [...] chamado - Alfredo - esse senhor se não me engane tinha 12 filhos; e daí relatou para gente o conflito que estava começando a existir entre eles e o fazendeiro, conhecido por senhor Miguel Gandu e ele foi atrás da gente lá na nossa casa pedir apoio para iniciar a luta nesta terra. Seu Alfredo era um homem de luta, era um homem que vinha do sindicato, ele era um homem politizado, trabalhava, nasceu realmente na base da igreja, nessas reuniões né a metodologia nossa era muita nas reuniões e como ele era realmente parceiro nosso homem cristão mesmo, nesta manhã, era uma manhã, 7:00h da manhã, ele chegou, botou a mão no rosto e disse: - eu estou aqui para pedir ajuda – me contou a história, eu que atendi disse: seu Alfredo é uma luta muito difícil viu? Eu não tenho como ajudar não. Então a igreja então, com essa

minha reação, ele olhou assim, tristonho, fez aquele gesto que ele sempre gosta de fazer, botar a mão no rosto e disse: - Ir.Lurdes eu digo a senhora, com todo respeito que tenho pela senhora, que em nome de uma fé que eu recebi no batismo eu não posso me calar, eu vou a luta, quer queiram ou quer não queiram; porque são 65 famílias aqui que dependem desta terra. Ai eu perguntei para ele, o senhor já falou com o padre José Augusto? Ele disse: - já e ele me deu essa mesma resposta, que a senhora está dando-. Então aquilo me doeu profundamente né? (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016). Mas, os trabalhadores foram a luta e a ocupação ocorreu. Não haveria outro jeito pois a terra de onde vinha seu sustento seria vendida e as suas plantações estavam sendo devoradas pelo gado do proprietario.

[...] tinha muita coisa, bonita naquela terra, o pessoal estava esperando tirar o milho, alguns tinham plantado café, tinham batata doce, tinham algumas lavouras muito bonitas e um belo dia eles chegaram lá e o gado estava dentro da terra, [...] Então peguei a bicicleta fui diretamente ao centro falar com o padre, já tinha começado a missa da primeira comunhão, fotógrafo na cidade tinha poucos, nós ficamos desesperados, porque a gente sabia, eu particularmente fui lá à terra, conheci a terra, sabia o que tinha lá de lavoura, e eu segui e atrás de mim foram alguns trabalhadores, ai quando chegamos na igreja o padre já estava no altar, já tinha iniciado a missa[...]e daí esperar que o padre termine a missa e tal. E daí todos olharam assim, o que eu vou fazer? A gente vai lá jogar o gado fora; Vai, joga o gado fora, não mata nenhum, não corta o arame, mas livre a lavoura de vocês! Então a parti desse dia começou realmente o conflito oficial. (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016).

Foi o posicionamento mais coerente a ser tomado, porque, a Igreja local com sua nova postura eclesial defendia a vida em abundância baseada nos valores éticos do evangelho que exigem a luta pela justiça e crucificar-se com os mais pobres. Era o compromisso ético mais importante da nova postura católica cristã em Delmiro Gouveia que foi a opção preferecial pelo pobres, agora saindo do histórico assistencialismo para uma prática concreta de ruptura com o modelo existente e a busca da emancipação dos pobres em relação a sua situação de opressão. Era, acima de tudo, uma caminhada que estava em sintonia com a Igreja pós-conciliar que em seus documentos assumiu o compromisso de caminhar ao lado do homem em seus conflitos e lutar pela promoção da justiça em toda Terra. O Papa Paulo VI explica o que se formou a partir do Concílio Vaticano II:

O desenvolvimento dos povos, especialmente daqueles que se esforçam por afastar a fome, a miséria, as doenças endêmicas, a ignorância; que procuram uma participação mais ampla nos frutos da civilização, uma valorização mais ativa das suas qualidades humanas; que se orientam com decisão para o seu pleno desenvolvimento, é seguido com atenção pela Igreja. Depois do Concílio Ecumênico Vaticano II, uma renovada conscientização das exigências da mensagem evangélica traz à Igreja a obrigação de se pôr ao serviço dos homens, para os ajudar a aprofundarem todas as dimensões de tão grave problema e para os convencer da urgência de uma ação solidária neste virar decisivo da história da humanidade. (PAULO VI, 1997, p. 109).

Convencidos da necessidade de participar do processo de ocupação da fazenda Peba, a Igreja então vai à luta com os trabalhadores rurais. A irmã Lourdes (2016) conta:

Então éramos uma comunidade de 4 irmãs na comunidade, então as três ficaram de apoio e eu fui a luta com ele né? Como foi essa luta? Então foi aqui que entrou a igreja por isso que eu digo que o destino da igreja é um pouco mais. Foi aqui que entrou a luta então eu fui até a casa de Pe. Zé Augusto; Pe. Zé Augusto me disse: Ele já me falou essa mesma coisa Irmã, mais nós vamos apoiar. Começa a reunir, então começamos a nos reunir nas reuniões da igreja lá no salão da igreja Santo Antônio, eram muitas famílias, o salão da gente não cabia, então as famílias realmente chegaram em massa, era minha primeira experiência e de toda igreja de Delmiro Gouveia neste sentido, a gente não tinha nenhuma experiência, ai começamos a chamar as pessoas que a gente sabia que poderia contribuir. Então fomos buscar apoio na paróquia do Inhapi com o Pe. Luiz Torres que já estava ligada a pastoral rural, e as irmãs do Inhapi, depois fomos buscar apoio com o Pe. Luiz Canal que trabalhava em Novo Lino que também era da pastoral rural enquanto isso a gente tentava reunir o pessoal, enquanto o Pe. Zé Augusto botou a comunidade para rezar porque a gente acredita que na força da oração era possível transformar corações duros, e como a gente não tinha experiência, a gente precisava muito da inspiração divina, mais abandonar aquela família a partir daquele momento a gente não podia mais, mas foi o apelo realmente daquele agricultor Alfredo, que nos levou a entrar nesta luta. (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016).

O distanciamento da Igreja Católica local da luta por reforma agrária na região desnuda, no todo, sua relação política com a cidade. Um comportamento eclesial alheio aos problemas sociais locais e regionais. Esse

ato pastoral da Igreja dando toda a estrutura aos assentados do Peba será inserção religiosa em uma ação social mais importante da Igreja até então.

A ocupação ocorreu sob muita dificuldade. Eram pobres periféricos da cidade em busca de terra para sua sobrevivência, comparando-se ao povo Judeu em busca de sua terra prometida. Não se tinha a estrutura financeira.

Necessária para uma ocupação desse porte, nem houve um planejamento sobre a manutenção do acampamento na localidade, do ponto de vista de sua sobrevivência durante os períodos de conflito com Manoel Guandu, dono da terra, e a desconfiança de uma sociedade que não compreendia aquela luta pela terra por essa via de ação. Padre José Augusto (2014), explica como acontecia a manutenção da vida na comunidade:

Nós fizemos campanhas para ter cestas básicas, as irmãs iam quase todos os dias, e eu quando podia ia também, chegamos a fazer celebrações, celebramos missas e eu era a porta voz para a comunidade maior, era claro que era uma coisa difícil de ser assimilada naquele momento na comunidade de Delmiro, apesar de Delmiro ter uma cabeça um pouco diferente, a comunidade de Delmiro que não é uma comunidade formada a partir da fazenda, más a partir da fábrica, então já tinha o costume de lutas operárias de conquistas operárias, mas era uma resistência, mas o pessoal ouvindo que era o padre quem pedia e dizia que era justa aquela causa então muita gente apoiava. (Entrevista 1 - Padre José Augusto S. Mello, 2014). Em Delmiro Gouveia foi seguido o ensinamento do concílio de Puebla no México. A igreja local afirmando sua opção preferencial pelos pobres vai à luta denunciando a condição sub-humana aos quais os trabalhadores rurais eram submetidos. Os bispos em Puebla afirmaram:

Esta situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo,[...] feições de jovens, desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade e frustrados, sobretudo nas zonas rurais e urbanas marginalizadas, por falta de oportunidades de capacitação e de ocupação; - feições de indígenas e, com freqüência, também de afro americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres; - feições de camponeses, que, como grupo social, vivem relegados em quase todo o nosso continente, sem-terra, e situação de dependência interna e externa,

submetidos a sistemas de comércio que os enganam e os exploram; [...] feições de marginalizados e amontoados das nossas cidades, sofrendo o duplo impacto da carência dos bens materiais e da ostentação da riqueza de outros setores sociais; - feições de anciãos cada dia mais numerosos, frequentemente postos à margem da sociedade do progresso, que prescinde das pessoas que não produzem.(CELAM, 2004, p. 300-301).

O documento tem uma posição firme em denunciar que a sociedade do progresso capitalista não está produzindo uma inclusão de fato. Na verdade, apesar dos avanços tecnológicos, poucos são os que se enriquecem e são os privilegiados dentro do sistema, que produz em pobres aos milhares. Apesar do orgulho capitalista como modelo vencedor, no planeta as contradições não se modificaram. Pelo contrário, o que vimos ao longo da história foi a lógica da imposição capitalista aos países mais pobres com neocolonialismo que durou por muitos anos e deixou marcas profundas em vários povos africanos e do Oriente Médio. O que seguiu depois disso foram as duas grandes guerras mundiais e todas as certezas progressistas baseadas no modelo capitalista foram agora relativizadas. Segundo Hobsbawm:

A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoronou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender o século XX sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando se canhões se calavam e as bombas não explodiam e as bombas não explodiam. Sua história e, mais especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem começar coma da guerra mundial de 31 anos. (HOBSBAWM, 1994, p. 30).

A Igreja Católica que teve papel decisivo na ocupação da fazenda Peba vai continuar assumindo as limitações do sistema e denunciando suas mazelas, que aprisionam milhares em situação de risco e profunda fragilidade. Mudar a história local era preciso e romper paradigmas sempre causa conflito porque irá na contramão de privilégios de alguns.

A formação do acampamento Peba foi marcada por muitas incertezas. A violência passou a ser a arma usada pelo dono da terra. A freira Lourdes (2016) conta um episódio que define bem o nível do conflito:

Nesse meio tempo, chegou a notícia de que a esposa do senhor Miguel Gandu, eu não lembro o nome dela, mais chegou a notícia de que ela tinha ido até a igreja, tinha pego a irmã Cícera e tinha dado uns balanço na irmã Cícera, e tinha dito para irmã Cícera que o lugar da freira era na sacristia da igreja, só que daí ela não podia fazer muita coisa porque a igreja estava cheia de gente né? (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016).

Uma ameaça nesse nível mostra bem que os donos da terra estariam dispostos a tudo para manter a terra sob seu controle. Ao dizer que lugar de freira é na sacristia, a esposa do fazendeiro não somente ameaça, mas externa aquilo que era a Igreja na cidade, antes de 1982, uma instituição defensora da manutenção da ordem social a partir da ótica das elites locais e regionais. A Igreja não deve se meter em política muito se ouvia e ainda se houve essa frase. É como se a política fosse algo impuro que não combina com quem administra o sagrado. Esse é um discurso alienado e niilista que nega a realidade de opressão e busca em um mundo espiritual o consolo que nesta realidade não encontra. A postura das irmãs franciscanas que vieram de Palmeira dos Índios para residir em Delmiro Gouveia e que tinham assumido a Teologia da Libertação como nova interpretação da Bíblia e por ela liam a realidade, vem exatamente na contramão desse discurso, que na prática foi desconstruído com a invasão da fazenda Peba. Religiosas envolvidas em situação de conflito social em uma região marcada pelo conformismo católico com a realidade construída pelos poderosos locais. A situação de Delmiro Gouveia a época é muito semelhante a relatada por Leal:

[...] a massa humana que tira a subsistência das suas terras vive no mais lamentável estado de pobreza, ignorância e abandono. Diante dela, o “coronel” é rico. Há, é certo, muitos fazendeiros abastados e prósperos, mas o comum, nos dias de hoje, é o fazendeiro apenas “remediado”: gente que tem propriedades e negócios, mas não possui disponibilidades financeiras; que tem o gado sob penhor ou a terra hipotecada; que regateia taxas e impostos, pleiteando condescendência fiscal; que corteja os bancos e demais credores, para poder prosseguir em suas atividades lucrativas. [...] (LEAL, 2012, p. 24).

Mesmo diante de tal quadro social e econômico a ocupação seguiu seu curso e luta pela posse na fazenda Peba. Era a oportunidade de fazer uma

nova história na cidade e na vida das 65 famílias que estavam acampadas, na qual os pobres teriam mais segurança financeira e poderiam ocupar um novo espaço no cenário e ressignificar o valor da terra. Segundo o CELAM:

Promover transformação da mentalidade sobre o valor da terra com base na cosmovisão cristã, que se liga às tradições culturais dos setores pobres e camponeses. (...) Recordar aos fiéis leigos que devem influir nas políticas agrárias dos governos (sobretudo nas de modernização) e nas organizações de camponeses e indígenas, visando formas justas, mais comunitárias e participativas, no uso da terra. (...) Apoiar todas as pessoas e instituições que estão buscando seja da parte dos governos, seja dos que possuem os meios de produção, a criação de justa e humana reforma e política agrária, que legisle, programe e acompanhe distribuição mais justa da terra e sua utilização eficaz. (...) Dar apoio solidário às organizações de camponeses e indígenas que lutam, por meio justos e legítimos, para conservar ou readquirir suas terras etc. (CELAM, 2004, p. 714-715).

Ressignificar o valor da terra em uma região como o sertão de Alagoas é promover abertamente o conflito que não ficará no campo das ideias. O praxismo nesse caso é de alto grau. Pois, trata-se de um bem de grande valor que está em disputa, a terra. De um lado, Manoel Guandu, o latifundiário herdeiro de uma tradição de acúmulo da terra, do outro, um povo em busca de terra e segurança para suas famílias. A ocupação contra a venda da fazenda Peba foi um ato revolucionário de empobrecidos que movidos pela lógica do evangelho foram ao enfrentamento sabendo que o resultado poderia ser a morte de integrantes da comunidade como de fato aconteceu. A venda significaria a morte das famílias aos poucos. Era da fazenda Peba que essas famílias tiravam o sustento.

Com a ocupação consolidada, era hora de se organizar contra as investidas do dono da terra. O medo era sempre presente e o conflito seria inevitável. O medo da justiça estatal era muito grande. Lourdes (2016) narra:

O impacto da justiça causava muito medo, e muito deles tinha assim as senhoras que trabalhavam de doméstica na casa das patroas né? Isso gerava dificuldade tremenda porquê de certa forma necessitavam que era ajuda da família também, e quando começou assim acirrar o problema, quando começou, e ficou cada vez mais forte o conflito né? Mesmo que de apoio de fora as famílias foram esmorecendo, porque era como algo que

nunca chegava para eles e daí na cidade começaram a escutar rejeições né? Quem trabalhava nas casas ricas, por exemplo, de doméstica ai vinham – olhe a patroa falou isso, a outra patroa falou isso – às ameaças; iam lá na terra mesmo, mandavam, então muita coisa aconteceu. (Entrevista 2 - Lourdes Santana, 2016)

É um conflito que migra para as casas das patroas. Tal administração de situação é muito difícil, ter uma pessoa que contradiz seus interesses econômicos dentro de sua própria casa. Do outro lado, a trabalhadora, também

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