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Os níveis de compreensão leitora por Alliende e Condemarín (2005)

CAPÍTULO 3: COMPREENSÃO LEITORA

3.3 Os Níveis de Compreensão Leitora

3.3.1 Os níveis de compreensão leitora por Alliende e Condemarín (2005)

O estudo que desenvolvemos, após identificar outras taxonomias, optou pela abordagem de níveis de compreensão fundamentadas na taxonomia de Barret (1968), considerando que são os níveis de maturidade e destreza que o leitor apresenta na leitura de um texto. O desempenho do leitor depende do seu grau de maturidade. A divisão da compreensão leitora em cinco níveis diferenciados, tem por nível mais básico o da compreensão literal subdividido em reconhecimento e lembrança e refere-se à recuperação da informação explicitamente colocada no texto. O nível seguinte é o da reorganização, o qual consiste em dar uma nova organização às ideias, informações ou outros elementos do texto, através de processos de classificação e síntese. A compreensão inferencial consiste na formulação de hipóteses e conjecturas utilizando as informações e ideias do texto, sua intuição e experiência pessoal. Acima da compreensão inferencial está a chamada leitura crítica, pela qual o leitor deve formular um juízo de valor, comparando as idéias apresentadas no texto com critérios externos, dados pelo professor, por outras autoridades ou por outros meios escritos, ou então com um critério interno, dado pela experiência do leitor, seus conhecimentos e valores. O último nível é o da apreciação, o qual

implica todas as considerações prévias, por que tenta avaliar o impacto psicológico ou estético que o texto produziu no leitor. Abrange o conhecimento e a resposta emocional às técnicas literárias, ao estilo e às estruturas. (ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005, p. 146-148).

É preciso ressaltar que essa classificação foi criada para textos narrativos, mas pode ser aplicada a outros tipos de textos, de acordo com os autores.

Para o estudo que estamos desenvolvendo, serão avaliados objetivamente os níveis de compreensão inferencial e crítico, por pensarmos que, ao alcançar esses níveis, os alunos já estariam, naturalmente, alcançando os dois níveis mais básicos. O nível de apreciação não fará parte das categorias de análise por possuir uma abrangência maior, sendo composto de impacto psicológico e

apreciação estética, contando com a avaliação da resposta emocional sobre o leitor, o que, acreditamos, dispersaria uma avaliação mais objetiva sobre a compreensão leitora.

O nível de compreensão inferencial requer que o leitor utilize as informações explícitas e todos os seus conhecimentos para interpretar, inferir, concluir o que estiver implícito. Entendemos inferência como um pressuposto da comunicação humana, visto que seria impossível pensarmos em uma comunicação na qual todas as informações fossem fornecidas pelo autor do texto. Podemos exemplificar como inferenciais os seguintes questionamentos: Quais detalhes adicionais que o autor não manifestou em texto, mas que estão subtendidos? Qual o tema (ideia principal) deste parágrafo, texto, capítulo, etc.? Como será um personagem “x”, mesmo não estando explícitas suas características? O que dizemos também com relação a esse nível é que o autor, ao escrever um texto, não escreve tudo que poderia estar ali, visto que, assim, não haveria espaço para tanta informação. Por isso, ele conta com que sejamos cooperativos, “adivinhando” as informações implícitas ou utilizando as que fazem parte de nosso conhecimento prévio, deduzindo o que não foi expresso a partir dos dados que o texto fornece.

Segundo Alliende e Condemarín (2005), no nível de compreensão crítico, o leitor pode emitir dois tipos de juízo, uma de realidade ou fantasia e outro de valor. Pelo juízo de realidade ou fantasia, pede-se ao aluno para distinguir o real e o que pertence à fantasia do autor; pelo juízo de valor, pede-se ao aluno que julgue as atitudes dos personagens. Para realizar um julgamento crítico, supomos que o aluno tenha tido uma compreensão leitora razoável o suficiente para entender, não só a história, como seus pressupostos e subentendidos.

De uma maneira geral, podemos resumir o modelo de compreensão leitora baseado na taxonomia de Barret (1968) da seguinte forma:

Compreensão Literal:

Refere-se à recuperação da informação explicitamente colocada no texto. Pode ser dividida em reconhecimento e lembrança.

Reconhecimento:

Reconhecimento de detalhes: localizar e identificar fatos, tais como

nomes de personagens, incidentes, tempo e lugar da história.

Reconhecimento de ideias principais: localizar e identificar uma oração

explícita no texto que seja a ideia principal de um parágrafo ou de um trecho mais extenso do texto.

Reconhecimento de sequências: localizar e identificar a ordem de

incidentes ou ações explicitamente colocadas no trecho escolhido.

Reconhecimento das relações de causa e efeito: localizar ou identificar

as razões que, estabelecidas com clareza, determinam um efeito.

Reconhecimento de traços de personagens: localizar ou identificar

colocações explícitas sobre um personagem que ajudem a destacar o tipo da pessoa em questão.

Lembrança

O estudante deve reproduzir de cor: fatos, épocas, lugar da história, fatos minuciosos, ideias ou informações colocadas claramente no texto.

Lembrança de detalhes: reproduzir de cor fatos, tais como nomes de

personagens, fatos minuciosos, tempo e lugar da história.

Lembrança de ideias principais: saber a ideia principal de um texto,

sobretudo quando ela se achar expressamente estabelecida. Pode referir-se também ás ideias principais de alguns parágrafos.

Lembrança de sequências: consiste em saber de cor a ordem dos

incidentes ou ações colocados com clareza no texto.

Lembrança de relações de causa e efeito: citar as razões

explicitamente estabelecidas que determinam um feito.

Lembrança de traços de personagens: reproduzir a caracterização

explícita dos personagens que aparecem no texto. Reorganização

Consiste em dar uma nova organização às ideias, informações ou outros elementos do texto, mediante processos de classificação e síntese.

Classificação: consiste em localizar em categorias as pessoas, lugares e

ações mencionados no texto, ou em exercer a atividade classificatória sobre qualquer elemento do texto.

Esboço: consiste em reproduzir o texto de maneira esquemática. Pode-

se falar através de frases ou mediante representação ou disposições gráficas.

Resumo: consiste na condensação do texto, mediante frases que

reproduzem os fatos ou elementos principais.

Síntese: consiste em refundir diversas idéias, fatos ou certos elementos

do texto através de formulações mais abrangentes. Compreensão inferencial

Requer que o estudante use as ideias e informações explicitamente colocadas no texto, sua intuição e experiência pessoal como base para conjeturas e hipóteses. As inferências podem ser de natureza convergente ou divergente e o estudante pode ou não ser chamado para verbalizar a base racional de suas inferências. Geralmente a compreensão inferencial se estimula mediante a leitura, e as perguntas do professor demandam pensamentos e imaginação que vão além da página impressa.

Inferência de detalhes: conjeturar sobre os detalhes adicionais que o

autor poderia ter incluído no texto, para torná-lo mais informativo, interessante ou atrativo.

Inferência de ideias principais: induzir a ideia principal, significado

geral, tema ou conclusão moral que não estão expressamente colocados no texto.

Inferências de sequências: determinar a ordem das ações se a

sequência não estiver claramente estabelecida no texto. Consiste também em determinar as ações que precederam ou seguiram às mostradas no texto.

Inferência de causa e efeito: levantar hipóteses sobre as motivações

dos personagens e suas interações como o tempo e lugar. Implica também conjeturar sobre as causas que atuaram na base das chaves explícitas apresentadas no texto.

Inferência de traços dos personagens: determinar características dos

personagens que não aparecem explicitamente no texto. Leitura Crítica

Pede que o leitor formule um juízo de valor, comparando as ideias apresentadas no texto com critérios externos, dados pelo professor, por outras autoridades ou por outros meios escritos, ou então com um critério interno, dado pela experiência do leitor, seus conhecimentos e valores.

Juízos de realidade ou fantasia: pede ao aluno distinguir o real e o que

pertence à fantasia do autor.

Juízo de valores: pede que o aluno julgue a atitude do personagem ou

dos personagens.

Apreciação

Implica todas as considerações prévias, por que tenta avaliar o impacto psicológico ou estético que o texto produziu no leitor. Abrange o conhecimento e a resposta emocional às técnicas literárias, ao estilo e às estruturas.

Portanto, diante dos níveis expostos, percebemos que o nível de compreensão inferencial é o que mais cobra a atenção do processo de ensino e desenvolvimento da competência leitora, pois a proficiência leitora, nesse nível, representa uma habilidade que o leitor apresenta em reter e evocar informações. Kleiman (2000, p. 25) mostra que uma pesquisa feita com leitores, objetivando-se constatar se o leitor lembrava das informações explícitas ou implícitas, revelou que o problema com relação àquele que não retém nem evoca as informações pode estar na falta de habilidade em fazer inferências. Assim, ela se expressa: “Há evidências experimentais que apresentam com clareza que o que lembramos mais tarde, após a leitura, são as inferências que fizemos durante a leitura; não lembramos o que o texto dizia literalmente.”

Acreditamos que, por ser a compreensão leitora um processo complexo e decorrente de fatores diversos, a sua avaliação deve ser criteriosa e, principalmente, se aproximar o máximo da realidade do aluno. Existem, naturalmente, diversas outras técnicas de avaliação, como por exemplo os testes conhecidos como tipo cloze, os testes estandardizados, que visam uma comparação do nível de um curso em relação às normas nacionais. (ALLIENDE; CONDEMARÍN, 2005, p. 152).

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