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Os programas dos Governos Constitucionais e o mar, antes da adesão à CEE

4. O Mar nos programas de Governo desde Abril de 1974

4.2. O mar nos programas dos Governos Constitucionais

4.2.1. Os programas dos Governos Constitucionais e o mar, antes da adesão à CEE

I Governo Constitucional - (julho76 a janeiro78)

É notória a ênfase dada ao setor das pescas, no programa deste Governo29, e nos seguintes, maior que aos portos e transportes marítimos. Entende-se esta atividade como setor estratégico, elemento de uma política social de alimentação. Também fornece a matéria-prima da indústria conserveira e dá incentivo para os setores da construção e reparação naval. Fixou-se para o setor das pescas um conjunto de objetivos como: incrementar e diversificar as capturas; aumentar a produção e a produtividade das indústrias de conservação e de transformação; aperfeiçoar e desenvolver os circuitos comerciais de distribuição; promover os interesses do país no plano internacional, salvaguardando o acesso da frota Portuguesa aos pesqueiros tradicionais e a novas zonas de pesca; promover a proteção e o aproveitamento racional dos recursos aquáticos; adoção da ZEE das 200 milhas e Mar Territorial30 até às doze milhas náuticas, face aos resultados da III Conferência do Mar; melhorar decisivamente as condições socioprofissionais dos pescadores e dos demais trabalhadores do setor, institucionalizando as carreiras de pesca e abrindo perspetivas concretas quanto à formação profissional.

Quanto aos portos e transportes marítimos depois de uma análise que identifica a desatualização e desajustamento da frota e das estruturas empresariais para as necessidades do País, a par de uma rede portuária mal equipada, deficientemente explorada e sem planeamento integrado, surgem, no programa, objetivos de assumir a recuperação económica e financeira das empresas de transportes marítimos, melhorar a participação dos transportes nacionais nos fluxos de tráfego de importação e exportação, e melhorar a gestão dos principais centros coordenadores de tráfego (portos e aeroportos).

De referir que já se inscreve, no programa, que o Governo tem como objetivo político, a integração europeia,

Para além do aqui referido, quanto às alusões à área do mar plasmadas neste programa de Governo, avançou-se também, no documento, com outras referências, que podem ser consultadas no anexo B.

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Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc01/programa-do- governo/programa-do-i-governo-constitucional.aspx Consultado em 15 de abril de 2016.

42 II Governo Constitucional - (janeiro78 a agosto78)

No programa deste Governo31, elabora-se o ponto de situação, em que se reconhece ao setor das pescas importância prioritária para a recuperação da economia portuguesa e propõe-se desenvolvê-lo aceleradamente. Definem-se objetivos globais da política pesqueira nacional, como o aumento progressivo das capturas, até se atingir a cobertura das necessidades nacionais em peixe para consumo público direto, para abastecimento da indústria conserveira e para a fabricação de farinhas de peixe para as rações, reduzindo, assim, a dependência externa em produtos da pesca e, consequentemente, as respetivas importações. Também, o fomento das exportações portuguesas de produtos da pesca, em particular de conservas de peixe e óleos de peixe.

Quanto aos transportes marítimos é entendido no documento que no seguimento da descolonização e simultânea crise do comércio marítimo mundial, a adequação a novos mercados dos operadores marítimos tem vindo a processar-se a um ritmo que urge acelerar, pelo que o Governo procurará concretizar rapidamente a reestruturação empresarial da marinha de comércio. Pretende-se tomar decisões relativas à expansão da frota existente, nomeadamente no domínio dos graneleiros, navios porta-contentores e outros cargueiros de pequena tonelagem. No tocante ao sistema portuário, procura-se a melhoria da gestão dos principais centros coordenadores de tráfego pelo aproveitamento mais racional dos recursos existentes. Também se almeja um incremento da competitividade internacional dos principais portos e o desenvolvimento integrado dos portos, enquadrando numa lógica e política de desenvolvimento, o conjunto dos portos nacionais.

Para além do aqui referido, quanto a alusões à área do mar, plasmadas neste programa de Governo, avançou-se também, no documento, com outras referências, que podem ser consultadas no anexo C.

III Governo Constitucional – (agosto78 a novembro78)

Neste programa32 entende-se que o setor das pescas está, há alguns anos, numa crise generalizada, com diminuição progressiva das capturas, um aumento das importações e um constante agravamento de preços. Considera-se o setor das pescas prioritário para a recuperação da economia nacional.

Definem-se depois pressupostos condicionantes e objetivos, em que se consideram como pressupostos essenciais da política a seguir, a absoluta necessidade de garantir o abastecimento público, de manter, e se possível aumentar, o atual volume de trabalho no setor, e de centrar essencialmente o esforço de pesca na ZEE nacional, consolidando as posições portuguesas em

31 Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc02/programa-do-

governo/programa-do-ii-governo-constitucional.aspx. Consultado em 16 de abril de 2016. 32

Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc03/programa-do- governo/programa-do-iii-governo-constitucional.aspx. Consultado em 22 de abril de 2016.

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águas nacionais de outros países. Visa-se criar condições que permitam a saída da crise, elaborando um Programa Nacional das Pescas (PNP), introduzindo no setor métodos de planeamento. O PNP considera: a avaliação dos recursos vivos existentes na ZEE; definição das metas de produção, equacionadas em função dos recursos avaliados, do estado da frota nacional e das infraestruturas existentes; a participação do pescado, seus produtos conservados e transformados na dieta alimentar integrada do povo português; a definição do nível da dependência nacional, em pescado, do exterior.

Definem-se objetivos no tocante às pescas e pretende-se: incrementar e diversificar as capturas; aumentar a produção das indústrias de conservação e transformação; reduzir gradualmente a dependência dos mercados externos; dotar o Portugal de uma rede de frio de apoio às pescas; modernizar e racionalizar o setor empresarial, privado, público e cooperativo.

Entende-se no documento que os transportes marítimos, atravessam um período de crise agudizada por problemas laborais mas de raízes estruturais e profundas. São urgentes e indispensáveis, uma análise e uma definição da Marinha Mercante que o país pode e deve ter e da sua estrutura. Relativamente ao sistema portuário, entre outros pontos, procura-se saber as capacidades das infraestruturas existentes e as possibilidades de aumentá-las mediante obras e equipamentos de custos aceitáveis para o efeito; incrementar e racionalizar o uso de cada unidade portuária e do conjunto.

Para além do aqui referido, quanto às alusões à área do mar plasmadas neste programa de Governo, avançou-se também, no documento, com outras referências, que podem ser consultadas no anexo D.

IV Governo Constitucional – (novembro78 a julho79)

Assume-se no programa33 que a política de conjuntura deve ser concebida e executada em termos de se harmonizar com a estratégia de desenvolvimento e de integração no Mercado Comum Europeu. Assim, neste domínio, pretende-se recorrer predominantemente a práticas seletivas de avaliação e orientação dos investimentos. Por setores, manutenção da alta prioridade da modernização da agricultura e pesca e de expansão das indústrias de exportação.

Quantos ao setor das pescas, alude-se, entre outros pontos: à necessidade de intensificação dos estudos necessários ao conhecimento dos recursos da ZEE; à definição dos protótipos de embarcações a aconselhar para reapetrechamento da frota de pesca; à reestruturação das empresas nacionalizadas de pesca dentro da política global que for definida para o setor público empresarial; à disciplina na primeira venda do pescado: ao saneamento dos circuitos de comercialização e revisão das condições de acesso à lota; à introdução de medidas no setor das

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Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc04/programa-do- governo/programa-do-iv-governo-constitucional.aspx. Consultado em 23 de abril de 2016.

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conservas de peixe que permitam a sua sobrevivência e a manutenção dos mercados externos; à definição das medidas de apoio à produção de farinhas e óleos de peixe.

No que diz respeito aos transportes marítimos e portos, reconhece-se a situação, especialmente grave, da Marinha Mercante, pelo que se impõem ações decisivas na sua reestruturação, coordenação das empresas intervenientes e especialização de serviços e participação ativa no comércio internacional. Afirma-se que vão prosseguir os estudos de reapetrechamento da frota e as implementações das ações que levem à sua efetivação.

Também se procuram melhorar as atividades nos principais portos, muito especialmente nos de Lisboa e Leixões, com especial incidência na revisão das condições de exploração, na reestruturação dos esquemas de trabalho, de utilização de equipamentos e de disposição de instalações. Estudos de expansão dos portos de Lisboa e Leixões e incentivo para estudos de definição de âmbito de aproveitamento do porto de Sines, com análise das possibilidades de expansão das instalações e atividades de outros portos do País.

V Governo Constitucional – (julho79 a janeiro80)

Neste programa de Governo34, quanto às atividades relativas ao setor da pesca, objetiva-se o aumento e a diversificação das capacidades de captura e da indústria de transformação dos produtos da pesca pelo que se promovem medidas apropriadas, incluindo iniciativas tendentes a assegurar o acesso a novas zonas marítimas, em cooperação com as respetivas nações costeiras, e o apoio ao desenvolvimento da pesca local nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

Inscreve-se no programa, o avançar com iniciativas para melhor regulamentação da comercialização e disciplina dos circuitos de distribuição dos produtos a fim de garantir uma justa distribuição dos rendimentos na captura, transformação e comercialização do pescado.

Pretende-se o fomento de projetos e o estabelecimento de medidas que permitam a modernização do equipamento e a adoção de novas tecnologias de exploração e de transformação dos produtos.

Quanto a portos e transportes marítimos, medidas genéricas como, desenvolvimento das ações em curso, ou em estudo, no que concerne aos equipamentos e às infraestruturas de transporte marítimo, portuário e aeroportuário.

VI Governo Constitucional – (janeiro80 a janeiro81)

Entende-se no programa35 que importa adequar progressivamente os esquemas e estruturas de intervenção às práticas análogas da CEE, de modo a que o sistema produtivo nacional possa

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Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc05/programa-do- governo/programa-do-governo-constitucional-5.aspx. Consultado em 24 de abril de 2016.

35 Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc06/programa-do-

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sobreviver e ser eficaz após a integração e a que se aproveitem totalmente as consequências positivas da aproximação às comunidades europeias.

No setor das pescas visa-se prioritariamente, entre outros pontos; apoiar as empresas armadoras na conservação dos pesqueiros tradicionais fora das águas jurisdicionais de pesca portuguesas e tentar ampliar as zonas de pesca através da negociação de novos acordos com outros países; fomentar o redimensionamento das frotas de pesca longínqua, atualmente com efetivos exagerados, parcialmente obsoletos e subaproveitados, reconvertendo as unidades sobrantes se as suas características o permitirem; Incrementar o esforço de reconhecimento das potencialidades da ZEE; garantir uma fiscalização segura das águas jurisdicionais de pesca; harmonizar a necessidade de melhorar as tecnologias das capturas com defesa dos recursos do mar; desenvolver as tecnologias de conservação e transformação do pescado e melhorar as condições da primeira venda; incrementar a indústria nacional de farinha e óleos de peixe com base nas capturas de espécies não destinadas ao consumo direto; promover a contribuição crescente dos estaleiros nacionais na modernização da frota de pesca.

Como noutros programas de Governo, também neste programa se afirma que a diplomacia portuguesa, dará especial atenção à área do direito do mar.

VII Governo Constitucional – (janeiro81 a setembro81)

Identificam neste programa36 de Governo um conjunto de dificuldades no setor das pescas, que leva a um baixo ritmo de crescimento, como a exaustão dos pesqueiros tradicionais, o agravamento dos custos de produção, a crescente dificuldade, por parte de outros países, da exploração de recursos nas suas águas nacionais, a diminuição dos níveis de produtividade, distorções laborais, etc.. Dado que se trata de um setor essencial para o abastecimento das populações e o fornecimento de matérias-primas às indústrias de conservas, farinação e óleos, considerando a futura adesão de Portugal à CEE37, avança-se com os objetivos de aumentar a produção de pescado, de modo a satisfazer a crescente procura do mercado interno (consumo direto e industrialização); desenvolver a produção de farinhas e óleos, mediante o aproveitamento de outras espécies não utilizáveis no consumo humano; controlar a subida de preços; contribuir para a melhoria da balança de pagamentos. Estabelecem-se, para essa atuação, linhas de política como, entre outras: desenvolver a investigação aplicada e, prospeção de pesqueiros em especial na ZEE; estabelecer acordos de pesca com outros países; apoiar a reconversão da atual frota de pesca; intensificar a fiscalização e defesa na ZEE, tendo em vista a conservação e a gestão dos recursos; restar apoio direto à produção, adotando esquemas idênticos aos da CEE em matéria de organização comum de mercados, no que respeita, designadamente, ao abastecimento, preços e normas de comercialização; intensificar as

36 Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc07/programa-do-

governo/programa-do-vii-governo-constitucional.aspx. Consultado em 26 de abril de 2016.

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atividades a exercer pela Escola de Pesca, e criar cursos para gestores e pessoal administrativo do setor; melhorar progressivamente as condições da primeira venda; e apoiar o desenvolvimento da indústria transformadora.

Considera-se também importante que se mantenham e desenvolvam as capacidades das empresas portuguesas de transportes exteriores marítimos e aéreos.

VIII Governo Constitucional – (setembro81 a junho83)

No programa38 pode ser observado que se mantêm essencialmente as aspirações já patenteadas no programa do VII Governo Constitucional, além de outras como: desenvolver a aquacultura; ter em conta as definições dos interesses específicos feitos pelos órgãos próprios das regiões autónomas no tocante às negociações internacionais que lhes digam respeito, nomeadamente quanto a bases militares e suas contrapartidas, acordos de pesca e adesão de Portugal à CEE.

Nos setores de destino de investimento prioritário surgem a pesca e a piscicultura.

Quanto ao planeamento das infraestruturas para o transporte de mercadorias afirma-se que será desenvolvido em termos globais, em função das localizações dos centros de produção e de consumo e do rendimento energético, bem como das ligações intermodais, interessando os portos e a penetração intraeuropeia.

IX Governo Constitucional – (junho83 a novembro85)

Inscreve-se no programa39 deste Governo que se pretende avançar com uma nova conceção dos problemas do mar.

Quanto ao setor das pescas, as principais orientações inscritas passam por: aumentar e valorizar a produção, orientando-a para a captura de stocks disponíveis na ZEE, tendo em vista a sua mais intensa ocupação, e para outras onde existem acordos negociais ou em vias de negociação; aumentar a exportação dos produtos da pesca, numa perspetiva de reforço da balança comercial do setor e de contribuição para um maior equilíbrio da balança de pagamentos; organizar e disciplinar o mercado do pescado (nacional e importado); operar as adaptações estruturais e organizacionais requeridas pela integração nas comunidades europeias. No campo da Marinha Mercante, como principais orientações, temos: correção progressiva do elevado envelhecimento e dos inerentes atrasos tecnológico e desadaptação aos tipos de tráfego prevalecentes na frota mercante; travagem do processo de continuada degradação em geral do setor, redimensionamento de algumas das unidades existentes e promovendo o seu saneamento financeiro, em ordem a obtenção de rácios mínimos de equilíbrio; fixação, como

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Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc08/programa-do- governo/programa-do-viii-governo-constitucional.aspx. Consultado em 26 de abril de 2016.

39 Disponível em http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc09/programa-do-

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objetivo de médio prazo, de uma participação de 40% da frota nacional no mercado dos fretes marítimos portugueses, após travagem e recuperação da tendência decrescente dessa participação (10% a 15%); consequente redução gradual da dependência do afretamento de embarcações estrangeiras; adoção de uma política de equilíbrio que não privilegie nem penalize os agentes em função do carácter público ou privado dos mesmos; estabelecimento de esquemas de articulação com diferentes setores, outros meios de transporte, construção naval e comércio externo, designadamente, em ordem à prossecução de uma gestão suficientemente integrada.

Para além do aqui referido, quanto às alusões à área do mar plasmadas neste programa de Governo, avançou-se também, no documento, com outras referências, que podem ser consultadas no anexo E.

4.2.2. Os programas dos Governos Constitucionais e o mar, após a adesão