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3. RESULTADOS

3.2. A EXPERIÊNCIA DE QUATRO OPERADORAS

3.2.4. M OTIVAÇÃO DAS OPERADORAS PARA A INCORPORAÇÃO DAS PRÁTICAS DE MEDICINA

Além do objetivo mais freqüentemente associado às práticas de medicina preventiva (melhora da condição de saúde das pessoas), exposto logo a seguir, foram identificados alguns possíveis impactos da utilização de programas e ações de medicina preventiva, tais como aumento da satisfação do cliente, por exemplo, que serão descritos em seguida. É possível que tais impactos, somados ao referido objetivo, estejam relacionados às motivações das operadoras para a incorporação dessas práticas.

3.2.4.1. Melhora da condição de saúde dos beneficiários

A percepção de que as ações de medicina preventiva estão relacionadas positivamente com a qualidade de vida das pessoas está presente nas quatro operadoras estudadas. As práticas de medicina preventiva, neste trabalho traduzidas como ações de promoção da saúde e de prevenção da doença ou de suas complicações, são tidas como um benefício inquestionável e evidente para o beneficiário: “O benefício que a população que adere ao programa tem é a melhoria da condição de saúde”, “melhora muito a qualidade de assistência dessa pessoa”, “há uma preocupação muito grande com a qualidade da assistência. Não olho só valores, não”.

3.2.4.2. Satisfação e fidelização do usuário

De acordo com a percepção dos entrevistados, a satisfação dos beneficiários que participam dos programas de medicina preventiva é alta: “o doente fica satisfeito”, “os beneficiários que participam de programas ficam mais satisfeitos com o plano, porque se sentem cuidados”, “sentem que a operadora se preocupa com a saúde deles”. Acrescentam que tal satisfação poderia ser traduzida em uma maior fidelização do cliente: “Os beneficiários ficam mais tempo no plano, porque não querem perder os cuidados que recebem”, “o cliente que adere ao tratamento, ele dificilmente vai sair do plano”, “acredito que as práticas de medicina preventiva contribuem para a fidelização do cliente”.

3.2.4.3. Estratégia de propaganda para venda de novos planos

No caso dos planos individuais, a percepção geral é de que a medicina preventiva não se presta à função de propaganda, uma vez que os potenciais consumidores de planos de saúde tenderiam a escolher as operadoras (além do preço, evidentemente), em função da tecnologia “de ponta”, do tamanho da rede, dos especialistas, dos prestadores renomados, das facilidades associadas (p.ex.: serviço de ambulância, “helicópteros”), enfim, dos serviços que estariam disponíveis quando fossem - do ponto de vista do cliente – necessários: “o que atrai o cliente é o fato de ter especialista e tecnologia à sua disposição. O cliente não quer saber de prevenir, mas de ter assistência quando quiser”.

Além disso, referiu-se haver uma certa “desconfiança” por parte dos clientes individuais em relação aos propósitos da medicina preventiva dentro de uma operadora de saúde, que seria vista unicamente como uma ferramenta para reduzir os gastos com a sua assistência, e não propriamente para melhorar sua condição de saúde: “Quando você vai educar para saúde, ele entende que você está querendo evitar gasto com ele”. Portanto, a existência de programas de medicina preventiva na operadora serviria mais para afastar, do que para atrair clientes de planos individuais.

Em relação aos planos coletivos, a percepção geral é de que os programas de medicina preventiva atraem o cliente empresa, em razão dos benefícios atribuíveis a suas ações, tais como “redução do absenteísmo”, “aumento da produtividade”, “aumento da satisfação no trabalho”, entre outros, já amplamente difundidos em estudos anteriores (ALDANA, 2.001; PELLETIER, 2.001). Nas palavras de um entrevistado: “é no plano empresarial que isso (a medicina preventiva) é usado como uma peça de venda”, “foi usada como uma peça de marketing mesmo”. É coerente com essa percepção a divulgação dos benefícios acima referidos, nos sites de operadoras que oferecem programas de medicina para empresas, os benefícios da medicina preventiva para a empresa:

a) “... criado para garantir a qualidade de vida de sua equipe de trabalho" (seguradora B);

b) "... uma demonstração de carinho da empresa para com o funcionário" (seguradora B);

c) "... reflexo positivo sobre sua imagem ao cuidar de sua equipe de trabalho, além de obter aumento de produtividade" (seguradora B);

d) “... conseqüente melhoria na qualidade de vida, contribuindo para a redução do absenteísmo e o aumento da produtividade nas empresas” (medicina de grupo A);

e) “... investindo na valorização de cada colaborador, trazendo excelentes resultados para a diminuição do índice de absenteísmo e para o aumento da produtividade” (cooperativa A);

f) “... voltado para prevenção de doenças e a melhoria constante da produtividade e da qualidade de vida” (cooperativa B);

g) “... visando a qualidade de vida dos colaboradores” (cooperativa C);

h) “A melhoria das condições de saúde, reduz gastos com medicamentos, aumenta a produtividade, reduz o absenteísmo, melhora e facilita a vida familiar”. (medicina de grupo I).

3.2.4.4. Redução de custos assistenciais

Do ponto de vista do impacto financeiro, a percepção de todos os entrevistados é de que as práticas de medicina preventiva, na maior parte das vezes, traduzem-se em redução de gastos em saúde. Em geral, tal redução é um dos resultados esperados dos programas de medicina preventiva nas operadoras.

a) “É questão de lógica do capital”;

b) “Há uma preocupação sim de que a gente consiga reduzir os custos de atenção”;

c) “Um bom programa de medicina preventiva tem que deixar o cliente satisfeito, fidelizar o cliente no plano de saúde e reduzir custo do plano de saúde. Esses três objetivos a gente persegue e a gente consegue esses objetivos”;

d) “Então, assim, ele vai ser muito melhor cuidado, mas porque está melhor cuidado, ele vai me dar menos custo”.

Apesar de ter sido mencionado que, em situações específicas, as práticas de medicina preventiva podem significar aumento de gastos, principalmente relacionados a consultas e à realização de exames, acredita-se que esse incremento seria maior, caso não existissem as ações de medicina preventiva. Assim, embora determinadas práticas possam provocar um aumento nos gastos em saúde, acredita-se na sua potencialidade no que se refere à contenção de gastos. Para algumas práticas específicas, principalmente aquelas cujo

resultado se dá no longo prazo, a preocupação em medir os gastos não existe, até porque essa mensuração seria “difícil”. Portanto, a depender do tipo de prática de medicina preventiva, o resultado financeiro é mais ou menos perceptível, maior ou menor. De qualquer maneira, em todas as operadoras, em maior ou menor grau, esse aspecto foi referido como uma das motivações para a implantação dos programas de medicina preventiva.