• Nenhum resultado encontrado

4. FATORES DO PROCESSO FONOGRÁFICO QUE EXERCEM INFLUÊNCIA NOS

4.2. Análise de Opções Dentro de um Processo Fonográfico

4.2.3. Pós-Produção

Na análise do processo de pós-produção foram abordados os tópicos descritos na tabela 03.

Tabela 03 - Tópicos abordados na análise do processo de pré-produção, Recife - 2009

Pós-

produção Mixagem Estrutura de Panorama

Manter panorama do Contexto de Performance

Não manter panorama do Contexto de Performance

Estrutura de Ganho

Busca similaridade com contexto de performance

Não busca similaridade com contexto de performance

Processos de Edição Com Edição

Sem Edição

Processadores de dinâmica Projeto emprega

Projeto Não emprega

Processadores de efeitos Projeto emprega

Projeto Não emprega

Masterizaçã o

Mais voltada para padrões de

mercado

Mais voltada para sonoridade da

performance

Fonte: André Sonoda

Mixagem

No processo de mixagem diversos procedimentos podem influenciar o material fonográfico. Dentre eles, os mais influentes são abordados nos próximos parágrafos.

O primeiro caso é a estrutura de panorama. Este processo é uma forma de distribuição dos diversos materiais gravados em cada canal para pontos específicos do panorama stereo (180º). Naturalmente, em emissões stereo, pode-se distribuir percentuais diferentes de cada canal (instrumento musical ou voz) para reprodução pela caixa acústica da esquerda (Left - L) ou da direita (Right - R), por meio do recurso de panorama. Esta distribuição percentual de cada canal proporciona uma aparente localização acústica do instrumento em posições que podem variar de um ponto central (entre as duas caixas), até um dos dois extremos esquerda (L) ou direita (R).

Ponderando-se a intensidade de sinal relativa entre as caixas pode-ser sugerir um efeito de “imagem sonora” entre as caixas. Este efeito é perdido sensivelmente quando o ângulo de abertura entre as caixas excede 60º (Fig. 31), e também quando o ouvinte não mais se encontra equidistante de ambas as caixas. A correta região de audição deve estar em um ponto do eixo entre as caixas que atravessa o nariz do ouvinte (Grifos Meus) (BAMFORD, 1995. In: FARIA, 2001. p.13).

Figura 31 – Posicionamento de caixas acústicas em padrão stereo. Fonte: FARIA, 2001. p.13.

Em gravações com pares stereo, a distribuição do panorama já se encontra registrada pela ocasião da captação do áudio. De forma similar à audição humana, um par stereo percebe a localização espacial de uma fonte sonora devido às diferenças de tempo de chegada da onda sonora entre as cápsulas direita e esquerda (ou tímpanos direito e esquerdo nos seres humanos).

Em gravações multitrack, simultâneas ou não, temos condições de simular esta distribuição dos canais ao longo do panorama por controle de percentuais diferentes de intensidades de cada canal para cada um dos caixas (L ou R). Porém, é possível distribuírmos os canais de uma gravação de forma diversa do posicionamento instrumental ou vocal observado na ocasião da gravação. Neste caso, o fonograma apresentará diferenças que podem ser consideradas esteticamente adequadas ou inadequadas de acordo com os objetivos do projeto e/ou das convenções culturais que norteiam o tipo de música em questão.

Para analisarmos esta questão com vistas às consequências deste processo, podemos imaginar que uma opção por manter a estrutura de panorama verificada na performance permite uma apresentação, no fonograma, das características de posicionamento instrumental ou vocal oriundos da manifestação musical gravada, ao passo que desconsiderar a estrutura de panorama da performance, invariavelmente, proporcionará uma outra estrutura que pode se mostrar coerente ou não em relação aos preceitos estéticos da cultura musical em produção. Evidentemente, de acordo com os objetivos de uma produção musical, tais considerações culturais podem não fazer sentido. Além disso, é bastante pertinente considerarmos as

possibilidades de existência de acordos entre os envolvidos no processo de produção da música em busca de uma decisão intermediária dentre estas possibilidades.

As considerações mencionadas para a estrutura de panorama se mostram pertinentes também para a estrutura de ganho. Esta última pode ser entendida como a determinação das diferentes intensidades sonoras de cada canal na ocasião da mixagem.

Na análise dessa estrutura e suas consequências para o resultado sonoro, verifica-se que considerar o ponto de vista daqueles que fazem a música (compositores ou intérpretes), em geral, possibilita garantir uma coerência estética com seus preceitos culturais. Entretanto, em caso de gravações ou mixagens onde não dispomos da opinião nativa sobre a música tratada, buscar uma similaridade com o contexto de performance parece a opção mais coerente. Neste caso, a análise do par stereo referencial pode denotar tanto características da estrutura de panorama quanto da estrutura de ganho, as quais podem ser aplicadas nos demais canais.

Processos de edição, efeitos e processamento da dinâmica musical representam influências diretas no fonograma. Evidentemente, as decisões sobre tais procedimentos são formas de alcançar os objetivos do projeto no caso de produções fonográficas. Entretanto, mesmo considerando que tais procedimentos são comuns para a maioria dos projetos, vale mencionar que estes podem vir a influenciar de forma inadequada um material musical. Inadequação esta, principalmente, em parâmetros estéticos, os quais podem variar entre diferentes culturas ou mesmo entre diferentes considerações em uma mesma cultura.

Portanto, atentar para os objetivos do processo com alguma consideração sobre a estética cultural do tipo de música em questão, possibilita garantir as características culturais que qualificarão a produção como pertinente entre os que criaram e perpetuam essa música, além de informar para a sociedade em geral características específicas daquela estética particular. Apesar disso, vale lembrar que alguns objetivos de produção primam por estéticas difundidas e entendidas como padrão, principalmente, em relação ao mercado musical (discos, filmes, rádio, etc.).

Masterização

No âmbito da masterização, pode-se optar por duas lógicas diretamente relacionadas a diferentes tipos de projetos de produção fonográfica. A primeira mais voltada para padrões de

mercado e uma segunda mais relacionada às características da performance. Ambas apresentando consequências diversas para o fonograma.

Por exemplo, o primeiro caso (características padrões do mercado) podendo ocasionar, desde uma simples apresentação de características diversas do modelo cultural ao qual a música pertence, até uma estética diferente que, se aceita e disseminada, pode vir a ser considerada um novo estilo.

O segundo caso (caracteríticas da performance), tende a garantir a difusão das características peculiares da estética própria da manifestação em pauta. Entretanto, não podemos considerar tais pontos de vista como representativos da totalidade das possibilidades. Portanto, outras consequências também ocorrem ou podem ocorrer em decorrência do emprego de um ou outro direcionamento do processo de masterização. Além disso, vale lembrar que é possível existir outras possibilidades de direcionamentos que se mostrem intermediários entre aqueles apresentados.

5. ETNOGRAFIA DAS RELAÇÕES ENTRE MÚSICA DE TRANSMISSÃO ORAL E