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2.3) OS SUJEITOS HISTÓRICOS

No documento IZA VANESA PEDROSO DE FREITAS (páginas 78-81)

Os indivíduos só podem ser pensados como “sujeitos” quando inseridos em um plano coletivo, isto é, na dimensão social onde interagem uns com outros. Entendemos “sujeito (como) o ator social coletivo pelo qual indivíduos atingem o significado holístico em sua experiência” (TOURAINE, 1992 apud. CASTELLS, 1999, p. 26). O que isso significa? Quando utilizamos o conceito de “sujeitos”, não estamos referindo-nos a “indivíduos” particularizados e deslocados da esfera social, mas estamos referindo-nos a indivíduos com “identidades” construídas.

88 Ver nota de rodapé nº 7 (sete) de BORGES, 1998, P. 440: “.... Também se assinala como importante a

aproximação de Getúlio Vargas e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); ver Lucia M.P. Guimarães, História em debate, Anais do XVI Simpósio da ANPUH, Rio de Janeiro, 22 a 26 de jul. 1991, p. 73- 82. Ver Ângela M.C. Gomes, História e Historiadores, Rio de Janeiro, fgv, 1996”.

As identidades envolvem processos de autoconstrução e individuação que organizam significados e não devem ser confundidas ou mesmo reduzidas aos papéis que os indivíduos desempenham na sociedade, visto que os papéis são definidos a partir de normas estruturadas por instituições e organizações da sociedade, cuja influência sobre os indivíduos depende de negociações com esses mesmos indivíduos. A abrangência das identidades é mais ampla do que a dos papéis porque constituem fontes de significados criados pelos próprios atores sociais, significados que se originam e são construídos a partir do processo de individuação desses mesmos atores (GIDDENS, 1991 apud. CASTELLS, 1999, p. 23).

Os sujeitos históricos que pretendemos capturar nesta dissertação são os intelectuais “sócios” do IHGP, cuja identidade está diretamente ligada ao processo de construção da autonomia intelectual na Amazônia. Resta esclarecer, que fazemos referência à autonomia intelectual no sentido de não haver uma preocupação sistemática por parte de tais intelectuais em inserir a sua produção a uma escola intelectual, a um método de abordagem ou mesmo a um sistema de pensamento determinado; o discurso que prevalece na década de 1930 é a preocupação com o “resgate” da história da Amazônia e do Pará.

2.3.1) Cultura e política e os agentes do Estado

Desde a fundação do IHGP em 1900, a composição dessa Casa já refletia a intercessão entre a intelectualidade paraense e a política, quer no exercício de funções públicas ou no âmbito das associações político-partidárias. Dentre os membros-fundadores do Instituto tanto em 1900 quanto em 1917, encontravam-se importantes agentes públicos como Antônio José de Lemos, que foi intendente de Belém, presidiu a Câmara Municipal e foi também senador; Justo Chermont que foi governador do Estado em 1890; José Coelho da Gama e Abreu (Barão de Marajó), primeiro intendente de Belém eleito diretamente em 1891; Enéas Martins, governador do Estado que promulgou a nova Constituição do Estado em 1914; Lauro Sodré que ocupou o governo do Estado em 1917; além dos desembargadores Augusto Borborema e Napoleão Simões de Oliveira com expressa participação na política paraense.89

Na década de 1930, outros nomes podem ser evocados nessa mesma condição como o de Abguar Bastos; Abelardo Condurú; Alcebíades Buarque; Adolpho Pereira Dourado; Antonio Souza Castro; Domingos e Adalberto Acatauassú Nunes; Ernesto Cruz;

Eurico Valle; Frederico Villar; Fulgencio Simões; Jacob Cohen; Paulo Maranhão; Nilo Matos; Barroso Rebello; Leandro Pinheiro; Maroja Neto; Ismaelino de Castro; Avertano Rocha; Nogueira de Faria; Paulo Eleutherio; Arthur Porto; José da Gama Malcher; entre outros.

Os intelectuais do IHGP formavam a “elite letrada” do Estado do Pará na época e se mantinham vinculados à Associação, em sua maioria, muito mais por conta de sua atuação no âmbito da política do que mesmo por conta de sua atuação intelectual, artística ou literária. Claro está que alguns sócios conquistaram reconhecimento na Instituição devido a sua vasta produção tanto no domínio da geografia e da história, como também de outras ciências. Alguns desses sócios chegaram inclusive a desempenhar funções de diretoria ou coordenação em instituições de natureza acadêmica e/ou educacional.

Evocamos o nome de Jacques Huber que foi escolhido pelo próprio Emilio Goeldi para dirigir a seção de Botânica do Museu fundado pelo primeiro, o qual recebeu seu nome. Depois, Jacques Huber assumiu a direção do Centro de Estudos da Amazônia. Dentre sua vasta produção, suas obras principais são: Arboretum Amazonicum; Materiras para a Flora Amazônica; Matas e Madeiras Amazônicas; A viagem em companhia do Dr. Goeldi ao Contestado (1895); Excursões à ilha de Marajó (1896); Viagem ao rio Capim e Viagem ao Ceará (1897); Viagem ao Ucaili e Hualaa e Viagens a Santarém e Monte Alegre, ao Salgado e ao rio Guamá (1898); Viagem ao rio Aramã (Marajó) (1900); Excursão a Marajó, Camaran (1902); Excursão a Santo Antônio do Prata (1903); Viagem ao rio Purus e Baixo Acre (1904).90

Já no contexto da década de 1930, citamos o nome de Carlos Estevam de Oliveira, que esteve atuando no interior da Associação desde 1917. Apesar de ter ampla projeção na política paraense, de ter sido promotor em Alenquer (PA) e prefeito de Segurança Pública de Belém em 1913, foi diretor do Museu Paraense Emilio Goeldi no período de quatorze anos de 1930 a 194591.

Outro nome que evocamos é o de Genuíno Amazonas de Figueiredo, presidente do IHGP em 1932. Ele ocupou importantes funções na magistratura como promotor público da Comarca de Cintra (atualmente Maracanã/PA), como juiz substituto em Cametá/PA, procurador judicial e procurador geral do Pará. Também exerceu importantes cargos políticos,

90 Cf. ROCQUE, 1968, p. 863/864. 91 Cf. ROCQUE, 1968, p. 658.

como secretário de Justiça, Interior e Instrução, foi senador por duas vezes, deputado estadual e secretário geral do Estado.

Apesar de sua decisiva atuação na política e na magistratura, Genuíno Amazonas de Figueiredo exerceu o magistério por longos anos na cátedra de “Legislação Comparada do Direito Privado” e de “Teoria e Prática de Processo Criminal”, além de membro da Academia Paraense de Letras, foi um dos fundadores da Escola “Teixeira de Freitas” e diretor do Colégio Paes de Carvalho e da Faculdade de Direito, publicou a obra Tratado de Direito Romano, que teve forte repercussão em âmbito nacional.92

O nome de Henrique Jorge Hurley também tem de ser citado, pois foi o presidente do IHGP com maior número de trabalhos publicados na Revista da Associação. Depois de cumprir sua carreira militar, tece vasta atuação na magistratura, Jorge Hurley foi também membro da Academia Paraense de Letras e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico do Ceará, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e de São Paulo. Dentre suas obras: A Cabanagem, Traços Cabanos, e História do Brasil e do Pará93 são as principais.

A produção dos intelectuais do IHGP, quase em sua totalidade, estava vinculada à política. Essa inferência pode ser comprovada através dos dados que são apresentados no quadro abaixo:

92 Cf. Ibid., p. 716. 93 Cf. Ibid., p. 865.

No documento IZA VANESA PEDROSO DE FREITAS (páginas 78-81)