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CAPÍTULO III CONSTRUINDO OS CAMINHOS DA PESQUISA

3.6. Os sujeitos da pesquisa

A escolha dos estagiários que participaram da pesquisa não foi fácil. Inicialmente, foram escolhidos quatro estagiários, um que já atuava como professor e três que ainda não tinham atuado, de uma turma de 25 alunos que ingressaram no curso de Licenciatura em Matemática da UFPA/CAMAR no ano de 2005. Desses 25 alunos, mais da metade eram participativos, interessados, questionadores, colaborativos, enfim, atendiam a quase todos os requisitos que se pode esperar de um graduando em fase de estágio, mas, eu tinha que direcionar o olhar para aqueles que tinham algo a mais, ou seja, desejavam se constituir o que FIORENTINI; LORENZATO (2006, p. 3 - 4) chama de educador matemático e que define como sendo um sujeito que:

Tende a conceber a matemática como um meio ou instrumento importante à formação intelectual e social de crianças, jovens e adultos e também do professor de matemática do ensino fundamental e médio e, por isso, tenta promover uma educação pela matemática. Ou seja, o educador matemático, na relação entre educação e matemática, tende a colocar a matemática a serviço da educação, priorizando, portanto, esta última, mas sem estabelecer uma dicotomia entre elas.

Assim, o objetivo era escolher sujeitos que apresentassem posturas reflexivas, questionadoras e críticas do processo de formação docente em matemática no decorrer das atividades de Estágio Supervisionado. No primeiro momento o desejo era observar, tanto sujeitos que já tinham práticas antecipadas, como sujeitos que ainda não tinham. No decorrer das análises das entrevistas optei por trabalhar apenas com os três sujeitos que não tinham atuado no exercício da docência, ou seja, não tinham práticas antecipadas, por compreender que estes, além de responderem mais a minha questão de pesquisa, descobriram-se professores durante as atividades de estágio. No intuito de preservar suas identidades, tratá-los-ei pelos nomes fictícios de Clarisse, Danilo e Alice.

A Licencianda Clarisse

A licencianda Clarisse tem 23 anos. Ingressou no curso de Licenciatura em Matemática por ter reprovado no ano anterior no vestibular para o curso de

Engenharia de Materiais. Afirma que sempre gostou de matemática por isso não se arrepende da escolha.

No início do curso enfrentou dificuldades, pois havia muitos conteúdos que não estudou no ensino médio. Assim teve que pesquisar e estudar para suprir as lacunas de conhecimentos matemáticos que estavam abertas. Alega que uma das dificuldades enfrentada no curso foi se adaptar à didática de alguns professores.

Seu primeiro contato com a sala de aula como professora foi durante as atividades curriculares correspondentes ao estágio. Pretende seguir carreira como professora, sabe que a formação inicial é apenas o primeiro passo para o seu desenvolvimento profissional, por isso almeja fazer mestrado e doutorado.

O Licenciando Danilo

O licenciando Danilo tem 43 anos e é um exemplo de superação e determinação. Iniciou seus estudos aos 13 anos, parou na 4ª série, retomando apenas quando saiu do exército. Ao concluir o Ensino Médio em 1990, ingressou em um curso de metalurgia no CEFET/PA10, formando-se como técnico em 1993.

Depois de formado foi trabalhar como metalúrgico na ALBRÁS11 e em 1999 veio

para Marabá trabalhar na metalúrgica COSIPAR12. Em 2003 e 2004 prestou vestibular para Engenharia de Minas, não conseguindo aprovação. No ano seguinte foi aprovado no curso de Matemática. Até o final de 2007, não pretendia ser professor mas, ao ingressar no Estágio, começou a perceber que era capaz de se tornar professor, que tinha conhecimento além do que acreditava ter. Foi se envolvendo de tal forma que, no final do Estágio, foi convidado a lecionar em duas escolas.

Seu primeiro contato com sala de aula, com a regência, foi durante as atividades curriculares de Estágio I, II, III e IV. A escola que escolheu para estagiar, no início de Estágio III, estava sem professor de Matemática em algumas turmas, fato que fez com que o mesmo assumisse regência antecipada sem deixar, portanto, de acompanhar o professor escolar. Este fato, segundo o mesmo, fez com que tivesse muita responsabilidade diante das atividades.

10 CEFET/PA – Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará 11 ALBRAS – Alumínio Brasileiro S.A.

A Licencianda Alice

A licencianda Alice tem 25 anos. Ao concluir o Ensino Médio, em 2000, foi fazer um curso técnico profissionalizante em enfermagem e laboratório, logo começando a trabalhar, no início, apenas durante o dia, mas logo vieram os plantões noturnos. No segundo semestre de 2004, resolveu fazer um curso pré-vestibular e no final do ano foi aprovada para o Curso de Matemática. Não era o curso pretendido, queria mesmo fazer Bioquímica, mas como não tinha em Marabá, escolheu Matemática por gostar muito dessa disciplina. Por ter que trabalhar e o curso ser diurno, foi sacrificante chegar ao fim. Hoje, oscila entre a área de saúde e a educação, principalmente depois que assumiu regência de sala de aula no estágio. Alega que durante a graduação alguns formadores ainda agem de forma tradicional ao ensinar, se sentem detentores do saber, não se preocupando se há aprendizagem, se preocupando apenas com o conteúdo. Observa que alguns não planejam suas aulas, ficam improvisando, enrolando, deixando o tempo passar até terminar o horário. Fatos que a deixaram frustrada como aluna, pois antes de entrar na Universidade acreditava que tanto o ensino quanto os professores seriam diferentes do ensino Médio. Fala com um desabafo por acreditar que esses fatos, querendo, ou não influenciam na sua formação, o que pode gerar um ciclo vicioso de professores incompetentes. Diante desse desabafo, faz o seguinte questionamento:

“Como a rede de ensino poderá ter bons profissionais sendo que a formação destes não prepara para isso?” E acrescenta que não pretende se incluir nesse quadro,

quer ser e fazer diferente, contribuindo com um ensino melhor, que forme bons cidadãos para a sociedade.