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OUTROS MOVIMENTOS CIVIS E SUAS PROPOSTAS DE INCIDÊNCIA SOBRE A CONFINTEA

O MOVIMENTO PELA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O PROCESSO CONFINTEA VI DO SÉCULO XXI, NO SUL DO PLANETA

3.2 O MOVIMENTO PELA EJA NO PROCESSO CONFINTEA

3.2.3 OUTROS MOVIMENTOS CIVIS E SUAS PROPOSTAS DE INCIDÊNCIA SOBRE A CONFINTEA

Dentro dos fóruns, assim como na própria realização da CONFINTEA VI, foi muito forte a presença ativa e participativa de movimentos que tradicionalmente tem sido denominado de ―movimento de classe‖ e de ONGs (também com seu movimento próprio). Essa presença tem mostrado que esses movimentos não estão isolados na luta por mundo melhor, mas articulados com outros movimentos na busca de mudanças sociais baseadas em outras epistemologias de emancipação social.

Para Epstein (1995) ―[...] movimentos sociais são esforços coletivos de pessoas social e politicamente subordinadas para mudar suas condições de vida.‖ (apud GOHN, 2007, p. 92). Essa é uma das visões que nutre, entre outros movimentos, o ―movimento feminista‖ em todo planeta devido à discriminação por razões de gênero, orientação sexual, etnia, raça, classe, e outras condições. É a vontade de superar a condição de ―subordinação‖ que põe as mulheres em movimento, que as motiva para construção ativa de mudanças através de ações caracteristicamente políticas. Assumem a tarefa de constituírem-se enquanto sujeitos com poder de incidir sobre as políticas sociais que as inclua enquanto cidadãs. Sujeitos com um novo modo de ser, se organizar, se relacionar e de lutar: um sujeito coletivo como considera Gohn (2007, p. 93), para a qual:

A condição de sujeito de um novo modo de fazer política dos novos movimentos sociais tem seu maior emblema na ―afirmação positiva‖ de suas atividades transparentes centradas na ―ação coletiva‖. A visibilidade das ações está presente em diferentes espaços: em pequenos grupos descentralizados que escolhem o próprio modo de participação nos espaços públicos e coletivos; em espaços globais, na mídia, e, portanto, fazendo parte de nossas experiências do dia-a-dia. Faz-se presente também no elenco de temas para discussões no campo acadêmico e, o que é mais relevante, orientando políticas em agendas públicas. Ao lado dessa onipresença, a

eficácia política dos movimentos requer não somente que seus ativistas mudem o próprio modo de pensar, mas que o êxito da prática resulte da mudança do modo de pensar das pessoas (como se dá, por exemplo, nas relações de gênero e nos movimentos ambientalistas).

Neste item ressalto a importância das agendas formuladas pelo movimento de mulheres a partir da Oficina de Educação e Gênero (GEO); da Rede de Educação Popular entre Mulheres (REPEM); do movimento construído pelos ―estudantes adultos‖ através da ―Conferência Internacional de Estudantes Adultos‖, realizada no período de 31 de março a 4 de abril de 2009, na Escócia; e da Ação Educativa21 que atua no Brasil em defesa dos direitos da juventude.

A Oficina de Educação e Gênero (GEO) do Conselho Internacional de Educação de Pessoas Jovens e Adultas (ICAE) organizou um seminário internacional entre os dias 26 e 28 de junho de 2008, em Montevidéu, Uruguai. O objetivo foi analisar o contexto político mundial e seu impacto nas políticas de igualdade de gênero e educação ao longo da vida e elaborar uma estratégia de incidência da GEO para a VI Conferência Internacional sobre Educação de Pessoas Adultas (CONFINTEA VI).

O seminário contou com a participação de mulheres líderes de diferentes partes do mundo. Estiveram presentes 40 mulheres de 19 países, representantes de todas as regiões: Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Colômbia, Egito, Índia, Indonésia, Jamaica, Líbano, México, Moldava, Filipinas, Senegal, Espanha, Tanzânia, Reino Unido, Uruguai e Zâmbia.

Durante a realização do seminário foi ressaltado a importância da construção de alianças pelo movimento feminista. Gita Sen22 em sua exposição ressaltou que:

Outro tema extremamente importante é o valor das alianças. Advocacy não é algo que possamos fazer sozinhas como feministas; pelo menos não neste mundo. Não temos suficiente poder como movimento feminista para ser capazes de fazer as mudanças que desejamos sem alianças. Deveríamos, porque, como mulheres, sabemos qual a porcentagem da raça humana que somos! Mas como feministas somos um grupo muito, mas muito menor. Portanto é essencial a construção de alianças efetivas. [...] nós, as organizações feministas, deveríamos estar trabalhando com outros atores, aliando-nos a outros atores, seja com os governos ou com outros. (SEN, 2008, pp. 3-4).

21 A Ação educativa é uma organização fundada em 1994, com a missão de promover os direitos educativos, culturais e da juventude, tendo em vista a justiça social, a democracia participativa e o desenvolvimento sustentável no Brasil (Ação Educativa, 2009). Neste sentido considero-na como um ―sujeito político coletivo‖, que produz seu movimento pela educação de jovens e adultos assim como está articulada com outros movimentos através dos fóruns e outros espaços coletivos.

22

Ativista feminista e acadêmica. Fundadora de DAWN (Alternativas de Desenvolvimento com Mulheres para uma Nova Era).

As alianças funcionam como articulações necessárias para se construir e se criar constantemente aqueles canais pelos quais e desde os quais se possa de fato perceber os espaços para avançar. Essa visão é que levou a uma ampla, ativa e significativa participação das mulheres no FISC e também na CONFINTEA VI.

No referido Seminário foi realizada uma análise dos desafios do contexto educacional atual e para a incidência política no nível global, a GEO elaborou sua estratégia de incidência para as Conferências Regionais preparatórias à CONFINTEA VI tendo como principal referência o documento intitulado de ―Mulheres em Movimento pelo direito à Educação Estratégias da GEO para CONFINTEA VI‖. Entre as ações propostas no referido documento destacam-se questões ligadas à diversidade que as mulheres apresentam e que a EJA não pode deixar de considerar. Ressalta que é necessário ―Aprofundar a dimensão de gênero na perspectiva de suas múltiplas intersecções com raça, etnia, identidade sexual, classe, nacionalidade e demais discriminações, dentro da proposta estratégica do ICAE para a CONFINTEA VI.‖ (GEO-ICAE, 2008, p. 1).

As mulheres sofrem múltiplas discriminações que vai muito além do fato de serem do gênero feminino. Tenho realizado, juntamente com meus alunos do curso de graduação em pedagogia que optam pelo núcleo eletivo de EJA, incursões pelas instituições educacionais onde tenho ouvido muitos relatos de mulheres casadas, mães, que não tem apoio na família para estudar. Muitas são desestimuladas, inclusive através de ameaças. Neste caso é a família (a sua manutenção) que serve de justificativa (ou chantagem emocional) para o homem (marido) convencer a esposa a não frequentar os cursos de EJA, principalmente por serem ofertados quase em sua totalidade no período noturno. Tornar-se ―dona de casa‖ é um dos principais motivos que as tem impedido de frequentar as aulas, pois há, principalmente no interior da Amazônia, a ideia bastante arraigada ainda de que a carreira de estudante acaba quando inicia a vida de casada ou de mãe.

Mas de forma geral é a padronização das instituições educacionais ou dos programas educativos que não permitem que as mulheres acessem ou permaneça estudando. A visão ocidental de educação mantém as políticas de EJA alheias as questões mais prementes enfrentadas pelas mulheres. Estas não são plenamente atendidas enquanto mulheres e principalmente enquanto sujeitas situadas geográfica, social e culturalmente, assim como não considera suas identidades sexuais. As mulheres ainda são consideradas de forma homogênea, como se sua identidade estivesse apenas definida em oposição ao masculino e que portanto a luta é por garantir os mesmos ―direitos de fato‖ que os homens já exercem.

O movimento das mulheres por educação vai além disso, é uma luta pelo reconhecimento da diversidade que é uma característica marcante dessa população e que tem sido usada como fator de desigualdade social. As mulheres da periferia das grandes cidades, as mulheres negras, as que vivem no campo não tem recebido atenção quanto às suas condições peculiares de vida, de cultura e de trabalho.

Na Amazônia brasileira, e mais especificamente na paraense,

[...] as populações empobrecidas que migram para a periferia das cidades e que são do meio rural: ribeirinhos, pescadores, indígenas, remanescentes de quilombos, extrativistas, assentados, etc, são as que apresentam os mais baixos índices de escolaridade e enfrentam obstáculos para acessar, permanecer e obter aproveitamento na escola. (HAGE, s/d, p. 3).

Se essas populações sofrem com a baixa escolaridade, a situação das mulheres pertencentes a estes grupos são ainda mais delicadas, pois são menos atendidas quanto as suas necessidades e interesses criando um ambiente pouco propício para a melhoria da qualidade de vida e da superação das desigualdades sociais que tem funcionado como processo de exclusão.

A GEO tem se mobilizado para a superação da situação de exclusão a que estão submetidos variados grupos de mulheres ao redor do mundo. No documento que buscou incidir na CONFINTEA VI percebemos que uma das frentes de luta para que esse objetivo seja alcançado é a Educação de Jovens e Adultos. Esse intento é evidenciado quando ressalta que é necessário:

Elaborar ―Benchmarks‖ sobre Educação de pessoas jovens e adultas que assegurem a incorporação de gênero, raça, etnia, classe e demais fatores que intervêm na inclusão social de todos e todas, apresentá-los aos governos como pontos de referência necessários a ser incluídos no documento oficial da CONFINTEA VI para que sirvam de guia para a ação, bem como para seu acompanhamento posterior. (GEO-ICAE, 2008, p. 1).

A inclusão social continua sendo um dos focos principais desse movimento que cria sua estratégias para garantir que suas proposições se tornem políticas consistentes de atendimento das mulheres. A educação é alvo porque ela é considerada um direito determinante para garantir outros diretos. Nesse sentido, a GEO considera necessário sensibilizar Estados e governos para a situação de exclusão que vitima variados grupos de mulheres no mundo inteiro, mas além da sensibilização é necessário que as agendas se tornem oficiais.

Exigir que a diversidade de situações das mulheres bem como suas proposições, neste caso quanto à educação, esteja claramente pautado nos documentos oficiais é uma forma de comprometer, principalmente o poder público, com políticas reais que contribua para solucionar problemas históricos que envolvem as mulheres. Garantir que nos documentos das CONFINTEAS as aspirações das mulheres sejam contemplados não basta, pois historicamente isso tem acontecido, como demonstrei no Capítulo II, sem se traduzir em ações práticas. A GEO quiz mais: além de pautar sua agenda na CONFINTEA VI, enfatizando a necessidade de garantir o direito de todos/as à ―educação para a inclusão ao longo de toda a vida‖ considerando as particularidades regionais, defendeu a garantia de mecanismos de acompanhamento da implementação das proposições se disponibilizando para ―[...] mobilizar e coordenar com organizações da sociedade civil e movimentos sociais do Brasil e do mundo, estratégias de incidência durante a Conferência e um plano de acompanhamento e monitoramento.‖ (Idem).

As estratégias de reafirmar, no processo CONFINTEA VI, a dimensão de gênero tanto através da participação na elaboração de bancos de dados sobre Educação de pessoas jovens e adultas quanto em campanhas de sensibilização e mobilização no nível global, nas Conferências Regionais Preparatórias e na CONFINTEA VI, na organização da Cúpula da Sociedade Civil prévia à CONFINTEA VI, são formas de incidir sobre as decisões que historicamente foram tomadas longe da participação, do interesse e da necessidade das mulheres. Decisões sobre modelos de educação que ao invés de incluir discrimina, segrega, pois parti muitas vezes de ―padrões‖ unívocos de sociedade (machista), de cultura (erudita), de saberes (científicos), de educação (elitista, racionalista, funcionalista) entre outros.

O esforço das mulheres em reafirmar sua participação em diferentes espaços é uma forma de produção de reflexão em torno do processo de produção do ser humano como sujeito, da potencialidade educativa da ―condição de oprimido‖ (FREIRE, 1987), bem como do esforço para tentar deixar de sê-lo, que é a própria luta para transformar a realidade social. A luta é formativa e de cunho libertador. Existe uma pedagogia nos movimentos sociais que é caracterizada pelas práticas avaliativas, pelas estratégias de ações, pelos referenciais teóricos que lançam mão nas suas ações coletivas. E isso fortalece de forma espiralada o movimento das mulheres que se caracteriza como movimento social porque elas estão desenvolvendo ―[...] ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural que viabilizam [...] se organizar e expressar suas demandas.‖ (GOHN, 2007, p. 13).

A condição de oprimido das mulheres se supera pelo processo de empoderamento das mesmas, isso tem sido possível não apenas através de proposições de agendas, mas por

interferir nas decisões de políticas que estejam a seu favor. Godinho (2000) apresenta-nos um aspecto crucial do papel do movimento feminista que é impulsionar uma agenda política favorável às mulheres no interior do Estado o que considera uma conquista:

Foi uma conquista do movimento de mulheres, como parte do reconhecimento destas como sujeitos sociais, como sujeitos de reivindicação, colocar-se como uma questão legítima as instituições políticas, os governos, os Estados se obrigarem a reconhecê-las na construção de políticas. Isso foi construído nesses 25, 30 anos, em alguns países 40 anos de organização política e social de mulheres, de um crescimento nosso enquanto um sujeito social coletivo, que faz com que as instituições e a sociedade não possam nos ignorar nem deixar de falar em políticas de gênero, políticas dirigidas às mulheres. (p. 35).

É necessário que o movimento feminista continue criando meios de reforçar o empoderamento das mulheres, capacitando-as para as escolhas mais emancipatórias e que levem a uma progressiva eliminação de todas as formas de desigualdade, principalmente nos momentos de reformismo estatal, em que tal reforma passa a estar a cargo dos setores da sociedade com capacidade de intervenção no Estado (SANTOS, 2010), e as mulheres tem que se organizarem no sentido de se tornarem também sujeitos incluídos, com capacidade de intervir.

Um importante papel exercido pela GEO, além de lutar pelo direito a participação efetiva nas decisões, é o de fiscalizadora das ações que se delineiam a partir do que se coloca como propostas acordadas nos espaços coletivos, como na CONFINTEA VI. No documento de incidência colocam como uma das ações importantes: ―Assegurar que o compromisso assumido pelos governos na CONFINTEA VI seja conhecido no nível nacional e monitorar os Estados para que passem da Declaração à Ação.‖ (GEO-ICAE, 2008, p. 1).

Isso se faz necessário para não darmos continuidade a um histórico de promessas não cumpridas reveladas pela imobilização da EJA no Brasil e no mundo mesmo com a realização de seis CONFINTEAS, com a produção ampla de pesquisa sobre a EJA, com a existência de vários Fóruns locais, nacionais e mundiais. A história das Conferencias Internacionais sobre a EJA serve para mostrar um histórico de propostas que não foram viabilizadas na prática, ou quando se tentou efetivar foi no intuito de usá-la a serviço do sistema produtivo capitalista, num discurso de melhoria social através do desenvolvimento econômico.

Assim como a GEO, com o objetivo de colocar em pauta as agendas das mulheres da América Latina e Caribe no processo CONFINTEA VI, a Rede de Educaçao Popular Entre Mulheres (REPEM) realizou um seminário interno, incluindo todas as organizações sócias, para discutir o documento base para a Conferência que tem o título de ―Marco de Belém‖. O

seminário com a temática ―Educação inclusiva, digna e permanente para as mulheres‖, foi um espaço para apontamentos de antigos e novos problemas que fazem parte do contexto da Educaçao de Jovens e Adultos no mundo, considerando a diversidade de experiências fracassadas e exitosas, mas principalmente reafirmando questões necessárias para se garantir uma educação para as mulheres cada vez mais inclusiva, que recobre a dignidade negada historicamente, bem como contribua para a melhoria de suas vidas.

O documento construido pela REPEM (2009) considerou muitas questões que permeiam a vida humana no início do Terceiro Milênio, principalmente no que diz respeito ao aprofundamento da discriminação e exclusão das mulheres provocado pela globalização da economia e a atual crise financeira que, segundo a REDE, acarretam vários problemas para meninas, mulheres, jovens, adultas e idosas, que permanecem desprivilegiadas pelas políticas sociais implementadas por Estados e governos.

Denunciam as condições de múltiplas discriminações e exclusão que estão submetidas as meninas e as mulheres:

[...] por razões de gênero, etnia, raça e outras condições que se manifestam nos âmbitos familiar, social e político, particularmente nas esferas da educação, da cultura, do trabalho, da saúde, da participação cidadã; e afetam principalmente as mulheres pobres, indígenas e afro-descendentes, mulheres com diversas identidades sexuais, portadoras de necessidades especiais, mulheres migrantes e em reclusão e deslocadas internas que vivem desarraigo nacional e cultural. (REPEM, 2009, s/p).

Isso se configura como violação aos direitos humanos tão propagados pelas convenções nacionais e internacionais e que por não servir para amenizar os problemas das mulheres acabam não sendo instrumento de inclusão social; a educação, neste caso, ainda não tem sido um direito exercido por todas as mulheres de forma atender as suas necessidades e seus interesses produzidos a partir de suas condições sociais, econômicas e culturais.

Outro princípio ferido é o de igualdade e equidade traduzido nas formas diferenciadas de atendimento educacional medido pela diferença entre os grupos de mulheres. Diferença usada para justificar o atendimento desigual dos grupos femininos assim como decidir sobre quais grupos devem ser privilegiados com maior e melhor estrutura educacional. Nesse sentido, as políticas de EJA para determinados grupos são efetivadas não como garantia de direitos à educação com qualidade social, mas para suprir determinadas carências que na maioria das vezes são criadas externamente e não pautadas nas vidas reais das mulheres de diferentes grupos, o que é uma ameaça para que se consiga garantir na prática o direito à educação ao longo de toda a vida, declarado pelas últimas CONFINTEAS.

Diante dessa realidade, que mostra que a situação da mulher é bastante problemática, a REPEM busca na luta por uma educação inclusiva uma mudança desse quadro, pois acreditam que: ―[...] papel da educação é fundamental na transformação de valores, atitudes, imaginários e práticas culturais que promovam a autonomia e a organização das mulheres para participar nos processos de decisão tanto públicos como privados.‖ (Idem). A educação pode tornar a mulher mais consciente do seu poder de intervenção social e, através do engajamento político, pode fortalecer ainda mais a luta por melhores condições de vida e manter viva a esperança de que ―outro mundo é possível‖, com mais liberdade, igualdade e equidade social.

Equidade é uma palavra bastante frequente no documento da REPEM, mas é considerada ausente nas atuais políticas e práticas voltadas para a educação de uma forma geral e para a educação das mulheres especificamente, tanto nas iniciativas governamentais quanto nas não governamentais. Neste sentido ressalta que:

[...] não obstante a diversidade de práticas educativas desenvolvidas pelas organizações civis e outras instâncias, os programas oficiais de educação das pessoas jovens e adultas se limitam a ressarcir o chamado ―atraso educativo‖ com relação à população feminina, privilegiando o cumprimento de metas quantitativas sobre as qualitativas. (REPEM, 2009, s/p).

Mesmo que mudanças tenham ocorrido em termos de formulação de programas e projetos de EJA que avançam na incorporação da perspectiva de gênero em muitos países, tal perspectiva não se concretiza nos processos educativos que se efetivam nos diferentes espaços formativos, e por diferentes instituições e organismos, já que são ações que funcionam mais como laboratórios e não como políticas sustentáveis, permanentes e integrais. São ações que por serem isoladas dentro de um sistema de ensino, e até fora dele, funcionam apenas como um modelo de referência. Se fala neles como exemplo, mas que ninguém e nenhum órgão tem assumido para potencializar as políticas de EJA ou seja não tem servido para ‗[...] impactar nem transformar a vida das mulheres e dos homens para que assumam a diversidade e formas alternativas de viver com equidade.‖ (Idem, grifo meu).

Assumir a diversidade é se assumir. Não é ser apenas um sujeito objetivado pelos outros externamente, mas sujeitos que assumem sua subjetivação no sentido de que são o que são por sua livre e consciente escolha. É incorporar elementos na sua vida que se julga coletivamente, no grupo a que pertence, importante para que viva e conviva com qualidade. As mulheres tem experimentado a autoconstrução de si enquanto sujeitos históricos. Elas não tem esperado que o pensar sobre as suas condições, que as políticas que a elas se voltam ou a

discriminam, etc. sejam feitas distanciadas das suas pautas de luta, o que mostra que com toda a sua diversidade se unem na construção de um mundo melhor também para si, que perpassa