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3. BASE METODOLÓGICA DO ESTUDO

3.3 OS SUJEITOS PESQUISADOS E O LOCAL DA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa de campo, através da amostragem intencional, ocorreu em duas escolas da rede pública municipal de São Leopoldo18, cidade cuja população é de: 209.611 (IBGE – estimativa de 01/07/2005). Na rede municipal existem atualmente 36 escolas de Ensino Fundamental e 08 escolas de Educação Infantil.

As escolas pesquisadas localizam-se em regiões geográficas diferentes. Uma localiza-se na periferia, local que apresenta sérios problemas de violência e drogas na comunidade. A outra escola localiza-se num ponto mais estruturado da cidade, localizada em um bairro nobre da cidade, diferenciando- se, portanto, da maioria das outras escolas do município.

Inicialmente o projeto foi constituído para apresentação na seleção do mestrado do PPGSS. Em seguida buscou-se o contato com a Coordenação Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de São Leopoldo para a apresentação do projeto de pesquisa. Após a aprovação do Comitê Cientifico do PPGSS e do Comitê de Ética em Pesquisa da PUC, ocorreu o retorno a Secretaria de Educação para apresentação formal do projeto. O projeto foi estudado pela Coordenação Pedagógica e aceito. A partir de então, iniciaram-se as tratativas junto às escolas para a realização da pesquisa.

Através de contato telefônico realizou-se agendamento com as direções das escolas selecionadas, para a apresentação do projeto a fim de obter autorização

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para a realização da pesquisa. Após autorização deu-se seqüência para a realização da mesma.

O grupo de sujeitos pesquisados foi constituído por (04) professores, (02) diretores, (02) supervisores, (01) zelador, (01) secretário de escola, perfazendo um total de (10) sujeitos entrevistados, conforme segue (APÊNDICE A). Além dos supervisores, diretores e professores outros sujeitos que se fazem presente junto às crianças/alunos tais como: o secretário de escola e o zelador foram ouvidos, por entendermos que também são educadores e que precisam ter voz no processo educacional.

Para a garantia do anonimato, os sujeitos entrevistados foram identificados com siglas e números, optando-se pela seguinte legenda: diretores (DT); supervisores (SP); professores (PF); zelador (SG); secretario de escola (SE).

A escolha dos professores teve como critério as séries que atuam: (02) professores das séries iniciais (1ª ou 2ª séries) e (02) professores das séries finais (7ª ou 8ª séries) do Ensino Fundamental, obedecendo ainda um segundo critério: ter concluído estágio probatório. Seguiu-se o critério da conclusão do estágio probatório para o secretário de escola e também para o zelador. Após informação fornecida pela direção e supervisão da escola, referentes ao tempo de trabalho dos professores, do secretário de escola e do auxiliar de serviços gerais, efetuou-se um sorteio entre o universo dos sujeitos “aptos” a serem entrevistados. Quanto aos diretores e supervisores, sendo únicos nas escolas, não houve critério para escolha, visto que automaticamente foram definidos.

Para a realização do estudo utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada como técnica fundamental de coleta de dados, com base em quatro roteiros/formulários. A entrevista segundo Minayo (1998) proporciona a possibilidade de “discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador” (p. 108). Este tipo de entrevista ampliou as possibilidades de se discorrer acerca do tema abordado. Foram organizados quatro roteiros de questões, (APÊNDICE B) destinou-se às diretoras; (APÊNDICE C) destinou-se as supervisoras; (APÊNDICE D) destinou-se aos professores; (APÊNDICE E) destinou-se ao secretário de escola e zelador.

Solicitou-se a todos os sujeitos que participaram das entrevistas que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE F) e, informado a cada um dos entrevistados sobre o caráter confidencial dos dados e da

pretensão de divulgar posteriormente os resultados. Pretende-se publicar os achados da pesquisa em Artigos para revistas, em Congressos e em Jornais. Será entregue uma cópia impressa ou CD-R para a Secretaria Municipal de Educação de São Leopoldo - SEMED e para a Secretaria de Assistência Cidadania e Inclusão Social - SACIS.

As entrevistas duraram, em média, aproximadamente de vinte e cinco a trinta minutos e foram realizadas pela pesquisadora no período de março a abril de 2009, de acordo com agendamento de dia e local previamente estabelecidos. Todas as entrevistas aconteceram nas próprias escolas onde os pesquisados trabalham: salas dos professores, sala da direção, sala da supervisão escolar e pátio da escola conforme sugestão de um dos pesquisados.

As dez entrevistas foram gravadas com a devida permissão dos sujeitos, com o objetivo de manter a maior fidedignidade às respostas dadas, não perdendo nenhuma informação importante. Ao efetuar a transcrição constituiu-se um material de quarenta e cinco (45) páginas. Após a transcrição dos dados, estes foram meticulosamente analisados visando apreender os limites e as possibilidades dos profissionais da Educação no que concerne ao enfrentamento e a prevenção a VDCA. Descreve-se no próximo item como ocorreu a análise dos dados coletados nas entrevistas.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta dos dados realizou-se a análise dos mesmos com intuito de responder ao problema de pesquisa. Salienta-se que obteve-se apoio no referencial teórico elaborado interiormente, ou seja, a dialética crítica.

De acordo com Minayo (1998), a análise dos dados é parte de uma busca teórica e prática no campo das investigações sociais. E visa atingir três objetivos:

- ultrapassagem da incerteza: o que eu percebo na mensagem, estará lá realmente contido? Minha leitura será válida e generalizável?

- enriquecimento da leitura: como ultrapassar o olhar imediato e espontâneo e já fecundo em si, para atingir a compreensão de significações, a descoberta de conteúdos e estruturas latentes?

- integração das descobertas que vão além da aparência, num quadro de referência da totalidade social no que as mensagens se inserem. (p. 197 – 198)

Para analisar os dados da presente pesquisa, adotou-se a Análise denominada: Análise Textual Discursiva ATD. O autor de referência desta análise é Moraes (2007), ele acredita que a mesma apresenta uma metodologia que permite a profundidade na análise da pesquisa proposta. Esse tipo de análise “não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão, reconstruir conhecimentos existentes sobre os temas investigados” (p 11). Entende-se que analisar dados vai além de descrevê-los ou escrever sobre. Esta atividade exige criticidade e posicionamento por parte do pesquisador.

Para proceder e aprofundar a compreensão do fenômeno investigado, Moraes trabalha organizando argumentos em torno de quatro focos, os quais descreveremos a seguir:

O primeiro foco, desmontagem dos textos, denominado de processo de unitarização, em que estão sendo examinados os materiais em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingirem unidades constituintes. Segundo o autor, o próprio pesquisador decide em que medida fragmentará seus textos, podendo resultar em unidades de análise de maior ou de menor amplitude. A unitarização pode ser efetuada em três momentos distintos:

1 – fragmentação dos textos e codificação de cada unidade;

2 – reescrita de cada unidade de modo que assuma um significado, o mais completo possível em si mesma;

3 – atribuição de um nome ou título para cada unidade assim produzida. (MORAES, 2007, p.19)

O segundo foco, estabelecimento de relações, denominado de categorização implicará construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as no sentido de compreender como esses elementos unitários poderão ser reunidos na formação de conjuntos, os quais possuam proximidade, possibilitando a formação de categorias. “É a partir delas que se produzirão as descrições e interpretações que comporão o exercício de expressar as novas compreensões possibilitadas pela análise”. (MORAES, 2007, p. 23). As categorias construídas estarão relacionadas ao tema/problema pesquisado.

Quanto ao terceiro foco, captando o novo emergente, o mesmo constituir-se-á na construção de metatextos analíticos que expressarão os sentidos emergentes do conjunto de textos. Para a construção dos metatextos é necessário “[...] inspiração e intuição resultante da impregnação intensa no fenômeno investigado. Significa a

essência da teorização do pesquisador sobre os fenômenos que investiga”. (MORAES, 2007, p. 34)

No quarto foco, processo auto-organizado, constituir-se-á um processo entendido como um ciclo de análise textual qualitativa: desconstrução/comunicação/emergência, desvelando novas compreensões. Pode- se descrever esse processo conforme a figura a seguir:

Figura 2: Ciclo da análise textual discursiva.

Fonte: MOARES, 2007, p. 41.

As informações acima foram extraídas da fonte citada, porém, adaptadas pela autora da Dissertação.

Pode-se afirmar que esse é um processo auto-organizado que possuí três componentes. Sendo definido ou comparado pelo seguinte:

Esse processo em seu todo é comparado a uma tempestade de luz. Consiste em criar as condições de formação dessa tempestade em que, emergindo do meio caótico e desordenado, forma-se “flaches” fugazes de raio de luz sobre os fenômenos investigados, que, por meio de um esforço de comunicação intenso, possibilitam expressar novas compreensões alcançadas ao longo da análise.(MORAES, 2007, p. 12 -13)

Conforme a citação descrita acima, à análise textual discursiva (ATD) consiste no aprofundamento e mergulho em processos discursivos e tem como objetivo atingir aprendizagens em forma de compreensões reconstruídas dos discursos, resultando na comunicação do aprendizado. O pesquisador, nesse sentido, está inserido como sujeito histórico, com participação na construção de novos discursos.

Neste ponto, o diálogo se torna elemento fundamental, uma vez que possibilita a obtenção de muitas informações necessárias à compreensão do sentido das experiências vividas pelos sujeitos da pesquisa.

Moraes afirma que a análise textual discursiva (ATD) compreende que toda leitura de um texto é uma interpretação, não existindo a possibilidade de uma objetividade e neutralidade neste processo. Nesse sentido, o material textual submetido à análise é marcado pela subjetividade e modos de interpretação e compreensão de todos os sujeitos que participaram de sua produção. “As análises textuais se concentram na análise de mensagens, da linguagem, do discurso, ainda que seu “corpus” não seja necessariamente verbal, podendo referir-se a outras representações simbólicas” (MORAES, 2007, p. 141).

De acordo com este autor, esta modalidade de análise pretende uma leitura aprofundada e rigorosa dos materiais textuais, utilizando a descrição e interpretação para uma compreensão mais elaborada dos fenômenos e dos discursos.

Descrever é apresentar as categorias e subcategorias, fundamentando e validando essas descrições a partir de interlocuções empíricas ou ancoragens dos argumentos e informações retiradas dos textos. Uma descrição densa, recheada de citações dos textos analisados, sempre selecionadas com critério e perspicácia, é capaz de dar aos leitores uma imagem fiel dos fenômenos que descreve. (MORAES, 2007, p. 35)

O momento da interpretação é um ponto importante da análise textual discursiva, no qual as descrições são relacionadas ao referencial teórico, mostrando novas compreensões dos fenômenos investigados. De acordo com Moraes, a produção de metatextos é um processo de construção e reconstrução recursivo, em que o pesquisador ao mesmo tempo em que constrói uma compreensão maior dos fenômenos que investiga, consegue comunicar os resultados da análise com maior precisão e qualidade. Assim, para a construção do metatexto é importante inserir as falas do entrevistado, de modo que os resultados comunicados expressem as teorias e idéias dos sujeitos autores dos textos analisados.

Compreende-se a análise textual discursiva a partir de dois movimentos opostos e ao mesmo tempo complementares. Primeiro é feita a desconstrução também denominada de unitarização, cuja análise consiste em focalizar os fenômenos investigados, análise propriamente dita.

Num segundo momento propiciam-se as condições para a emergência de novos entendimentos. “Enquanto o primeiro é um exercício racionalizado de fragmentação e isolamento de elementos de base do fenômeno investigado, o segundo é um movimento intuitivo de reconstrução”. (id. 2007 p.44-45) O

pesquisador precisa estar atento para o “raio” que surgirá em meio da tempestade e assim, captar os elementos essenciais. Este é o momento da “[...] explicitação de luzes sobre o fenômeno, em forma de metatextos [...]” (id.).

Para maior compreensão da ATD o autor ressalta que esta assume pressuposto que a localizam entre os extremos da AC e a AD, como se apresenta na figura, abaixo:

Figura 3: AC e AD num continuo de características polarizadas.

Fonte: MORAES, 2007, p 141

As informações acima foram extraídas da fonte citada, porém, adaptadas pela autora da Dissertação. Moraes compara a AC com o um movimentar-se rio abaixo, em favor da correnteza. Enquanto que a AD vai ao sentido contrário da correnteza, movimenta- se rio acima. A ATD insere-se em ambos.

Assim, o capítulo seguinte objetiva demonstrar o movimento dos sujeitos pesquisados com relação ao fenômeno da VDCA. Apresentar-se-á a síntese das falas dos participantes do estudo. Concomitante a descrição chega-se a conclusão de que os profissionais da Educação são extremamente importantes para agirem nas situações em que crianças e adolescentes são vítimas de VDCA, bem como na questão da prevenção de novos casos.