• Nenhum resultado encontrado

Oswaldo Amorim: retorno à Brasília

No documento ANCO MARCOS SILVA DE MENEZES BRASÍLIA 2017 (páginas 83-86)

2. CAMINHO METODOLÓGICO: PROCEDIMENTOS E

2.2 Entrevista

2.2.7. Oswaldo Amorim: retorno à Brasília

Três fatores que ocorreram na vida de Amorim o fizeram tomar a decisão de voltar ao Brasil, mais especificamente, à Brasília. Sobre o primeiro, Amorim relata que

79 Gordon Matthew Thomas Sumner, ou como artisticamente ficou conhecido, Sting, nasceu em 1951 em

Newcastle, Inglaterra. Sting se tornou cantor, baixista e compositor do grupo “The Police”, o qual abandonou para seguir em carreira solo , tendo atualmente participados de diversas premiações e festivais, além de ter mais de 30 álbuns gravados e lançados (mais informações em www.sting.com).

80 Omar Hakim nasceu em Nova York, filho de Hasan Hakim, trombonista que atuou com o Duke Ellington e Count Basie band’s, tendo começado a estudar bateria com cinco anos de idade, hoje Omar

Hakim tem em seu currículo a realização de shows ao lado de nomes como George Benson, Lionel Richie, Chaka Khan, Anita Baker, Bobby McFerrin, dentre vários outros nomes de afamados artistas ao redor do mundo (mais informações em www.omarhakim.com).

[...] tinha acabado de acontecer o World Trade Center, né! Uma... é uma memória que eu tenho dessa época em Nova York em 2001. Eu ia para a 46, para a loja de música que era lá na Times Square, cara parecia aquele filme “O advogado do diabo”. Aquela cena que o Keanu Reaves desce e Nova York não tem uma viva alma andando na rua! Bicho, era assim, eu falei: – como que este lugar que é um “burburinho”, que era uma loucura, não tinha ninguém! Nenhum musical estava funcionando, nenhum! Todos fechados! O que que aconteceu? A classe artística teve que... ir em debandada de Nova York! O que saiu de atores, o que saiu de dançarinos, de músicos que foram embora nessa época, foi assim, eu acho que trinta por cento da classe artística saiu naquele mês de setembro, trinta por cento sem exagero, foi todo mundo embora! [Ninguém] conseguia pagar aluguel, ninguém conseguia pagar conta, não tinha trabalho, o pessoal desesperado, um clima horroroso lá de incerteza, de evacuação de metrô, de pistas, medo de ameaça de bomba, e eu comecei a ficar deprimido. Eu não vim embora porque eu tinha uma gig fixa lá com o Portinho nessa Plataforma, que comida não para, o pessoal continua comendo, continua indo lá, e no Zinc bar que continuou a ter! Então eu tinha três gig’s fixas que me mantiveram lá, mas o resto, festas, tudo isso eu não

tocava mais, as outras gig’s acabaram! Então foi um período muito difícil.

Mas o pior não foi a falta de grana, o pior foi o clima que a gente vivia lá, que era um clima muito de depressão!

Neste mesmo ano, Amorim perdeu o pai, relatando que

[...] perdi o meu pai nesse ano! Comecei a ficar deprimido e falei assim: – não, eu não quero mais! Tinha terminado o mestrado já. Terminei em maio de 2001, estava tocando barbaridade já, pintando turnê... tudo. No auge da minha carreira lá veio o World Trade Center, e nisso, Carlinhos Galvão81 me

convida para dar um curso de verão aqui em 2002. Se eu viesse para cá para o Brasil, eu já teria que voltar como turista, porque eu estava com o visto de trabalho de um ano e não podia sair de lá nesse ano. Ai eu falei assim: – Não Carlinhos, eu não vou poder ir agora porque a minha situação está indefinida aqui, eu não sei o que que eu quero! No ano seguinte, fui para a Rússia, toquei, e quando eu voltei da Rússia eu já tive que entrar com o visto de turista, não mais o visto de trabalho que eu perdi isso daí. Fiz uma turnê muito boa na Rússia e na Ucrânia, tocando com um pianista Andrei Kondakov82, com o Café, Wanderlei Pereira, o Paulo André Tavares o... o

P.A. foi nesta gig também! Foi maravilhoso lá na Rússia, voltei e falei: – Pô! Acho que não está na hora de voltar para o Brasil! Eu ia aplicar para o green

card, estava com tudo certo, já tinha o advogado, estava super fácil!

Porém, no meio disso tudo, acontece o último fator que o faz tomar a decisão de retornar à sua terra natal. Em decorrência de uma cirurgia Amorim relata

E aí fiz uma cirurgia de hérnia inguinal, que era para voltar a tocar em quinze dias, que era uma paroscopia, [porém] acabou que o cara falou: – Não, você é muito jovem. Eu vou fazer uma tradicional! E eu já na maca, sedado, ai eu

81 Carlos Galvão foi maestro e compositor clássico, tendo por muitos anos dirigido a Escola de Música de

Brasília (mais informações em www.sergiogalvaosax.com).

82 Andrei Kondakov é compositor, pianista, produtor e fundador de numerosos projetos musicais russos e

internacionais, além de ser diretor de Arte do JFC Jazz Club em São Petersburgo (traduzido de

falei: – Não, tudo bem, não vou discutir! Estava lá na maca já meio grogue, então eu fiz. Conclusão, eu fiquei dois meses sem conseguir levantar o baixo. Eu morava no terceiro andar, sem elevador, saí da cirurgia no mesmo dia já subi três andares de escada, com um corte gigantesco. Então a minha recuperação foi a pior possível. Eu não conseguia tocar, então eu fiquei dois meses em Nova York sem tocar [e] enquanto eu estou acamado lá, me recuperando, o Carlos Galvão me liga e fala assim: – Oswaldo e aí, vem... vem para o Brasil dar agora em 2003 o curso de verão? Eu falei: – Carlinhos eu vou! Aí eu estava no auge da depressão, sem tocar, sem ganhar dinheiro, eu falei: – O que que eu estou fazendo aqui neste sofrimento rapaz! (risos) Ai o Carlinhos falou: – Vem para cá ou então vem antes, aproveita vem antes [porque] vai ter o concurso para a Escola de Música, para ir para o GDF. Pô! A gente precisa de você aqui, vem para cá! Eu pensei: Cara! E falei assim: – Eu vou dar um tempo no Brasil, de repente depois eu volto [para] Nova York, pintam outros contatos aqui, eu posso voltar!

Assim Amorim retorna ao Brasil

Ai eu vim. Fiz o concurso, passei, dei o curso de verão em 2003 e nunca mais sai! Não voltei mais para Nova York, acabei ficando aqui. Já adorava Brasília, tinha um amor profundo pela Escola de Música e por ensinar. Sempre gostei de dar aula! Comecei a dar aula muito novo, como eu te falei aqui no início, que eu dava aula particular quando eu cheguei em Brasília, depois na Escola de Música como contrato temporário e depois continuei dando aula particular para muitas pessoas aqui. Então eu tinha... é... para mim sempre foi gratificante dividir esse conhecimento ou ver o crescimento de alguém ao meu lado. E quando eu vim para a Escola de Música ai foi melhor ainda, porque aqui eu não tinha que pegar o dinheiro de ninguém! Sempre foi um negócio complicado para mim cobrar dos alunos. Falo isso abertamente isso daí, é da minha pessoa. Mas [como] precisava de dinheiro, tinha que viver, então tinha que cobrar, mas na escola eu não tinha que lidar com isso, então ficou melhor ainda! Eu estava lá porque o aluno queria estar aprendendo e eu queria estar ensinando, não porque eu precisava daquela grana, porque eu tinha o salário e pronto! Então juntou a fome com a vontade de comer, ou seja, retribuindo o que a Escola me proporcionou, sendo remunerado para isso, e tendo alunos que realmente queriam aprender ali.

Então, Amorim passa a ser professor do curso técnico de baixo elétrico do Centro de Ensino Profissionalizante - Escola de Música de Brasília – CEP/EMB, onde trabalha atualmente.

3. OSWALDO AMORIM: OBSERVAÇÃO DOS GESTOS DIDÁTICOS NAS

No documento ANCO MARCOS SILVA DE MENEZES BRASÍLIA 2017 (páginas 83-86)