• Nenhum resultado encontrado

3 CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

3.3 OS SUJEITOS DA PESQUISA

Os sujeitos de nossa pesquisa foram os feirantes da feira livre de Nova Natal. Após frequentes visitas à essa e solidificados os laços de amizades com os feirantes, iniciamos a investigação através de uma entrevista semiestruturada sobre o processo de comercialização dos feirantes. Abordamos desde a compra até as vendas realizadas, no intuito de observar os saberes e fazeres de um grupo de três feirantes quando esses comercializavam suas mercadorias, produtos artesanais, inúmeras ferramentas, utensílios, ervas medicinais, temperos para cozinha e uma quantidade de outros objetos como corda, lamparinas, ratoeiras, ferramentas de aço para uso em geral. Estes feirantes são chamados popularmente de mangaieiros19 e essa foi a nossa delimitação dos feirantes que iríamos entrevistar.

O primeiro dos mangaieiros a ser entrevistado foi José Valdomiro Inácio ou simplesmente Seu Jean, apelido de infância. Este feirante tem 45 anos, casado, pai de dois filhos (15 e 18 anos) e o principal responsável pelas despesas de casa. Seu Jean participa de duas feiras: a de um conjunto habitacional20 Santa Catarina, aos sábados, e do Conjunto Habitacional

de Nova Natal, aos domingos, essa última em que realizamos nossa entrevista. Durante a semana, ou seja, de segunda a sexta-feira, Seu Jean trabalha numa empresa terceirizada fazendo serviços de jardinagem nas ruas e canteiros da cidade do Natal. Com relação aos estudos, abandonou a escola na 5ª série, hoje o 6° ano do Ensino Fundamental, por motivo de trabalho por volta de 1993. A profissão de feirante de Seu Jean, Figura 8, foi motivada por seus pais que também eram feirantes.

19 Mangalheiro, significa vendedor de mangalho. Popularmente pronunciado pelos feirantes de mangaieiro. No dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa (2009), Mangalho é conceituado como o “conjunto de produtos de fabricação caseira ou saídos de pequenas lavouras, que são vendidos em feiras livres e mercados do interior.”

Figura 8 – Seu Jean: mangaieiro. Fonte: arquivo do autor

Seu Jean comercializa muitos produtos que podem ser desde ferramentas artesanais até as ferramentas industrializadas, produtos naturais até industriais, em pequenas quantidades, mas com uma grande variedade. Em relação aos feirantes entrevistados, Seu Jean é o que vende mais, por ter uma banca com a maior variedade de mercadorias.

A Figura 9 mostra um recorte das mercadorias vendidas na banca de Seu Jean. Como observamos na figura, as mercadorias são vassouras, chapéus, raladores, colher de pau, óleos, pilões, facas e facões e demais produtos.

Figura 9 – Recorte das mercadorias da banca de Seu Jean. Fonte: arquivo do autor

A segunda mangaieira entrevistada foi Dona Antônia. Ela é feirante há quase 10 anos, semianalfabeta, dona de casa, é funcionária de uma empresa terceirizada e trabalha durante a semana cuidando dos jardins da cidade do Natal. Casada, dois filhos, tem sua banca na feira livre montada nos conjuntos habitacionais de Nova Natal e de Santa Catarina que são adjacentes. A renda das vendas das mercadorias na feira livre serve para auxiliar nas despesas de sua casa.

A banca de Dona Antônia é um pouco menor em relação às bancas dos outros mangaieiros concorrentes, mas que mantém uma grande variedade de produtos, inclusive, as mercadorias que pretendemos investigar. Assim como os outros feirantes mangaieiros, Dona Antônia acorda bastante cedo e começa a montar suas mercadorias por volta das 6 horas da manhã, tendo todo o cuidado de organizar as mercadorias pelas propriedades, aparências e até características semelhantes que elas possuem.

Em relação à entrevista, essa foi acontecendo, auxiliada pelas ferramentas da etnografia como o diário de campo e a gravação de vídeos. Ressaltamos que, eventualmente, antes da realização da entrevista formal, sempre passávamos na banca de Dona Antônia falando que gostaríamos de conversar sobre a maneira de como comprava e vendia os produtos e como essa feirante quantificava suas mercadorias. Então, esses contatos iniciais, permitiram uma aproximação para, de fato, realizar a entrevista semiestruturada no intuito de alcançar os objetivos do trabalho.

A forma de como Dona Antônia (Figura 10) compra, vende e quantifica suas mercadorias é semelhante a maneira de como os outros feirantes mangaieiros fazem na feira livre de Nova Natal. Há pequenas diferenças nos instrumentos que se usa para quantificar as mercadorias, como os copinhos que são equivalentes, aproximadamente, em termos de peso ou medida.

Figura 10 – Dona Antônia Gondim: mangaieira Fonte: arquivo do autor

A terceira mangaieira entrevista foi Dona Vera Lúcia, é cearense e veio morar em Natal no final da década de 70. Casada21 e mãe de 5 cinco filhos, na verdade, são 6 filhos visto que adotou mais um. A profissão de feirante teve início desde o ano de 1980 sempre comercializando mercadorias, inicialmente frutas com o uso da balança e atualmente é mangaieira. Devido ao fato de trabalhar com a balança no tempo em que vendia frutas, Dona Vera Lúcia tem noção do peso de uma mercadoria ou um valor aproximado de peso. Ela fez questão de realizar algumas medidas e afirmar o peso daquela quantidade que colocava num saquinho plástico. O interessante é que sempre acertava o peso da mercadoria com uma margem de erro mínima, não chegando a 10% esse erro.

Esta mangaieira participa de quatro feiras, todas localizadas na Zona de Natal. A primeira feira livre, é realizada na quarta feira, instalada na Avenida Boa Sorte22; a segunda

feira livre acontece na quinta-feira, localizada na estação de trem no Bairro Lagoa Azul.

21 O esposo de Dona Vera Lúcia também é feirante e comercializa frutas como uva, maçã, melão, melancia e outras.

22 A feira da Rua Boa Sorte é na Avenida das Fronteiras, no Bairro Nossa Senhora da Apresentação. Esta feira livre ainda não é reconhecida oficialmente pela SEMSUR, pois não consta na relação das feiras livres em Natal.

Inclusive existe uma discussão acerca do nome dos conjuntos habitacionais, alguns moradores afirmam ser o Conjunto Cidade Praia, enquanto outros afirmam ser o Conjunto Nova Natal, permanecendo essa incerteza. Esta terceira feira foi se instalando recentemente, por essa ser ainda de pequeno porte. A terceira feira realizada por Dona Vera Lúcia é a do sábado localizada no Conjunto Santa Catarina e a quarta feira livre, realizada aos domingos, é a de Nova Natal.

A banca de Dona Vera Lúcia, Figura 11, fica um pouco afastada do centro da feira livre, estando localizada praticamente no final da feira, mas que não é motivo para não realizar suas vendas. Esta mangaieira mantém um sorriso constante durante os momentos em que realizamos a entrevista semiestruturada e, em nenhum momento, pareceu está incomodado com a nossa presença que, inclusive, sempre dizia, “pode perguntar”.

Figura 11 – Dona Vera Lúcia e o pesquisador. Fonte: arquivo do autor

A Figura 12 mostra a forma de como Dona Vera Lúcia arruma suas mercadorias na banca. Esta mangaieira não tem uma variedade de mercadoria se comparada ao primeiro feirante entrevistado, mas estão muito mais organizadas na sua banca e, consequentemente, mais fácil é de encontrar uma mercadoria a ser vendida.

Figura 12 – Organização das mercadorias de Dona Vera Lúcia. Fonte: arquivo do autor.

Após apresentarmos os sujeitos de nossa pesquisa e nos identificarmos enquanto pesquisadores, mais adiante, retornaremos com as análises das entrevistas sobre o processo de compra e venda das mercadorias realizadas na feira livre de Nova Natal e as performances desses mangaieiros para conquistar os clientes todos os domingos. Declaramos satisfação em ter escolhido estes três feirantes, que comercializam praticamente as mesmas mercadorias, já que nos atenderam prontamente no momento em que as vendas das mercadorias ocorriam.