.1 F OTO IDENTIFICAÇÃO
4.2. P ADRÕES DE A SSOCIAÇÃO
Diversos autores apontam dificuldades no estudo do S. guianensis, tais como a identificação dos animais e seus comportamentos (Yamamoto, 2002). Spinelli (2004) assinala a dificuldade em distinguir as faixas etárias infante e juvenil, e por isso os agrupou em uma única categoria: imaturos. Neste trabalho, apesar das observações terem sido realizadas a bordo de uma embarcação, conseqüentemente mais próximas dos animais, adotou-se a mesma categorização de Spinelli (2004), possibilitando melhor análise dos dados referentes aos padrões de associação.
De acordo com as observações realizadas durante o período de estudo compostas pelas diferentes categorias etárias anteriormente definidas; (b) entre os animais foto-identificados; e, (c) predominantes para os animais foto-identificados L3 e S20, individualmente calculado entre esses e as diferentes faixas etárias anteriormente definidas, estas últimas formando díades ou não.
F
Os valores concernentes ao índice de associação (Jaccard) para as possíveis díades compostas pelas diferentes categorias etárias, foram alcançados levando-se em conta o número de indivíduos em cada uma delas e comparando-as. Analisando esses valores, averiguamos predominância entre as associações compostas por um adulto e um imaturo (1A + 1I) (HWI=0,477) e um adulto e dois imaturos (1A + 2I) (HWI=0,294). Esses dados representam as composições com maior estabilidade dentre todas as combinações possíveis, conforme demonstrado pela comparação das freqüências observadas para cada tipo de associação (Ȥ2=162,31; gl=10; p0,05) (Tabela III), condizendo com o que foi encontrado por Sartorio (2005) para a espécie em questão na mesma área de estudo.
Tabela III – Índice de associação (Jaccard), freqüências observada e esperada para as possíveis díades durante o período de observação deste estudo. Os indivíduos adultos são representados por “A” e os
Associação Índice de Jaccard(HWI) FreqüênciaObservada FreqüênciaEsperada Percentual imaturos por “I”.
Tipos de 1A + 1A 0,048 7 9,9 6,42% 1A + 1I 0,477* 43 9,9 39,45% 23 9,9 21,10% 1A + 3I 0,013 1 9,9 0,92% 1A 2A 1A + 2I 0,294* + 4I 0,014 1 9,9 0,92% + 1I 0,080 6 9,9 5,50% 2A + 2I 0,217 10 9,9 9,17% 2A + 3I 0,240 6 9,9 5,50% 2A + 4I 0,041 2 9,9 1,83% 3A + 3I 0,125 1 9,9 0,92% 1I + 1I 0,084 9 9,9 8,26%
Nota: (*) maiores índices de Jaccard encontrados.
observar diversidade nos tipos de associação, indicando um padrão dinâmico e,
os comportamentais (Gero, Bejder, Whitehead, Mann e Connor, 2005).
Com base na faixa etária e no número de indivíduos por agrupamento, pode-se conseqüentemente, certa instabilidade. A mesma variabilidade foi verificada em dois outros estudos: boto-cinza – S. guianensis – na região de Pipa (Sartorio, 2005); e golfinho nariz-de-garrafa – T. truncatus – na Flórida (Shane, 2004). Os padrões de associação podem ainda ser influenciados pelos diferentes estad
A partir do índice de similaridade de Jaccard, pode-se também verificar associações entre os indivíduos foto-identificados (Tabela IV). De todas as associações registradas, cinco alcançaram valores máximos (HWI=1), permanecendo associadas ao longo de todo o período de observação: S39/S40, L18/S51, S52/S53, S54/S55 e S49/S59. Contudo, esse é um valor que não expressa a dinâmica existente para esses animais, já que os mesmos somente foram vistos associados uma única vez durante o todo o período deste estudo.
Já quando analisamos os valores obtidos para as outras associações que ocorreram entre os animais reconhecidos naturalmente, observamos que L3/S20, S20/S34, bem como S43/S48 apresentaram os maiores índices (HWI=0,333), podendo sse valor indicar associações esporádicas para realização de atividades específicas.
nseada do Curral: em princípio, divididos em duplas (L3/I e S20/I), depois foi visto que os dois ltos ( se junt ram em e, post te retorn indo ao en ntro dos dois imaturos qu iam perm os enqua adultos pescavam; em seguida voltaram à form inici I e S20/I). oborando a i ia acima, podemos citar Monteiro-Filho (2000), que observou para indivíduos da mesma espécie, no complexo estuarino lagunar de Cananéia, litoral sul do Estado de São Paulo, a ocorrência de associações contexto-específico.
na mesma área de estudo, a existência de assoc entre os in os L3 e S20, stas representa cerca de um dos rrelacionou os dias que os animais foram vistos por eles desempenhadas. Dessa maneira, não é possível inferir, a p
e
Tal condição ocorreu, por exemplo, em uma das ocasiões em que L3/S20 estavam associados na e
adu L3 e S20) aram, saí forrageio
eriormen aram, co e hav
anecido junt nto os ação
al (L3/ Corr dé
Jesus (2004) também constatou,
iações divídu e ndo sexto
dias observados. Porém, o autor não co associados com as atividades
artir da agregação desses dados, a ocorrência de associações contexto- específico para os indivíduos foto-identificados que utilizam as enseadas da região de Pipa.
Tabela IV – Índice de associação (Jaccard) encontrado Associações ID Índice de Jaccard (HWI) para os indivíduos foto-identificados (ID).
S20/S34 0,333 S20/S48 0,125 S20/S68 0,142 S39/S40 1 S43/S48 0,333 S48/S68 S4 0,250 9/S59 1 S52/S53 1 S54/S55 1 L18/S51 1 L3/S20 0,333
Os resultados referentes às análises dos tipos predominantes das associações dos indivíduos L3 e S20, foram obtidos comparando-os com cada uma das faixas etárias anteriormente definidas – adulto (A) e imaturo (I) – e, entre esses e a possível díade formada – adulto/imaturo (AI).
Avaliando os resultados acima citados, fundamentado no índice de Jaccard, verificamos uma maior associação do indivíduo L3 com animais imaturos (HWI=0,454), quando comparamos sua associação com a dupla adulto/imaturo (HWI=0,243). Assim como para L3, o índice de associação de S20 com imaturo (HWI=0,105) foi mais elevado quando comparado com a díade adulto/imaturo (HWI=
nimais imaturos do que com outros adultos. Além disso, Jesus (2004), baseado a freqüência das observações, verificou o indivíduo L3 se associou um maior número de vezes com imaturos do que S20.
0,035) (Tabela V). A análise das freqüências observadas das díades formadas pelos indivíduos L3 e S20 com imaturo (L3/I e S20/I: Ȥ2=6,00; gl=1; p0,05) apresentaram diferenças significativas. Já comparando a associação desses indivíduos foto-identificados com a dupla adulto/imaturo (L3/AI e S20/AI: Ȥ2=3,81; gl=1; p=0,0510), não houve significância.
Sartorio (2005) observou que L3 estava presente nas enseadas mais associada com a
Tabela V – Índice de e S20 e entre esses e as diferentes faixas et por “A”, imaturos por “I” e a díade adulto-imaturo por “AI”.
Associações
ID/Faixa etária Índice de J(HWI) FreqüênciaObservada peradaqüência Percentual associação (Jaccard) calculado, individualmente, entre L3
árias. Indivíduos adultos são representados
accard Fre Es L3/A 0 0 - - S20/A 0 0 - - L3/AI 0,225 9 5 90% S20/AI 0,035 1 5 10% L3/I 0,454 20 12 80% S20/I 0,10 4 12 20% * 5 (*) maior índice verificado.
Os dados do presen alho não podem confirmar a organização social atrilinear sugerida por Sartorio (2005), o qual se baseou na formação de associações de (a)
êmea, em função de alguns aspectos como o investi
dices de encefalização e tempo de vida longo, é plausív
te trab m
uma única fêmea acompanhada de um imaturo (filhote, sendo este seu ou não) ou (b) uma fêmea acompanhada de um imaturo (filhote) e um outro animal imaturo (filhotes ou juvenis). Entretanto, a associação freqüente entre L3 e indivíduos imaturos pode sugerir que se trata de uma f
mento parental típico dos mamíferos, o qual envolve gestação interna e lactação, com possibilidade de deserção reduzida da fêmea (Clutton-Brock, 1991).
Na presente pesquisa, também foram observadas associações entre indivíduos adultos, embora menos freqüentes. De acordo com Vonhof, Whitehead & Fenton (2004), os aspectos do sistema social entre mamíferos são únicos e, em geral, apontam para grupos baseados no parentesco ou na cooperação. O sistema cooperativo tem sido observado em uma grande variedade de taxa animal e uma outra maneira para analisar as associações seria considerá-las formações cooperativas (Norris & Schilt, 1988). Considerando-se que, de uma forma geral, os cetáceos caracterizam-se pela existência de estrutura social complexa, altos ín
el que esses animais apresentem episódios de cooperação e competição, possivelmente observados nas associações entre os indivíduos desse estudo (Connor et
5. CONCLUSÕES
ise os, a esquis que:
plicação da t nica de foto-identificação continua favorável para estudos
S. guianen região de Pipa.
qualidade das imagens obtidas para estudos que fazem uso da técnica de foto-identificação.
uos Após anál dos dados obtid presente p a constatou
a a éc
com sis na
condições ambientais influenciam na
os espécimes de S. guianensis que utilizam a região de Pipa apresentam elevada plasticidade.
os tipos de associação entre os indivíduos que utilizam a região de Pipa mostrou-se dinâmico.
não é possível inferir a respeito das associações existentes entre os indivíd foto-identificados que utilizam a região de Pipa.
L3 apresenta maior disponibilidade ao cuidado de indivíduos imaturos, em função dos índices de associação.
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