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1.2 OBJETIVOS

2.2.3 Os Princípios Morais e as Virtudes Morais

A realização da moral é inseparável de certos princípios básicos de comportamento que a sociedade apresenta a um determinado grupo. Os princípios são elaborados na atividade prática social que regem efetivamente o comportamento dos homens. Esses princípios nascem da relação com determinadas necessidades sociais, podendo ser objetos de uma elaboração teórica, que visa justificar sua necessidade ou a fundamentar a sua validade.

Evidencia-se claramente que em tempos de crise, alguns princípios sofrem influências destas circunstâncias, e estes terão solução quando são substituídos por outros adequados às novas exigências sociais.

Conforme atesta Vázquez (1999), a virtude, que vem do latim virtus, é, num sentido geral, capacidade ou potência particular do homem e, em sentido específico, capacidade ou potência moral. A virtude supõe uma disposição uniforme de comportar-se moralmente de forma positiva, de querer o bem; e o seu lado oposto, o

vício, é querer o mal.

A virtude está intimamente unida com o valor moral, envolvendo a compreensão dos valores, os quais as normas morais têm por base, que orientam a realização do ato moral. Porém, o ato moral não é objeto suficiente para considerar uma pessoa virtuosa; um único ato isolado não basta para falar da virtude de um indivíduo.

Aristóteles descreve que a virtude é um hábito, um tipo de comportamento que se repete pela forma de agir de um determinado modo. A virtude é o termo médio entre dois extremos, podendo ser ampliada com a paciência, bom conselho e presença de espírito. Do ponto de vista moral, o indivíduo deve estar sempre apto, preparado, disposto sempre a fazer o bem e realizá-lo para ser uma pessoa virtuosa.

Por outro lado, num mundo social em transformação e luta, continua-se falando de virtudes, que apresentam pouco atrativo àqueles que precisam afirmar-se diante da humilhação, exploração, dentre outras, onde apenas outras qualidades

morais podem inspirá-los: solidariedade, ajuda mútua, cooperação e assim por diante. Conforme Aristóteles2, citado por Sá (2001, p. 69), “aos hábitos dignos de louvor chamamos virtudes”. Esta não é apenas o que se pode louvar, devido ao fato de que se deveria estabelecer parâmetros para tal, uma vez que é de conhecimento geral que os virtuosos não são dignos de louvor em meios viciosos.

“A conduta virtuosa é algo essencial e estriba-se na qualidade do ser em viver a vida de acordo com a natureza da alma, ou seja, na prática do amor, em seu sentido pleno de não produzir malefícios a si nem a seu semelhante” (SÁ, 2001, p. 69).

A virtude é uma condição que se apresenta no individuo desde seus primeiros passos, devido a sua formação tanto familiar, quanto escolar e assim por diante, de modo que é impossível conceber o ético sem antes o virtuoso como princípio. Isto posto, percebe-se que a virtude é uma ‘qualidade’ necessária no campo da ética, porém de nada adiante possuir códigos que regulem tais virtudes, se o ser humano não identifica-se com tais princípios, exercendo-os de forma natural.

De certa forma, para alguns filósofos, a virtude não mais pode ser encarada de forma absolutista em tempos modernos, porém, mesmo com o progresso devemos basear a ética no respeito ao semelhante. Como exemplo, podemos citar a força do dinheiro, a qual tem corrompido vários profissionais, bem como os afastando dos princípios básicos, perdendo a condição de homem pela prática de atos viciosos. Observando o caso da Contabilidade, onde o profissional vive cercado de cifras e seu objetivo é zelar por estas, desta forma, mais do que nenhum outro, este deve não se deixar seduzir pela fortuna, prejudicando terceiros, ou seja, seus próprios clientes.

Mesmo esta categoria possuindo um código de ética, normalizando a conduta e apresentando as virtudes a serem seguidas, o que mais importa é que estes profissionais tenham a consciência de que não devem construir seu próprio

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patrimônio prejudicando a outros, pois códigos de ética podem ser facilmente transgredidos, uma vez que seus profissionais não possuam educação ética.

Fato importante apresenta-se em certos indivíduos que praticam a virtude mesmo sem terem gosto por ela, ou seja, praticam a virtude porque lhes é conveniente perante outros, ou ainda, para não caírem no descrédito perante a sociedade. Por tudo o que se vê o país atravessar, o mar de lama que envolve a política, nota-se que raro é o envolvimento de contabilistas nos escândalos de corrupção, fato que credencia a classe, esta que depende muito da confiança nela depositada, sendo que há milênios os contabilistas são confidentes de seus clientes.

Louva-se a virtude; mas odeiam-na, mas fogem dela e ela gela de frio nesse mundo onde se precisa ter os pés quentes... a virtude se faz respeitar e o respeito é incômodo; a virtude se faz admirar, e a admiração não é aceitável (DIDEROT3, apud SÁ, 2001, p. 74).

Todos os homens que por aqui passaram e pregaram a virtude, tinham um ser supremo, o qual é perfeito, fato pelo qual todos deviam espelhar-se nele e praticarem a virtude, visando o bem próprio e de terceiros. Estas duas proposições de Espinosa4, citado por Sá (2001, p. 76), são relutantes: “A alma humana tem um conhecimento adequado da essência eterna e infinita de Deus”, e “Na alma não existe vontade absoluta ou livre; mas a alma é determinada a querer isto ou aquilo por uma causa que também é determinada por outra, e essa por outra, por sua vez, e assim até o infinito”.

Pode-se destacar disto, a existência de Deus, bem como sua presença em cada um. Assim, responde ao fato do todo criado e sua fonte geradora, implicando na conduta do homem, respeitando o Ser Perfeito.

Porém, para falar de virtudes, não se pode esquecer de caráter. “Em seu sentido ético, o caráter é um sistema energético consubstanciado em virtudes que

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DIDEROT, D. Rameau´s Nephew; And, D´Alembert´s Dream. New York: Penguim Books.

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regem a ação do homem, representando a individualidade deste, perante a perfeição” (SÁ, 2001, p. 79).

A conduta tem por base o caráter, donde parte a vontade de praticar a virtude, e também, a vontade de promover a virtude. Esse distingue os indivíduos, permitindo sua qualificação. Sendo o caráter virtuoso, por conseguinte, também ético.