• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA E APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3.3. Outros fatores de risco

Para além dos fatores já mencionados, segundo a Carta Europeia do Coração, existem ainda outros fatores: fixos (idade, sexo, genética e etnia) e modificáveis (rendimento, condições de vida, condições de trabalho).

Filho e Martinez (2002, p.212), ao abordarem a temática dos fatores de risco cardiovascular, salientam que «acima de 55 anos nas mulheres (idade na qual as mulheres em média já apresentaram a menopausa) e acima de 45 anos nos homens são fatores de risco independentes». De forma implícita, a idade e o sexo são apresentados como fatores de risco cardiovascular. Isto é, denota-se que o aumento da idade é, por si só, um fator adicional e o facto de os homens correrem risco cerca de 10 ano mais cedo do que as mulheres, indica-nos

«Todo o espectro das doenças cardiovasculares envolve fatores genéticos que podem contribuir de forma causal ou na patogénese das mesmas» (Helfenstein Fonseca, 2009, p.40). Esta afirmação patenteia, de igual modo, a existência de fatores genéticos na que poderão aumentar a predisposição para sofrer deste grupo de doenças.

A etnia é também um fator determinante: «os factores de risco cardiovasculares têm um elevado índice na população, sendo prevalecente e mais grave em pessoas de etnia negra» (Cruz e Lima, 1999, p.1)

Os fatores modificáveis (rendimentos, educação, condições de vida, condições de trabalho) dificultam seriamente a alteração do estilo de vida, fulcral a uma promoção da saúde cardiovascular. A Sociedade europeia de Cardiologia (2007) enfatiza os seguintes aspetos:

 Estatuto socioeconómico: um baixo estatuto socioeconómico, incluindo um baixo grau de educação e baixos rendimentos, constitui um entrave à capacidade de alterar o estilo de vida;

 Isolamento social: as pessoas que vivem sozinhas têm maior probabilidade de adotaram estilos de vida pouco saudáveis;

 Stress: a pressão no trabalho e em casa dificulta a adoção e manutenção de um estilo de vida saudável;

 Emoções negativas: depressão, ansiedade e hostilidade dificultam as alterações do estilo de vida;

 Conselhos complexos ou confusos.

O stress psicossocial também pode ser considerado um fator de risco cardiovascular. «A vida moderna está cheia de pressões e frustrações, como prazos a cumprir, excesso de trabalho, contas para pagar, discutir com a família, engarrafamentos de trânsito, etc., tudo situações desagradáveis que fazem o organismo reagir como se estivesse a enfrentar uma ameaça.» (Carrageta, 2010, p. 168)

Tal como se pode verificar no artigo 3º da Carta Europeia do coração, evitar o stress excessivo é uma característica associada à saúde cardiovascular.

Deste modo, podemos ainda referir que a presença de stress psicológico, medida através da utilização de questionários, e a sua relação com a incidência de doença cardiovascular, tem sido identificada em diversos estudos prospetivos, apresentando o mesmo significado estatístico que os fatores de risco convencionais (caso da hipertensão, a obesidade ou a inatividade física) (Yusuf, Hawken & Ounpuu; 2004 citados em Figueiras, 2010).

Concluímos, assim, que embora seja evidente a dificuldade que, atualmente, os indivíduos têm em evitar o stress, é fundamental desenvolver atividades que minimizem o seu efeito, nomeadamente através de uma boa gestão do tempo disponível para a concretização de atividades de lazer.

2.4.Determinantes dos comportamentos em adolescentes

Segundo Daniel Sampaio (2006), a adolescência pressupõe a passagem de uma situação de dependência infantil para a inserção social e a formação de um sistema de valores que definem a idade adulta. Relativamente a esta etapa de desenvolvimento humano, o referido autor sistematiza alguns aspetos fundamentais:

1-A identidade (concetualizada a partir da transformação e organização do próprio adolescente, em articulação dinâmica entre o psicológico e o social) e a autonomia (como necessidade do adolescente conquistar o domínio de si próprio e obter um espaço mental para refletir e para se relacionar com a família, pressupondo um abandono da sua posição de dependência face aos pais);

2-A relação pais – filhos (salientando a impossibilidade de voltarmos a ser pais autoritários, como no passado; não fazendo também qualquer sentido a atual “proximidade quotidiana mais agida do que reflectida”, ou seja, a existência dos denominados “pais - irmãos” que abandonam as suas próprias convicções e valores, perdendo a esperança de influenciar o futuro dos adolescentes);

3-A escola (referindo que está obsoleta a necessidade de inculcar nos jovens a necessidade de esforço permanente, contudo, também não deverá estar fora de moda a ideia do prazer em trabalhar e do desenvolvimento de capacidades).

Embora a adolescência possa ser considerada, em parte, uma invenção social, a pluralidade de transformações físicas, que ocorrem com a chegada da puberdade, constitui a característica mais significativa dos adolescentes. De forma concomitante a estes sinais de crescimento físico, surgem importantes mudanças cognitivas e de personalidade. Na verdade, as transformações físicas da puberdade não afetam diretamente os estados psicológicos dos adolescentes. Os efeitos psicológicos são mediados pelas respostas às alterações físicas, emitidas pelos pais, colegas, e pelos próprios adolescentes. Essas mudanças físicas que podem afetar psicologicamente os adolescentes englobam muitos outros aspetos para além da capacidade de reprodução, isto é, incluem também todas as alterações na aparência e capacidades físicas. São essas alterações que levam os outros a formarem expectativas, a ter novos padrões para o desempenho de tarefas e, ainda, normas de comportamento para os adolescentes, diferentes daquelas que possuíam, em relação a eles, quando eram crianças (Sprinthall e Collins, 1999).

No seio dessas mudanças físicas, psicológicas e sociais, podemos considerar (Papalia, Olds e Feldman, 2001) a adolescência um tempo de oportunidades e de risco, pois é uma fase em que os jovens se envolvem em comportamentos que fecham completamente as suas opções e limitam as suas possibilidades. Os adolescentes estão simultaneamente no limiar do amor, do mundo do trabalho e da participação na sociedade adulta. Os jovens ficam, assim, mais suscetíveis ao risco de novas experiências, por vezes, consideradas aliciantes e socialmente aceites nessa faixa etária.

Os comportamentos de risco desenvolvidos na adolescência poderão ser verdadeiros problemas de saúde, uma vez que resultam de hábitos passíveis de perdurar ao longo da vida e, mesmo que isso não aconteça, têm sempre repercussões na idade adulta. Assim, a saúde dos indivíduos adolescentes irá depender, em grande parte, dos respetivos comportamentos, pois «O estilo de vida de risco pode definir-se como um conjunto de padrões comportamentais que constituem uma ameaça ao bem-estar físico e psíquico e que acarretam consequências negativas para a saúde e desenvolvimento do indivíduo.» (Rodrigo et al., citado em Matos, 2008, p.28)

Na determinação dos comportamentos de saúde intervêm vários fatores: individuais (atitudes, interesses, informação, educação); envolvimento como grupo familiar, grupo social,

ambiente de trabalho ou de escola; fatores mais sistémicos do envolvimento como sistema social, instituições, cultura, regime político; as características do nicho ecológico e geográfico. Estes fatores estão em permanente interação e moldam assim os comportamentos dos indivíduos ligados à saúde ou ao risco. (Mendoza e tal, 1990 citado em Matos 1998).

No quadro seguinte sistematizamos os vários níveis de influência nos comportamentos de saúde.

QUADRO 1

Perspetiva Ecológica: níveis de influência

Conceito Definição

Fatores intrapessoais Características individuais que influenciam o comportamento, tal

como conhecimento, atitudes, crenças e traços de personalidade.

Fatores interpessoais Processos interpessoais e pequenos grupos, incluindo a família,

os amigos, os colegas, que providenciam identidade social, apoio e definição de funções.

Fatores Institucionais Regras, regulamentos, políticas e estruturas informais que podem constringir ou promover comportamentos recomendados.

Fatores Comunitários Redes sociais e normas ou padrões formais ou informais no seio

dos indivíduos, grupos e organizações.

Fatores Políticos Políticas e leis locais, regionais e nacionais que regulam e servem

de base a ações saudáveis e práticas para a prevenção, deteção, controlo e gestão de doenças.

Fonte: Glanz (1999), p.18

Considerando os vários fatores determinantes do tipo de comportamento na adolescência, os fatores interpessoais (como a família e o grupo de pares) e a escola surgem com grande destaque a este nível, dado constituírem os principais cenários de socialização. Deste modo, é natural funcionarem também como fatores de risco ou de proteção para o desenvolvimento de comportamentos de risco (Simões, Matos e Foguet, 2006).

Documentos relacionados