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Os pais e o processo pedagógico (11-04-2014)

Afinal parece que não são só os generais que se preparam sempre para a guerra anterior. O mundo mudou muito nas últimas dezenas de anos, mas o que é que mudou ao nível da função dos pais? A ação dos pais no processo educativo e formativo dos filhos não pode ser como ‘no meu tempo’ (frase que enfureceu tantos dos pais atuais quando eram filhos) nem, o que no fundo vai dar ao mesmo, um desequilíbrio com consequências, graves por vezes, na vida dos filhos, “agora faço o contrário do que no tempo dos meus pais”.

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Os pais são um elemento estruturante do processo pedagógico, seja por ação ou por omissão. A família como agregado é uma instituição e como todas as instituições tem de se adaptar às mudanças, não em resposta atrasada aos problemas que vão surgindo, mas por antecipação, com uma capacidade de antecipar os problemas e mesmo de prever para prover.

O apoio que não tolhe e permite o atrevimento da experiência é, também, uma função dos pais, sobretudo até numa altura como a que hoje vivemos em que a maioria das instituições, da UE ao país, da escola ao clube, da segurança à justiça, parecem ter perdido o rumo e estar desorientadas sobre as funções que devem exercer e os caminhos que devem seguir.

A título de exemplo, no que se refere ao ‘acompanhamento’ dos filhos ao nível Escolar e Desportivo, podemos dizer que normalmente o perfil se situa entre dois extremos: pais ausentes e pais demasiado presentes.

Ausentes no sentido de ficarem indiferentes perante as dificuldades, a evolução, o insucesso e o sucesso dos seus filhos. Por vezes até estão fisicamente presentes mas é como se não estivessem …

Por outro lado, há aqueles que têm um comportamento sufocante, têm de saber todos os pormenores do que se passa na escola, estudam sempre com eles, estão em todos os treinos, são eles que vivem com mais intensidade a vida dos filhos. Se pudessem faziam os testes e exames e competiam no seu lugar. Contudo é necessário não esquecer

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que o desporto e a escola são espaços distintos e exigem cuidados e acompanhamentos específicos. Basta ver algumas tristes figuras que são feitas nos recintos desportivos deste país … para compreender um pouco o que afirmamos.

É evidente que cada caso é um caso e que mesmo os comportamentos ‘mais radicais’ podem ter uma justificação e serem os mais adequados a cada situação. Porém, na maioria das vezes o problema é que se tratam de comportamentos que não têm em conta as implicações futuras na transformação dos jovens. E cada idade necessita do seu pai e da sua mãe. Mesmo quando num ‘rancho’ de filhos com idades e necessidades tão diferentes cada um precisa de coisas ‘à sua medida’.

Os pais não são nem camaradas, nem irmãos, nem opositores, nem cúmplices…são pais.

É muito difícil ser uma mãe ou um pai e por isso são tão importantes.

No meu tempo …

(10-05-2014)

O mundo mudou, as pessoas também. Contudo, muitos não só continuam agarrados ao passado, como também nos querem lá fazer regressar. Fazem uns embrulhos bonitos, utilizam falinhas mansas e demagógicas apelando à natural nostalgia que alguns (compreensivelmente diga-se) sentem do seu tempo.

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A título de exemplo, é normal ouvirmos que a antiga instrução primária é que era boa. Ou seja, é um claro indicador que não se pensa fazer uma rotura no processo pedagógico de forma a que a educação seja o desenvolvimento das capacidades e potencialidades de cada um, nomeadamente, desenvolvendo o espírito crítico (credo que blasfémia!), a autonomia, a criatividade, a capacidade de adaptação e a montagem de estratégias (tudo modernices). O que parece ser desejado e necessário (para acabar com as atuais disfuncionalidades e trapalhadas em que se transformou o atual sistema educativo) é o regresso ao passado e ensinar a ler, escrever, contar e ter orgulho na pátria (mesmo que tudo isto seja feito de forma muito encapotada, repetimos).

É normal que cada um de nós olhe para o seu passado e lhe atribua a razão de ser daquilo que hoje é. Trata-se de um processo típico de solicitação-adaptação-transformação.

Assim, por um lado, há aqueles que recordam que começaram a trabalhar aos 10 anos e só ao domingo é que descansavam, ou melhor iam à missa de manhã e passeavam no jardim público da parte da tarde. Por outro lado, outros enaltecem os três meses de “férias grandes” em que construíam os próprios brinquedos, jogavam e se divertiam até que o corpo deixasse ou os pais chamassem, etc.

Mas o tempo não volta para trás, por mais que o queiramos, os tempos são outros, as solicitações são diferentes, os problemas a que temos de dar resposta são de outra natureza e complexidade. Querer

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voltar ao passado é o mesmo que querer continuar a utilizar os carros de hoje mas nas estradas de há 50 anos.

Mas o que é um tempo? Já pensou que quando não tem mesmo nada que fazer ou tem de aturar uma maçada, cinco minutos nunca mais passam e quando está divertido ou entusiasmado, uma hora passa num instante? Mais do que um relógio, cada um de nós é a medida do seu tempo. O tempo depende do contexto e nesse contexto podemos mexer. Mas antes de mais temos de saber o que queremos e ter o sentido crítico necessário para sabermos também o que não queremos. Mas há quem se sente e fique à espera que o “tempo” lhe caia em cima. E depois ainda se queixam.

Está tudo a andar, a vida é um jogo permanente nas pessoas, nas instituições, na sociedade. Temos de saber jogar, ter prazer em jogar.

É bom que não se renegue o passado, mas também não podemos querer voltar para trás só porque somos ignorantes (se não conhecermos as potencialidades que hoje existem), incompetentes (se as conhecemos mas não as sabemos utilizar e desenvolver) ou desonestos (se as conhecemos, se as sabemos desenvolver, mas não o fazemos).

Coordenar capacidades e potencialidades

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