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2.3.1. Bem-estar na adolescência – variáveis

2.3.1.4 Outras variáveis

Os problemas de saúde física têm também sido alvo de investigação relativamente ao bem-estar na adolescência. Segundo Berntsson, Berg, Brydolf e Hellström (2007), o número de jovens portadores de uma doença/ problema de saúde física crónicos têm vindo a aumentar ao longo das últimas décadas. Já em 1998, Siegel identificou este tipo de problemáticas como uma condição de risco para o aparecimento de dificuldades/ problemas psicológicos (Siegel, 1998).

De facto, a presença de uma doença crónica na adolescência pode ter um impacto negativo no bem-estar psicológico, uma vez que o jovem acaba por ter de se confrontar com dois tipos de exigências/ desafios simultâneos: (i) as tarefas desenvolvimentistas normativas

25 da adolescência que, como vimos, originam alguma instabilidade e implicam a presença de grandes recursos e capacidades de adaptação; e (ii) as exigências do problema de saúde em si, que provoca alterações na vida quotidiana do adolescente e da sua família (e.g. tratamentos, hospitalizações), bem como envolve experiências dolorosas (e.g. sintomas provocados pelo problema de saúde, efeitos secundários da medicação, desconforto físico, etc.) (Bizarro, 2001a; Newman & Newman, 2018; Trindade & Teixeira, 1988). Para além disto, estas duas exigências podem contrariar-se entre si, originando maior instabilidade: por exemplo, enquanto a adolescência implica lidar com a tarefa desenvolvimentista de aumento de autonomia e independência dos cuidadores principais, a existência de uma doença crónica pode forçar o prolongamento da dependência dos mesmos (e.g. apoio instrumental e emocional) (Bizarro, 2001a; Kasak, Segal-Andrews, & Johnson, 1995; Newman & Newman, 2018).

A literatura aponta para a presença de um risco ligeiramente mais elevado de jovens com doença crónica experienciarem menor bem-estar e sofrimento psicossocial (Barlow & Ellard, 2005). A revisão de literatura elaborada pelos autores referidos anteriormente, permitiu concluir que apenas uma minoria dos jovens portadores de problemas de saúde física experienciou sintomatologia psicológica clinicamente significativa. Adicionalmente, os autores reportam alguma contradição da literatura, havendo, por exemplo, estudos que identificam a severidade da doença como um fator influenciador do sofrimento experienciado pelos adolescentes (e.g McQuaidet al., 2001) e outros que referem não existir esta ligação (e.g. Bennett, 1994). Também Bizarro (1999, 2001) chama a atenção para inconsistências na literatura, havendo estudos que indicam que a presença de doença crónica não origina, necessariamente, menor bem-estar ou problemas adaptativos nos jovens (e.g. Wallander & Thompson, 1995) e outros que reportam a importância do impacto de fatores como o tipo de doença e as restrições de vida a si associadas, como decisivos para a experiência de bem-estar (e.g. Siegel, 1998).

O estudo de Berntsson et al. (2007) parece vir ao encontro destas últimas evidências. O autor identificou que a experiência de bem-estar está em muito relacionada com a possibilidade de o adolescente com doença crónica viver uma vida normal e societariamente bem integrado. Realmente, os adolescentes com problemas de saúde física crónicos referem como fatores importantes para o seu bem-estar: (i) um sentimento de aceitação da doença como fazendo naturalmente parte da vida; (ii) um sentimento de apoio social; e (iii) um sentimento de crescimento pessoal (Berntsson et al., 2007). De um modo geral, nesta

26 investigação, os adolescentes com doença crónica experienciaram bem-estar como qualquer outro jovem.

A presença de psicopatologia tem vindo a ser avaliada relativamente ao bem-estar na adolescência, sendo que a literatura indica que estes constructos se encontram negativamente associados (e.g. Bartels, Cacioppo, Van Beijsterveldt, & Boomsma, 2013). Particularmente, tem-se destacado a relação inversa do bem-estar na adolescência com a presença de

problemas internalizantes, salientando-se a depressão, ansiedade e perturbações de humor,

que se revelam negativamente associadas à presença de satisfação com a vida (Bartels et al., 2013; Proctor, Linley, & Maltby, 2009). Valois, Zullig, Huebner e Drane (2004) chamam também a atenção para a importância da prevenção do suicídio na adolescência, tendo identificado que fatores como: a fraca saúde mental e física, a séria consideração do comportamento suicidário e o planeamento e tentativa de suicídio (com e sem necessidade de intervenção médica posterior), se relacionavam negativamente com a diminuta satisfação com a vida.

De igual forma, os problemas externalizantes têm-se revelado negativamente associados ao bem-estar na adolescência (e.g. violência, agressividade, abuso de substâncias ilícitas) (Macdonald, Piquero, Valois, & Zullig, 2005; Valois, Zullig, Huebner, Kammermann, & Wanzer Drane, 2002). Segundo Macdonald et al. (2005), enquanto a adoção de comportamentos de risco relacionados com álcool, drogas e sexo se encontram associados a um aumento da violência, a elevada satisfação com a vida funciona como sua inibidora. De facto, a literatura tem evidenciado a presença de problemas relacionados com comportamentos agressivos, delinquência, hiperatividade e dificuldades de autorregulação e autocontrolo, como causadora de sofrimento psicológico (Merrell, 2008; White & Renk, 2011).

Tem-se também identificado uma relação positiva entre a religiosidade e o bem-estar subjetivo e psicológico (e.g. Abdel-Khalek, 2009; Adeyemo & Adeleye, 2008). No estudo de Harker (2001), a existência de práticas religiosas associou-se a níveis mais elevados de bem- estar, tendo este sido considerado um fator protetor para a manutenção do bem-estar de adolescentes imigrados. Adeyemo e Adeleye (2008) identificaram que a religiosidade, em associação à inteligência emocional e autoeficácia, se revelou preditiva do bem-estar psicológico na adolescência. Para além disto, este constructo surge muitas vezes em investigações sobre a temática dos problemas internalizantes (e.g. Abdel-Khalek, 2009). Nos seus estudos, Abdel-Khalek (2009, 2011), reportou que os adolescentes religiosos

27 evidenciam: (i) maiores níveis de bem-estar subjetivo; (ii) autoestima mais elevada; (iii) menores níveis de ansiedade e depressão; e (iv) maior felicidade.

Também Cotton, Hoopes e Larkin, (2005) identificaram uma associação entre menores sintomas depressivos e a presença de um maior bem-estar existencial e religioso, bem como uma mais elevada crença em Deus, tendo o bem-estar existencial revelado-se o maior preditor de sintomas depressivos. Quanto à ansiedade, Davis, Kerr e Kurpius (2003) associam igualmente um bem-estar espiritual mais elevado a uma menor ansiedade entre adolescentes em risco (alunos com, por exemplo, dificuldades académicas, ESE baixo, comportamentos delinquentes, etc.).