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Os professores dos imigrantes: situação nos Campos Gerais

Com a chegada da segunda grande leva de imigrantes na região dos Campos Gerais, o quadro regional, que era baseado nas atividades dos tropeiros e na forte característica conservadora, foi desaparecendo lentamente com a chegada de “[...] burgueses instruídos, com capital próprio e experiência empresarial, até camponeses que apenas conheciam os métodos mais simples de lavrar a terra.” (LAVALLE, 1996, p.33).

O impacto da chegada dos imigrantes, ao longo da segunda metade do século XIX, foi logo percebido na industrialização65 de Ponta Grossa e, também, em Curitiba, Palmeira, Lapa e em toda a região dos Campos Gerais. Com a chegada dos russos e alemães a oferta de alimentos na cidade ampliou-se “[...] com a abundância de carnes, como a de suínos, permitiu- se que se instalassem muitos açougues no município de Ponta Grossa.”( Idem, p.35). Também, os imigrantes italianos aproveitavam para fazer a comercialização de seus derivados, como a banha, pois a região era rica na criação de suínos.

Os imigrantes nos Campos Gerais, de diversas etnias, foram se organizando e fundando pequenas indústrias, de acordo com os conhecimentos que traziam. Iniciava-se a construção de jardins, pontes e a colocação de iluminação nas ruas das cidades, vilas e colônias. Como a cidade de Ponta Grossa era promissora no cultivo de erva-mate, essa atividade propiciou aos russos e alemães fundarem olarias para a fabricação de telhas e tijolos, aproveitando a sobra de erva-mate que se transformava em lenha. Com isso, a cidade passou a ter uma outra característica, pois as casas de madeiras começavam a ser substituídas por casas de tijolos.

Foi durante o governo de Adolfo Lamenha Lins que se intensificou a fundação de colônias nos Campos Gerais. Entre 1876 e 1878, foram fundadas colônias nas proximidades de “[...]Curitiba, Paranaguá, Morretes, São José dos Pinhais, Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa.” (PEREIRA, 1996, p.178).

65 No Brasil, o primeiro “surto industrial” é entre 1885-1895, considerado tardio, se o compararmos ao

desenvolvimento industrial na Inglaterra, Suécia, na Áustria-Hungria e Itália, desenvolvendo um capitalismo diferenciado e contraditório “[...] passando de uma fase ascendente de livre concorrência para uma fase

No final da primeira guerra mundial, outros grupos de imigrantes vieram para o Brasil, formando novas colônias que, mais tarde, já na República, deram origem às cidades de Mallet, São Mateus, Dorizon e Araucária e Prudentópolis (depois dividida nos núcleos de Ivaí e Piraí do Sul), com a predominância dos imigrantes poloneses, ucranianos, rutenos e outros eslavos. Posteriormente, vieram espontaneamente os imigrantes árabes e sírio-libaneses, que em grande número foram trabalhar com o comércio ambulante, como mascate, percorrendo as fazendas e colônias oferecendo tecidos, remédios, livros, sementes e utensílios domésticos.

De etnia germânica, os russos-alemães do Volga foram os que mais influenciaram na formação dos Campos Gerais e na sociedade do Paraná66. Eram imigrantes que possuíam uma cultura técnica e científica. Os russos-alemães organizaram as colônias de Lapa, Palmeira e Ponta Grossa, mas economicamente tiveram presença decisiva como “[...] pioneiros no transporte em carroças. O carroção de 6 a 8 cavalos logo substituiu, [...] os carros de bois e os cargueiros[...].” (Idem, p. 179).

O presidente da Província Adolfo Lamenha Lins foi o primeiro a apostar nos imigrantes polacos em (1875-1877), oferecendo as seguintes condições: o governo, custeava a viagem da Europa ao Brasil e sustentava-os até que pudessem manter-se com os frutos da terra. Para acomodar estes imigrantes foram demarcados lotes de terras de cultura nos arredores da cidade, traçadas as estradas, e entregue um lote a cada família, com uma casa provisória, regularmente construída.

Os colonos residentes no mesmo local durante mais de dez anos recebiam vinte mil réis como auxílio de estabelecimento. Cada família recebia mais 20 mil réis para a compra de utensílios e sementes. Logo que os colonos se estabeleciam, eram empregados na construção de estradas do núcleo, recebendo as ferramentas necessárias, mas cessava então a alimentação por conta do governo.

Várias escolas foram fundadas para atender às colônias, quer nos moldes da instrução brasileira ou na etnia da colônia. Inicialmente eram permitidos os dois idiomas. Como as colônias possuíam professores formados no seu país de origem, o governo imperial autorizava

monopolista onde o mercado mundial foi dividido entre as potências que já haviam realizado sua revolução industrial”. (LEONARDI, 1991, p.28).

66 Os alemães do Volga (chamados russos-alemães por alguns autores) receberam esta denominação ainda que

nunca tivessem chegado a gozar de cidadania plena na Rússia. Lá sofreram tal discriminação que sequer aprenderam o idioma local, sendo até mesmo proibidos os casamentos entre alemães e russos. A segregação

que esses professores dessem aulas em suas casas. Mais tarde, algumas dessas colônias foram autorizadas pelo governo a edificarem escolas, como a colônia Argelina, em 1874, sob a responsabilidade do professor Franz Motzko; bem como as colônias de Santa Cândida, de Orleans67

e de Eufrasina.

Sabe-se, por meio dos documentos analisados, que as dificuldades das colônias de imigrantes eram muito grandes não só para conseguir escolas, mas, também, os professores. Assim, em toda colônia, quando não havia professor com a habilitação necessária, era escolhido um membro da comunidade para dar aulas em suas próprias casas. Diante dessas dificuldades, os poloneses fundaram a Escola-Sociedade, em que os membros da colônia escolhiam uma pessoa para ser o professor da comunidade, e este seria aquele que “[...] apresentasse alguns requisitos para as funções[...]como desembaraço, capacidade, saber ler e escrever satisfatoriamente[...]tornavam-se pedagogos improvisados.” (WACHOWICZ, 1971, p.211).

Somente em 1886, o presidente Taunay concedeu a algumas colônias pobres uma subvenção aos professores, que, por não serem brasileiros, não eram da responsabilidade do governo e não eram pagos pelos serviços prestados às comunidades.

Entre os católicos alemães, existem dois tipos distintos de escolas: as mantidas diretamente pelas comunidades, predominantes na área rural, e as que eram dirigidas por congregações religiosas, encontradas quase exclusivamente nos núcleos urbanos ou semi-urbanos. Ambos eram controlados pela Igreja, mas o segundo era parte integrante da organização eclesiástica local, levando por isso freqüentemente a denominação de escola paroquial. As chamadas escolas alemãs eram geralmente integradas em sistemas que refletiam a diferenciação cultural, sobretudo religiosa, dos teuto-brasileiros. (WILLEMS, 1980, p. 287).

Essa realidade era um retrato da conjuntura inicial do período republicano e que se apresentava em toda a região do Paraná. Subsidiadas pelas próprias colônias, as escolas ofereciam um excelente ensino para um grupo seleto de colonos. Além do ensino primário, era oferecido o ensino secundário nas línguas alemã, francesa e inglesa, além de uma boa formação humanística. Para isso, as “[...]melhores obras literárias eram importadas e escritas na língua de origem.” (OLIVEIRA, 1986, p.216).

atingiu tal ponto que muitos alemães foram deportados para a Sibéria por ocasião das duas Grandes Guerras. (MÜLLER,1998).

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A escola pública polonesa da colônia Orleans foi pioneira entre as escolas polonesas oficiais no Brasil. (WACHOWICZ, 2002, p. 25).

Tornava-se comum, entre pessoas de recursos, o “[...] conhecimento de línguas, permitindo-lhes, muitas vezes, ensinar particularmente ou mesmo sob nomeação do Governo.” (Idem).

No inicio do período republicano existiam poucas escolas públicas primárias em Ponta Grossa, e essas funcionavam de maneira precária, embora fosse constante a reivindicação, por parte das autoridades do ensino, por melhorias. Esta situação está registrada nos relatórios dos inspetores gerais que tratam das chamadas cadeiras de instrução primárias e que funcionavam em uma única sala sob a regência de um professor, administrando, na sua maioria, diversas séries ao mesmo tempo.

As escolas particulares eram chamadas de Casas Escolares e recebiam um tratamento diferenciado, “[...]razão pela qual esses estabelecimentos de ensino funcionam quase todos em prédios mais ou menos apropriados.” (Jornal O Progresso, 15.12.1901) As escolas públicas primárias não se encontravam nas mesmas condições “[...]cujos professores muitas vezes têm de vencer não pequenas difficuldades na obtenção de uma casa onde possam remediar-se no exercício de seu cargo.”(Idem).

A escola republicana difundia a idéia de que o professor deveria ser mais maleável no exercício de suas funções. Eram chamados a modificar os considerados assombrosos “[...] cárceres de supplicios e torturas que se chamavam escolas em templos de instrução e a substituir o carrasco que se chamava mestre escola por carinhoso preceptor.” (Idem).

Apenas em 1910 a Câmara Municipal de Ponta Grossa sancionou uma lei que levava seu prefeito “[...] a fazer acquisição e ceder, pelo modo que julgar mais conveniente, a área de terreno dentro desta cidade, sufficiente para a edificação de um Grupo Escolar” .( Idem, 21.06.1910). Foi a Lei Municipal de número 269 de 17.06.1916, que tratou da edificação de um Grupo Escolar na cidade. A lei também dava direito e poder ao prefeito de “[...] desapropriar, vender, transferir ou permutar qualquer área de terreno” (Jornal O Progresso 21.06.1910) que fosse necessária para construção e expansão da escola pública no município.

O povo de Ponta Grossa, neste novo contexto, tinha a esperança de que fossem criadas muitas associações escolares, visto acreditar-se que

[...] dentro de 50 annos o Brasil á vanguarda das nações directoras as Humanidades, de sorte que quando daqui a um século, ou menos se confederem as nações latino americano, as boas qualidades da nossa inteligência desenvolvidas pela educação nos

assegurão uma supremacia alias a única possível dessas épocas remotas a supremacia moral. (Idem, 09.04.1911).

As escolas primárias públicas que funcionavam em Ponta Grossa, no período de 1908 a 1916, contavam com alguns professores formados na capital paranaense. Estas escolas primárias passaram a funcionar como grupo escolar que continham 2 salas de aula e aglutinavam “cadeiras” dos tipos diversos (masculinas, femininas ou “promiscuas” mistas), “[...] regidas por professores distribuídos entre as várias séries. Podem ainda compor, na Capital e nos arredores, as escolas isoladas com uma única sala e sob a regência de um professor.” (ALMANACH, 1912, p.283 ).

Como reflexo do regime republicano, o professor passou a ser funcionário do Estado e, nesse sentido, havia um “[...] tratamento arbitrário conferido às questões escolares por procedimentos de controle sobre os professores. Estes eram, até então, percebidos como apóstolos com uma missão ético-moral a cumprir.” (LUPORINI, 1994, p.23).

O controle da função dos professores passou para o Estado e a sua contratação era feita de forma diferenciada, na medida em que se recorria à escolha feita não só pela competência, mas também por indicações.