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2.4 – Pós-modernidade: marcas e implicações no Metodismo

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LARRAÍN, J. A trajetória latino-americana para a modernidade. In: Imaginário. São Paulo: USP, 1998, nº4, p. 18ss. Ainda sobre este assunto, Bolan ao analisar as cidades mais industrializadas e populosas do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, faz a seguinte asserção: “Nossas cidades parecem possuir as formas mais variadas de convivência social: ricos e miseráveis, homens de mentalidade urbana e rural, homens sofisticados e caipiras, famílias tradicionais rurais e famílias pluralísticas, conjugados todos num mesmo ambiente. Esta parece ser a maior das indefinições das estruturas das cidades brasileiras, fortemente marcadas pela industrialização. Semelhante pluralismo demográfico e sociológico cria conseqüentemente um pluralismo de orientações e valores. É claro que pela própria constituição estrutural da cidade, o futuro mesmo da secularização no Brasil não está ameaçado desde que os padrões básicos da convivência social levam o homem à formação de um ‘weltanschauung’ pluralista, diversificada, funcional e inebriantemente voltada para o ambiente de atuação social urbano, dominado pela racionalidade e troca de bens seculares: econômicos e culturais”. Ver: BOLAN, V. Sociologia da secularização. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 59.

Cabe salientar que as marcas da Pós-modernidade, estudadas até então, embora estivessem vinculadas ao Capitalismo vigente, elas se desprendem do processo de consumo propriamente dito e são compartilhadas pelos diversos âmbitos sociais. Deste modo, as religiões, como parte da sociedade, devem sofrer algum tipo de influência destas características.

Tendo em vista que a Pós-modernidade é um fator presente em muitas sociedades, e as igrejas Metodistas são instituições sociais, compreende-se que é de suma importância avaliar algumas influências da mesma nas Prédicas (discursos) destas igrejas cristãs. Por conseguinte, o enfoque da análise se volta, a partir de então, para o Cristianismo, mais especificamente Metodista, no Brasil, Estado de São Paulo, na cidade de Santo André.

Optar-se-á por analisar os discursos presentes nas Prédicas das Igrejas Metodistas sob o prisma da Pós-modernidade. Com esta escolha não se objetiva descartar que existem outros posicionamentos para falar do período atual que indicam continuidades e descontinuidades históricas,193 tais como, Modernidade, Modernidade atual, Modernidade reflexiva, Alta Modernidade, Modernidade Líquida, Pós-modernidade, Pós-modernismo. O pesquisador parte da idéia de que a Pós-modernidade caracteriza-se pelo acirramento de alguns aspectos próprios da Modernidade e o surgimento de outros, como exemplo, a crise dos metarrelatos da ciência moderna que provocou uma substituição pela “pluralidade de sistemas formais axiomáticos capazes de argumentar enunciados denotativos, sendo estes sistemas descritos numa metalíngua universal, mas não consistente”.194

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Vale ressaltar novamente que, segundo Barrera, “nem sempre se pode falar de rupturas repentinas, mas é indiscutível que as transformações, abruptas ou de longa duração, entre tradição e Modernidade foram radicais e predominaram sobre as continuidades” Por outro lado, “Na relação entre Modernidade e Pós-modernidade, as permanências parecem maiores que as rupturas”. Ver: BARRERA RIVERA, D. P. Tradição, transmissão e emoção religiosa: sociologia

do protestantismo contemporâneo na América Latina. São Paulo: Olho dágua, 2001, p. 193.

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LYOTARD, Jean-F. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002, p.79. Mais especificamente no capítulo onze da obra citada, o autor discorre sobre a legitimação na pesquisa científica que se faz pelo desempenho. De tal forma, na atualidade, não existe uma preocupação em se desenvolver uma dada pesquisa em torno de reflexões científicas se estas não se mostrarem verdadeiras pela sua verificação, eficácia e desempenho. Sendo assim, a preocupação é menos conceitual e mais pragmática.

Ao analisar a história da Igreja Cristã, é possível firmar-se na assertiva que a Prédica possui lugar fundamental e importante no culto desde a Reforma Protestante (século XVI). Nota -se, também, que o objetivo maior da Prédica, até então, foi instruir os membros das igrejas, a partir do estudo da Bíblia, contextualizando-a segundo o período vivido. Por outro lado, as formas e ênfases deste discurso religioso ocorriam de forma variada, de acordo com os interesses institucionais, do/a pregador/a e da necessidade de cada igreja protestante local.

A Igreja Metodista, como parte das Igrejas Protestantes, também valoriza a Prédica em seus cultos e, segundo as diretrizes oficiais desta Instituição, procura ser o mais fiel possível às tradições, isto é, àquilo que as comunidades cristãs primitivas afirmaram a respeito da práxis de Jesus Cristo.

Refletir sobre uma possível presença de elementos pós-modernos presentes nas Prédicas ajuda a pensar se em vários discursos protestantes metodistas não está ocorrendo uma reformulação, ou inversão de algumas ênfases próprias da práxis do “fundador” do cristianismo proclamadas pelas comunidades cristãs iniciais. Exempli gratia, entende-se, a partir de uma hermenêutica contemporânea, que no cristianismo inicial procurava -se uma vivência comunitária, uma postura ética no discurso e ação, uma reflexão sobre o discurso e práticas cristãs, uma valorização do ser humano (humanização) e a transmissão de ideais e utopias como alvos a serem construídos historicamente. Todavia, diametralmente oposta às ênfases acima mencionadas, na Pós-modernidade percebe-se um acirramento do individualismo, descomprometimento ético, tolerância acrítica, relativização da história e tradições,195 a reificação e/ou a tentativa de tornar a pessoa em um ser etéreo, e uma ausência de ideais e utopias que dão lugar ao imediatismo, mercado e hedonismo. Assim sendo, o desafio que se apresenta é averiguar se

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Conforme o Prof. Paulo Barrera Rivera, “o mundo contemporâneo não é mais regido exclusivamente pelas tradições locais, mas também pela incorporação de princípios tradicionais de origens distintas. Forma-se um universo de ação no qual os indivíduos são socialmente observados porque as ações refletem-se em outras tradições”. (Ver citação em: BARRERA RIVERA, D. P. Tradição, transmissão e emoção religiosa: sociologia do

algumas marcas da Pós-modernidade são perceptíveis ou não nas Prédicas das Igrejas Metodistas.

Outro aspecto que torna a pesquisa interessante é o fato de que a Igreja Metodista afirma fundamentar sua práxis e identidade na tradição, que vem desde as origens do cristianismo. No entanto, um dos elementos próprios da Pós-modernidade, constatados por certos pesquisadores, é a relativização ou negação da tradição como um fundamento básico para viver.196 Esta preocupação com a realidade pode ser observada em um trecho do Documento da Igreja Metodista intitulado “Plano nacional: objetivos e metas”:

A igreja metodista responde a Deus neste início de século e milênio procurando ser uma Igreja Missionária à serviço do povo. O povo no Brasil vive as agruras de uma sociedade injusta e desumana. Entramos no século XXI com a perversa hegemonização dos processos de globalização que, no caso brasileiro e latino-americano, aprofundam nossa dependência e põem em xeque nossas identidades culturais. O lado perverso desse processo tecnológico-econômico é a brutal exclusão social. Em nosso país, os excluídos contam em dezenas de milhões. São mais que miseráveis. São não-cidadãos que sequer contam nos processos de organização social. Escuta-se em toda parte o clamor desse sofrimento. A Igreja Missionária à serviço do povo faz do Reino de Deus, vivido e anunciado por Jesus, o critério de seu amor e desse serviço ao mundo. Assim como o ocorrido com Jesus, esse Reino é anúncio da boa-nova ao povo e denúncia de práticas que atentam contra sua vida e felicidade. Dessa forma, a Igreja Missionária, portadora da boa-nova tem, como conseqüência, o papel público de denúncia profética. Há que se cultivar a coragem do testemunho, pois importa antes ‘obedecer a Deus que aos homens’ (At 5,29). É missão da Igreja

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É importante destacar que toda tradição está sempre intimamente vinculada ao fundador. Outra questão relevante é a crise contemporânea de todas as tradições e que pode ser uma razão para a reformulação da práxis do fundador na IM.

testemunhar a justiça de Deus, seu propósito para a humanidade, sua misericórdia, denunciando o pecado, suas conseqüências, as estruturas desumanas da sociedade, anunciando, ao mesmo tempo, o poder transformador do Evangelho.197

Supõe-se que na Igreja Metodista no Brasil contemporânea, especificamente Igrejas da Grande São Paulo, os discursos próprios das Prédicas proferidas em algumas comunidades trazem consigo conteúdos da Pós-modernidade tanto quando os afirma ou nega. Suspeita -se que, nestes sermões, haja uma presença (ou presença pela ausência) de conteúdos que denotam uma cultura niilista; acomodação e tolerância acrítica; ausência de ideais; descomprometimento ético; ênfase demasiada na estética e sensações; relativização de regras, valores, práticas, realidade; consumismo personalizado; hedonismo; imediatismo; mercantilização dos signos e imagens; substituição do contato pela virtualidade; ausência de humanismo; compulsão por ter com motivo de satisfazer os desejos.

Destarte, a pesquisa se propõe a estudar no próximo capítulo, à luz da Pós-modernidade, alguns discursos198 presentes em duas Prédicas nos cultos dominicais vespertinos, em uma Igreja Metodista, na cidade de Santo André.

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COLÉGIO EPISCOPAL, Plano nacional: objetivos e metas. São Paulo: Cedro, 2001, p. 9-10.

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Uma Prédica pode conter inúmeros discursos, por conseguinte, os elementos próprios da Pós-modernidade indicam alguns dentre vários discursos.

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