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INTRODUÇÃO 29 1 TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO URBANO

3. A terceira etapa: síntese e revisão das atividades desenvolvidas nas etapas anteriores Consistiu na organização das informações

1.2 A questão das áreas de risco.

Após discorrer sobre o conceito de território, analisa-se outro conceito importante para essa pesquisa, o conceito de risco e das áreas

49 de risco. Risco de acordo com o dicionário Michaelis é a possibilidade de perigo, incerto, mas previsível, que ameaça e causa danos às pessoas ou as coisas. Área de risco, segundo o glossário da defesa civil2 são áreas em que existe a possibilidade de ocorrência de eventos adversos. Esses eventos podem ser classificados como desastres naturais, chuvas torrenciais que causam os chamados alagamentos, enchentes ou deslizamentos que podem se caracterizados como movimento de descida de rocha, solo, ou ambos, em declive, que ocorre na ruptura de uma superfície.

Outro conceito importante quando se fala em organização territorial é o que se denomina de área crítica, que se define como área em que ocorrem eventos desastrosos ou onde há a certeza ou a grande probabilidade de sua reincidência. Essas áreas devem ser isoladas em razão das ameaças que representam à vida ou à saúde da população.

No caso do território de Blumenau, áreas críticas são constantemente identificadas e por isso muitas famílias são deslocadas para habitar outras áreas do município em que também se encontram áreas de alagamento, localizadas no entorno do rio Itajaí-açu. Definem- se alagamentos como fenômenos que acorrem devido ao acúmulo de água no leito das ruas e no perímetro urbano por fortes precipitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes.

Diante das especificidades do município de Blumenau quanto às áreas de risco e as áreas críticas, é importante identificar e analisar as especificidades que marcam o lugar e os espaços socialmente ocupados pelos habitantes. Nesse sentido, acredita-se que os estudos do território são a base para uma compreensão mais ampla, ainda que não total das áreas atingidas por desastre socioambiental e ocupações de risco em áreas não apropriadas para habitação.

No município de Blumenau, considerando a formação do relevo, identificam-se pelo menos dois tipos de situações de risco. Referem-se

às enchentes e aos riscos geológicos, onde ocorrem os

desmoronamentos de encostas, como os que ocorreram em 2008. Tendo em vista que as áreas susceptíveis a esses eventos são, em sua maioria ocupadas por pessoas que não possuem condições econômicas para comprar terra em local com infraestrutura viável. São ocupações que refletem valorização do preço da terra, levando a população a ocupar

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Ministério do Planejamento e Orçamento Secretaria Especial de Políticas Regionais Departamento de Defesa Civil. Glossário de Defesa Civil Estudos de Riscos e Medicina de Desastres 2ª edição Revista e Ampliada, Brasília — 1998.

50 áreas em que as chances de eventuais desastres “ditos naturais” são iminentes.

A questão de risco relacionada aos desastres naturais é parte importante na organização territorial, uma vez que se entende que risco é a relação existente entre a probabilidade de ocorrência de um determinado fenômeno perigoso associada ao grau de preparo e ação da comunidade a ser atingida. A definição de risco pode ser entendida segundo Cardona (2003) como algo irreal, difícil de compreender, que não existe no presente, somente no futuro e que pressupõe a possibilidade de algo que poderá ocorrer.

Já segundo Castro, Peixoto e Rios (2005, p.17) o risco “compreende a identificação de perigos e pressupõe uma quantificação e/ou qualificação dos seus efeitos para a coletividade em termos de prejuízos materiais e imateriais”, considerando assim as perdas e danos, aos quais a sociedade terá em relação a determinado fenômeno perigoso. Para Marcelino (2008), risco é a probabilidade de ocorrer perdas e danos devido à interação entre um perigo natural e as condições de vulnerabilidade do local.

Considerando que alguns tipos de riscos podem ser intensificados pela combinação de diversos fatores. Chardon (1999) diz que o risco é um fenômeno social, porque existe a predisposição natural do local para a ocorrência de determinado fenômeno. Mas há riscos que podem ser provocados ou intensificados pelas intervenções humanas e, as consequências da ocorrência desses fenômenos são determinadas pelas condições de infraestrutura, organização e medidas tomadas pela sociedade para confrontar a exposição ao risco. É importante destacar que cada situação de exposição ao risco possui suas especificidades, características e particularidades que serão enfrentadas e percebidas de diferentes maneiras pelas pessoas, dentro de cada realidade posta.

Existem diversos critérios de classificação dos riscos, podendo ser identificados segundo a origem do fenômeno perigoso ou ter como base situações potenciais de perdas e danos aos homens. Sendo assim, o risco pode ser tecnológico pela contaminação industrial; risco geológicos por meio de terremotos e vulcões; riscos associados à dinâmica climática, como chuvas em grande quantidade, que podem provocar alagamentos e escorregamentos de encostas.

A classificação dos tipos de risco é definida por Cerri e Amaral (1998) em risco ambiental categorizado como a classe maior de risco, que por sua vez foi subdividido em riscos tecnológicos, naturais e sociais. Sendo os riscos tecnológicos referentes às contaminações por

51 vazamento de produtos tóxicos, por radioatividade. Já os riscos naturais são relacionados aos meios físicos e biológicos, como o risco a um tornado ou a uma doença. Além disso, eles podem ser físicos divididos naqueles que possuem a ação potencializadora do homem, como os deslizamentos ou não e os riscos sociais referentes à violência urbana, a fome e ao desemprego.

Na área de estudo em que esta pesquisa se inscreve no município de Blumenau, escolheram-se para análise os riscos relacionados ao processo de uso e ocupação do solo, que estão relacionados aos processos pluviais (alagamentos), fluviais (inundação e erosão fluvial da margem) e de movimentos de massa (deslizamentos). Não descartando, no entanto, a existência de outros riscos na área de estudo.

Conforme as condições de risco, vulnerabilidade social e capacidade de resposta do espaço socioterritorial em que ocorrem os desastres socioambientais, esses podem variar de amplitude e intensidade. Sendo, portanto, fruto, dentre outros fatores da crise socioambiental vivenciada na atualidade, especialmente nos últimos anos, segundo a coordenação da Defesa Civil.

Quando se analisam os riscos de desastres, confronta-se com o fato de que, frequentemente, estejam ligados às características de cada região, o grau de impactos em regiões em que existam mais concentração de população. Em vista disso, é preciso considerar que os desastres não podem ser examinados isoladamente, deve-se analisar com maior amplitude, atentando para os contextos que definem como as populações compreendem e reagem a esses fenômenos.

Já o conceito de vulnerabilidade que é sinônimo de insegurança e de fragilidade frente a um perigo, encontra-se associado à problemática dos desastres como uma de suas dimensões mais importantes. Como resultados do “processo de articulação entre o sistema social e o ambiente construído, os riscos evidenciam os fatores de exposição das sociedades ao desastre, isto é, nas suas vulnerabilidades sociais” (RIBEIRO, 1995, p.06).

A vulnerabilidade caracterizasse como um processo dinâmico, pois de um lado se refere ao nível e ao grau de exposição a determinados perigos e do outro se reflete sobre a capacidade de absorver e recuperar os danos produzidos por parte do sistema ou grupos sociais. Segundo Ribeiro (1995), também a vulnerabilidade pode ser consequência do próprio processo social, refletindo as relações que definem o estágio e a forma de desenvolvimento de uma sociedade, podendo existir vulnerabilidades diferenciadas dentro de um próprio sistema, consoante

52 com a organização, a distribuição e a composição social. Neste sentido, a análise das vulnerabilidades sociais consiste num estudo integrado de componentes socioestruturais, sociourbanístico e sociocultural.

Os conceitos a que se referem no processo de planejamento do município são referência na organização e no planejamento do território, pois a partir do planejamento é possível ampliar a compreensão do papel e da atuação dos conceitos e dos atores envolvidos na dinâmica territorial. Haja vista que o planejamento do território, baseia-se no pacto ou nos conflitos entre os atores ligados ao próprio território que, por meio de discussão direta, estabelecem normas e ações que definem responsabilidades e competências. O novo contexto que envolve a participação da sociedade nas discussões sobre a configuração do território se dá a partir do Estatuto da Cidade, que estabelece um novo momento ao planejamento urbano o qual passa de modelo hierárquico para um modelo negociado.

1.3 Conflitos emergentes do planejamento hierárquico ao