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Os Reflexos do Governo Vargas (1930-1945) em Santa Catarina e

4.2 O Estado e o Desenvolvimento Econômico Catarinense

4.2.2 Os Reflexos do Governo Vargas (1930-1945) em Santa Catarina e

Mesmo com os importantes avanços iniciais registrados no primeiro período, foi somente no período do entre Guerras, mais especificamente depois da Revolução de 1930, que, segundo Ianni

(1996, p. 25-26), as

[...] condições para o desenvolvimento do Estado burguês [capitalista], como um sistema que engloba instituições políticas e econômicas, bem como padrões e valores sociais e culturais de tipo propriamente burguês [capitalista foram definitivamente criadas e desenvolvidas]. [...] o governo brasileiro, sob Getúlio Vargas, adotou uma série de medidas econômicas e realizou inovações institucionais que assinalaram, de modo bastante claro, uma nova fase nas relações entre o Estado e o sistema [sócio-]político-econômico. [Assim,] [...] o poder público passou a funcionar – mais adequadamente – segundo as exigências e as possibilidades estruturais estabelecidas pelo sistema capitalista vigente no Brasil; isto é, pelo subsistema brasileiro do capitalismo.

Para entender isto, Singer (1987, p. 71) observa que

Durante a primeira metade dos anos 30, a indústria brasileira se expandiu vigorosamente, em virtude da 'reserva de mercado' que a crise econômica mundial lhe proporcionava. Neste período,se complementava a substituição de importações de produtos do Departamento II [que engloba setores industriais voltados à produção de bens de consumo], promovida tanto por indústrias como por manufaturas capitalistas. O governo brasileiro agia pragmaticamente, dando apoio direto às atividades atingidas pela crise e assim praticava inconscientemente política keynesiana de sustentação da demanda efetiva.


Além disto,

Com o avanço da industrialização [...], suas debilidades estruturais começaram a aparecer. O Brasil dispunha de um amplo Departamento II [...], mas carecia quase inteiramente do Departamento I, isto é, de um parque produtor de meios de produção. Para se prover de equipamentos e matérias-primas e auxiliares, a

indústria nacional dependia de importações. Ora, a crise tinha reduzido drasticamente a capacidade de importar do Brasil, de modo que a continuidade da industrialização estava ameaçada pela impossibilidade de expandir a importação de bens de capital e bens intermediários. Convém notar que a expansão dos serviços de infraestrutura – transporte, energia, tele- comunicações etc.- também dependia da importação de equipamentos e know-how. (Ib., p.72).


Coube, diante disto, ao Estado tal papel. Ou seja, prover o Departamento I e o Departamento II à economia do Brasil ao longo do século XX. Por isto, o Estado neste processo foi de suma importância neste período.

Dentro do subsistema capitalista brasileiro, o(s) governo(s) de Santa Catarina sempre se inseriu(ram) e também passou(ssaram) a ser influenciado(s) pelo governo federal, adotando os moldes e políticas industriais semelhantes. Neste contexto, ocorreram alianças estratégicas e apoios mútuos entre os governos federal e estadual, como por exemplo, entre o Presidente Getúlio Vargas e seu Interventor Nereu Ramos, governador e indicado por Vargas para o cargo, que acabaram por modificar substancialmente a estrutura política e o panorama socioeconômico catarinense como um todo.

Segundo Siebert (2006, p. 69), o apoio do governo estadual ao desenvolvimento industrial catarinense durante a Era Vargas (1930- 1945) se deu através da expansão e ampliação das atividades industriais no Nordeste e no Oeste catarinense, ao criar o primeiro Plano Rodoviário Estadual para interligar as diversas regiões do estado através da ampliação da rede rodoviária catarinense.

Um ponto importante das várias transformações estruturais na área econômica neste período foi que “[...] a indústria irá decididamente assumir um papel mais significativo no interior de cada uma das economias [tanto na nacional quanto na estadual]" (SILVA, 2006, p. 28). Além de alguns setores industriais tradicionais, geralmente de bens de consumo não duráveis (como o alimentício e de bebidas, por exemplo) e intermediários (como o têxtil), houve a criação e o fortalecimento das indústrias de base (metalurgia, siderurgia e química), com a criação de grandes empresas estatais nacionais, tais como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de 1941 e a Petrobrás de 1953, já no segundo Governo Vargas (1951-1954). Tais indústrias eram consideradas essenciais ao

desenvolvimento industrial brasileiro, já que, a partir delas, tornou-se possível o surgimento de outras indústrias, como a de bens de capital (máquinas e equipamentos) e de bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos etc.), antes importados na maioria das vezes por não serem fabricados no país.

Por outro lado, se a indústria passa a ser a principal atividade econômica tanto no Brasil quanto em Santa Catarina, convém mencionar também a mudança nas relações econômicas internas e externas. Isto é,

[...] com a política de defesa dos preços do café, foi mantido o nível de renda interna e, como resultado, expandiu-se o mercado interno, criando-se nova fonte de estímulo, dando início ao deslocamento do centro motriz da economia, desde o Exterior para o próprio País. (CUNHA, 2000, p. 291).

Tal fato contribuiu à integração da economia catarinense, antes ligada quase que totalmente aos mercados local e/ou regional, que agora passa a integrar-se cada vez mais à economia nacional, já que o mercado interno brasileiro passa a necessitar de novos bens pelas dificuldades de importação na época da Segunda Guerra Mundial. Em Santa Catarina, segundo Santos (2005), surgiram nesse período novos setores industriais. Além dos já tradicionais setores têxtil, alimentício e de bebidas, surgiram e consolidaram-se aqui as indústrias de bens de capital e de bens de consumo duráveis, como os setores eletrometalmecânico, de materiais de construção, de plásticos, de papel e de transporte, diversificando e expandindo a produção industrial catarinense, passando a fornecer cada vez mais produtos e atendendo a crescente demanda de um mercado interno nacional em plena ascensão.

Como fruto e exemplos deste período, destacam-se as fundações de importantes empresas, como a Wetzel (1932) Tupy (1938), Consul (1941), Tigre (1941), Nielsen (1946), todas em Joinville e bastante conhecidas atualmente nos cenários nacional e internacional. Todas elas, sem exceção, foram fundadas por imigrantes europeus e/ou seus descendentes, geralmente alemães, naquelas áreas de colonização europeia vistas anteriormente, que hoje representam algumas das principais regiões industriais de Santa Catarina e do Brasil. Tudo isto, traz respaldo à compreensão da importância do reordenamento socioeconômico a estas regiões, impulsionado e incentivado, em parte,

pelas políticas públicas estaduais e federais e, em parte, pelo empresariado local.

4.2.3 Da Expansão das Atividades Industriais à Atualidade