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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO

3.2 O que avaliar?

3.2.3 Outros objetivos

Reúno nesta seção alguns outros objetivos identificados nos documentos, que não se encaixam em nenhuma categoria maior.

Quadro 6 – Objetivos relacionados a categorias gerais Projeto de Docência

Compartilhada

Marcha criança: inglês start up : ensino fundamental Currículo em Movimento da Educação Básica: Ensino Fundamental – Anos Finais PCN-LE (OLIVEIRA; JESUS; MORAIS, 2011) (MORINO e BRUGIN, 2016, p. VII-VIII) (SEDF, 2013, p. 31) (BRASIL, 1998, p. 66- 67) Propiciar atividades

interativas entre alunos e professor de forma cooperativa;

Relacionar conteúdos linguísticos de LEM com a língua materna e identificar diferentes contextos de uso.

Ler e valorizar a leitura como fonte de

informação e prazer, utilizando-a como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avançados; Manusear adequadamente o dicionário Compreender o termo sustentabilidade, estimulando o uso racional de bens e serviços ambientais Fonte: elaborado pela autora

Com relação às atividades interativas, Germain (1996) as define como qualquer troca de palavras entre dois ou mais interlocutores. A interação social em um ambiente didático não é como em ambientes naturais - em um ambiente didático a interação se desenvolve em um

espaço-tempo específico e o status entre professor-aluno é desigual, sendo o professor o detentor do conhecimento (GERMAIN, 1996). Quando a interação envolve a negociação de significados, ela promove compreensão e produção, tornando o ensino da LE mais eficaz (Kumaravadivelu, 2006). Desta forma, é muito importante que haja interação na sala de aula, tanto entre aluno-professor quanto entre aluno-aluno. Porém, não entendo que propiciar atividades interativas deva ser um objetivo – não enxergo a interação como um fim, mas como um meio para se alcançar outros objetivos, como por exemplo aquisição linguística.

O Currículo em Movimento propõe como um de seus objetivos relacionar a LE com a LM. Da mesma forma, apesar de não fazer parte dos seus objetivos, os PCN-LE também defende que a LE e a LM devem ser correlacionadas no processo de ensino e aprendizagem a partir do terceiro ciclo do EF (6° e 7° ano).

No que se refere aos conhecimentos que o aluno tem de adquirir em relação à LE, ele irá se apoiar nos conhecimentos correspondentes que tem e nos usos que faz deles como usuário de sua língua materna em textos orais e escritos. Essa estratégia de correlacionar os conhecimentos novos da LE e os conhecimentos que já possui de sua língua materna é uma parte importante do processo de ensinar e aprender a LE. (BRASIL, 1998, p.32)

A perspectiva dos dois documentos – currículo e PCN-LE – refere-se a uma visão mais instrumental do ensino da LE, onde o foco é o desenvolvimento de habilidades de leitura. Vygotsky (2001, p. 266-267) corrobora o posicionamento dos documentos ao considerar que “o ensino de uma LE a um aluno escolar se funda no conhecimento da língua materna como sua própria base”. Neste sentido, concentrar-se na relação entre LE e LM pode divergir da abordagem proposta pelo material didático e esperada no curso de LEC investigado, onde o foco não é desenvolver as habilidades escritas apenas, mas propiciar o desenvolvimento da expressão da criança, em toda a sua potencialidade. Julgo necessário destacar que não considero que o uso da LM deva ser evitado em qualquer situação; mas que a LM deve ser utilizada quando puder aumentar o potencial de aprendizado da L-alvo, bem como que o professor pode fazer uso dela como um facilitador no processo de ensino/aprendizagem, como sugerido por Rommel e Tonelli (2017).

Tanto a valorização da leitura quanto a sustentabilidade são trazidas como objetivos dos PCN-LE e do Currículo em Movimento, respectivamente, mas não são contextualizados com o ensino da LE, e agem mais como temas transversais52 do que como objetivos em si.

52 Os temas transversais devem estar presentes em todas as disciplinas, atuando como um eixo norteador para as

discussões sociais que devem ocorrer em sala de aula. Sem eles, as disciplinas do currículo não seriam suficientes para discutir tais temas, relacionados aos valores e à participação social do aprendiz. (BRASIL, 2004)

Finalmente, percebo a habilidade de manusear um dicionário como uma ferramenta adicional ao aluno, oportunizando a conquista de sua autonomia como aprendiz. Desta forma, não considero que o manuseio adequado do dicionário deva ser um objetivo, como proposto pelo Currículo em Movimento.

Em outras palavras, todos os objetivos que categorizei como “outros” – propiciar atividades interativas, relacionar a LE com a LM, manusear o dicionário, desenvolver o hábito da leitura e compreender a sustentabilidade – não se referem às finalidades do ensino de LEC no curso investigado, mas considero-os aspectos relevantes no planejamento de cursos semelhantes.

Em resumo, apesar de não propiciarem todos os objetivos que julgo necessários, os quatro documentos analisados se complementam e ordenam o ensino/aprendizagem de LEC. Com a análise dos documentos e de seus objetivos, pude compreender quais princípios e objetivos respaldam as práticas de ensino no curso de LEC investigado. Tendo os objetivos propostos especificados, pode-se pensar nas práticas de avaliação.

Conforme analisado, o curso de LEC no qual lecionei durante o primeiro semestre de 2017 não possuía objetivos de aquisição linguística claros, e a maioria das minhas práticas se baseou no que o material didático propunha. O que busquei como “noções básicas” de vocabulário foi o que o livro trazia, com exceção do alfabeto e das saudações – uma vez que, nas duas primeiras aulas, os alunos ainda não tinham comprado o livro.

Excerto 21. Log – Pesquisadora – 7 de março de 2017 Greetings e greetings song

Excerto 22. Log – Pesquisadora – 14 de março de 2017

Alphabet sheet, what’s your name. Dever de casa: pronúncia do alfabeto, spelling their names.

Apesar do alfabeto não estar previsto no conteúdo do material didático, considero-o fundamental nos momentos iniciais de letramento em LE.

Em conclusão, o que ensinar e avaliar depende dos objetivos do curso. Quando estes objetivos de aprendizagem não estão claros, cabe ao professor orientar suas práticas por meio da elaboração de um planejamento de curso que tenha como base os objetivos gerais que lhe foram passados e que, ao mesmo tempo, esteja de acordo com o seu conhecimento teórico. Tal atitude pode ser capaz de aprimorar os objetivos elaborados para o curso, tornando-o cada vez mais adequado para o contexto.

A proposta do curso que assumi como professora temporária era de ensinar as noções básicas da língua, então foi o que busquei levar para as crianças. Apesar de não achar a

metodologia mais apropriada, baseei a maior parte das minhas práticas no que o material didático trazia como vocabulário e conteúdo, sempre tomando cuidado com as questões de ansiedade e autoestima; bem como deixando-os mais maduros para as mudanças que ocorrerão no ano subsequente.

O quadro 7 exibe os objetivos do curso investigado e os itens que foram vistos durante o 1° semestre de 2017.53

Quadro 7 – Objetivos e itens do syllabus

Fonte: elaborado pela autora

O propósito desta seção foi de discutir os objetivos que fundamentam o ensino do curso de LEC no EF1 investigado, a fim de compreender o que deve ser avaliado. Na próxima seção, analiso as minhas práticas avaliativas durante o curso, com o propósito de analisar como avaliar no contexto.

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