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7 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES EVIDENCIAIS E

7.6 Os tipos de fonte e o nível de comprometimento

O efeito de sentido de baixo, médio ou alto comprometimento do enunciador com o conteúdo veiculado tem relação com o tipo de fonte que é indicada pelo produtor do texto científico. É interessante perceber que o tipo de fonte é uma categoria que diz respeito apenas ao domínio evidencial, por isso, a análise aqui proposta conta com um total de 358 ocorrências referentes à manifestação do domínio da evidencialidade. A tabela (3) apresenta os tipos de fonte e os efeitos de sentido decorrentes do uso de cada uma delas:

1 30 13 44 268 5 273 3 3 19 19 38 23 317 18 358 enunciador externa definida externa indefinida domínio comum fonte evidencial Total

baixo médio alto

nível de comprometimento

Total

Tabela 3: Tipo de fonte e nível de comprometimento

De acordo com a tabela, nos casos em que o falante se coloca como fonte da informação, ele pode imprimir os três efeitos de sentido: baixo, médio e alto comprometimento, sendo mais frequente o uso dessa fonte com o efeito de médio comprometimento (30 casos). A alta frequência desse efeito de sentido nos casos em que o sujeito enunciador se manifesta como fonte da informação chama a atenção nos resultados obtidos, pois revela que não há uma relação direta entre fonte- sujeito enunciador e alto comprometimento, como exemplificado na ocorrência seguinte:

(146) Com base na abordagem textual de Marcuschi (2008), influenciada também por Bronckart, entendemos que o intertexto diz respeito à realidade material que oferece um modelo para a produção de gêneros.

A2-37-105

Na ocorrência (146), embora o próprio produtor textual seja a fonte da atitude cognitiva de “entender”, ao fazer uso da marca evidencial verbal na primeira pessoa do plural, ele procura diluir sua responsabilidade sobre o que é afirmado. Dessa forma, ele não se distancia totalmente do dito, mas também não se coloca explicitamente como a única origem

do conhecimento, “mascarando” sua responsabilidade através do plural de modéstia.

Outro dado que possibilita uma reflexão sobre a relação entre fonte da informação e nível de envolvimento do falante é o fato de a fonte externa definida não ter produzido o efeito de baixo comprometimento em nenhuma das ocorrências. Na literatura sobre a categoria evidencialidade é comum a aceitação de que, ao citar uma fonte externa definida, o falante transfere a responsabilidade do dito para a fonte citada (cf. LUCENA, 2008; CARIOCA, 2009). No entanto, analisando as características do discurso científico e as funções que a citação pode assumir nos textos acadêmicos, percebemos, em nosso corpus, que o autor do texto não cita a fonte apenas para dizer que “as palavras ditas pertencem a outro indivíduo”, mas para assumir as palavras da fonte citada garantindo o “argumento de autoridade” para comprovar seu posicionamento, suas ideias e conclusões (médio comprometimento). Vejamos:

(147) De acordo com Preti (1997), os Meios de Comunicação de Massas usam a linguagem comum (intermediária) entre a norma padrão e a linguagem popular, por causa da aproximação que devem fazer entre a linguagem falada e a escrita.

A6-3-225

Na ocorrência (147), o autor do texto científico utiliza a marca evidencial (locução prepositiva) para mostrar que adere às palavras da fonte definida (Preti, 1997), justificando a escolha do corpus, já que a análise da expressão “olha ele” será realizada nas novelas da Rede Globo.

Ao utilizar uma fonte externa definida, o autor do texto científico também pode imprimir um efeito de alto comprometimento com o conteúdo veiculado:

(148) Reconhecemos, assim como o autor citado, que a interdiscursividade é um fenômeno de natureza enunciativa, mas que pode incidir também sobre a palavra, o que ele denomina de interdiscursividade lexical.

A9-12-387

Em (148), o autor do texto prefere não deixar implícito seu compartilhamento com as ideias da fonte citada e utiliza uma marca verbal reconhecer para explicitar a aceitação de que “a interdiscursividade é um fenômeno de natureza enunciativa, mas também pode incidir sobre a palavra”. Esse tipo de uso garante um efeito de alto comprometimento do autor com o conteúdo veiculado.

Como o alto comprometimento do autor em relação à fonte externa definida está associado à presença de marcas explícitas de adesão, cumpre evidenciar, através da tabela (4),

a relação entre tipo de fonte, marca de adesão e nível de comprometimento: 1 1 30 30 13 13 44 44 268 268 5 5 5 268 273 3 3 3 3 19 19 19 19 38 38 baixo médio alto nível de comprometimento Total médio alto nível de comprometimento Total baixo nível de comprometimento Total baixo médio nível de comprometimento Total fonte evidencial enunciador externa definida externa indefinida domínio comum sim não marca de adesão Total

Tabela 4: Relação entre tipo de fonte, marca de adesão e nível de comprometimento

Como vemos através da tabela (4), a marca de adesão ocorre sempre relacionada à fonte externa definida e garante um efeito de alto comprometimento, ou seja, sempre que o autor utiliza a marca de adesão, ele mostra explicitamente que assume, junto com a fonte citada, o conteúdo veiculado, por isso, se compromete de maneira acentuada com o que é dito. A adesão pode estar implícita na coerência entre o que o autor e a fonte citada afirmam. No entanto, nesta pesquisa, só analisamos as marcas explícitas de adesão, como apresentado anteriormente na ocorrência (148).

A fonte externa indefinida, pela própria natureza lexical imprecisa, ocorreu sempre vinculada ao efeito de baixo comprometimento:

(149) [....] ou fornecem um panorama histórico do que muitos acreditam ter sido uma “evolução” (COUTINHO,1977)[...]

A1-4-4

A ocorrência (149) mostra claramente que o autor do texto científico não sabe a origem do conhecimento ou não quer se comprometer com a fonte, por isso, faz uso da fonte indefinida. Esse tipo de manifestação da fonte tem baixa frequência no artigo científico por produzir um efeito de pouca confiabilidade, pois o conteúdo aproxima-se mais do que conhecemos como um boato.

Quanto à fonte de domínio comum, não constatamos nenhum caso que produzisse o efeito de alto comprometimento. Ao que parece, o uso desse tipo de fonte é mais produtivo

para relativizar o comprometimento do enunciador com a informação, seja para produzir um efeito de comprometimento parcial (150) ou para garantir um maior distanciamento (151):

(150) Logo, é interessante percebermos no exemplo apresentado a idéia de que “é proposto que os alunos produzam resumos, a fim de melhor compreender as idéias dos textos; fato que irá auxiliá-los

na produção de um texto baseada em leitura prévia”

A2-50-118

(151) Por isso, percebe-se, também, um Veríssimo questionador dos moldes de crítica seguidos até então por alguns escritores.

A3-14-149

Em (150), o produtor textual produz um efeito de médio comprometimento, pois, mesmo utilizando a estratégia de apresentar a informação com fonte de domínio comum, ainda conseguimos identificar o autor do texto entre os que percebem o que é proposto, pois, ao colocar o verbo na primeira pessoa do plural, o autor do texto científico mostra que compartilha a inferência com os leitores. Já em (151), a fonte de domínio comum, manifestada por meio da voz impessoal, garante um efeito de maior distanciamento do enunciador com o dito, pois o compartilhamento do conhecimento é tão intenso, que ele opta por focalizar o conteúdo veiculado, o conteúdo do que é percebido.