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3. METODOLOGIA

3.2 Os Sujeitos da Pesquisa e as dificuldades de chegarmos a eles

Sendo o objetivo proposto neste trabalho analisar as condições de trabalho dos subcontratados do Estaleiro Atlântico Sul, os subcontratados/terceirizados emergem como nossos sujeitos de pesquisa. A escolha dos sujeitos se deu por acessibilidade, em decorrência da possibilidade de acesso a eles, conforme sugere Vergara (2008). Os sujeitos que entrevistamos são trabalhadores empregados em grandes firmas que prestam serviço ao estaleiro EAS ou à refinaria Abreu e Lima, as duas maiores empresas que subcontratam em Suape. Inicialmente, buscamos fazer contato com a gerência do EAS por meio do email institucional e por telefone, mas não obtivemos autorização de entrar na empresa ou conversar com qualquer responsável, devido ao fato, segundo nos alegou a gerente de comunicação, de que o EAS estava passando por processo de mudança de toda gestão. Constatamos a partir daí, a enorme dificuldade de entrar em Suape, em cuja área industrial ninguém é permitido entrar sem autorização. Isso inviabilizou que tivéssemos acesso aos nomes das empresas que prestam serviço ao estaleiro ou que pudéssemos chegar aos trabalhadores na porta de saída da empresa, nos horários de fim de turno, estratégia comum nas pesquisas na área.

Sem acesso às empresas, resolvemos, então, partir para a estratégia de chegar aos trabalhadores com o auxílio dos representantes do sindicato da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco. Na conversa com os dirigentes sindicais, foi possível obter a fala também de um representante da Confederação Nacional dos Metalúrgicos. Estas foram as primeiras entrevistas realizadas para a obtenção de dados. Por meio dos sindicalistas, obtivemos três contatos, sendo um de trabalhador e dois de chefias do EAS. Em ambos os contatos não obtivemos sucesso. Nesse momento, e considerando nossa participação no grupo de estudos que compõe o LAEPT, nos beneficiamos do acesso ao banco de dados de um survey realizado pela Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ, com a qual o LAEPT tem parceria, no Território Estratégico de Suape e que nos permitiu ter acesso a nomes, ocupação, telefone e endereço de trabalhadores do Complexo. Pudemos, então, identificar 22 trabalhadores ligados ao EAS. No entanto, a ligação do trabalhador com o estaleiro não significava necessariamente que este fosse terceirizado. Foi necessário, então,

realizar contato com os trabalhadores que declararam trabalhar no Estaleiro, para que pudéssemos chegar aos subcontratados.

Desse modo, foram feitas 22 ligações telefônicas buscando identificar trabalhadores terceirizados. Desses contatos, em apenas quatro obtivemos sucesso, tendo os trabalhadores concordado em participar da conversa. Na conversa inicial, por telefone, o objetivo da pesquisa era explicado, assim como buscávamos ganhar a confiança do trabalhador, assegurando que sua confidencialidade seria resguardada. Entretanto, o medo de falar sobre a empresa, de expor a realidade a que estavam submetidos, e até mesmo de confiar no que um desconhecido afirmava por telefone, tomou conta dos trabalhadores. Com apenas quatro entrevistas agendadas, logo os cancelamentos apareceram. Dois dos trabalhadores contatados comunicaram-se entre si e retornaram as ligações feitas, informando que não poderiam mais participar da pesquisa, pois a empresa tem uma espécie de política que não permite que seus funcionários falem sobre ela.

Com apenas duas entrevistas confirmadas, e ambas de trabalhadores diretos do EAS, partimos para a região de Suape, especificamente para as cidades de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, para a realização das conversas e tentativas de contatos com terceirizados. Na primeira entrevista, logo nos foi repassado contato de um trabalhador que havia prestado serviços ao EAS. A partir deste, mais três contatos foram realizados, totalizando quatro trabalhadores terceirizados. Dos quatro contatos feitos, apenas dois trabalhadores concordaram em participar, ambos já demitidos de suas respectivas empresas. O segundo trabalhador agendado previamente, não forneceu informação de trabalhadores terceirizados.

No decorrer dos três dias que passamos nas cidades de Ipojuca e Cabo, contatos de diversos tipos foram realizados: com comerciantes locais, com o sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem em Geral do Estado de Pernambuco (SINTEPAV – PE), que possui sede na cidade, com um funcionário da Vara da Justiça do Trabalho de Ipojuca e com os próprios entrevistados. Foi-nos repassado apenas o nome de algumas empresas que trabalhavam prestando serviços ao EAS. Foram feitas tentativas de contato com tais empresas e, mais uma vez, não obtivemos sucesso. Deslocamo-nos à sede de uma delas, na busca por conseguir conversar com algum representante, entretanto, no endereço encontrado, não existia mais a referida empresa.

Por meio das conversas dos dois trabalhadores que concordaram em participar da pesquisa, foram conseguidas mais duas entrevistas. No primeiro caso, ao iniciar a entrevista

realizada na casa do trabalhador, na periferia da cidade do Cabo, o mesmo nos contou que sua esposa também teria sido funcionária terceirizada. Logo, esta foi convidada a participar da conversa e assim o fez. No segundo caso, antes de iniciarmos a entrevista, marcada em local público escolhido pelo entrevistado, na cidade de Prazeres, também constituindo o território de Suape, o entrevistado encontrou ex-colega de profissão, que no momento trabalhava como moto-taxi, e o convidou a participar da conversa. Desse modo, obtivemos, então, um total de quatro entrevistas realizadas com ex-trabalhadores de firmas terceiras que prestam serviço em Suape. Essa condição de ex-trabalhadores nas terceiras dos nossos sujeitos de pesquisa e seu número reduzido para as entrevistas, no tempo que dispúnhamos, nos revelam pelo menos duas situações que, de certa forma, limitaram a investigação: o difícil acesso aos trabalhadores e seu medo de falar. Por outro lado, pudemos contar com o depoimento mais solto, e certamente, mais fiel à realidade, de trabalhadores que já não tinham vínculo com as empresas. Como forma de garantir o anonimato dos entrevistados, os mesmos receberam códigos de identificação de acordo com a ordem de entrevista, tendo o primeiro profissional entrevistado, recebido o código E1 (Entrevistado 1) e assim por diante. O perfil dos sujeitos pesquisados é melhor exposto no Quadro 2, a seguir:

Quadro 2 – Perfil dos trabalhadores entrevistados

Sexo Idade Estado

Civil Escolaridade Função ocupada na terceira Situação atual de emprego Terceira em que trabalhou E1 Masculino 41 Casado Ensino

Médio

Auxiliar de

Mecânico Desempregado CCI

E2 Feminino 36 Casada Ensino Médio

Técnica em

Segurança Desempregada

CCI e Ebe Alusa

E3 Masculino 24 Casado Ensino

Médio Rigger Desempregado

CCI e Ebe Alusa

E4 Masculino 37 Casado Ensino

Médio Encarregado Desempregado CCI

Fonte: Dados da pesquisa

Apenas posteriormente, após esgotarmos as possibilidades de entrevista com os trabalhadores, tivemos acesso a nomes de empresas que prestavam serviço ao EAS. Essa

informação foi obtida por meio do relatório final de um processo de fiscalização de terceirização ilícita no EAS desenvolvido pela Coordenação Regional de Inspeção do Trabalho Portuário e Aquaviário em Pernambuco, órgão ligado à Superintendência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego, ao qual tivemos acesso a partir de conversa com um dos auditores fiscais do trabalho em Pernambuco. O documento de fiscalização que deu início ao processo, que consta em anexo (Anexo 1), constituiu fonte secundária fundamental de informações nesta pesquisa. Outra fonte relevante de informações sobre o tema do trabalho e, mais especificamente, sobre terceirização em Suape, adveio de entrevista realizada com a Procuradora do Trabalho em Pernambuco, Débora Tito.