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Dos 18 ouvintes entrevistados, reuni seis neste grupo: Victor, Artur, Beatriz, Jacob, Pedro e Mark. Eles ouvem somente a Frecuencia Libre, moram na cidade e possuem alguma memória que os motiva escutar uma rádio livre mesmo que não sejam aderentes, nem militem em movimentos zapatistas. Ainda que em diferentes intensidades, eles nos revelaram informações sobre seu passado, presente e expectativas para o futuro que nos permitiram criar versões sobre os sentidos possíveis de suas escutas. As diferenças de profundidade nas informações pessoais fornecidas pelos entrevistados foram causadas pelos diversos níveis de desenvoltura de cada um. Não os forcei a falar sobre assuntos que notei constrangedores e que evitaram tratar. Por isso, além dos sentidos, irei descrever como o contato foi realizado para compreender as condições destas narrativas. O fótografo Victor vem da cidade de Comintán de Dominguez, município distante 92 km de San Cristóbal de Las Casas, que possui uma população de 141 mil habitantes, segundo o censo de 2010 do Instituto Nacional de Geografia y Estadística do México (INGE). Encontramo-nos acidentalmente num café de um amigo brasileiro no Centro Histórico. Já o estava procurando sem sucesso, através de e-mail, porque ele tinha respondido o questionário aplicado por Leonardo Toledo. Sem saber que era um ouvinte da Frecuencia Libre e um dos meus possíveis pesquisados, comprei duas fotografias suas. Começamos a conversar e descobrimos a coincidência. De pronto, ele se colocou a disposição para entrevista, que realizamos na cozinha do café que estava desativada e mais tranquila. Tivemos uma mútua identificação porque ele, como eu, é formado em Comunicação e trabalhou em rádio, por isso nossa entrevista fluiu bastante com mais de 40 minutos de conversa.

Suas recordações da escuta do meio remontam aos cinco anos de idade quando um tio era locutor numa emissora comiteca140 e durante as férias o levava ao estúdio para acompanhar ao vivo seu programa. Para Victor, era o momento mais divertido da época.

Quando chegava as férias meu tio colocava um programa chamado Paulo Assassino. Eu era pequeno e tinha medo. E as vozes eram impressionantes. E depois fui conhecer como fazia um programa local, que agora é nacional “A hora de Caderro”, que passava “La llorona”, “El Caderro”.141

Outra lembrança é a escuta do avô, ouvinte de um programa noturno que lia cartas. A passagem de ouvinte para produtor de rádio não tardou. Ainda quando cursava o ensino médio, em 1998, participou de um programa radiofônico feito por um grupo de jovens que se organizavam para dar assistência social aos mais carentes, através de campanhas de doação e atividades culturais. A presença do rádio em sua vida foi decisiva para a escolha sua carreira. Victor se formou em Comunicação e durante o curso realizou estágio numa emissora comercial, seguindo sua carreira profissional numa estação estatal, onde sofreu com as restrições editoriais contra as críticas, principalmente, aos grupos que estavam no comando político do município, estado e país. A situação forçou sua saída da emissora. Apesar de continuar fazendo produções de vinhetas e spots num estúdio caseiro para rádios da Região da Fronteira e da Guatemala, pouco tempo depois, a frustração com a rádio estatal o motivou a mudar sua atuação para a fotografia e seu domicílio para San Cristóbal de Las Casas.

No entanto, na nova cidade, Victor não demorou para ter um novo encontro com o rádio. Em 2009, quando trabalhava num restaurante enquanto buscava viabilizar o projeto de montar uma galeria de arte, ele encontrou, zapeando o dial durante as solitárias folgas dos sábados, a Frecuencia Libre. “Me chamaram a atenção as músicas que colocavam, porque não eram tão convencionais, tão populares”142. Com o passar do tempo, a escuta lhe revelou uma emissora livre das restrições editoriais que lhe fizeram sair do rádio. “A Frecuencia Libre é crítica, é livre. Se escutas outra estação de rádio, é assim: são católicos, são evangélicos, são comerciais”143. Juntando o apreço pela liberdade de expressão com o interesse pela arte, o “Debate Cultural” se tornou seu

140

Nascido em Comitán de Dominguez

141

Entrevista com Victor (nome fictício), em 22 de julho de 2014, em San Cristóbal de Las Casas. Tradução minha.

142 Idem. 143

programa preferido por defender “a liberdade de se manifestar, desde sua crítica, desde seu ponto de vista, desde os parâmetros locais”144. Sua única queixa contra a estação é o baixo alcance. “Só pega em algumas quadras do centro da cidade”.145

Sobre o zapatismo, Victor revelou que suas principais recordações são do levante de 1o de janeiro de 1994. Na época, ele era criança e lembra que passou vários meses sem poder ir ao centro de Comitán. “Tinha uns 9 anos e vi passando os helicópteros. Ficamos fechados uns seis meses. Minha mãe dizia: 'Não pode sair'. Se fôssemos ao centro, pediam para nos retirar. Eu via as notícias e me causava um choque”146. Sua família foi contrária ao movimento e sempre se posicionou contra a autonomia dos povos originários. Somente quando jovem ele passou a ter uma visão mais “esquerdista” e compreendeu melhor o zapatismo. No entanto, apesar de revelar que não participa de nenhum coletivo aderente, na entrevista, não deixou explícita qual sua posição a respeito do tema, mesmo tendo sido questionado.

A liberdade de expressão é claramente o sentido que conecta a escuta de Victor com seu passado, presente e futuro. Ouvir a Frecuencia Libre, para ele, é como uma espécie de revanche contra as restrições e a censura que o fizeram abandonar o rádio. Possibilita imaginar como o rádio seria se não houvessem restrições editoriais. As críticas que ele não podia falar na emissora estatal onde trabalhou, na rádio livre, ele escuta frequentemente. É também uma forma de catarse, ou seja, um alívio do stress causado pelo controle estatal, empresarial ou religioso ao qual quase todas as estações da região estão submetidas. Além do mais, é uma esperança. Ele crê que uma rádio livre contribui para a pluralidade social, pois “sem liberdade de expressão, não há democracia”147. Sua conexão com o rádio, influenciada desde criança por seu tio, ampliada pela escuta do avô e pela atuação em grupos de jovens, tornou ainda o meio sua principal companhia quando acabara de chegar num lugar desconhecido e solitário.

Assim como Victor, Artur é fotógrafo, trabalhando atualmente como câmera e editor de vídeo numa universidade, e vem de outro município vizinho, Tenejapa, que possui 41 mil habitantes, segundo o censo do INGE de 2010, estando a 28 km de San Cristóbal de

144 Ibidem. 145 Ibidem. 146 Ibidem. 147

Las Casas. Ele é mais um ouvinte que localizei através de questionário aplicado por Leonardo. Marcamos de nos encontrar em seu trabalho. Iniciamos a entrevista em sua sala, uma ilha de edição, onde várias outras pessoas trabalhavam. O que me fez sentir a inadequação do local, convidando, por isso, a irmos a outro lugar. Entrevistei-o então numa mesa ao ar livre da cantina da universidade. No horário, o local estava muito tranquilo com pouquíssimas pessoas sendo atendidas ou transitando. Tivemos uma relação de cordialidade e confiança. Creio não só pela recomendação de Leonardo, como também por ele trabalhar numa instituição onde acompanha sempre atividades de entrevista como essa, devendo compreender sua importância. Nossa conversa se entendeu por quase 30 minutos.

Artur revelou que a memória de sua comunidade foi a principal motivação para ouvir a

Frecuencia Libre. Seus pais e avôs lhe contavam sobre um passado mais próspero e

justo, quando Tenejapa era autônoma, nas décadas de 1950 e 1960, possuindo seu próprio sistema político, jurídico e legal. “Gosto muito da vida em autonomia, porque tem muita liberdade até certo ponto de exercer certas coisas e também há um coletivismo, uma coletividade para muitas atividades, inclusive econômicas”148. Assim, quando em 2005 chegou a San Cristóbal de Las Casas para buscar oportunidades profissionais que lhe faltavam em sua cidade natal, começou a procurar emissoras para escutar e se identificou com a Frecuencia Libre, devido à independência de seu conteúdo e de sua gestão. A estação passa desde então a alimentar no cotidiano as lembranças do passado imaginado.

(…) é uma maneira como me conecto ao passado, se eu não o vivi diretamente, o viveram meus avôs, meus papais e eu fiquei com a recordação, a memória, ou seja, me trato de imaginá-lo como uma coisa muito perfeita. Mas de algum modo, inconsciente, talvez, uma conexão profunda com minhas lembranças tenha enfocado meu interesse até a Rádio Frecuencia Libre. Todas as coisas que tem que ver com autonomia e autosuficiência me chamam a atenção, é muito familiar para mim, por isso, me perfilo neste lado.149

Além da conexão com as memórias imaginadas, a escuta da estação lhe cultiva a expectativa de que, no futuro, sua terra seja novamente autônoma. “Meu sonho ou minha esperança seria que Tenejapa voltasse a ser um município autônomo que foi antes

148

Entrevista com Artur (nome fictício), em 17 de julho de 2014, em San Cristóbal de Las Casas. Tradução minha.

149

e que eu pudesse participar desta comunidade”. O sentimento de autonomia possibilitado pela escuta da emissora sublima assim a frustração de uma forçada migração pela situação de injustiça e pobreza à qual hoje sua cidade está submetida. Ele pode alimentar assim, ouvindo a Frecuencia Libre, um imaginário de transformações que criem lá condições para seu regresso ou que cogite a possibilidade de nunca ter deixado de ser autônoma e ele nunca migrado.

O programa preferido de Artur é o Debate Cultural.

Gosto muito do Debate Cultural porque faz um resumo de tudo o que ocorreu em San Cristóbal. Vai assim como por níveis, a nível local, nacional e internacional. Então tocam temas que me interessam muito que tem que ver com a cultura, com a ciência (…) os temas se põem sobre a mesa e já um começa a discutir e interpretar a informação de acordo ao que te dão (…)150

.

Ele também gosta do programa “La Hora Sexta”, espaço zapatista na programação da emissora. Para Artur, o movimento resgata a autonomia que sua comunidade e outros municípios indígenas tiveram no passado. Entretanto, ele não participa de coletivos zapatistas, nem gostaria que sua comunidade aderisse ao movimento, porque a autonomia de Tenejapa tem outra origem histórica enraizada na organização local. Já antropóloga Beatriz, funcionária de uma ONG, foi um contato conseguido através de Valentin Val que lhe aplicou o questionário. Marcamos de nos encontrar num Café no Centro Histórico. Era de manhã cedo e logo ela me falou de sua pressa porque tinha de entrar no trabalho em pouco tempo. Combinamos então 20 minutos de entrevista, mas a mesma se estendeu por pouco mais de 30 minutos. Como antropóloga, ela pareceu compreender a importância não só da entrevista, mas também da pesquisa. Expressou de maneira clara suas recordações e opiniões, sendo muito enfática em seus gestos e tom de voz.

A escuta da Frecuencia Libre por Beatriz alimenta uma memória de uma época mais recente de sua vida. Ela veio da capital chiapaneca Tuxtla Gutierrez em 1997 para cursar a graduação. Sua participação em movimentos estudantis marcou sua trajetória na universidade.

(…) tínhamos uma organização de fóruns, encontros, ao final dos 90 até os anos 2000. Havia muitos encontros, muitos fóruns, muitíssimas conferências, viam gente de toda a América Latina e de todo o mundo a compartilhar aulas,

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a compartilhar conferências sobre os movimentos sociais no mundo e Chiapas.151

Neste contexto, o rádio era a principal referência. “A Frecuencia Libre, como rádio comunitária, era, sem dúvida, muito importante para nossa formação. (…) misturava música, poesia, literaturas, textos de análise, de ensaio e era muito rico (…)”152. A emissora não só lhe possibilitava acesso às informações, mas motivação para a militância social, através das canções revolucionárias, das entrevistas e dos programas de coletivos. Segundo ela, sua geração vivia a efervescência do zapatismo quando pessoas do mundo inteiro vinham a San Cristóbal de Las Casas conhecer e discutir sobre o movimento. Atualmente, ela parece não ter uma posição muito segura sobre o zapatismo e os movimentos autônomos.

Não sei… Hoje em dia me mantenho menos informada do que antes. Por isso não consigo localizar de que maneira que poderia funcionar. Explico... Porém definitivamente hoje é mais necessário, necessitamos destes movimentos de luta, deste tipo de resistência. Creio que mais do que nunca o mundo está de pernas para cima. Não digo que em 94 não foi válido. Creio que foi. Mas hoje em dia, parece que se vai perdendo cada vez mais nosso sentido de humanidade. Nosso sentido de conjunto. (...) Temos, por isso, que fazer as lutas mais radicais para poder efetivamente gerar uma mudança, uma transformação.153

Uma das consequências desse atual afastamento dos movimentos autônomos é que Beatriz raramente escuta a Frecuencia Libre. Ela acredita que a internet substituiu o papel de prover informações alternativas. “(...) os avanços e os meios de informação e de desinformação estão a todo o tempo nos manipulando (...) na internet”154. Ela demonstrou se revoltar porque, mesmo com tanto acesso à informação, os jovens não a usam para a organização e mudanças sociais. “Não tínhamos o acesso tão brutal que agora tem com a tecnologia. No entanto, os jovens têm e não estão aproveitando”155. Ainda que não seja mais ouvinte assídua da Frecuencia Libre, Beatriz, além da memória que possui da rádio associada a sua militância nos movimentos estudantis, reconhece o papel de uma rádio livre nas comunidades. “Muitos espaços só têm isso. Em muitas comunidades, em muitos estados do México, de América Latina e do mundo só tem

151

Entrevista com Beatriz (nome fictício), em 21 de julho de 2014, em San Cristóbal de Las Casas. Tradução minha. 152 Idem. 153Ibidem. 154 Ibidem. 155 Ibidem.

isso: uma rádio comunitária que lhes informa e que de alguma maneira os orienta… que lhes dá voz”156. A escuta da emissora pode construir imaginariamente uma continuidade de sua militância estudantil.

Da mesma forma que Beatriz, as recordações da vida universitária motivaram Jacob a escutar a Frecuencia Livre. Ele vem da Cidade do México onde cursou Comunicação Social na Universidade Autônoma do México (Unam). Ele foi um contato obtido através de questionário aplicado por Leonardo Toledo. Também nos encontramos num Café no Centro Histórico de San Cristóbal de Las Casas. Ele me aparentou estar desconfiado e um pouco inseguro, por isso a entrevista rendeu pouco, não só em tempo, menos de 20 minutos, mas também em conteúdo. O momento mais tenso pareceu quando perguntei o que ele pensa sobre os movimentos autônomos. Além de fugir do assunto, ficou agitado e encerramos o encontro pouco depois.

No entanto, sua entrevista revelou que, apesar de não ter uma militância estudantil ativa, ele escutava Radio Zapote “para ter outro tipo de informação”. A emissora foi criada, em 2001, durante a marcha da Cor da Pele, liderada pelo EZLN quando lutavam pela aprovação no Congresso Nacional da Lei dos Povos Indígenas, negociada durante os acordos de paz de San Andrés. Após a mobilização, um grupo de jovens que criaram o veículo formaram um coletivo e continuaram transmitindo até hoje. Quando Jacob se mudou para San Cristóbal de Las Casas, em 2008, a fim de encontrar um lugar mais tranquilo para viver, a referência da emissora da Cidade do México lhe acompanhou, incentivando-o a escutar uma rádio livre no novo domicílio.

Apesar de ainda escutar a Frecuencia Libre, principalmente no trânsito, ele critica a programação. “As músicas são aborrecidíssimas”157. Por isso sua preferência é o programa “Debate Cultural”, que toca pouca música e “porque é informal e tem um conteúdo mais jornalístico”. Mesmo não tendo participado de movimentos sociais nem de comunidades autônomas, diferente dos ouvintes anteriormente apresentados, o sentido da escuta de Jacob é claramente pela informação alternativa à veiculada nos grandes conglomerados de meios, cultivado por sua formação crítica construída durante seu curso de graduação. A emissora possibilita reviver sua memória estudantil.

156

Ibidem.

157

Entrevista com Jacob (nome fictício), em 19 de julho de 2014, em San Cristóbal de Las Casas. Tradução minha.

Outro ouvinte encontrado a partir de questionário aplicado por Leonardo Toledo, foi Pedro, um poeta aposentado de origem espanhola. Marcamos a entrevista num bar cultural, localizado no Centro Histórico de San Cristóbal de Las Casas. Ao chegar, ele me perguntou sobre a pesquisa. Pareceu-me muito desconfiado. Compreendi sua apreensão principalmente por ser estrangeiro e, por isso, proibido pela Constituição Mexicana de manifestar-se sobre política, condição logo recordada por ele antes de começar a entrevista. Assim, decidi não perguntar sobre autonomia nem zapatismo. Antes de iniciarmos, ele pediu uma cerveja, convidou-me a beber também. Recusei agradecendo-lhe. Como o bar, mesmo antes da chegada dos clientes, já tinha um som com volume alto, subimos até a sacada do local. Nossa entrevista foi no ar livre num lindo por do sol. Eu estava visivelmente exausto e com fortes dores no joelho, causadas por ter regressado, no dia anterior, de cansativas atividades na comunidade de San Isidro de La Libertad. Comentei com Pedro sobre como me sentia e ele me aconselhou a usar pomada de arnica no joelho e descansar porque era “o único remédio contra o cansaço”. Depois disso, ele ficou bem mais à vontade e conversamos de maneira mais descontraída.

De início, explicou-me que emigrou há mais de 15 anos de Madrid, já tendo vivido em outros Estados mexicanos. Em sua cidade natal, era ouvinte assíduo da rádio livre La

Luche, da qual participou como repórter de um programa sobre migrantes latino-

americanos. Entrevistava argentinos, mexicanos, peruanos, chilenos, entre outros, que viviam nas proximidades de seu bairro. Tratava não só sobre questões culturais, mas também sobre as dificuldades de viver no exterior, muitas vezes, sem documentação e sem trabalho fixo. Desde então, reconhece a importância de uma rádio livre. “Gosto tanto da produção, do fazer coletivo, do fazer diferente, que há liberdade de expressão. Alguém dizia que, para que tenha liberdade de expressão, tem primeiro que ter liberdade de pensamento. Algo que é interessante”158.

Quando chegou a San Cristóbal de Las Casas, Pedro tratou logo de buscar uma emissora que lhe preenchesse o costume de escutar uma rádio livre. “(...) quando chego em qualquer lugar vou escutar a rádio para saber o que há por aí. Se não conhece o lugar, alguns vão pegar um mapa, um guia turístico… Nós vamos agarrar um rádio para saber

158

Entrevista com Pedro (nome fictício), em 19 de julho de 2014, em San Cristóbal de Las Casas. Tradução minha.

o que há (risos)”159. A inevitável identificação com a Frecuencia Libre ocorreu porque “interessa escutar outro tipo de música, outro tipo de palavra, ou seja, comprometida socialmente e que ofereça outro tipo de alternativa política, cultural, musical. A

Frecuencia Libre tem um pouco de tudo isso”. Por isso, passou rapidamente de ouvinte

para produtor da emissora, tendo participado dos programas “Mujeres de Ojos Grandes” e “Debate Cultural”. Mesmo não estando mais envolvido diretamente com a emissora, continua ouvindo-a para conhecer as convocatórias dos movimentos sociais e as questões sobre as artes plásticas, literárias e teatral. Ao contrário de Jacob, o poeta aprecia a música da Frecuencia Libre. “Sobretudo quando começou. Era o único lugar que se podia escutar algo diferente. Sim, a música é boa, interessante”160. O sentido da escuta de Pedro está na conexão de sua memória de ouvinte e produtor de uma rádio livre em Madrid, seu interesse atual na arte não comercial e sua esperança nos movimentos sociais que possibilitam a liberdade de pensamento e expressão.

A memória de rádios livres europeias também marca o sentido da escuta do antropólogo e professor universitário Mark, migrante alemão há mais de 5 anos. Consegui entrevistá- lo durante um seminário internacional na Universidade da Terra em julho de 2014, espaço zapatista localizado na Colônia de San José, na periferia de San Cristóbal de Las Casas. Ele havia respondido o questionário aplicado por Valentin Val, mas não retornava minhas solicitações para uma entrevista enviadas por e-mail. Aproveitei o evento para