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2. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

2.2 OS PROJETOS EDUCACIONAIS EM DISPUTA NA

A reforma do ensino médio e profissionalizante implantada na década de 1990, regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394 de 1996, é fruto de um processo de disputas político-ideológicas empreendidas no seio da sociedade brasileira.

No âmbito do poder público estavam em disputa dois projetos distintos, um da então Secretaria de Ensino Técnico (hoje, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica) e outro do Ministério do Trabalho e Emprego. O primeiro projeto, baseado na experiência de países desenvolvidos, objetivava investimentos na formação e no desenvolvimento de recursos humanos com vistas a:

Implementar uma nova ordem nas estruturas de produção e consumo de bens e serviços, [que] repousaria numa forte base de sustentação a ser construída por uma sólida educação geral tecnológica, voltada para a preparação de profissionais capazes de absorver, desenvolver e gerar tecnologia. (KUENZER, 1997, p. 40). Para o Ministério do Trabalho e Emprego, a educação profissional era vista como parte de um plano nacional de desenvolvimento econômico e tecnológico sustentado e articulado a outras políticas de emprego, de trabalho e de renda. (MANFREDI, 2002).

No âmbito da sociedade civil, que envolvia entidades profissionais de educação, organizações populares e sindicatos, defendia-se a criação de uma escola básica unitária, sustentada pela justificativa de construção de um sistema de educação nacional integrado que propiciasse a unificação entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura. (MANFREDI, 2002). A proposta defendia a formação profissional após a conclusão da escola básica, por meio do qual se buscariam novas maneiras de valorizar e desenvolver as capacidades

para trabalhar técnica e intelectualmente, “garantindo aos jovens e adultos a possibilidade de fazer parte da construção social como cidadãos e trabalhadores”. (MANFREDI, 2002, p. 121). Além disso, previam a universalização do ensino público e gratuito, estendendo a obrigatoriedade ao ensino médio.

O empresariado, por sua vez, recomendava o aumento da escolaridade básica, da melhoria da qualidade da escola pública de nível fundamental e da reformulação e ampliação do sistema de ensino profissional, mantendo sua natureza dual, qual seja formão profissional para a população de baixa renda e ensino generalista para os que desejassem formação intelectual. No que diz respeito à educação desenvolvida pelas empresas, o empresariado continuava mantendo seu espaço, renovando e ampliando convênios com as entidades por eles gerenciadas. (MANFREDI, 2002).

A reforma do ensino médio e profissional oficial, aplicada no governo de Fernando Henrique Cardoso, considerando as propostas em debate, anunciava como objetivo central “a melhoria da oferta educacional e sua adequação às novas demandas econômicas e sociais da sociedade globalizada, portadora de novos padrões de produtividade e competitividade”. (MANFREDI, 2002, p.128).

Manfredi (2002, p.129), reflete que nesta proposta, o ensino médio apresenta uma trajetória única, articulando conhecimentos e competências para o exercício da cidadania e para o trabalho sem, contudo ser profissionalizante, ou seja, prepara “para a vida”. Com caráter complementar, está a educação profissional, com objetivo permanente de desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e destinada a alunos egressos do ensino fundamental, médio, superior, e também para trabalhadores jovens e adultos, independente da escolaridade que possuem.

Especificamente sobre a educação profissional, é lançado o Decreto nº 2.208 de 1997 que regulamenta os artigos 39 a 42, da LDB, Capítulo III, Da Educação Profissional:

Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.

§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de

diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos:

I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;

II – de educação profissional técnica de nível médio;

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.

§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.

Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.

Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (BRASIL, 2008).

O referido Decreto traz como objetivos da educação profissional, os seguintes: formar técnicos de nível médio (destinado aos que cursam ou são egressos do ensino médio) e tecnólogos de nível superior (destinado a egressos de nível médio ou técnico) para os diferentes setores da economia; especializar e aperfeiçoar o trabalhador em seus conhecimentos tecnológicos e; qualificar, requalificar e treinar jovens e adultos com qualquer nível de escolaridade, para a sua inserção e melhor desempenho no exercício profissional. (MANFREDI, 2002).

Importa salientar que a reforma na educação média e profissional foi assegurada pelo financiamento integrado entre Ministério da Educação e Cultura (MEC), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Mundial; organismos internacionais, estes, que corroboraram com a proposta implementada pelo governo brasileiro. (MANFREDI, 2002).

A autora chama a atenção para a continuidade e reforço à dualidade entre o ensino médio propedêutico e o profissional, contida na proposta referendada pela LDB:

O desmembramento dos dois tipos de ensino recriará, necessariamente, a coexistência de redes de ensino separadas, que funcionarão com base em premissas distintas: o sistema regular com uma perspectiva de preparação para a comunidade dos estudos em nível universitário, e o sistema profissional ancorado à lógica do mercado. (MANFREDI, 2002, p. 135).

Afirma também que esta divisão auxilia na contensão dos conflitos sociais por ausência de emprego:

A ampliação da rede de ensino médio de formação mais generalista funcionaria, também, como um freio para o ingresso no mercado formal de trabalho, atuando como mecanismo 'compensatório' e regulador de tensões sociais, já que os empregos que exigem maior qualificação técnica tendem a ficar restritos, por causa dos processos de reorganização em curso, a reduzida parcela da população. (MANFREDI, 2002, 135). A rede de educação profissional reflexo da nova normatização da educação profissional efetiva-se, portanto, pela composição de diferentes segmentos, a saber: ensino médio e técnico, incluindo redes federal, estadual, municipal e privada; Sistema S; universidades públicas e privadas que oferecem serviços de extensão e atendimento comunitário; escolas e centros mantidos por sindicatos de trabalhadores; escolas e fundações mantidas por grupos empresarias; organizações não- governamentais de cunho religioso e comunitário e; ensino profissional livre concentrado nos centros urbanos, basicamente na modalidade à distância. (MANFREDI, 2002).

No que se refere a Rede Federal de Educação Profissional, na atualidade, o sistema de educação profissional mantido pelo governo federal é integrado por uma rede de escolas, assim constituída: Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Escolas Técnicas vinculas às Universidades Federais; Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ) e de Minas Gerais (CEFET- MG); Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. (BRASIL 2008).

2.3 DESDOBRAMENTOS INSTITUCIONAIS NA EDUCAÇÃO