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1. MUSEU COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

2.2 OS MUSEUS NO BRASIL

Durante muito tempo os museus existiam apenas para guardar registros de memória e preservar coleções que representavam grupos selecionados da sociedade. Atualmente, há um processo na mudança de pensamento quanto ao entendimento da existência dessas instituições.

Cândido (2014) afirma que os museus nascem no Brasil com forte influência das instituições europeias, seus modelos são utilizados como exemplo e despontam no País, na abertura de inúmeros novos museus. A implantação sistemática das instituições museais começou após a chegada da Família Real ao Brasil, em 1818.

7 “Os ecomuseus caracterizam-se pela efetiva contribuição para a preservação de

tradições e costumes de uma comunidade pela valorização in loco, não pela retirada de certos objetos importantes de seu contexto de uso para o local privilegiado das vitrines do museu” (VASCONCELLOS, 2006, p. 26).

8 Poeta e museólogo, doutor em Ciências Sociais, é especialista em Museologia

e Museografia, especificamente na Museologia Social, Educação Museal e práticas sociais relacionadas com a memória ao patrimônio. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/tag/mario-chagas/>. Acesso em: 25 nov. 2017.

“O Museu Imperial”, atualmente Museu Nacional, “foi o primeiro a ser criado no Brasil, em 1818, por Dom João VI, um museu de história natural que tinha um grande intercâmbio com os grandes museus de história natural estabelecidos na Europa” (SANTOS, 2004, p. 55). Sobre esse museu Marlene Suano (1986, p. 33), lembra que:

[...] com a criação da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, é inaugurado também o Museu Nacional de Belas Artes. Em 1818, foi criado o Museu Real, que posteriormente ganhou a denominação de Museu Nacional - RJ. O Museu Real tinha como principal diretriz de atuação a preservação e o estudo das ciências naturais, de acordo com a prática institucionalizada na Europa. Segundo Cândido (2014, p. 37), “em outros pontos do Brasil, também surgiram os primeiros museus, como o Museu Paraense Emílio Goeldi (1866), em Belém, o museu Paranaense (1883) de Curitiba e o Museu Paulista (1895) ”. Esses se firmaram, logo em seus primeiros anos de funcionamento, como grandes centros de pesquisa em história natural, combinando as Ciências Humanas e Naturais, “era a busca da compreensão sobre as origens do homem brasileiro” (CÂNDIDO, 2014, p. 37). Myrian Sepúlveda dos Santos (2004, p. 55) fala da criação do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro, um marco para o Brasil:

Em 1922, Gustavo Barroso, ao criar o Museu Histórico Nacional, foi responsável pelo estabelecimento de um marco que anunciava uma nova era de museus nacionais no Brasil. O acervo deixava de ser constituído por elementos da natureza e passava a ser de objetos que representassem a história da nação.

Foi na primeira metade do século XX que a área de patrimônio histórico e artístico começou a ser organizada por legislação específica e órgãos públicos de fiscalização e estudo. Em 1925, a publicação do Decreto-Lei nº 25 organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional; em 1932, o primeiro curso de museus formou técnicos na área; em 1937, ocorreu a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN); em 1946, a implantação do Conselho Internacional de Museus (Icom), do qual o Brasil fez parte, colaborando com a construção de definições e metas específicas a serem alcançadas. Alguns

dos maiores museus brasileiros também foram inaugurados nesse período: 1930 o Museu Casa de Rui Barbosa - Rio de Janeiro; 1938 o Museu da Inconfidência; 1940 - Minas Gerais, o Museu Imperial - Rio de Janeiro e, em 1947, o Museu de Arte de São Paulo - Masp (SANTOS, 2004).

A Era Vargas9 (1937-1945), de acordo com Cândido (2014, p. 39),

ficou destacada por inaugurar:

[...] uma forte política de criação de museus nacionais que é implantada, privilegiando temas como o Ouro, as Missões, a Inconfidência, constituindo os primeiros museus monográficos brasileiros e consolidando a intervenção estatal na área da cultura.

No campo das Artes, Santos (2004, p. 57) aponta que “o Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter um conjunto de importantes museus e uma Bienal de Artes, capazes de aglutinar um acervo significativo de obras de arte nacionais e estrangeiras, clássicas e contemporâneas”. Foi esse momento da implantação do Museu de Belas Artes (1937) no Rio de Janeiro, o MASP (1947), o Museu de Arte Moderna em São Paulo (1948). Cândido (2014, p. 40) destaca que:

[...] entre 1964 e 1980, ocorre uma multiplicação de museus pelo interior do país, bastante associada ao modelo de Museologia de Gustavo Barroso, de “culto a Nação e à identidade Nacional”, notável particularmente na criação de museus estaduais. Acompanhando as discussões internacionais, algumas das quais realizadas no Brasil, os museus vêm modificando seus conceitos. Outras experiências trazem mudanças nos papéis dos museus, tanto para eles como para as comunidades inseridas próximas a eles, não enfatizando apenas a preocupação com a conservação dos objetos (CÂNDIDO, 2014). Outros museus foram criados entre 1960 a 1967: Museu da República, no

9 Era Vargas é o nome que se dá ao período em que Getúlio Vargas governou o

Brasil por 15 anos, de forma contínua (de 1930 a 1945). Esse período foi um marco na história brasileira, em razão das inúmeras alterações que Getúlio Vargas fez no País, tanto sociais quanto econômicas. Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/eravargas/>. Acesso em: 25 nov. 2017.

Rio de Janeiro, e o Museu Lasar Segall, em São Paulo. E nos anos de 1970:

[...] as novas práticas desenvolvidas nos museus priorizam o respeito à diversidade cultural, a integração dos museus às diversas realidades locais e a defesa do patrimônio cultural de minorias étnicas e povos carentes. Mais do que isso, os museus modificaram a relação cotidiana entre profissionais de museus, exposições e público. A tarefa educativa passou a ser compreendida a partir do diálogo com o público e de práticas interativas. (SANTOS, 2004, p. 58)

Esse foi um período que ficou marcado pela intensa ebulição social vivida em praticamente todo o mundo, conferindo aos museus o motivo de grandes debates. A contestação aos órgãos de governo incluiu os museus, que se viram diante da sua primeira grande “crise de identidade”, tendo em vista que muitos ainda atuavam de forma descompassada com as atuais demandas sociais (SUANO, 1986). Na América Latina, o marco dessas transformações ocorre em 1972:

A mesa-redonda organizada pela Unesco em cooperação com o ICOM, em Santiago de Chile, em 1972, pode ser considerada um marco que estabelece as fronteiras entre a museologia das coleções e aquela que concebe o museu como instrumento de desenvolvimento social. (SANTOS, 2004, p. 58)

Nesse cenário, os museus de todo o mundo foram chamados a rever seus papéis na sociedade, o debate se deu em função do panorama de desinteresse das novas gerações pelos museus e/ou mesmo da sua condenação como instituições para “poucos” (SANTOS, 2004). Nesse momento, discutiu-se a importância do diálogo com as comunidades regionais e o respeito à diversidade cultural. Nesse contexto, os museus acabaram se transformando física e conceitualmente, abrindo suas portas a diferentes tipos de público.

No século XXI, a questão “do acesso universal ao patrimônio cultural” pelos cidadãos e cidadãs se tornou fundamental para justificar “a razão de ser das instituições museológicas”. O foco tradicional do trabalho museológico sobre o objeto, passou pelo entendimento das

equipes dos museus, “de que a preservação de acervos deve ser direcionada para a sociedade” (MAGALHÃES, 2009).

Dessa maneira, os museus se aproximam dos grupos sociais e trabalham a noção de pertencimento. Todas as suas atividades são estruturadas de modo a garantir o diálogo com os cidadãos e os elos entre passado, presente e futuro das sociedades, por meio do reconhecimento do patrimônio cultural. Foi nas últimas décadas do século XX e no contexto exposto que o Malpi foi concebido e estruturado.

2.3 A HISTÓRIA DO MUSEU AO AR LIVRE PRINCESA ISABEL -