• Nenhum resultado encontrado

Os movimentos sociais: conflitos e resistências

BAIRROS QUE TIVERAM MAIS LOTES APROVADOS A CADA CINCO ANOS: PERÍODO DE 1970 –

4.5 Os movimentos sociais: conflitos e resistências

Outra dimensão importante quando se verifica a intensificação dos conflitos territoriais nas recentes experiências de planejamento urbano em Blumenau diz respeito à emergência, disseminação e fortalecimento dos movimentos sociais na cidade, que passam a ganhar corpo, sobretudo, a partir das catástrofes ocorridas na década de 1980 e no âmbito do processo de abertura política, com a queda da ditadura civil-militar implantada no país entre as décadas de 1960 e 1980.

Para Gecd (1999), as práticas políticas dos movimentos sociais e as questões por elas apresentadas têm sido capazes de redefinir, em muitas circunstâncias, o espaço da política, sendo que os atores sociais “rebelavam- se, tanto contra relações hierárquicas e desiguais entre os governantes e governados, quanto contra o autoritarismo social presente nas relações cotidianas” (p. 20).

Como já descrito em capítulo anterior, a participação mais ativa e consequente dos movimentos sociais no que tange às questões urbanas ganha corpo com o movimento da reforma urbana, ainda na década de 1960. Passa por um período de refluxo nas décadas seguintes, para reaparecer com força nos últimos anos da década de 1990, sendo capaz inclusive de articular vitórias na Constituição Federal e consolidar a primeira iniciativa mais consistente de política urbana em nível federal: - o Estatuto da Cidade, aprovado em 2001. Na sequência, vieram outros avanços políticos e institucionais, como a criação do Ministério das Cidades, do Conselho das Cidades, o SNHIS, as Secretarias de Habitação, Saneamento, Mobilidade, o programa para elaboração de Planos Diretores Participativos etc. Estas reformas institucionais trouxeram para o centro da agenda pública a problemática urbana, a questão da participação social nos processos decisórios e os princípios contidos no MNRU, sobretudo no ideário que se convencionou chamar de "Direito à Cidade".

A partir da Constituição de 1988, o Brasil desvela um cenário com novos canais de participação e representação sendo abertos, promovendo possibilidades de mudanças positivas, quanto à

201 participação de atores sociais nas esferas da gestão pública. O surgimento de experiências participativas na definição de prioridades ou no construir de políticas públicas (a exemplo de orçamentos participativos e conselhos) tornaram o Brasil, assim como outros países com experiências semelhantes, objeto de análise quando se pretende discutir sobre a democracia. (MOURA, 2009, p.16).

Manifesta-se, neste sentido, que uma participação mais ativa de determinados segmentos sociais, que historicamente estiveram à margem dos processos políticos e técnicos de discussão sobre a cidade, acabaram por engendrar mudanças importantes, tanto no sentido atribuído aos conceitos de Cidadania e Democracia, como também nos mecanismos, ferramentas, discursos e práticas do que se chama de planejamento urbano institucionalizado nas esferas locais. A pauta principal destes movimentos tem sido, sobretudo a demanda por maior equilíbrio na distribuição dos serviços urbanos e dos bens de consumo coletivo oferecidos pelo poder público.

Em Blumenau, até este momento era bastante presente a lógica de controle dos processos sociais por meio da ideologia, que tinha forte repercussão nas instâncias políticas e institucionais da época. É o que nos apresenta TOMIO, 2000.

O privilégio concedido ao empresário/imigrante inovador, como única ou principal causa eficiente, parece servir muito mais a uma autenticação acadêmica de um preconceito ou de uma oposição ideológica da elite local. Dada as peculiaridades das explicações históricas, uma abordagem pluricasual, baseada no conjunto de fatores que, agindo concomitante, permitiram o desenvolvimento industrial de Blumenau, deveria ser o caminho mais indicado à elucidação dessa faceta da História local. (TOMIO, 2000, p. 70).

No que se refere a este aspecto, o autor destaca que uma característica importante das classes econômica e politicamente dominantes de Blumenau diz respeito a “perenidade” e “seletividade”, já que “um número reduzido de sobrenomes que se repetem com prenomes diferentes nas diversas fases do desenvolvimento do município, que se confunde com

202 as gerações de algumas famílias” (p.77), o que indica, segundo o autor, uma elite econômica restrita e pouco permeável à ascensão de novos membros.

Tal situação passa a modificar-se gradualmente a partir dos últimos anos da década de 1980, quando a cidade passa a sentir um fenômeno mais amplo de multiplicação das organizações civis, especialmente as associações de moradores.

O maior salto do associativismo em Blumenau acontece no momento de transição no Brasil (1979- 1988) e quando localmente, na configuração política do município, o MDB começa entrar em cena, com propostas de gestão que se voltavam para a população, como é caso do programa Prefeitura nos Bairros,(...) de uma década a outra, de 1970 para 1990, o total de organizações civis dentro do recorte temático, produzido na referida tabela, passa de 56 para 149 respectivamente, ou seja, foi registrada a fundação de 93 associações novas de uma década a outra. De 1980 para 2000, este número passa da existência de 149 para 209 associações, um crescimento também significativo, já que se somou mais 60 associações, porém, com a predominância ainda da década de 70 para os anos 80. (MOURA, 2009, p.145)

Esta leitura semelhante é realizada por THEIS & KAISER (2009):

Em 1992 havia mais de 60 associações de moradores em Blumenau. Contudo, 44 destas sugiram no curto período entre 1987 e 1989. Entre as razões indicadas estão: em primeiro lugar, a inoperância do governo local no suprimento de serviços urbanos, o que se observava nos problemas de abastecimento de água, energia elétrica, transporte público e escolas nas localidades periferias da cidade. Em segundo lugar, algumas associações acabaram surgindo motivas pelo desejo de uma aproximação com o poder público local. Terceiro lugar, algumas foram criadas a partir da influencia direta do poder público. (THEIS & KAISER, 1998, p. 40).