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2.3.1. Bem-estar na adolescência – variáveis

2.3.1.3 Variáveis individuais

2.3.1.3.1 Recursos internos/ características psicológicas positivas

A literatura tem explorado a associação entre o bem-estar e diversas variáveis psicológicas positivas (e.g. esperança, otimismo, autoeficácia e resiliência) (Khan, 2013;

22 Lima & de Morais, 2018). Estas características psicológicas positivas revelam relações significativas com este constructo, sendo que, para a sua promoção e desenvolvimento, o encorajamento por parte da família e amigos, bem como a orientação (mentoring) de professores, se têm verificado essenciais e igualmente associados ao bem-estar dos adolescentes (Khan, 2013). Seguidamente, serão apresentadas algumas das variáveis estudadas no âmbito do bem-estar na adolescência.

A adoção de determinadas estratégias de coping afeta significativamente o bem-estar psicológico e subjetivo dos adolescentes (e.g. Cicognani, 2011; Verdugo-Lucero et al., 2013). Especificamente, o bem-estar psicológico aumenta quando os jovens recorrem pouco a estratégias de afastamento/ desistência, sendo que uma elevada autoeficácia e presença de apoio familiar se relacionam com a menor utilização deste tipo de estratégias (Cicognani, 2011). No estudo de Ronen et al. (2016), a utilização do autocontrolo como estratégia de

coping e a procura de apoio social, associaram-se a um maior bem-estar subjetivo. Segundo

Verdugo-Lucero et al. (2013), os adolescentes com níveis de bem-estar subjetivo mais elevados são aqueles que revelam utilizar um número mais variado de estratégias de coping.

No estudo citado anteriormente, um elevado bem-estar subjetivo associou-se à maior utilização da estratégia de aceitação da responsabilidade (assumir as consequências de determinada situação) e à menor utilização do evitamento (comportamentos que não promovem a resolução da situação (e.g. comer excessivamente, consumir álcool). É relevante frisar, no entanto, que as estratégias de evitamento, como pensar num assunto não relacionado, têm vindo a ser identificadas como as mais adequadas em situações de stress sobre as quais a pessoa não tem qualquer tipo de controlo, estando a sua utilização associada a uma maior satisfação com a vida nestes casos particulares (e.g. Vera et al., 2011).

O constructo da autoeficácia já foi diversas vezes referido ao longo desta revisão bibliográfica. Yap e Baharudin (2016) identificam-na como um recurso interno que promove o bem-estar dos adolescentes, associando-se a valores de satisfação com a vida e afeto positivo mais elevados. Para além disto, Vecchio, Gerbino, Pastorelli, Del Bove e Caprara (2007), identificaram as crenças de autoeficácia como preditoras da satisfação com a vida a longo prazo, sendo que os adolescentes que reportaram, num primeiro momento, maior capacidade de regulação das suas atividades académicas e relações interpessoais, experienciaram um nível mais elevado de satisfação com a vida após cinco anos. É de referir, no entanto, que a autoeficácia tende para se modificar com o passar do tempo, devido ao aumento das exigências nos vários domínios da vida. Apesar disto, no estudo citado

23 anteriormente, os adolescentes que reportaram um menor declínio da autoeficácia social e/ ou académica, evidenciaram-se mais satisfeitos com a vida passados cinco anos.

A assertividade, variável referente à capacidade de a pessoa comunicar as suas necessidades, desejos e opiniões de forma adequada, isto é, sem a presença de ansiedade ou agressividade (e.g. punir ou rebaixar o outro), tem sido avaliada na literatura (e.g. Sarkova et al., 2013). Segundo o estudo citado anteriormente, a assertividade associa-se ao bem-estar psicológico, estando de igual forma inversamente correlacionada com a presença de depressão e ansiedade. Esta é também uma variável que se relaciona com a autoestima: considerada uma força/ mais-valia psicológica orientada emocionalmente e que envolve a presença de um sentimento de valorização pessoal (Rosenberg, 1965). A autoestima evidencia oportunidade de crescimento nos contextos desenvolvimentistas dos adolescentes, dando-se ênfase à particular importância das relações pessoais, experiências académicas e realizações alcançadas (Khanlou, 2004). Encontra-se significativamente relacionada com o bem-estar subjetivo dos jovens, associando-se positivamente a afetos positivos e negativamente a afetos negativos (Sivis-cetinkaya, 2013).

No que concerne à curiosidade, esta pode ser definida como um traço que envolve duas dimensões: Exploração, que implica uma procura ativa de novas experiências, informação e conhecimento; e Aceitação (embracing), referente à prontidão para aceitar o que é novo, bem como a natureza imprevisível da vida quotidiana (Kashdan et al., 2009). Adolescentes com níveis elevados no traço curiosidade demonstram valores maiores de: (i) satisfação com a vida; (ii) afeto positivo; e (iii) sentido de propósito na vida e esperança (Jovanovic & Brdaric, 2012). É importante referir que, apesar de níveis elevados de curiosidade poderem promover o bem-estar, o seu oposto (valores baixos) não implica a presença de afetos negativos, sendo estes componentes independentes (Jovanovic & Brdaric, 2012; Lima & de Morais, 2018). É necessário, no entanto, fazer uma ressalva quanto a este constructo, uma vez que a sua elevada presença pode também originar o envolvimento em comportamentos de risco que, por sua vez, podem causar mais afetos negativos e menor bem- estar (Jovanovi & Gavirilov-Jerkovic, 2014). De facto, os autores citados anteriormente identificaram que apenas a dimensão de exploração previu a presença de afeto positivo, enquanto a dimensão aceitação se associou a um maior envolvimento em comportamentos de risco.

A satisfação com a autoimagem tem sido analisada na literatura relativamente ao bem-estar na adolescência e com particular enfoque na atividade física. Pode definir-se este

24 constructo em termos dos pensamentos e sentimentos que se tem relativamente à própria aparência (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Brustad, 2012). No estudo citado anteriormente, identificaram-se associações positivas entre a satisfação com o corpo e o bem- estar psicológico, tendo as correlações mais elevadas sido obtidas nos domínios: autoaceitação, domínio do meio, relações positivas com os outros e objetivos de vida. Segundo Sujoldzic e De Lucia (2007), a satisfação com o corpo funciona como um fator protetor do bem-estar psicológico dos adolescentes, enquanto a insatisfação com a autoimagem pode afetar severamente a sua saúde, originando uma diminuição da satisfação com a vida e da autoestima. Adicionalmente, estes autores referem que a satisfação com o corpo se encontra negativamente relacionada com indicadores de sofrimento psicológico. Sheinbein, (2014) acrescenta uma informação relevante: uma elevada satisfação com o corpo origina a experimentação de menos sintomas depressivos. Apesar de a satisfação com o corpo influenciar o bem-estar de ambos os sexos, revela-se mais significativa no caso das raparigas, sendo que a prática de atividade física parece evidenciar um maior efeito no que concerne à melhoria do bem-estar psicossocial das adolescentes.

2.3.1.3.2 Conclusão – variáveis individuais

No que concerne às dimensões mais individuais, é relevante frisar que inúmeras variáveis têm vindo a ser estudadas na literatura. No entanto, devido à natureza da presente dissertação, não é possível elaborar uma descrição detalhada de todas elas, tendo sido apenas referidas algumas. Neste sentido, teria sido interessante referir ainda a relação do bem-estar com variáveis como a gratidão, o otimismo, a orientação para objetivos pessoais, a resiliência, o autocontrolo, a personalidade e, ainda, o conceito de florescer.