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PARTE I. NA CASA DO CARACOL: O METAFÓRICO NA

1.1 Uno Caracol: o que em mim sente está pensando: o pensamento

1.1.3 Outras visões a partir do pré-hispânico

Trazer para a mesa das poéticas visuais a cosmovisão pré-hispânica não é uma coisa nova, muitos artistas já levantaram esse objetivo em seus trabalhos. Um caso emblemático é o pintor mexicano Diego Rivera, que, na sua volta ao México, depois de sua moradia na Europa, experimentou e trabalhou procurando uma linguagem que fora claramente mexicana, para isso, inspirou-se nas culturas pré- hispânicas.

Dentro de las valoraciones o negaciones de la importancia de lo indígena, Diego Rivera opta definitivamente por su reivindicación. Gran parte de lo mejor de su vasta obra tiene como tema central al indio, en el esplendor de las construcciones precolombinas, en las luchas contra los invasores españoles, en su participación en las guerras revolucionarias. Situado en esta corriente de exaltación a lo indígena, Rivera no se queda, sin embargo, sólo con una visión del pasado sino la completa al convertir su vida en una militancia de la reivindicación social.69

Em 1931, Rivera desenha uma série de ilustrações para acompanhar uma nova publicação do “Popol Vuh”, livro sagrado da cultura maia que narra a criação do homem. A figura 51 apresenta uma passagem do livro que dá conta da terceira tentativa de criar o homem. Desta vez, os deuses fazem um homem de madeira, mas o novo ser é incapaz de venerá-los. Assim, os deuses decidem punir a arrogância de sua criação com um furação e fazer que seus animais, suas ferramentas e as pedras de suas casas se voltem contra eles.

En las láminas para el Popol Vuh, Rivera interpreta el texto con apego y devoción tratando, a lo máximo, de aclarar plásticamente las herméticas ideas del poema. La descripción de los pedazos elegidos por él para ilustrar la narración se apegan a ella perfectamente. Por eso la poesía y la libertad alcanzan en estas ilustraciones una nueva dimensión en la obra del artista. Rivera, al escoger ilustrar el Popol Vuh se propuso y logró, pintar el último códice mexicano.70

69 RODRIGUEZ, I. P. Diego Rivera ilustrador de la historia de la patria. In: OROZCO, Letícia Lopez (Org.) Boletín “Crónicas” del Instituto de Investigaciones Estéticas. n. 13. México: Instituto de Investigaciones Estéticas. UNAM. 2008, p. 178. Disponivel em: <http://www.revistas.unam.mx/index.php/cronicas/ article/viewFile/17303/16494> Acesso em: 7 nov. 2017

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104 Parte I. Outras Visões

A obra de Rivera é muito rica em formatos e temas, mas as ilustrações feitas para o Popol Vuh são especialmente importantes, porque, como diz a historiadora de arte mexicana Ida Rodríguez Prampolini, se ele se propôs a fazer um códice, a ideia de pintar um último códice mexicano é muito instigadora.

Do mesmo jeito que Rivera, meu ser-aí-mexicano, aquele que me faz estar- no-mundo, procura no indígena uma linguagem visual pessoal e íntima. Se Rivera quis fazer um último códice mexicano, eu quero trazer o olhar dos mexicas para a minha linguagem plástica, não, contudo, como uma cópia de formas e cores, eu procuro uma transcriação71, noção emprestada do poeta Haroldo de Campos.

Procuro uma tradução da cosmovisão pré-hispânica para o meu tempo.

A linguagem pictográfica, ideográfica e de uma proto-escrita dos códices, é um ponto de inspiração para muitos artistas, ilustradores e designers no México, vou apresentar alguns trabalhos contemporâneos que têm sua inspiração neles.

O pintor de Oaxaca, Sergio Hernandez72, é um exemplo: em 2015, ele

trabalhou com o Códice Yanhuitlan para a criação de uma série de pinturas, nas quais reinterpreta as imagens do códice. O artista diz: “Busqué apegarme lo más posible a las imágenes originales, pero hice algunas modificaciones en cuanto al tamaño y agregué algunas figuras, según me sugería la historia plasmada en el documento”.73

O Códice de Yanhuitlán parece ter sido feito para celebrar o acordo entre chefes tribais, religiosos e o encarregado do povo indígena, com o objetivo de realizar um projeto majestoso em Yanhuitlán: a construção de um grande convento e de uma Igreja.

Tal abordagem do Códice Yanhuitlán por parte de Hernández se dá por ser um códice produzido em Oaxaca, seu estado natal, e porque, no ano de 2014, o códice foi agrupado em um único documento, uma vez que tinha sido dividido e algumas folhas ficaram perdidas. Assim, os trabalhos do pintor comemoram esta possibilidade de voltar a ter o Códice completo.

71 Esta noção de transcriação é pensada no capítulo Na Casa Azul.

72 Sergio Hernandez, pintor mexicano, nasceu em Huajuapan de León, Oaxaca, em 1957. Estudou na Escuela Nacional de Artes Plásticas da UNAM, México, e também na Escuela Nacional de Pintura, Escultura y Grabado “La Esmeralda”, ambas na cidade do México.

73 INAH. Códice de Yanhuitlán inspira obra plástica de Sergio Hernández, 2015. Disponível em: <http:// www.inah.gob.mx/es/boletines/528-codice-de-yahhuitlan-inspira-obra-plastica-de-sergio-hernandez> Acesso em: 11 jun. 2016.

Hernández fez uma reinterpretação das imagens do códice, partindo de algumas iconografias, como a da figura 52, a qual mostra uma série de personagens diante do que assumimos ser um sacerdote ou rei. Desse modo, o artista recria sua própria versão em um formato quadrangular, usando o que pareceria o negativo do códice, um fundo escuro e o desenho em uma cor branca. (fig. 53)

Fig.52. Códice Yanhuitlan. Folha 05r. 1550. Oaxaca Fonte: Biblioteca Digital Mexicana

http://bdmx.mx/documento/codice-yanhuitlan

Fig.53. Sergio Hernández. Códice Yahutitlán. 2015. 40cm x 40cm Fonte:http://oaxaca.me/codice-de-yanhuitlan-inspira-obra-plastica-de-

No trabalho Códice Hernandino-Mixteco (fig.54), o artista deixa cair gotas de malaquita, lápis-lazúli e grana cochinilla74. O uso que faz da grana cochinilla é

simbólico, porque sua cor vermelha representa para os mixtecos o sangue do nopal (espécie de cacto), cujo significado era a vida e a morte. Desse modo, Hernández traz para sua pintura imagens e cores inspiradas em um passado pré-hispânico.

Outro artista que traz o tema dos códices é Emmanuel Valtierra75, um

ilustrador que mora no Texas (EUA), mas com uma raiz mexicana, o qual busca inspiração nos códices para o seu trabalho. Nas palavras dele:

México es un país del que he recibido demasiado, tanto que su cultura y sobre todo sus costumbres prehispánicas me han formado no sólo como persona sino también como creador de gráfica. Sin embargo, la cultura popular norteamericana es algo con lo que convivo a diario y que además tengo muy de cerca. De ahí que mis ilustraciones dan como resultado una mezcla evidente de mis dos más grandes influencias.76

74 A grana cochinilla é um pigmento pré-hispânico, feito com o sangue de uma minúscula parasita que mora em um cactus, chamado, no México, de nopal. Com o pigmento, criam-se as cores roxo e vermelho.

75 Emmanuel Valtierra é um ilustrador mexicano, nasceu na cidade de San Antonio Texas, EUA, mas viveu parte de sua infância na cidade de Monterrey, no México.

76 In: ROMERO, Alejandro. Emmanuel Valtierra y la Cultura POP en Códices Prehispánicos, 2015. Disponível em: <http://www.yaconic.com/emmanuel-valtierra-y-la-cultura-pop-en-codices- prehispanicos-chingones/> Acesso em: 11 jun. 2016.

Fig.54. Codice Hernandino-Mixteco, 2015 Foto: León Darío Peláez

Fonte: https://www.revistaarcadia.com/agenda/articulo/sergio- hernandez-arte-mexicano-mambo-de-plomo-y-fuego/49547

Valtierra estuda a forma de representação nos códices e usa essa linguagem para apresentar histórias que vão desde programas na televisão até notícias do dia a dia. Ele também faz releituras de pinturas, como mostra a figura 55, que apresenta a sua versão da obra A Criação de Miguel Angel.

O trabalho de Valtierra é ligado profundamente à cultura mexicana por meio do uso de iconografias dos códices. Porém, nessa releitura, as histórias são permeadas pela cultura dos Estados Unidos, buscando a integração de dois mundos e tempos diferentes no presente.

Fig. 55. Emmanuel Valtierra.

The creation of Adam en códice prehispánico. 2016 Fonte:https://www.facebook.com/804139329608066/photos/a.81375

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108 Parte I. Outras Visões

Valtierra recria, através da linguagem dos códices, o mundo atual e, acima de tudo, a cultura dos Estados Unidos. Dessa forma, suas imagens estão se aproximando do sincretismo dos primeiros encontros entre tlacuilos77 e frades

espanhóis, além disso, vemos o uso de uma linguagem do passado para contar o presente por meio da mídia digital.

77 Os artistas que pintavam os códices.

Fig. 56. Emmanuel Valtierra. Página de Códice Valtierra. 2016 Fonte: https://www.facebook.com/804139329608066/photos/a.80710278597

1.2 DOS CARACOL:

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