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OUTRAS CULTURAS ANTIGAS (HITITA, HEBRAICA, FENÍCIA E PERSA)

Contemporâneas das civilizações da Mesopotâmia e do Egito, floresceram na Ásia Menor e Oriente Médio quatro outras culturas que teriam uma importância, direta ou indireta, na futura formação de um espírito científico e no advento da Ciência. O impacto dessas culturas seria pequeno e desigual no campo específico da Ciência, mas a cultura dos hebreus, através de sua religião, viria a ser uma das importantes determinantes da cultura ocidental, e, como tal, viria a ter uma influência capital no desenvolvimento da Ciência.

De graus diferentes nas áreas cultural e técnica, de atividades econômicas diversas e de características assemelhadas nos setores social e político, um traço comum, do ponto de vista da História da Ciência, pode ser identificado aos povos hititas, hebreus, fenícios e persas: a falta absoluta de espírito crítico diante dos fenômenos, e suas crenças no poder sobrenatural. Apesar de já terem alcançado o estágio sedentário, urbano, e agrícola; de saberem trabalhar vidro, cerâmica e metais (cobre, chumbo, prata, ouro, ferro);, e de terem desenvolvido técnicas de guerra (hititas, persas) e de navegação (fenícios), não tinham atingido tais povos, contudo, o estágio mental e cultural consistente com o desenvolvimento de um espírito científico, crítico, pesquisador, racional e lógico. Ao longo de suas histórias, não demonstrariam esses povos espírito cético, inclinação analítica, curiosidade pela investigação e interesse na

experimentação. Como no caso de outras culturas da Época (hindu, egípcia), a grande preocupação, individual e coletiva, era agradar as divindades e os espíritos, de forma a receber benesses, manás e favores e escapar da ira dos entes superiores. Praticavam o sacrifício. Não havia, assim, condições de iniciar ou incorporar qualquer conhecimento científico. Na verdade, o problema não existiria para tais sociedades, imbuídas do entendimento de ser o conhecimento algo privativo dos deuses ou dependente de revelação.

Mesmo com a conquista da região por Alexandre, e a posterior presença de Roma em toda a área, as estruturas sociais e políticas, as tradições culturais e o nível mental dessas populações não foram suficientemente abalados, de maneira a permitir o surgimento de interesse pelo conhecimento dos fenômenos naturais, como em outras partes do mundo de então, em especial na Grécia. Regimes teocráticos e despóticos, com uma classe sacerdotal dominante, não haveria as condições mínimas para surgir a Ciência em tão hostil ambiente. As classes sacerdotais ou castas dirigentes exerceriam um poder absoluto sobre seus súditos e não admitiriam qualquer iniciativa ou veleidade intelectual fora dos cânones pré-estabelecidos. Os escassos documentos conhecidos dessas culturas não registram evidências de especulação ou de algum interesse por compreender os fenômenos da Natureza. Por essa razão, a quase totalidade dos livros de História da Ciência nem menciona tais povos, ao tratar dessa época.

Nenhum desses povos deixou qualquer contribuição para a Ciência, exceto os fenícios, que, como exímios navegantes e competentes comerciantes, se espalharam pelas costas do Mediterrâneo e viriam a servir como divulgadores do alfabeto, que teriam inventado, por volta de 1500 a.C., e do conhecimento de outras culturas (egípcia, hindu, mesopotâmica). Os hititas, da Capadócia, cuja cultura foi mais pujante no segundo milênio, criariam um Império regional de curta duração (de 1800 a 1200 a .C. aproximadamente), graças ao domínio da técnica de fabricação de armas de ferro, o que explica a retumbante vitória militar na batalha de Kadesh, contra o Faraó Ramsés II, em 1300 a .C., mas não deixaram testemunhos de incursões na área da Ciência.

Os hebreus se diferençavam dos demais povos por serem monoteístas (Jeová) e arredios a qualquer contacto com seus vizinhos, ciosos da preservação de sua identidade. Conquistado pela Grécia e Roma, resistiria o povo hebreu a influências externas e se manteria fiel a suas tradições e costumes e contrários a especulações filosóficas opostas às suas crenças. Habitando uma região inóspita e pobre de recursos naturais, chamada de Canaã (atual

Palestina), as principais atividades eram um modesto artesanato e uma precária agricultura. O Livro sagrado, Torá, ditava as regras de conduta pessoal e social, ao estabelecer os princípios éticos e morais a serem rigorosamente seguidos pelos fiéis. Mesmo com a dispersão do povo judeu, a partir dos anos 70/72 d.C., sua cultura seria mantida, ao longo dos séculos, graças a uma unidade obtida através da religião, dos costumes, das tradições e da língua, permanecendo como uma das mais longas culturas, ao lado da chinesa e da hindu. Não há registro, para esse Período, de aporte que pudesse significar início de espírito científico.

O formidável e extenso Império Persa (atuais Irã, Iraque, Síria, Egito e partes da Índia e Ásia Menor), que atingira seu apogeu nos séculos V e IV, com Ciro, Cambises, Dario e Xerxes, seria derrotado e ocupado por Alexandre, após destruir sua capital, Persépolis (331 a. C). Transformada numa satrapia grega, seria essa extensa região governada pelos selêucidas até 64 a.C., quando seria dominada pelos partos, e subsequentemente pelos persas. O artesanato (cerâmica, metais, tecidos, adornos) e o comércio foram bastante ativos, conforme demonstram importantes achados em ruínas persas. A religião predominante na antiga Pérsia era o Zoroastrismo ou Mazdeísmo, fundado por Zoroastro ou Zaratustra, em época indeterminada (variando de 2000 a 600 a. C.); seus preceitos constam do Livro sagrado Zend-Avesta. O poder real, recebido diretamente de Ahora-Mazda, o deus supremo, derivava, assim, do direito divino. Ao avanço técnico, não corresponderia um interesse em estudar os fenômenos naturais; a prioridade para efeitos religiosos e econômicos era a observação da abóbada celeste e da posição dos astros e estrelas. Não haveria nenhuma contribuição relevante para o futuro desenvolvimento científico.

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