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Os sinalizadores prescritivos da integração curricular nos planos de cursos

5 DA INTENÇÃO: OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS QUE ORIENTAM A

6.1 Análise documental

6.1.2 Os sinalizadores prescritivos da integração curricular nos planos de cursos

A segunda etapa da análise documental ocorreu nos planos de cursos das escolas pesquisadas onde foram identificados os sinalizadores prescritivos da integração curricular.

A análise da integração curricular nos planos de curso emergiu da convicção de que eles são os documentos que estruturaram e organizam a integração. A apresentação de seus itens -justificativa, objetivos, perfil do egresso e, principalmente, matriz curricular -nos oferece elementos de análise significativos para compreensão dos sinalizadores prescritivos da integração curricular no EMI das três escolas escolhidas.

Sabe-se, contudo, que muito daquilo registrado em um plano de curso se perde em sua trajetória de desenvolvimento, bem como muitas coisas acontecem em uma escola, sem que haja o registro no plano de curso. Assim, compreende-se que a observação é etapa dependente e complementar da análise documental, pois suas relações (análise documental e observação) contribuem para a avaliação do currículo integrado e trazem à pesquisa aspectos relevantes na comparação do escrito e do vivido, da intenção e da realização.

Na análise e no registro dos sinalizadores prescritivos de integração dos planos de cursos foram tomadas como referências as orientações normativas e conceituais identificadas nos documentos e publicações governamentais analisados.

Na análise comparativa desenvolvida por meio da correlação dos três planos de cursos das escolas pesquisadas, foram identificados os sinalizadores de integração, bem como analisados os itens comuns encontrados nos planos - justificativa, objetivos, perfil do egresso, competências e matriz curricular. Os sinalizadores de integração encontrados em cada item foram organizados no quadro a seguir:

QUADRO 9- Sinalizadores Prescritivos de Integração Curricular

Planos de Curso

Escola do Ceará Escola do Maranhão Escola do Paraná

Justificativa

A integração não é citada explicitamente, mas está pautada na necessidade da escola em formar o aluno do EM para além da formação geral, bem como para atender as demandas de formação técnica- profissional para saúde.

A integração é vista como uma necessidade para a formação social dos egressos do EM, pois a formação para o trabalho possibilitará aos alunos melhores e maiores oportunidades. A escola acredita que o EMI pode promover a melhoria nos indicadores de aprendizagem e nos indicadores sociais. A escola também afirma que o projeto, ora apresentado, não segue o caráter assistencialista e que não está a serviço dos interesses capitalistas e reprodutivistas da desigualdade e da exclusão social.

A integração é apresentada como pressuposto conceitual e estabelece a formação técnica articulada ao trabalho, cultura, ciência e tecnologia. A escola proclama na justificativa que seu projeto pedagógico enseja formar o estudante através da integração dos saberes, evitando, assim, a

compartimentalização do conhecimento.

Objetivos

Os elementos de integração aparecem explicitamente tanto no objetivo geral como nos específicos[...] Formação permanente, articulando os conhecimentos científicos, tecnológicos e culturais com vistas a integrar os saberes do ensino regular à formação para o trabalho.

A integração aparece timidamente em um dos objetivos específicos: superar a dualidade entre a formação geral e a formação especifica.

Todos os objetivos apresentam a integração dos saberes como finalidade precípua do trabalho pedagógico, bem como explicitam o trabalho como princípio educativo.

Perfil do egresso

O perfil é apresentado em duas sessões: o perfil geral e o perfil específico.

O perfil apresentado só contempla a formação para área técnica. Não há elementos que explicitem os saberes gerais.

O perfil apresentado só contempla a área técnica

Matriz Curricular

A matriz estrutura-se em eixos temáticos.

Na análise da unidades curriculares evidenciam-se duas classes: disciplinas conexas e disciplinas não- conexas. As conexas apresentam fortes elementos de integração e as não - conexas não apresentam elementos de integração. Observa-se que a compreensão de integração segue apenas da formação geral para a formação técnica.

A matriz estrutura-se em eixos. As unidades curriculares não apresentam elementos que caracterizem a integração.

A matriz está estruturada em dois eixos: a base comum, contendo as unidades curriculares obrigatórias para o Ensino Médio e a base profissionalizante, contendo as disciplinas da área técnico- profissionalizante. A organização das unidades curriculares é feita através do ementário, da descrição dos conteúdos gerais, bem como da descrição dos específicos.

Quando do cruzamento dos dados, verifica-se que os planos analisados expressam os fundamentos conceituais da integração, contudo apenas um deles apresenta na matriz curricular os sinalizadores objetivos de integração como unidades curriculares que indicam a conexão entre os saberes e práticas.

Assinalamos que os elementos de integração foram observados nas unidades curriculares (disciplinas) da formação geral do Ensino Médio: Língua Portuguesa, História, Geografia, Química, Matemática, entre outras, mas não foram observados sinalizadores de integração da área técnico-profissional com as disciplinas regulares do Ensino Médio.

Pelas evidências coletadas na análise documental dos planos de cursos das escolas de EMI, encontramos duas classes de planificação curricular: planos de cursos conjugados, cujas estruturas e organização pedagógica propõem a integração de saberes e conceitos das duas áreas de formação; e planos agregados, cujas matrizes curriculares estão juntas, mas não há indicador de integração dos saberes e dos conceitos desenvolvidos.

6.1.2.1 Os sinalizadores consonantes e não consonantes de integração curricular expressos nos planos de cursos

A análise e avaliação da integração curricular expressas nos Planos de Curso contribuíram para a determinação de indicadores de integração curricular nas escolas de EMI.

Os aspectos consonantes obtidos nessa etapa de estudo foram:

 o trabalho como princípio educativo aparece nos três planos de curso como pressuposto básico para a organização curricular;

 em todas as justificativas encontramos os dados sociais e econômicos que revelam a importância para a região da área técnica escolhida pela escola;

 a integração curricular é predominantemente vista sob o ponto de vista da Educação Profissional para o Ensino Médio e pouco observada no inverso67;

 a integração curricular é proclamada como fundamento conceitual dos currículos de EMI, mas os pressupostos metodológicos sinalizam que a organização ainda é predominantemente fragmentada, nem tanto por se apresentar em unidades curriculares (em disciplinas), mas, sobretudo pela

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A integração envolve todos as disciplinas e todas as áreas indistintamente, contudo existe uma ideia que somente os conteúdos da área técnica devem se inserir nas disciplinas regulares.

desarticulação dos conceitos apresentados nos ementários descritos nas unidades curriculares e pela ausência de projetos integrados ou interdisciplinares;

 o estágio é componente curricular obrigatório nos três planos de curso; e

 os planos analisados não explicitam os projetos integrados, suas atividades interdisciplinares, dentre outras, que denotem as práticas pedagógicas integrativas.

Os aspectos não consonantes:

 os planos de curso do Maranhão e do Paraná apresentam os objetivos de formação do egresso de EMI, já a escola cearense apresenta os objetivos e as competências68; e

 as escolas do Maranhão e do Paraná possuem em suas matrizes curriculares componentes obrigatórios relacionados à atividade de pesquisa; A análise dos documentos normativos e prescritivos do EMI e os planos de cursos identificando seus elementos de integração curricular, confirma nessa etapa da pesquisa o argumento de que os currículos de EMI apresentam a integração como pressuposto fundamental para sua organização, contudo os sinalizadores prescritivos de integração ainda são inexpressivos.

Fazendo-se um diálogo com os autores, considerando as dimensões político-social e critica, não se percebe nos currículos de forma clara a superação da dicotomia do trabalho manual/ trabalho intelectual como trabalho produtivo; qual seja na justificativa, nos objetivos, no perfil do egresso ou na matriz curricular. Há apenas uma descrição de possibilidades de integração, sendo esta indicada da formação geral para a formação técnica (matriz curricular) com um perfil do egresso dirigido para a formação técnica. Pode-se afirmar que a proposição de uma formação no EMI, proposta nos documentos oficiais, não está integrada à orientação da organização de currículos das três escolas dessa modalidade. O que existe é uma padronização que poderia ser superada. É o que Goodson (1995) afirma com a forte ideia de padronização e de sequência de aprendizagem nos modelos e conceitos de estrutura e organização curricular.

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Os planos de cursos devem seguir as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional-1999, que para a organização dos currículos estabelece a organização por meio de competências, contudo os artigos oficiais publicados pelo próprio MEC as criticam.

6.2 Os dados das entrevistas: os contextos históricos que deram origem à estruturação do EMI nas escolas pesquisadas

Os contextos históricos que demarcam o surgimento do EMI nas escolas pesquisadas contribuíram e influenciaram na estruturação e na organização do currículo integrado. Nesse sentido, destacam-se principalmente os aspectos políticos que impulsionaram as implantações dos currículos de EMI nas escolas, pois as estratégias e as políticas estaduais adotadas pelas Secretarias de Educação definiram em boa parte a aceitação e/ ou resistência observadas.

Os dados desse item foram obtidos por meio das entrevistas com os gestores das escolas de EMI. A escolha da entrevista como técnica para o levantamento desses dados aconteceu, pois na nossa avaliação a entrevista seria a técnica mais adequada e imediata para a obtenção dos registros históricos sobre os contextos de implantação do EMI nas escolas.

Nas pesquisas em educação, a entrevista representa uma rica técnica de coleta de dados, pois, como anotam Lüdke e André (1996), sua grande vantagem é permitir a captação corrente da informação desejada; isso, em qualquer área e com qualquer tipo de informante.

As entrevistas definidas como semiestruturadas foram orientadas por um roteiro69, que tinha as seguintes questões:

 Como surgiu o EMI na escola?

 Como a escola estruturou o Plano de Curso?

 O que mudou da implantação ao desenvolvimento propriamente dito no EMI até o momento atual?

 Quais os momentos de formação-capacitação e planejamento que a escola teve e tem para possibilitar a integração do Ensino Médio com a Educação Profissional?

O roteiro definido foi seguido nas três escolas, embora alguns aspectos tenham sido aprofundados em uma e não nas outras, em razão das especificidades locais e peculiaridades encontradas em cada contexto e que exigiram a adaptação do roteiro semiestruturado.

Os discursos obtidos foram registrados em áudio e posteriormente transcritos. A análise das transcrições elucidou pontos de consonância e não consonância, que serão apresentados a seguir.

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