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II. HIDROLOGIA E PROCESSOS EROSIVOS

2.1. Hidrologia de Encosta

2.2.3. Outras Feições Erosivas

Os diferentes mecanismos que atuam na formação dos diferentes tipos de movimentos de massa e voçorocamentos em escalas temporais distintas são responsáveis pela formação de outras formas erosivas, importantes para identificar os mecanismos específicos atuantes nessas incisões. Entre as feições erosivas mais comuns segundo Oliveira (1999) destacam-se: alcovas; filetes subverticais; dutos de convergência e caneluras; marmitas ou panelas; costelas e depressões; e fendas e dutos.

2.2.3.1. Alcovas

O termo alcova tem origem árabe al-quhhá ou abóbada, relacionando-se à forma abobadada dessas feições observadas nas frentes de maior atividade das voçorocas. Essas formas tendem a avançar regressivamente, promovendo o solapamento e o desmoronamento dos horizontes superficiais do solo na encosta afetada pelo processo erosivo (OLIVEIRA et al., 1995b).

Segundo Oliveira (1995a, 1999 e 2004), as alcovas são freqüente e erroneamente consideradas como dutos (pipings) ou resultado da erosão por exfiltração (seepage erosion), ou em túneis (tunneling scour), mas que assumem feições erosivas que podem ser observadas sob diferentes condições litológicas e climáticas, podendo ser esculpidas pelo escoamento superficial através de 4 mecanismos de entalhe: a) dissecação por filetes subverticais hierarquizados no

final de enxurradas sobre camadas não coesivas (com predominância de fração areia e silte); b) liquefação espontânea produzida por molhamento (fluxo de adesão) e transporte ao longo dos filetes; c) ou por gotejamento ao longo dos filetes, acelerando a remoção do material das paredes do teto da alcova quando esta se aprofunda bastante; d) deslizamento planar subvertical ao longo de fendas de tração e de cavidades criadas pela hierarquização dos filetes subverticais.

Outros mecanismos podem ser identificados como formadores das alcovas e estão relacionados à dinâmica subsuperficial verificada na erosão por infiltração; quando o entalhe situa-se ao nível do lençol freático, ocorre o solapamento lento e contínuo pelo canal de drenagem; e no caso da exfiltração do lençol freático quando da proximidade do lençol, o umedecimento dos materiais sobre a parede da voçoroca implica a diminuição da coesão e maior susceptibilidade ao efeito exercido pelos filetes subverticais.

De acordo com os mecanismos envolvidos e a forma de evolução, as alcovas podem ser regressivas e progressivas. No primeiro caso, as feições são geradas por associação complexa entre os “mecanismos de erosão por cascata, por filetes subverticais e por percolação, ao passo que a alcova de progressão pode ser formada pela erosão por percolação da água empoçada, após o escoamento concentrado” (PAISANI e OLIVEIRA 2001, p. 56).

2.3.2. Filetes Subverticais

São uma rede de filetes subverticais que se estabelece sobre as paredes de entalhes erosivos no final de eventos chuvosos de alta intensidade. Tais filetes originam-se em todo e qualquer corte e podem ser criados tanto pelo molhamento direto da parede da voçoroca exposta às chuvas (por exemplo) como pela diminuição do fluxo de escoamento superficial desaguando na voçoroca em forma de cascata (OLIVEIRA et al., 1995b).

Em termos práticos, no final dos eventos chuvosos a água escorre em filetes ao longo das paredes expostas e exerce efeito erosivo significativo sobre as camadas ou horizontes de solos não coesivos, individualizando colunas e escavando cavidades por desmoronamento ou liquefação espontânea. Em materiais mais coesivos, como saprolitos derivados de siltitos e argilitos, os filetes tendem a organizar-se numa rede subvertical hierarquizada, na qual os filetes de maior ordem exercem efeito erosivo mais significativo (OLIVEIRA, 1995a; OLIVEIRA, 1999).

2.3.3. Dutos de Convergência e Caneluras

São feições bastante comuns em incisões de pequeno porte (ravinas) e entre sulcos ou ravinas descontínuas e indicam variações das características mecânicas das coberturas superficiais. Podem também ocorrer como feições de detalhe em voçorocas ou cicatriz de movimentos de massa. Seu mecanismo de deflagração geralmente está associado à convergência de fluxo superficial para o interior de fenda ou de macroporos biogênicos, podendo interagir posteriormente com zonas de saturação próximas à superfície. Resultam, portanto, de interações entre erosão por queda d’água (plunging pool erosion) e eventuais ressurgências de zonas de saturação. Desenvolvem-se com freqüência em encostas nas quais terracetes são formados pelo rastejamento (OLIVEIRA, 1999).

2.3.4. Marmitas ou Panelas

As marmitas ou panelas indicam a atuação de erosão por quedas-d’água na base dos taludes ou nos degraus no interior de voçorocas ou cicatriz de movimentos de massa. Em geral, apresentam geometria relativamente dissimétrica, sendo mais profundas a montante e mais rasas a jusante (OLIVEIRA, 1999).

Analisando o desenvolvimento de uma incisão erosiva descontínua e desconectada da rede hidrográfica no Paraná, Paisani e Oliveira (2001), descrevem os mecanismos responsáveis pelo surgimento e evolução de marmitas

próximas às voçorocas; segundo eles, considerando que as pisadas do gado formam terracetes que convergem nos pontos de inflexão com a incisão, haveria concentração de escoamentos superficiais provenientes tanto das redes de terracetes, quanto da área de contribuição. Assim, ao passar pelas rupturas de declive causadas pelos degraus, o escoamento superficial formaria pequenas cachoeiras e zonas de turbilhonamento provavelmente responsáveis pela criação e pelo aprofundamento das marmitas.

2.3.5. Costelas e Depressões

São feições de detalhe que podem ser encontradas em materiais de origens diversas (aluvial, coluvial etc.), em geral poligenéticas, e indicam variações, em profundidade, da resistência ao cisalhamento dos materiais de cobertura superficial. São expostas pela dissecação de incisões e individualizadas, tanto pela ação dos filetes subverticais quanto pela exfiltração do lençol freático. No caso da exfiltração do lençol, não são identificadas feições de detalhe, como escamas e filetes, nas paredes das costelas nem das depressões (OLIVEIRA, 1999).

2.3.6. Fendas e Dutos

Fendas e dutos indicam a existência de movimento generalizado da encosta em torno da incisão erosiva. Podem ser formados por movimentos translacionais profundos, por tração nas bordas da incisão, ou por expansão e contração de argilomineriais do tipo 2:1 com susbstituições octaédricas. Tais feições podem servir de passagem para água oriunda tanto da superfície da encosta, quanto do lençol freático, constituindo o que geralmente se denomina erosão por pipes (OLIVEIRA, 1999).

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